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“A Eterna Coleção de Barbara Cartland 5 - 8
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“A Eterna Coleção de Barbara Cartland 5 - 8
E-book835 páginas19 horas

“A Eterna Coleção de Barbara Cartland 5 - 8

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Sobre este e-book

05.Seu Reino Por un Amor


Zita percebeu, de repente, que não estava sozinha. Ouviu passos e avistou um vulto no meio das árvores. Ficou aborrecida com aquela intromissão. Será que não tinha sequer o direito de sofrer em paz? Por que um estranho vinha perturbar a beleza daquele lugar que ela só gostaria de compartilhar com uma única pessoa no mundo? Enquanto hesitava entre ir embora ou fingir que não o via, o homem se aproximou. E Zita pensou que estava sonhando. Mas era o rei! Impulsivamente, sem pensar no que fazia, obedeceu ao coração. Correu para ele, esquecida de que Maximiliano só a desejava como amante. Esquecida de que ele era o homem destinado à sua irmã!


6. A Criada Misteriosa


Para salvar a vida do Conde, Giselda era capaz de qualquer sacrifício. Ferido na batalha de Waterloo, o Conde de Lyndhurst, corria grande perigo ao ter que amputar a perna… mas só com o cuidado de uma empregada jovem, bonita e cheia de segredos e mistérios, é que o salvariam de um terrível destino. Giselda, contratada como enfermeira eficiente, cuidou do Conde com infinita dedicação e carinho… um carinho que dará lugar, a um grande amor impossível entre eles.


7. Corações em Jogo


Escondida em Baden-Baden, a cidade do jogo na Floresta Negra, Selina Wade procurava esquecer que tivera de matar um homem devasso para defender sua virtude. Protegida por Quintus Tiverton, um jogador sem dinheiro, tentava esconder de todos, ter fugido de uma casa de tolerância, onde seria obrigada a entregar seu corpo virginal a clientes pervertidos. 


Mas seria frente às mesas de jogo, ao lado de gente viciada e dissoluta, que Selina iria finalmente, encontrar a paz e a felicidade? O que lhe reservaria o destino, ao lado de Quintos Tiverton ?


8. Violeta Imperial


No começo do século XIX, Napoleão se preparava para conquistar a Inglaterra e concretizar seu fantástico sonho de desfilar pelas ruas de Londres como o novo Imperador do Reino Unido. Foi naquela época de tensão e nervosismo que a família de Vernita, se viu perseguida em Paris.
Escondidos numa casa de cômodos, os pais da moça morreram de tristeza e inanição e para sobreviver, Vernita foi costurar para Pauline Bonaparte, a belíssima e devassa irmã de Napoleão e é então que nos luxuosos aposentos da Princesa, que Vernita se apaixona pelo Conde Axel de Storvik, o jovem amante de Pauline!

IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de nov. de 2022
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    “A Eterna Coleção de Barbara Cartland 5 - 8 - Barbara Cartland

    A Eterna Coleção de Barbara Cartland Livros 5 - 8

    Table of Contents

    A Eterna Coleção de Barbara Cartland Livros 5 - 8

    "A Eterna Coleção de Barbara Cartland

    Seu Reino Por Um Amor

    CAPÍTULO 1 1865

    CAPÍTULO II

    CAPÍTULO III

    CAPÍTULO IV

    CAPÍTULO V

    CAPÍTULO VI

    CAPÍTULO VII

    A Criada Misteriosa

    Nota da Autora

    CAPÍTULO I 1816

    CAPÍTULO II

    CAPÍTULO III

    CAPÍTULO IV

    CAPÍTULO V

    CAPÍTULO VI

    CAPÍTULO VII

    Corações em Jogo

    CAPÍTULO I

    CAPÍTULO II

    CAPÍTULO III

    CAPÍTULO IV

    CAPÍTULO V

    CAPÍTULO VI

    CAPÍTULO VII

    A Violeta Imperial

    Nota da Autora

    CAPÍTULO I 1805

    CAPÍTULO II

    CAPÍTULO III

    CAPÍTULO IV

    CAPÍTULO V

    CAPÍTULO VI

    CAPÍTULO VII

    CAPÍTULO VI

    CAPÍTULO VII

    FIM

    "A Eterna Coleção de Barbara Cartland

    A Eterna Coleção de Barbara Cartland, é a oportunidade única de coleccionar quinhentos dos mais belos romances intemporais escritos pela incontornável autora romântica mais famosa e célebre do mundo.

    Chamada a Eterna Coleção porque as histórias inspiradoras de Barbara, são sobre o amor puro, tal qual ele mesmo, o próprio amor.

    Os livros serão publicados na internet ao ritmo de quatro títulos por mês, até que todos os quinhentos livros estejam disponíveis.

    A Eterna Coleção , é puro romance clássico e estará disponível em todo o mundo e para sempre."

    "Barbara Cartland

    Barbara Cartland Ebooks Ltd

    Esta Edição © 2022

    Direitos Reservados - Cartland Promotions 2014

    Capa & Design Gráfico M-Y Books

    m-ybooks.co.uk"

    Seu Reino Por Um Amor

    Titulo Original: A King in Love

    CAPÍTULO 1

    1865

    Sua Majestade, o Rei Maximiliano, levantou-se do divã onde estava deitado e largou o copo.

    −Preciso ir embora.

    −Mais non, mon brave!

    O protesto veio dos lábios vermelhos da mulher que se olhava no espelho.

    Ela estava admirando, não seu rosto bonito, e sim, o colar de enormes rubis e brilhantes que usava.

    −Não pode ir embora tão depressa− insistiu.

    O sotaque encantador transformava sua voz um tanto vulgar em algo muito atraente.

    Achando que seus protestos não eram suficientes, dirigiu-se para o rei, deixando que o négligé de gaze e de rendas se abrisse na frente.

    −Acha que seu presente fica bem em mim, mon cher?− perguntou, referindo-se ao colar e postando-se diante de Maximiliano.

    Os olhos do Rei não pousaram no colar, e sim, no corpo da mulher que tinha empolgado Paris.

    La Belle, pois era este o nome pelo qual era conhecida no teatro, sorriu maliciosamente e com um leve movimento de ombros, fez com que o négligé caísse a seus pés.

    A pele da atriz era muito branca; a cintura, fina. Os seios e os quadris tinham as curvas decretadas pela moda, mas só encontradas, com tal perfeição, em muito poucas mulheres.

    Ficou parada, dramaticamente, vendo os olhos do Rei percorrerem seu corpo.

    Depois, com uma exclamação abafada, aproximou-se, passou os braços em volta do pescoço dele e beijou-o...

    Bem mais tarde, o Rei se aproximou do espelho para atar o nó da gravata.

    Agora era La Belle quem estava deitada no sofá, numa atitude de exaustão satisfeita, o colar de rubis ainda brilhando no pescoço.

    −Você me atrasou− disse o Rei− mas o Primeiro-Ministro certamente vai aceitar minha explicação, isto é, que estive tratando de negócios importantes.

    −O que pode ser mais importante do que eu?− perguntou La Belle.

    −O Primeiro-Ministro teria muitas respostas para essa pergunta− disse ele, sorrindo.

    Feito o nó da gravata, olhou para seu reflexo no espelho, com ar zombeteiro, quase como se apreciasse as rugas cínicas que lhe marcavam o rosto.

    Observando-o, La Belle achou que, mesmo que não fosse um rei, era o amante mais ardente e mais satisfatório que jamais tivera. E a atriz era muito experiente nisso!

    Seduzida aos doze anos, tinha atingido o estrelato graças à sua sucessão de amantes, até aparecer no Théâtre Imperial de Châtelet, onde Maximiliano a conhecera.

    Seus amantes haviam sido duques, marqueses e até um obscuro príncipe italiano; mas um rei tinha um encanto que ela achava irresistível.

    O fato de Maximiliano ser muito rico e estar disposto a lhe dar uma vida confortável bastou para convencê-la a deixar Paris e ir para Valdastien, o país onde ele reinava.

    No palácio havia um teatro particular, onde ela podia dançar para um público distinto, sempre que o desejasse.

    Mas achava mais excitante dançar só para o Rei, na mansão onde ele a instalou e que tinha sido construída um século antes, no jardim do palácio.

    Foi o avô do Rei quem primeiro instalou ali uma amante, depois que ficou velho demais para viajar para a capital e lá gozar os prazeres que somente uma mulher bonita podia dar.

    Para facilitar ainda mais as coisas, a mansão comunicava com o palácio por meio de uma passagem subterrânea. Essa passagem tinha uma porta secreta dando para o escritório do Rei e somente ele possuía a chave.

    −Quando vai voltar?− perguntou La Belle.

    Esperou ansiosamente pela resposta, sem ter certeza do que ele diria.

    Enquanto esperava, sabia que seria tolice tentar forçar o Rei a marcar uma hora, ou mesmo o dia em que poderia vê-la novamente.

    Onipotente, só fazendo o que bem entendia, Maximiliano prezava sua liberdade acima de tudo. A atriz sabia que, se fosse sensata, nada teria perguntado, apenas esperando até ele se dignar a voltar.

    Em todos os casos amorosos anteriores, tinha dominado os homens que a desejavam, deixando-os de joelhos, podendo levá-los ao êxtase ou desprezá-los a ponto de fazer com que ficassem desesperados.

    Mas o Rei era diferente.

    Embora soubesse que o excitava, sendo muito bem recompensada pelo prazer que lhe dava, a atriz nunca sabia com certeza se no dia seguinte não se veria num trem, viajando de volta para Paris, sem nenhuma explicação da parte do Rei por ter sido despedida.

    Quando Maximiliano se virou, ela se levantou do diva, fechando de novo o négligé. Com a sabedoria de sua profissão, sabia que só as mulheres tolas se viam abandonadas quando um homem se cansava delas.

    Ficou observando-o, enquanto ele vestia o paletó justo, que revelava os ombros largos e seu porte atlético.

    Disse, suavemente:

    −Você é muito bonito. Vou ficar contando as horas, até eu poder lhe dizer novamente como anseio por sua presença.

    Falou em tom dramático, mas o Rei sorriu com ironia, reconhecendo as frases da peça que ela representava, pouco falando e obtendo sucesso apenas como dançarina.

    Foram justamente suas qualidade de dançarina, assim como seu corpo escultural, que atraíram o Rei, em primeiro lugar. Quando ele se achava com La Belle, pensava que assim como acontecia com a maioria das mulheres, quando menos ela falava, mais interessante parecia.

    Olhou-a mais uma vez e dirigiu-se para a porta, dizendo:

    −Talvez eu organize um espetáculo no teatro, no próximo sábado. Vou pensar nisto e, se for possível, mandarei avisá-la, para que possa preparar uma dança que eu ainda não conheça.

    Antes que ela respondesse, saiu e fechou a porta. Desceu calmamente a escada, dirigindo-se para a porta da passagem secreta, que ficava na parte traseira do hall.

    Quando se viu só, La Belle atirou-se no sofá e ficou tamborilando com os dedos na parte curva da madeira.

    Sabia perfeitamente por que motivo o Rei sugerira uma nova dança, que ainda não tivesse visto. Era porque ela teria que ensaiar e planejar um traje novo, ficando ocupada enquanto Maximiliano não precisasse dela.

    Sentia-se furiosa por ver que ele dispunha de seu tempo, ao passo que ela mesma não tinha o poder de prendê-lo.

    Sabia, pois não faltou quem lhe dissesse isso, que não era a primeira mulher que tentava amarrá-lo e fracassava.

    Havia uma longa lista de amantes bonitas que tinham vindo para Valdastien e ido embora, se não em lágrimas, pelo menos humilhadas, percebendo que não eram tão irresistíveis como pensavam.

    Antes de La Belle sair de Paris, uma de suas amigas avisou:

    −Vai ver que o Rei é generoso, gentil e deliciosamente apaixona do mas é também esquivo, indiferente ao sofrimento feminino e, invariavelmente, inacessível.

    La Belle não acreditou. Tinha certeza de que, irtesmo que todas as mulheres do mundo não conseguissem conquistar o coração de Maximiliano, ela conseguiria.

    Agora sabia que, embora a cumulasse de jóias, embora despertasse o desejo dela, como a atriz despertava o dele, o Rei continuava sendo dono absoluto de si mesmo.

    Tinha a desagradável sensação de que, se morresse no dia seguinte, o Rei mandaria flores para o enterro e não pensaria mais nela.

    Foi até a janela, blasfemando baixinho na gíria da sarjeta.

    Olhou para fora, mas não viu as montanhas altas com os picos cobertos de pinheiros, nem o vale verde onde um rio prateado serpeava por entre campos floridos.

    Em vez disso, imaginou os bulevares cheios de gente, os lampiões de gás nos cafés, o público entrando no teatro, pronto para aplaudi-la ruidosamente, quando terminasse sua dança.

    «Sou uma tola! Não sei por que não o abandono e volto para lá».

    Com receio da resposta, afastou-se da janela com ar petulante e postou-se diante do espelho, para admirar o colar de rubis.

    Temia, como tantas outras antes dela, se apaixonar por um homem para o qual só significava um belo corpo e uma dançarina sensacional.

    O Rei andou pela passagem secreta, que tinha um tapete grosso e era decorada com lambris feitos com nogueira das florestas de Valdastien. Com uma chave de ouro, abriu a porta que dava para o seu escritório.

    Ao fechá-la, não pensava na atriz, como La Belle teria gostado, e sim, no Primeiro-Ministro, que devia estar esperando por ele com impaciência.

    Maximiliano estava mais de uma hora atrasado para a entrevista, mas não pretendia se desculpar, pela simples razão de acreditar que reinava pela graça de Deus e que, portanto, seus súditos, inclusive o primeiro-ministro, deviam aceitá-lo como era.

    Passou para o enorme hall barroco, um dos mais belos do país e famoso em toda a Europa.

    O Palácio tinha sido reformado e aumentado no correr dos séculos, pouco restando da construção original, que datava do século XVI.

    Cada monarca tinha feito o possível para torná-lo mais impressionante. Governantes de outros países, quando vinham a Valdastien pela primeira vez, ficavam cheios de inveja da beleza do palácio é da riqueza das peças que ali havia.

    Maximiliano subiu uma escada magnífica, decorada com ouro e marfim, indo até a antecâmara onde o Primeiro-Ministro devia estar à sua espera.

    Era ali que, por tradição, o Rei recebia seus Ministros.

    Como que para fazer com que compreendessem que eles eram apenas uma pequena parte da história, as paredes estavam cobertas por tapeçarias representando as vitórias dos antigos governantes e o teto pintado era obra de um artesão local que se inspirara nos mestres italianos.

    Quando o Rei entrou na antecâmara, esperando ali encontrar, não apenas o Primeiro-Ministro, mas pelo menos meia dúzia de membros do gabinete, ficou admirado por ver apenas dois homens, perto da janela. Teve a impressão, embora não pudesse ouvir o que diziam, de que conversavam seriamente e até pareciam um pouco apreensivos.

    Estavam tão entretidos, que, por um momento, não perceberam a presença do Rei.

    Maximiliano tinha uma aguda percepção das pessoas e soube que o pedido urgente do primeiro-ministro para vê-lo não era uma visita de cortesia, e sim para tratar de algum assunto muito grave.

    Dirigiu-se para os dois homens, que imediatamente ficaram atentos.

    −Boa tarde− disse ao Primeiro-Ministro.

    −Boa tarde, Majestade. É muita gentileza sua nos receber, a mim e ao chanceler, com tão curto aviso.

    O Rei inclinou a cabeça para o Chanceler, o Conde Holé, de quem não gostava muito.

    O Primeiro-Ministro continuou:

    −Temos um assunto a discutir com Vossa Majestade e espera mos que tenha a bondade de nos ouvir, sem ficar contrariado.

    Maximiliano ergueu as sobrancelhas.

    −Acho que esta sala é muito grande para uma conversa íntima. Sugiro que passemos para a sala vizinha, onde certamente ficaremos mais bem acomodados.

    Muito à vontade, sentou-se numa cadeira de espaldar alto, onde se via o brasão real bordado em seda e ouro. Com um gesto, indicou que os dois homens deviam sentar-se.

    Eles escolheram duas cadeiras perto do rei, obviamente para não precisarem falar alto.

    Maximiliano olhou de um para o outro.

    −Então, senhores? Estou curioso para saber qual o importante problema que me trouxeram e que, por um motivo com o qual ainda não atinei, não exige a presença de todo o gabinete.

    O Primeiro-Ministro respirou fundo.

    −O Chanceler e eu estamos ansiosos, Majestade, para lhe falar sobre esse problema, antes que seja apresentado ao gabinete e, mais tarde, ao parlamento− fez uma pausa, olhou para o Chanceler como pedindo confirmação, e continuou−, devo ser franco, Majestade, e dizer imediatamente qual o motivo que nos trouxe aqui?

    −Certamente, prefiro que me digam logo qual o motivo. Como bem sabem, não gosto de dissertações longas, que geralmente são desnecessárias.

    Muito bem, Majestade. A opinião de muitos de meus colegas, partilhada por toda a nação, é que a linha sucessória precisa ser garantida. Seria um erro encorajar certas nações vizinhas a pensarem que, caso alguma coisa acontecesse a Vossa Majestade, elas poderiam ter alguma interferência nos negócios de Valdastien.

    Quando o Ministro começou a falar, o Rei se contraiu, agora, com voz inexpressiva, mas com olhar duro, disse:

    −O que está insinuando, Primeiro-Ministro, é que devo casar.

    −Como Vossa Majestade me pediu para ser franco, a resposta é... sim.

    −Sou relativamente moço.

    −Claro, Majestade. Ao mesmo tempo, não tem irmãos e se não tiver um filho, a linha sucessória terminará.

    O Rei ficou em silêncio, sabendo que era verdade. Como se temesse ter despertado sua cólera, o Ministro continuou:

    −O povo do sul do país ficou muito abalado com a tentativa de morte contra o rei Gustavo, há três semanas. Como Vossa Majestade não ignora, Sua Majestade escapou por um triz, e nada nos diz que não haja outra tentativa de assassinato.

    −O que os senhores estão dizendo é que há anarquistas por toda parte. Na última vez que estive em Paris, comentava-se que houve um atentado contra a Rainha Vitória, na Inglaterra.

    −É verdade, Majestade, e aqui em Valdastien, o povo tem medo, não apenas de que um anarquista o ataque, como também porque sabem que Vossa Majestade está sempre correndo perigo.

    O Rei percebeu que o primeiro-ministro se referia a seus passatempos prediletos. Gostava de alpinismo e orgulhava-se de, aos trinta e cinco anos, poder escalar montanhas com a força e a agilidade de quinze anos antes.

    Gostava também de domar cavalos selvagens, dos quais havia muitos em Valdastien. Eram capturados em distritos isolados e montanhosos.

    Quando os melhores eram trazidos para as cocheiras do palácio, o rei fazia questão de montar aqueles que seus cavalariços mais temiam.

    Essas duas atividades aborreciam o Primeiro-Ministro.

    Mas, com um sorriso sarcástico, Maximiliano pensou que havia outro assunto que o preocupava, não o abordava, embora estivesse presente em seu pensamento.

    Em sua última viagem a Paris, o Rei foi desafiado para um duelo por um francês encolerizado que jurava que ele lhe havia seduzido a esposa.

    O fato de não ter sido necessário nenhum esforço por parte de Maximiliano e de o caso estar longe de ser sedução, não o impediu de aceitar o desafio.

    Embora o aristocrata francês fosse um famoso duelista, que já tinha matado dois adversários, foi ferido por uma bala do Rei, mas não antes de acertá-lo, de raspão, no braço.

    Todo o país ficou assombrado com o que aconteceu com seu Rei e houve inúmeras especulações a respeito.

    Maximiliano sabia que, para o Primeiro-Ministro e o resto do gabinete, era esse também um motivo urgente para tentar convencê-lo a ter um herdeiro.

    O Chanceler disse:

    −Creio ser desnecessário explicar a Vossa Majestade o quanto o povo se sente feliz sob seu reinado, esperando que haja muitos anos de alegria e de prosperidade, ao mesmo tempo...

    Seu olhar encontrou o do rei e ele se calou. Parecia ter medo de dizer mais alguma coisa e de receber uma resposta áspera.

    Maximiliano apertou os lábios. Ia dizer ao Primeiro-Ministro, ao Chanceler e a todos que podiam ir para o inferno, antes de vê-lo casado, quando ele se lembrou de que havia uma ameaça muito maior para Valdastien.

    No ano anterior, em Paris, o Imperador lhe havia dito francamente que temia as ambições da Prússia e que tinha certeza de que Bismarck estava decidido a unir todos os Estados germânicos menores em uma Alemanha imperial que os engoliria a todos, um por um.

    Maximiliano, que não tinha em grande conta a inteligência de Napoleão III, não lhe dera ouvidos.

    Agora, os avisos uns dados por franceses, outros vindos em cartas de monarcas que reinavam em países pequenos como o dele pareciam aumentar cada vez mais.

    Podia visualizar a Alemanha invadindo o mapa da Europa, engolindo um a um os principados até formar uma federação capaz de enfrentar a Inglaterra e a França em pé de igualdade.

    Com surpresa, o Primeiro-Ministro ouviu o Rei dizer, em tom muito diferente do esperado:

    −Vou levar sua proposta em consideração. Compreendo que o que sugere é sensato. Embora não deseje casar, acho justo o desejo de meu povo de eu lhe dar um herdeiro.

    O Primeiro-Ministro respirou, aliviado.

    −Só posso agradecer a Vossa Majestade por se mostrar tão compreensivo.

    −Vou pensar nisso. Acho que o melhor seria eu visitar primeiro os países vizinhos, com os quais pudéssemos fazer uma aliança firme.

    O Primeiro-Ministro, que era um homem astuto, compreendeu exatamente o que o Rei queria dizer. Também ele tinha medo da Alemanha e da ambição de Bismarck, que, como toda a Europa sabia, manipulava o fraco Rei Guilherme, que estava mais interessado em sua saúde do que na grandeza da pátria.

    O Rei levantou-se.

    −Obrigado, senhores, por sua visita. Eu lhes participarei meus planos, assim que tiver tempo de fazê-los.

    Satisfeitos com o resultado da entrevista, o Primeiro-Ministro e o Chanceler se retiraram.

    Depois que ficou sozinho, o Rei sentou-se numa poltrona e ficou olhando, sem vê-lo, o belo quadro de Fragonard na parede oposta. Não viu a figura graciosa no jardim romântico, nem os cupidos acima dela, no céu.

    Pensou apenas na incrível caceteação de ter que tolerar a companhia de uma Rainha cuja única qualidade, no que lhe dizia respeito, seria seu sangue real.

    Pensou nas cortes pretensiosas e aborrecidas que tinha visitado em suas viagens pela Europa; nos monarcas que conhecera. Eram todos iguais, muito cônscios de sua importância, tendo pavor de serem de-postos, não falando de outra coisa a não ser de assuntos familiares e de mexericos a respeito de outras cortes.

    Lembrou-se da comida sem graça, invariavelmente servida nesses lugares que detestava, das camas pouco confortáveis, das intermináveis cerimónias oficiais e compreendeu que uma Rainha traria para o Palácio de Valdastien todas essas coisas que o irritavam e que sempre procurava evitar.

    Sendo solteiro, tinha conseguido reduzir essas cerimônias ao mínimo, podendo divertir-se livremente, quase como se fosse um cavalheiro inglês, em sua propriedade rural.

    Ia caçar quando bem entendia, só recebia as pessoas de quem gostava, deixando todas as cerimônias solenes, a não ser uma ou duas por ano, a cargo do Primeiro-Ministro e de outros membros do Governo.

    Pensando bem, achou que o povo de Valdastien via seu monarca menos do que o de qualquer país. Por isso, disse a si mesmo, com ironia, esse povo estava muito mais satisfeito do que qualquer outro.

    Uma Rainha mudaria tudo! Ia querer comparecer a inúmeras solenidades públicas, visitar hospitais, receber bouquets de flores e, sempre que possível, andar de carruagem para receber os aplausos da multidão.

    Ia também querer interferir na direção dos serviços domésticos do Palácio, que o Rei considerava perfeitos, porque tinha o dom da organização.

    Em vez de jantar com seus amigos íntimos, ou de gozar uma noite solitária, lendo ou indo visitar La Belle, ou a mulher que estivesse instalada na mansão na ocasião, teria que ficar conversando com alguma frau feiosa e maçante.

    As damas de honra seriam, sem dúvida, ainda mais feias e mais aborrecidas do que a Rainha.

    Que vida terrível!

    Mas sabia que não havia alternativa.

    O Primeiro-Ministro não falaria com ele daquele modo, a não ser que tivesse sido pressionado pelos outros membros do governo e também pelos cidadãos importantes, que queriam evitar a ameaça germânica.

    Pior ainda era a perspectiva de terem que encontrar um governante estrangeiro para vir ocupar o lugar do rei, caso ele morresse sem deixar um herdeiro.

    Maximiliano sabia que os gregos tinham procurado desesperada-mente por um monarca, tendo recentemente eleito para o trono o segundo filho do Rei da Dinamarca, que se tornou George I.

    Mas sabia também que, se alguma coisa lhe acontecesse, Valdastien era um país pequeno demais para sobreviver. Um tanto desgostoso, pensou que era justo que fizesse um sacrifício por seu povo.

    Há oito anos que reinava e apreciara cada momento. Tinha sido pouco convencional, mas ninguém se queixou, era também totalmente egoísta, quando se tratava de seus interesses particulares, e o povo o admirava por isso.

    Agora, precisava pagar o preço da liberdade que gozava, mas considerava-o muito alto.

    −Só Deus sabe onde poderei encontrar uma esposa que eu ache pelo menos suportável!− murmurou.

    Como se o diabo zombasse dele, viu passar diante de seus olhos uma procissão de Princesas, altas, baixas, gordas, magras, loiras, morenas, ruivas.

    Todas lhe pareciam muito pouco atraentes, e a ideia de tocá-las fez com que estremecesse, mas uma seria a mãe de seus filhos e usaria a Coroa de Valdestien.

    −Não suportarei isso!

    Depois, como se o diabo mudasse o cenário e erguesse o pano para um outro ato, o Rei viu as mulheres que tinha escolhido por seus encantos e que o prenderam durante algum tempo.

    Todas tinham suas qualidades.

    Assim como os quadros que comprara para o palácio, assim como as jóias que dera a tais mulheres, cada uma delas tinha sido perfeita.

    Mais do que qualquer outra coisa, ele detestava a feiúra. Sabia que tinha herdado do pai o amor à beleza, como também da mãe, que, com seu sangue húngaro, tinha sido uma das mulheres mais bonitas que jamais conhecera.

    Era uma magnífica amazona. Tinha morrido muito moça, porque, assim como ele, gostava dos cavalos selvagens, em vez dos que poderia montar sem perigo.

    Se foi bonita em vida, também continuou sendo bonita depois de morta. O Rei sabia que sua beleza o inspirava, e era o que procurava em todas as mulheres, sem jamais a encontrar.

    Consternado com o futuro, que o esperava, teve a impressão de que, de repente, um abismo se abria à sua frente.

    Não estava mais seguro; devia seguir um caminho estranho e traiçoeiro, com a convicção de que sua paz e sua felicidade seriam destruídas para sempre.

    Começou a andar de um lado para outro, inquieto.

    Como se não pudesse mais suportar os próprios pensamentos, desceu a escada e foi para o escritório.

    Procurou a chave que tinha guardado no bolso do colete. Sabia, embora isso fosse apenas um paliativo como o vinho, que só La Belle poderia fazer com que se esquecesse de tudo, por um momento.

    A porta da sala de estudos se abriu, mas a Princesa Zita, que lia junto da janela, não virou a cabeça.

    Estava, na realidade, no mundo da fantasia, onde ficava, sempre que lia um livro, e onde sé refugiava, à noite, ou mesmo durante o dia, quando não se interessava pelo que se passava à sua volta.

    Só quando percebeu que havia alguém a seu lado, foi que olhou para a recém-chegada, sua irmã mais velha, Sophie.

    −Imagine o que aconteceu!− exclamou Sophie.

    A contragosto, porque estava muito mais interessada na leitura, Zita perguntou:

    −O que foi?

    Não esperava nada de excitante, mas sabia que devia ser alguma coisa inesperada; do contrário, Sophie não teria vindo interrompe-la. A irmã sentou-se no banco da janela, diante dela.

    −Mal posso acreditar, mas mamãe diz que deve ser por isso que ele vem aqui,

    −De quem está falando? Quem é que vem aqui?

    −O Rei Maximiliano de Vaidastien avisou o meu pai que está fazendo uma tournée pelos países vizinhos e que deseja passar uns dias aqui.

    Sophie falou no tom preciso, inexpressivo que lhe era peculiar, mas seus olhos estavam animados, e encarou a irmã, com apreensão.

    Zita ficou sem fala, por um momento.

    −O Rei Maximiliano? Tem certeza?

    −Absoluta. E mamãe acha que ele vem pedir minha mão em casamento.

    −Não pode ser verdade! Sempre ouvimos dizer que o Rei é um solteirão inveterado, que não pretende casar, embora haja muitas mulheres dispostas a partilhar o trono com ele.

    Zita parecia estar falando para si mesma, como a irmã não respondeu, continuou:

    −Creio que sei porque motivo, ele mudou de idéia. Uma noite destas, o meu pai estava falando com o Barão Meyer sobre a determinação de Bismarck de expandir as fronteiras da Alemanha− fez uma pausa e acrescentou, em tom positivo−, sim! É por isso que o Rei quer não apenas ter certeza de que nosso país será seu aliado contra a Alemanha, como também ter um herdeiro.

    Zita não esperava que a irmã respondesse, pois sabia que Sophie não se interessava por política, nunca procurando ouvir a conversa quando o pai recebia algum membro do governo, nem tampouco, lendo os jornais.

    Zita gostava tanto de jornais quanto de livros. Muitas vezes achava que seu cérebro estava dividido em dois compartimentos: um se interessava por política e pelos problemas de todos os países da Europa, o outro estava repleto de fantasias que tornavam o mundo belo como um conto de fadas.

    Nesse último, não havia problemas, a não ser os que aconteciam com ninfas e sátiros, com gnomos e duendes, assim como com as sereias que atraíam marinheiros e navios com seu canto, levando-os à destruição.

    Era esse o assunto da história que estava lendo. Por um momento, teve dificuldade em abandonar as sereias, com seus cabelos longos flutuando nas ondas, para concentrar-se em Maximiliano e na sua procura de uma esposa.

    Então achou que a diferença não era muito grande, afinal de contas.

    A mãe de Zita, a Grã-Duquesa, ficaria horrorizada, se soubesse que a filha tinha conhecimento da reputação do Rei, isto é, a de dar sua proteção às mais lindas mulheres do teatro.

    O professor de música, que ensinava piano a Zita, tinha sido concertista, em Paris, assim sendo, conhecia o mundo do teatro, que fascinava a Princesa, já que ela vivia na quietude de Aldross, o país de seu pai.

    −Conte-me mais alguma coisa, monsieur, conte tudo!− pedia Zita, quando a lição terminava, e o professor tinha prazer em falar para ouvidos tão atentos.

    Contava sobre as grandes personalidades do teatro. Como ia sempre a Paris, onde tinha dois filhos casados, Zita sabia quais eram as últimas peças em cartaz.

    Ele descrevia as prima-donas que atraíam multidões à ópera, as estrelas dos cafés-concertos, as mulheres que enfeitiçavam os homens, que gastavam fortunas com elas em vestidos, jóias, carruagens, cavalos e tudo o que desejassem.

    Sabendo o quanto a moça se interessava, ele lhe trazia jornais franceses, que não apenas descreviam o que acontecia no palco, como os escândalos sobre as pessoas da atla sociedade.

    O nome de Maximiliano aparecia freqüentemente nesses jornais. Zita se interessava por ele, porque o Rei era muito bonito, a julgar pelos retratos e desenhos, e exatamente o que Zita esperava que um Monarca fosse. Com um ar dominador e autoritário, parecia muito diferente dos homens comuns, assim como dos parentes de sangue real da Princesa.

    Encorajado pelo interesse da aluna e levado por sua própria verbosidade, o professor às vezes era indiscreto. A mocinha ficou sabendo dos casos do rei. Assim que La Belle foi instalada em Valdastien, ela teve conhecimento do fato.

    −Diga-me como é essa atriz− pediu ao professor.

    −Linda, com o corpo de uma deusa! Quando anda pelo palco, usando um traje diáfano que revela a perfeição de suas formas, o público fica em silêncio. Não há maior homenagem para uma atriz do que o silêncio de um público fascinado por sua beleza e pelo papel que interpreta.

    Zita também ficava fascinada, mas não podia compreender que uma artista como La Belle pudesse trocar os aplausos mesmo por um Rei!

    −Será que ela não sente solidão, levando uma vida tão calma naquele país, que ouvi dizer que é parecido com o nosso?

    O professor sorriu.

    −Ela tem o Rei para aplaudi-la.

    −Quer dizer que dança para ele?

    A pergunta fez com que o professor percebesse que tinha falado demais com uma criatura jovem demais, que não deveria saber que mulheres como La Belle existiam.

    −A aula acabou, Princesa. Amanhã vamos tratar das composições de Liszt, em vez de perdermos tempo com conversa fiada.

    Num tom muito sedutor, Zita disse:

    −Mas, professor, deve compreender que, quando conversamos, o senhor abre para mim novos horizontes… e a música, quando vem do coração tanto quanto da mente, não pode ser abafada.

    Sabia que esse era o tipo de comentário que ele apreciava e compreendia.

    −Vossa Alteza Real é muito inteligente. Por outro lado, eu não devia falar nessas mulheres.

    −Se essas mulheres dançam tão bem, como o senhor disse, então elas dão beleza ao mundo, e é isso que todos nós buscamos.

    −Ê verdade, bem verdade, mas devo falar-lhe, Alteza, de Raquel, que foi uma atriz brilhante e uma das maiores prima-donas de óperas, e que ainda não estudamos completamente.

    −Sim, é claro. Se o senhor puder arranjar um retrato dela, numa das suas revistas, eu ficaria muito satisfeita.

    Sabia perfeitamente que não estava interessada nas qualidades artísticas de La Belle, e sim, em seu relacionamento com o Rei Maximiliano.

    «Por que será que ele a acha tão atraente?», pensou.

    Resolveu continuar insistindo com o professor para que lhe arranjasse um retrato de La Belle. Queria satisfazer sua curiosidade quanto aos encantos da atriz que tinham feito com que o Rei a tirasse de Paris e a conservasse em Valdastien,

    Agora, inesperadamente, ficava sabendo que o Rei vinha a Aldross para casar com Sophie.

    Ao compreender o significado disso, Zita soltou uma exclamação de alegria.

    −Sophie, você é a criatura mais feliz do mundo! Já pensou como o Rei é bonito e excitante? O meu pai disse que não há no mundo nenhum Monarca que se compare a ele em beleza e em qualidades atléticas. Ele galgou o Matterhorn, em certa ocasião e você vai ter, em Valdastien, os cavalos mais soberbos e mais fogosos.

    Ao dizer isso, lembrou-se de que a irmã não gostava de cavalos que não fossem muito mansos.

    Zita é que tinha herdado as qualidades de amazona da avó, que havia sido aclamada por sua habilidade, assim como por sua beleza, em seu país, a Hungria.

    −Não me interessam os cavalos, e sim, o povo de Valdastien− respondeu Sophie− Vou querer que todos me respeitem e me admirem. Sei que darei uma boa Rainha, Zita.

    −Tenho certeza disto, querida, mas, muito mais importante do que ser Rainha, é ser a esposa do Rei Maximiliano.

    Sophie ficou em silêncio por um momento, antes de dizer:

    −Não creio que a mãe aprove realmente o Rei, mas é claro que deseja que eu tenha uma posição importante. Não fosse por isso, pen so que ela estaria considerando meu casamento com o margrave de Baden.

    Zita fez uma careta.

    −Oh, não! Ele é tão maçante! Nunca diz uma coisa da qual a gente se lembre depois.

    −Acho-o um bom homem.

    Zita olhou para a irmã, pensativa. Pelo que tinha ouvido falar, seria impossível descrever o Rei, como um bom homem.

    Não era apenas o professor de música que falava dele, como também Madame Goutier, que vinha ao Palácio dar aula de francês para as duas Princesas.

    Era parisiense, mas casara com um cidadão de Aldross.

    Depois de viúva, continuou vivendo ali, mas nunca perdeu contato com seu país de origem. Ia regularmente a Paris, onde tinha numerosos parentes que a punham a par das últimas novidade e mexericos.

    Sophie achava difícil aprender francês, por isso, não ficava para conversar, depois da aula, escapando assim que terminava. Zita ficava sozinha com a francesa.

    −Conte as últimas novidades de Paris, madame.

    Levando uma vida solitária, Madame Goutier tinha muito prazer em responder.

    Falava sobre o Imperador e a Imperatriz, sobre os vestidos que Frederick Worth fazia, não apenas para as aristocratas, como para as mulheres do demi-monde, que tinham jóias e trajes mais bonitos do que os das senhoras recebidas no Palácio das Tulherias.

    Por intermédio da professora, Zita ficou conhecendo um mundo que, supostamente, ela não devia conhecer e que certamente não era comentado por Princesas reais.

    Ficou sabendo das loucas extravagâncias de mulheres que atraíam os homens com sua beleza, levando-os a perder fortunas só pelo prazer de estar com elas. A moça era inteligente e não tinha dificuldade em preencher os vazios que a professora deixava em suas narrativas.

    Como o Imperador não fazia segredos de seus casos amorosos, a filha de Madame Goutier escrevia à mãe sobre as aventuras dele. Também o Príncipe Napoleão exibia suas amantes. Zita soube que o Barão Haussmann, que havia reconstruído Paris, tinha sido visto passeando, sem a menor cerimônia, com a atriz Francine Cellier.

    Soube também que o Rei holandês estava apaixonado por Madame Mustard, tendo gastado com ela uma quantia astronômica.

    Conversando sem pensar, assim como o professor de música Madame Goutier não fazia a mínima idéia de quanto a aluna guardava de cor, sobre tudo que lhe contava.

    «Ah, se eu pudesse conhecer Paris!», Zita achava que teria que se contentar em sonhar com isso. Agora, de repente, como um meteoro que caísse do céu, o homem mais bonito, mais audaz e certamente o mais falado em Paris, o Rei Maximiliano, seria hóspede do Castelo de Aldross!

    −Não posso acreditar que seja verdade!− disse novamente., se casar com ele, Sophie, vai ser excitante, não apenas para você, como para mim. Prometa que me convidará para ir passar uns tempos em Valdastien, se não quiser que eu fique desolada.

    Zita falou em tom de súplica, tão grande a intensidade de seus sentimentos, mas Sophie respondeu devagar, com o tom inexpressivo de sempre:

    −Não, Zita! Não vou convidá-la para ficar uns tempos comigo em Valdastien, nem quero que fique muito perto de mim. Você é bonita demais!

    CAPÍTULO II

    −Como pode ser tão injusta, mãe?− perguntou Zita, indignada.

    A Grã-Duquesa ficou em silêncio, como que pesando as palavras.

    −Esta é a oportunidade de Sophie fazer um bom casamento e não quero que você interfira ou estrague tudo para ela.

    −Como eu poderia fazer isso?

    A Grã-Duquesa não respondeu à pergunta e disse apenas:

    −Não vou discutir o assunto. Você ficará no andar de cima e não tomará parte em nenhum dos festejos preparados para o Rei Maximiliano. Se me desobedecer, será mandada para a casa de um de nossos parentes.

    Zita ficou quieta. Se achava o Palácio um lugar sombrio, isso nada era em comparação com a monotonia e a depressão da casa de tios que viviam em lugares ainda mais isolados do país.

    Levantou-se e saiu da sala, fechando a porta com ruído.

    A mãe suspirou. Sempre achara Zita difícil, porque se parecia com o pai, ao passo que Sophie era quieta e obediente, exatamente como a Grã-Duquesa.

    Zita caminhou ligeira pelo corredor, indo à procura do pai. Irrompeu no escritório, encontrando-o sozinho. Aproximou-se e disse, zangada:

    −Pai, não posso acreditar que seja com seu consentimento que me proibiram de jantar com o Rei Maximiliano ou de comparecer ao baile. Para dizer a verdade, parece que nem mesmo lhe serei apresentada!

    O Grão-Duque ergueu o olhar do jornal e notou o brilho encolerizado dos olhos verdes da filha.

    Com voz afetuosa e olhar bondoso, disse:

    −Sinto muito, querida. Achei mesmo que você ia ficar aborrecida.

    −Então o senhor sabia!− disse Zita, em tom acusador−. Oh, pai como pôde ser tão cruel?

    O Grão-Duque estendeu a mão. Zita pegou-a e ajoelhou-se ao lado dele, com ar súplice.

    −Sabe como a vida aqui tem sido monótona, ultimamente, pai. Seria bom dançar com alguém, principalmente com o Rei Maximiliano, que sempre desejei conhecer.

    O pai apertou-lhe a mão.

    −Infelizmente, querida, creio que a decisão de sua mãe, de não permitir que compareça aos festejos em honra do Rei, é por você ser tão bonita!

    Zita fitou-o, como se não acreditasse em tais palavras. Depois disse, serenamente:

    −Oh, sei que Sophie finge que tem ciúme de mim e que a mãe não aprova meu comportamento com o senhor, mas, francamente, o que elas sentem não deve ser suficientemente sério para eu ficar isolada na sala de aula, como se tivesse uma moléstia infecciosa!

    O Grão-Duque sorriu, mas foi com voz triste que respondeu:

    −Quando eu soube o que havia sido decidido, compreendi que você ficaria aborrecida. mas não há nada que eu possa fazer.

    −Por que não?

    O pai explicou, pacientemente:

    −Porque é muito importante, como você deve compreender, que países pequenos como o nosso, se unam contra a cobiça da Alemanha. Se o Rei Maximiliano casar com Sophie, nossos dois países ficarão muito mais fortes do que são atualmente.

    Sabia que Zita compreenderia exatamente o que ele dizia, porque muitas vezes os dois tinham discutido os problemas políticos da Europa.

    −Pensei que a Alemanha estivesse de olho na Áustria− disse ela, dali a um momento.

    −Primeiro, a Áustria, depois a Bavária e talvez nós em seguida… por que não?... a França.

    Zita respirou fundo.

    Sabia que ele não estava falando levianamente. Era o que ela também achava, caso Bismarck transformasse suas palavras em ações. Encostou a face na mão do pai e disse:

    −Mesmo assim, gostaria de ir ao baile oficial. Se me deixar ir, prometo não dançar com o Rei.

    −Mas ele pode querer dançar com você, meu bem e é exatamente disso que sua mãe e Sophie têm receio.

    Zita não se moveu. Ainda com a face encostada na mão do pai, pensou que era a primeira vez que alguém na família dizia que ela era bonita.

    Mas seria muito estúpida, se não tivesse percebido que se parecia muito com a famosa avó húngara.

    A antiga Grã-Duquesa fez sucesso em toda a Europa e pelo que Zita sempre ouviu dizer, poderia ter feito um casamento muito mais brilhante, em vez de aceitar o pedido do Grão-Duque de Aldross.

    −Sua avó se apaixonou assim que viu seu avô− disse o pai a Zita, quando ela era pequena e admirava o retrato da avó, pendurado na sala do trono.

    −Se o vovô era como o senhor, pai, então isso não me surpreende. Deve ter sido muito bonito.

    −Obrigado, querida− respondeu o Grão-Duque, na ocasião−, mas estou satisfeito por poder dizer que, embora me pareça com o meu pai, herdei muitas das características de minha linda mãe, principalmente seu amor por cavalos e sua habilidade em montar os animais mais fogosos, e fui bastante inteligente para criar uma réplica dela em você.

    Talvez pelo fato de ter amado e admirado a mãe, o Grão-Duque adorava Zita. Quando ela nasceu, já tinha um filho, Henrich e uma filha, Sophie. Embora nada dissese, esperava que a terceira criança fosse um menino.

    Mas, assim que viu Zita, soube, de maneira inexplicável, que ela significava mais para ele do que os outros dois filhos.

    À medida que a menina crescia e se tornava cada vez mais bonita, com seus cabelos ruivos e olhos verdes, o pai passava mais tempo na saleta das crianças.

    Quando ela estava com oito anos, o pai a levou nümà de suas viagens, apesar dos protestos da Grã-Duquesa. Ele ia sempre para as montanhas, o que enfurecia a esposa.

    −Quero conhecer meu povo. A melhor maneira de fazer isso é viver um pouco no meio dele− disse o Grão-Duque, com firmeza.

    Usando calça curta de couro, jaqueta verde e chapéu tirolês, o que era quase um uniforme entre o povo de Aldross, tanto quanto entre os bávaros, o Grão-Duque costumava fazer essas viagens sozinho.

    Hospedava-se em estalagens pequenas, tomava o vinho da localidade, cantava com seus súditos as canções regionais que, de certo modo, expressavam melhor do que palavras o que sentiam.

    O povo de Aldross o adorava, achando que ele compreendia seus problemas.

    O fato de o Grão-Duque ter outro motivo para fazer essas excursões ocasionais às montanhas fazia com que seus súditos lhe sorrissem e dissessem, uns para os outros:

    −Ele é um homem de verdade.

    Para Zita, viajar sozinha com o pai era a coisa mais excitante do mundo. O Grão-Duque tomava conta dela, sem repreendê-la, sem lhe dar ordens o tempo todo, como acontecia com as babás, com as governantas e, naturalmente, com sua mãe.

    Ela e o pai iam a cavalo até a metade do caminho, na subida para uma montanha.

    Apeavam e depois seguiam a pé, atravessando os pinheirais e indo até os rochedos nus, enquanto as pernas da menina agüentassem.

    Embora procurasse não se queixar, às vezes Zita tinha que confessar que estava cansada. Aí, então, procuravam um lago, e o Grão-Duque sugeria que ela nadasse, até sentir-se revigorada com a água fria.

    Depois da primeira viagem com o pai, Zita aprendeu a nadar e acabou sabendo nadar como um peixe.

    Mas era uma aptidão que ela jamais mencionava no Palácio, pois a mãe não aprovaria que nadasse nua, mesmo não havendo ninguém por perto, a não ser o pai.

    Todos os anos, Zita e o Grão-Duque iam juntos a algum lugar. Nada do que a Grã-Duquesa pudesse dizer ou fazer os impedia de escapulir por uma semana ou dez dias.

    Voltavam queimados de sol, cheios de saúde e de bom humor, mas pouco diziam sobre o lugar para onde tinham ido ou sobre o que haviam feito.

    Quando Zita estava com quinze anos, a Grã-Duquesa a proibiu de fazer essas excursões. Por mais que suplicasse ao pai, não conseguiu convencê-lo a levá-la.

    Não compreendia o motivo dessa proibição repentina, a respeito de uma coisa que a tornava tão feliz e que também dava prazer ao pai.

    Só quando começou a ouvir falar dos homens que gastavam tanto dinheiro, em Paris, com as mulheres bonitas do demi-monde, foi que Zita teve a vaga ideia do que o Grão-Duque fazia, quando dava essas fugidinhas sozinho.

    Então, palavras semi-esquecidas, lhe voltavam à memória, palavras que no passado não tinham sentido para ela.

    −Não quero saber de ver uma filha minha se associando com essas mulheres!− disse, certa vez, calando-se subitamente, ao perceber que a menina entrava no quarto.

    Em outra ocasião, ouviu a grã-duquesa perguntar, furiosa:

    −Que espécie de reputação você acha que tem, andando com mulheres que encontra em... ?

    Também dessa vez, a frase não foi terminada. Gradualmente, voltaram outras recordações que fizeram com que Zita compreendesse por que motivo agora era deixada em casa.

    Certa vez, estava dormindo numa estalagem, num quarto pequeno e de teto baixo, com uma vista linda das montanhas ao longe. O luar, entrando pela janela, bateu em seu rosto, e Zita despertou de um sono profundo.

    Ela e o pai tinham caminhado o dia inteiro, nadado num lago frio e depois ido para a estalagem encantadora no alto da montanha. Quando lá chegaram, uma moça loira, de pele rosada e olhos azuis como miosótis, correu para eles, com uma exclamação de alegria.

    −Você voltou!− disse, ao Grão-Duque−, pensei que nunca mais o veria.

    Ele sorriu, passou a mão no rosto da moça e respondeu:

    −Sempre cumpro minhas promessas, Névia. Desta vez, trouxe minha filha para conhecer a mulher mais bonita de Aldross!

    O jantar foi delicioso, e Zita teve licença de tomar um pouquinho do vinho do distrito.

    Depois, não podendo mais ficar em pé, foi para a cama e pegou no sono assim que se deitou.

    Ao acordar por causa do luar em seu rosto, achou que era muito feliz. Estava quase adormecendo novamente, quando ouviu uma risadinha suave e depois a voz do pai, grave e profunda, como nunca tinha ouvido antes.

    Pareceu-lhe estranho, mas Zita estava com muito sono para se preocupar com isso e no dia seguinte já se esquecera.

    Mais tarde, quando se lembrava deste episódio, achava que combinava com a cólera que a mãe sentia quando o marido partia numa de suas viagens. Embora Zita não tivesse mais permissão para acompanhá-lo, ele continuava a fazer essas excursões sozinho, despertando a ira da esposa.

    Lentamente, a garota começou a ver os pais sob um novo ângulo. Compreendeu que o casamento deles tinha sido arranjado e que, para Aldross, fora uma vantagem o Grão-Duque casar com uma moça da família real britânica, pois o país poderia contar com um certo apoio da Inglaterra, caso isso se tornasse necessário.

    A Grã-Duquesa, de aparência muito inglesa, era severa e tímida, e à medida que envelhecia, tornava-se mais fria e pouco emotiva, muito diferente do povo alegre e extrovertido de Aldross.

    Ali, todos riam, porque eram felizes, e cantavam enquanto trabalhavam. Ao anoitecer, as vozes dos trabalhadores, voltando para casa, ecoavam pelos campos como sinos, parecendo subir até os morros de cumes brancos de neve, como que levadas por asas.

    Só naquele ano, quando tinha quase dezoito anos, Zita percebeu que a mãe amava o Grão-Duque, não porque era sua esposa, e sim, como mulher.

    Levou um choque, ao compreender, quase como se o pai lhe tivesse dito isso, que, embora ele tratasse a mulher com respeito e consideração, não estava apaixonado por ela.

    «Pobre mamãe!», pensou .

    Decidiu que, quando chegasse a ocasião, se recusaria a casar com um homem a quem não amasse e que não a amasse, por mais importante que ele fosse.

    O Grão-Duque, tão bonito e tão atraente para as mulheres, devia sentir-se realmente frustrado. O país sobre o qual reinava era pequeno; o casamento o impedia de perambular pelo mundo, como gostaria de de fazer.

    Muitas vezes tinha falado a Zita de suas viagens quando moço, tendo ido ao Egito, à Rússia e, embora se mostrasse reservado a esse respeito, a Paris.

    Quando Zita o interrogava sobre o que havia feito em Paris, o pai falava de Roma; quando ela, astutamente, tentava fazê-lo falar dos quadros do Palácio das Tulherias, o Grão-Duque falava dos que tinha visto em Florença e em Madrid.

    Pouco a pouco, à medida que o professor de música e Madame Goutier faziam com que Paris criasse vida para ela, como uma cidade cheia de encantos e de mulheres bonitas, Zita começou a compreender por que o pai ia para lá, em solteiro.

    Depois de casado, a única maneira de escapar e ser livre por alguns dias era ir para as montanhas.

    Amava seu país e amava seu povo, mas, quando os olhares das mulheres se iluminavam, ao vê-lo, e elas lhe estendiam os braços, não era homem de lhes dar as costas.

    Zita também tinha pena do pai, e de si mesma, porque não lhe permitiam mais acompanhá-lo. Agora, era obrigada a ficar no palácio, com a mãe.

    Nessas ocasiões, a Grã-Duquesa se mostrava mais exigente do que de costume e toda a corte parecia envolta numa névoa sombria, até o Grão-Duque voltar.

    Como se seguisse os pensamentos de Zita e soubesse que sua caçula estava tão frustrada como ele, o pai disse:

    −Escute aqui, meu bem. Vou concordar com sua mãe, que não quer que você apareça nos festejos em honra do Rei, mas com uma condição: depois que ele for embora, você e eu faremos uma excursão pelas montanhas.

    Zita ergueu para ele os olhos, onde agora havia um brilho de entusiasmo.

    −É verdade, pai? Seria maravilhoso. Não sabe como senti falta de nossos passeios.

    −Também senti falta, querida, mas sua mãe diz que você não é mais criança para me acompanhar, e reconheço que tem razão.

    −Mas, desta vez, ela vai ter que concordar. Prometa que cumprirá sua promessa, que não deixará que a mãe o faça mudar de ideia!

    −Prometo. Quero escalar a montanha num ponto aonde não vou há, no mínimo, dez anos. Será muito emocionante mostrá-lo a você.

    −Vou adorar, pai e ficaremos bastante tempo, não é? Porque será maravilhoso ter o senhor só para mim.

    O Grão-Duque inclinou-se e beijou-a.

    −Eu a amo, Zita, e quero que tenha tudo na vida para ser feliz, mas nem sempre as coisas são fáceis para mim. Você sabe disso.

    −Sim, eu sei, pai e esperemos que o Rei case com Sophie, para que o senhor não se preocupe mais com ela nem tenha receio de que Aldross seja engolido por aquele monstro, Bismarck.

    O Grão-Duque riu.

    −Amém! E agora, querida, não faça mais barulho sobre o que possa acontecer até o rei ir embora. A vida fica muito mais fácil para mim quando sua mãe está de bom humor.

    −Vou procurar não aborrecer a mãe. Parece que eu sempre a perturbo, embora não atine com o motivo disso!

    O Grão-Duque poderia ter respondido com uma única palavra; ciúme, mas sabia que seria deslealdade dizer isso e calou-se.

    Depois que Zita o beijou e saiu, ele ficou durante muito tempo pensando nela.

    Devido à vida calma que levava no Palácio, e sendo sempre repreendida pela mãe, Zita não tinha ideia do quanto era bonita nem de que os homens iriam achá-la fascinante.

    Lembrava-se dos olhares que, quando ele era menino, os homens lançavam à sua mãe; homens de todas as idades, de todas as classes. E, agora, tinha a impressão de ver esse mesmo tipo de olhar nos cortesãos, quando Zita aparecia.

    Tinha certeza de que, se o Rei Maximiliano estava mesmo querendo uma esposa, iria preferir Zita a Sophie.

    Mas era mais do que justo que a mais velha casasse antes. Como Sophie estava com vinte anos, já era tempo de arranjar um marido.

    O problema era que, com exceção do margrave de Baden, muito poucos rapazes de sangue real vinham a Aldross ou eram convidados para visitar seus países.

    A Grã-Duquesa já havia dito, desesperada, que Sophie ia ficar solteirona, se ela não tomasse uma providência urgente.

    −Que posso eu fazer?− perguntou o Grão-Duque−, não posso fazer com que Reis ou Príncipes disponíveis surjam como coelhos tirados da cartola de um mágico, e você sabe tão bem quanto eu que, com exceção de Valdastien, os países vizinhos são governados por monarcas casados, com filhos ainda pequenos.

    −Não adianta pensarmos no Rei Maximiliano− comentou a Duquesa, secamente−, ele perde seu tempo com o tipo de mulher que você acha atraente e de quem não se fala na sala de visitas de uma dama!

    −Ouvi dizer que a mulher que está agora com ele tem um corpo escultural!− observou o Grão-Duque.

    Imediatamente, percebeu que cometera um erro, pois a esposa ergueu o queixo e saiu da sala, sem nem mais uma palavra.

    Isso significava, como ele bem sabia, que ela ia ficar emburrada durante as próximas vinte e quatro horas e que a atmosfera, às refeições, se tornaria insuportável.

    Pegou o jornal que tinha largado quando Zita entrara e disse a si mesmo:

    «Pobre Maximiliano! Depois de casado, vai ver que as mulheres que o divertiram no passado, assim como La Belle, estarão em Paris e ele estará preso em Valdastien, para o bem ou para o mal, até que a morte os separe».

    Embora Zita procurasse não aborrecer a mãe, como havia prometido ao pai, achou intolerável ver a excitação dos preparativos no palácio-e saber que não tomaria parte dos festejos em homenagem ao Rei.

    Sophie precisava de vestidos novos, e as costureiras iam e vinham. As capas foram tiradas da mobília do salão de baile, e o chão, encerado. As paredes brancas e douradas foram limpas, ficando brilhantes como se tivessem sido pintadas na véspera.

    Trouxeram flores das estufas, que foram arranjadas em vasos. Eram em tão grande profusão, que o salão e toda a casa pareceram um jardim.

    −Não compreendo, pai, porque é que a nossa casa não pode ficar sempre assim bonita −observou Zita, ao almoço−, seria melhor do que fazer isso apenas para um visitante de passagem, que provavelmente não vai apreciar essa decoração tanto quanto nós.

    −Você não deixa de ter razão, querida.

    O Grão-Duque gostava de discutir com a filha caçula, achava estimulante tanto para ele quanto para ela. Às vezes, tomavam posições opostas, só por graça, e isso era uma coisa que a Grã-Duquesa não compreendia.

    −Por outro lado, se o incomum se tornasse comum e corriqueiro, você não o apreciaria tanto− continuou o pai.

    Os olhos de Zita brilharam. Ia responder, quando a mãe interferiu:

    −Basta de suas ideias ridículas, Zita. E procure não aborrecer seu pai com perguntas tolas. Temos muito que fazer, antes que Sua Ma jestade chegue, amanhã.

    −A que horas ele deve chegar, mãe?− perguntou Sophie. Como a pergunta foi feita pela filha predileta, a Grã-Duquesa respondeu, de boa vontade:

    −Você vai encontrar o programa dos festejos em minha escrivaninha. O Rei já deve ter saído, para a primeira parte da viagem. Passará a noite em casa de um amigo, não muito longe de nossa fronteira.

    −E quando vou vê-lo?− perguntou Sophie, ansiosa.

    −Seu pai vai encontrá-lo na estalagem Golden Cross, amanhã, às onze da manhã, e o trará para cá, com uma escolta de cavalaria.

    −E onde estaremos nós?

    −Estaremos aqui, esperando. Você deve usar aquele bonito ves tido cor-de-rosa. Tenho certeza de que o Rei a achará parecida com uma rosa.

    Como Sophie tinha cabelos castanhos opacos e uma expressão emburrada, era difícil compará-la a uma flor.

    Zita conteve o desejo de rir da comparação da mãe, poética e pouco costumeira. Nisso, seu olhar encontrou o do pai.

    Achando que ajudaria a irmã, aconselhou:

    −Diga à cabeleireira para lhe fazer um penteado mais leve. Se ela fizer uns cachos em volta do rosto, em vez de puxar os cabelos para trás, você vai ficar mais bonita e, como diz mamãe, parecendo uma flor.

    −Não estou pedindo sua opinião, Zita− interrompeu a Grã-Duquesa, secamente. Levantou-se e estendeu a mão para a filha mais velha− venha, Sophie. Temos uma porção de coisas para fazer e não quero que você ouça a opinião de ninguém, a não ser a minha.

    As duas saíram. Zita suspirou e olhou para o pai. Nada disseram. Cada qual sabia o que o outro pensava. O Grão-Duque colocou a mão sobre a da filha.

    −Pense como vamos nos divertir nas montanhas− disse, meigamente.

    Em seu quarto, o único lugar onde não sentia irritação com os preparativos, Zita foi para a janela, imaginando se poderia ver o pai, de relance, enquanto ele estivesse no palácio.

    Mas a mãe lhe havia dito inúmeras vezes que ela devia ficar no andar de cima, na sala de estudos, que antes tinha sido o quarto das crianças e mais tarde, a saleta das duas princesas.

    O quarto havia sido redecorado, mas para Zita, parecia que ali ainda estava a casa de boneca que tinha pertencido a ela e a Sophie, assim como o cavalo de balanço de Henrich, a fortaleza de brinquedo dele, na qual as irmãs não tinham licença de tocar e também as numerosas bonecas que o irmão costumava esconder, para aborrecê-las. Quando ele estava de mau humor, podia até quebrar uma delas!

    «Creio que quando sairmos daqui e formos viver em nosso próprio Palácio, nos sentiremos adultas», disse Zita a si mesma.

    Ficou imaginando se Sophie seria feliz em Valdastien, com o fantasma de La Belle e de tantas outras mulheres. Depois, achou que não era Sophie que ia ver esses fantasmas porque provavelmente nem saberia de sua existência, e sim, o Rei.

    Será que ele se sentiria frustrado, como seu pai, e teria que recorrer ao consolo de galgar suas montanhas e desaparecer em suas florestas, em vez de ir divertir-se em Paris, como provavelmente fazia agora?

    Era difícil imaginar seus pensamentos e sentimentos, pois só o conhecia pelas histórias contadas pelo professor de música e por ma-dame Goutier, assim como pelos retratos de revistas e de jornais e estava certa de que esses não lhe faziam justiça.

    Foi então que resolveu ver o Rei.

    «Mesmo que eu tenha que ficar na beira da estrada, quando ele passar, vou vê-lo!»

    De repente, lhe ocorreu uma ideia que ela sabia ser uma afronta às convenções, mas que não deixava de ser muito excitante.

    Ninguém deu muita atenção a Zita, na noite anterior à chegada do Rei. Se tivessem dado, veriam que ela estava silenciosa e imersa em pensamentos.

    Ao mesmo tempo, havia em seu olhar um brilho que o Grão-Duque poderia ter reconhecido como o mesmo que aparecia nos olhos de sua mãe, quando ela planejava alguma travessura.

    A Princesa Ilena, como era chamada antes do casamento, tinha escandalizado as senhoras idosas da corte do pai, mas o povo a admirava por sua coragem tanto quanto por sua beleza.

    O que Zita pretendia fazer agora era uma coisa que a avó teria tido coragem de fazer, pois era valente e indomável.

    Para grande alívio da Grã-Duquesa, a moça foi se deitar cedo, dizendo que estava com uma ligeira dor de cabeça.

    Lá em cima, quando ninguém podia vê-la, tirou do armário seu traje de montaria. Arrumou tambér uma trouxa de roupas que levaria do mesmo jeito que fazia quando saía só com o pai, isto é, presa na sela do cavalo.

    Excitada demais para dormir, Zita apenas cochilou. Quando acordava, olhava para o céu, através da janela aberta.

    Assim que as estrelas começaram a se apagar e surgiram os primeiros sinais da madrugada, ela se levantou e se vestiu apressadamente. Levando a trouxa, desceu por uma escada de serviço, que

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