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Ode À Fragilidade Humana
Ode À Fragilidade Humana
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E-book93 páginas54 minutos

Ode À Fragilidade Humana

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Sobre este e-book

Este amontoado de papéis reunidos entre duas capas que encontra-se nas mãos do leitor, é preciso deixar claro, distancia-se tanto dos livros de autoajuda que poderia inclusive ser denominado antiajuda. Mas não se arrepie, pois basta que façamos um pequeno exercício analítico para observarmos que talvez a autoajuda pouco — ou nada — seja de fato capaz de ajudar pessoa alguma. Enquanto a antiajuda, mostrando-se tão lúcida na sua observação pessimista do comportamento humano e denunciando sem rodeios a sua evidente fragilidade, talvez possa timidamente acabar porventura ajudando alguma pessoa. Portanto este livro, como é próprio da antiajuda, não pretende ajudar ninguém — o que à mim parece a coisa mais sensata a se fazer —; pois quem insiste em ajudar alguém, especialmente com alguns passos para chegar a algum lugar, parece ainda não ter chegado a lugar algum. O alardeamento de uma virtude é sempre hipócrita e pressupõe a ausência da mesma, quem rebenta a porta a ponta pés é somente o mal; porque a “verdadeira virtude é discreta e silenciosa, e o bem sempre entra pela fresta da porta.” — L. F. Pondé
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de mai. de 2019
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    Pré-visualização do livro

    Ode À Fragilidade Humana - Willian Ricardo Soares

    Introdução

    Ocorreu-me, repentinamente, não apenas uma irresistível vontade mas também uma inevitável urgência de escrever sobre a fragilidade humana. A razão pode ter a ver com essa desprezível era literária da autoajuda, ou talvez seja porque no que me diz respeito — um sujeito cujo as leituras e influências o levaram a uma devota observação mais pessimista do ser humano —, toda vez que sou seduzido por alguma forma de esperança romântica na humanidade, sou logo abraçado de modo muito afetuoso pela doce desesperança que em mim habita. E como nada nesse mundo bárbaro é mais fácil do que ser pessimista, os contos aqui depositados saíram tão naturalmente de mim como se fizessem parte da minha carne. Chego, inclusive, vez por outra, ter a leve impressão de que o maior empecilho à um mínimo de avanço que a humanidade pode um dia chegar a dar, não está, como errônea e majoritariamente se pensa, na visão pessimista de mundo; mas é exatamente o oposto que se mostra verdadeiro: está na tentativa equivocada de inventar uma humanidade que não existe. Penso que, um melhor serviço de nossa parte seria deixar de idealizar um ser humano que nunca foi, e passar a observar o ser humano como ele realmente é.

    Considero — e a experiência de viver neste mundo sob a condição humana faz-me considerar cada vez mais — absolutamente melhor investir nossos esforços a tomar conhecimento de nossos limites do que irresponsavelmente sugerir de algum modo que limite algum há.

    Eu, como um péssimo cristão que sempre fui e faço questão de não deixar de ser, não poderia ter uma outra visão de mundo senão aquela que está mais do que evidente nos evangelhos: não há no mundo ninguém que seja bom, ninguém que faça o bem; não há nenhum sequer. Portanto, se eu fiz uma leitura minimamente coerente das Escrituras, posso afirmar com quase absoluta certeza que o homem que arranca elogios divinos é aquele que reconhece a sua miserabilidade, enquanto aquele que se auto considera demasiadamente justo é severa e constantemente repreendido por Deus.

    Parece-me, e penso ter boas razões para assim crer, que a maioria das pessoas tende a associar pessimismo à inércia e apatia, e otimismo à vigor e entusiasmo. Mas eu, que adotei para mim não somente o pessimismo do escritor Nelson Rodrigues como também todo o horror que ele tinha à opinião da maioria, concordo e assino em baixo de sua afirmação: Toda unanimidade é burra; a maioria está sempre errada. Porque em sua fascinação os otimistas, que diante da suposta maravilhosa luz que dizem enxergar, tudo lhes é ofuscado e portanto a nada eles se apegam. Enquanto em sua lucidez os pessimistas, no meio da escuridão que os rodeiam são dotados de uma sensibilidade tal, que são capazes de abraçar somente o essencial, e a ele apegam-se como sendo aquilo tudo o que possuem e portanto tudo de que precisam.

    Assim sendo, resolvi escrever estas linhas que são uma espécie de ode à fragilidade humana; porque, afinal de contas, à mim parece não haver na humanidade sequer resquícios de que há — ou já houve — nela coisa mais comum do que a sua fragilidade.

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    O terapeuta 

    ***

    "Que fardo pesado tenho de carregar! Se é isto que devo fazer em vida, prefiro a morte; mata-me, Senhor.

    Este é um favor que eu te peço."  – Moisés

    "Sentou-se debaixo de uma árvore e desejou a morte:

    Já basta, ó Deus, tire-me logo a vida!" – Elias

    Maldito o dia em que nasci; não seja bendito o dia em que minha mãe me deu à luz. Por que não matou-me no ventre dela? Ali teria sido minha sepultura, e ela ficaria grávida para sempre! Saí, por acaso, do ventre materno para ver trabalho e tristeza, e para ver meus dias consumarem-se na vergonha? – Jeremias

    "Estou cansado da minha vida! Por que não morri ao sair do ventre de minha mãe, ou não pereci ao sair

    de suas entranhas?" – Jó

    "Peço-te, pois, ó Senhor, tira-me a vida, eu lhe imploro. Porque para mim é melhor morrer do que viver!

    Sim, estou certo em desejar a morte!" – Jonas

    ***

    Primeiro dia

    Eleazar, o terapeuta, ajustou os óculos quadrados com a ponta de seu polegar e ao mesmo tempo semi-ergueu o braço esquerdo a fim de fitar as horas. Em seguida consultou sua agenda verificando o nome do próximo paciente: Josué. Era uma manhã limpa e fresca de sol ameno. De pernas confortavelmente cruzadas e cotovelo apoiado na mesinha que fazia par com a

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