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A Espia do Oriente
A Espia do Oriente
A Espia do Oriente
E-book506 páginas8 horas

A Espia do Oriente

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Sobre este e-book

Um atentado iminente. Um segredo enterrado no passado. Um homem e uma mulher que se odeiam, forçados a trabalhar juntos.
A gozar de uma licença de serviço por motivos de saúde, o diretor do Gabinete de Informação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, um espião ocasional, é chamado de regresso ao ativo. Um cientista foi raptado e um atentado afigura-se no horizonte, ameaçando o equilíbrio político da Europa.
Porém, quando uma mulher enigmática, cujo nome e passado são mantidos em segredo, se oferece para trabalhar com o espião português, o mistério adensa-se. Ela tem no seu historial vários furtos e homicídios, mas será ele capaz de resistir à tentação da sua beleza exótica e invulgar?
Entre cenários tão variados quanto cosmopolitas de locais como Courchevel, Budapeste, Dubai e Lisboa, A Espia do Oriente é um thriller psicológico de leitura compulsiva, que nos transporta para uma teia complexa de mentiras, traições e reviravoltas inesperadas, como só Nuno Nepomuceno consegue criar.

IdiomaPortuguês
EditoraCultura
Data de lançamento13 de out. de 2022
ISBN9789899096820
A Espia do Oriente

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    Livro maravilhoso. Recomendo a leitura, antes, de "O Espião Português", primeiro título da trilogia Freelancer. É possível encontrar resenha do livro 1 no meu blog, o spybooksbrasil.wordpress.com.

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A Espia do Oriente - Nuno Nepomuceno

Praga, República Checa

Não foi o medo, ou a ansiedade, que a deixaram com o coração em sobressalto, mas a perceção clara de que algo de mau vinha a caminho. O destino trouxera-lhe demasiados fracassos pessoais e incertezas; fizera-a mudar de planos e aceitar a infelicidade. Porém, tudo mudara recentemente e aquelas sensações que vivia junto ao rio eram uma prova inequívoca dessa crença.

A presidente olhou com preocupação sobre o ombro e prosseguiu em frente, cruzando-se com um casal que se beijava no parque. Os dois, que a ignoraram, formavam um par bonito e tinham o cabelo louro. O dela dava-lhe pelos ombros e era puro e fino, como um trigo sem joio. O dele, comprido, caía-lhe sobre as costas, enrolado em rastas de aparência exótica. Eram um casal apaixonado, como só os mais jovens conseguiam sê-lo.

Annemarie conteve a pontada de inveja que sentiu ao passar pelos amantes e continuou a caminhar ao longo da zona ribeirinha, através do passeio sobranceiro ao rio. O Sol caía, descendo até ao horizonte, enquanto se perdia entre as nuvens tenebrosas, acolhendo a noite. A luz parca que se evadia dos candeeiros refletia-se soturnamente sobre o espelho de água que a acompanhava e, apesar de correr uma aragem ligeira, não estava frio. Pelo contrário, a atmosfera era cálida, asfixiante, tal como a angústia que sentia.

Sentindo-se observada, a presidente olhou novamente sobre o ombro, certificando-se antes de abandonar o parque e de enveredar por um labirinto de transversais de que ninguém a seguia. Era uma tola. Além do casal apaixonado, encontrava-se sozinha naquelas ruas. A única exceção acabou por ser uma mulher jovem, de rosto exótico, que fazia lembrar tanto o Ocidente, como o Oriente.

Surgindo de uma perpendicular, vestida com uma gabardina cinzento-escura, passou por ela, desaparecendo.

A salvo, de pé à janela do quarto do hotel de luxo no centro histórico de Praga onde se encontrava hospedada, Annemarie fitou as nuvens medonhas que se aproximavam da capital checa, ao longo do rio. Os olhos amendoados refletiam a tristeza do céu e a melancolia que sentia sobressaía nas palavras que dizia nostalgicamente pelo telemóvel.

Ich vermisse dich, mein Mausi.

Tratava-se de uma expressão terna, de carinho perene, reservada somente àqueles que não receavam a intimidade. A voz masculina que falava com ela retribuiu de igual modo.

Não era o marido.

Mas esse acabou por ser um pormenor pouco importante.

O que ficou daquela noite foi a mulher de rosto exótico, vestida com uma gabardina cinzento-escura, que passou discretamente na rua onde se localizava o hotel, em sentido contrário ao que percorrera quando se cruzara com a presidente. Era um sinal.

Isso e o pequeno clique que se ouviu na chamada, mesmo antes de esta acabar, enquanto terminava a escuta telefónica.

Dois Anos Antes

A mulher corria. Perseguida pelos seguranças, incerta de quantos seriam, olhou para trás, enquanto acelerava ao longo do corredor. Eram apenas dois. Não, afinal, eram três, embora provavelmente mais viessem no seu encalço. De arma em punho, gritavam, bradando palavras que ela não entendia, ordenando-lhe que parasse.

Um deles atirou, mas falhou o alvo, acertando meramente numa luz de presença, que se estilhaçou aparatosamente. Vindo do interior do edifício, o besouro do alarme começou a ressoar nos ouvidos da fugitiva. Parecia-lhe que o corredor não tinha fim e que ela não seria capaz de aguentar o esforço. Sentia a respiração ofegante, o ritmo cardíaco descontrolado e o cabelo comprido, negro e azul, a esvoaçar atrás de si.

Levada por um último assomo de adrenalina, a mulher dobrou mais uma esquina, abriu uma porta e entrou num espaço amplo. Momentaneamente desorientada, olhou em redor. O logótipo de uma grande empresa de genética e farmácia via-se ao longe, afixado numa parede de betão sem estuque. Encontrava-se na garagem de um dos laboratórios mais bem equipados do mundo e acabara de roubar um protótipo de um valor incalculável.

Sentindo a aproximação dos seguranças, a ladra rapidamente percebeu que não dispunha de outra opção, senão fugir. Começou novamente a correr, mas assim que arrancou, sem dar por isso, um carro apareceu-lhe à frente, acelerando na sua direção.

A mulher reagiu no último segundo. Com o automóvel em movimento, saltou sobre o capô e aterrou do outro lado, fletindo uma das pernas e esticando a outra sobre o piso de cimento, como se fosse uma bailarina clássica a executar a coreografia de um bailado russo. Assustado, o condutor ainda tentou parar, mas a travagem acabou por surtir um efeito inesperado. As rodas derraparam demasiado e o veículo descreveu um pião, embatendo aparatosamente contra um pilar, na mesma altura em que os seguranças chegavam à garagem.

Protegida pela confusão que se instalou, a mulher levantou-se prontamente e tentou localizar a rua. Veloz, novamente perseguida, acelerou pela rampa, mas, ao chegar ao exterior, o chiar de uns pneus a resvalarem sobre o asfalto sobrepôs-se facilmente ao som das vozes dos homens que iam no seu encalço. Um automóvel de alta cilindrada parou exatamente à sua frente.

A ladra respirou fundo e sacou, do bolso interior do colete que vestia, o pequeno protótipo que retirara ilegalmente do laboratório. Brincou com o objeto, atirando-o ao ar; fora fácil de mais. Sorriu, admirando calmamente a beleza do carro de vidros fumados, contornou-o devagar e entrou. Quando os seguranças chegaram à rua, apenas tiveram tempo de ver a traseira a acelerar, desaparecendo furiosamente entre o trânsito da cidade.

Sentada no interior do automóvel, a mulher procurou acalmar-se, esperou que passassem o Portão de Brandemburgo e, sentindo-se finalmente a salvo, entregou o modelo ao cliente. Um homem de baixa estatura, franzino, com feições felinas e uns olhos azuis mortiços, fitou-a. Ela não sabia como se chamava, mas somente que se tratava do número um da máfia russa, embora, na realidade, isso não fosse o mais importante. De facto, não passava de um mero detalhe.

— Amanhã de manhã, terá o dinheiro disponível na sua conta bancária — disse ele.

O homem expressava-se com um sotaque cerrado do Leste, falando com os maxilares contraídos, ao mesmo tempo que admirava a beleza singular e exótica da oriental. Revelando-se cuidadoso, guardou delicadamente o protótipo dentro do seu casaco de bom corte.

A mulher, que dizia chamar-se Megan Wu, franziu ligeiramente o sobrolho, percebendo uma alteração súbita no percurso do automóvel. Fora a Berlim apenas para executar aquele contrato e seguidamente ser conduzida até à estação central, de onde partiria para Madrid. No entanto, rapidamente se apercebeu de que alguém decidira mudar o plano e iria fazê-la perder o comboio.

— Não se preocupe. — O homem tentou apaziguar a agitação súbita que notou nela. — Desejo apenas apresentá-la a um velho amigo, que é fã do seu trabalho.

— Tomo as minhas decisões.

— Se não se entenderem, prometo-lhe que sairá ilesa de Berlim.

A oriental tentou disfarçar um esgar de contrariedade, mas, considerando que seria mais sensato não desafiar pessoalmente o chefe do crime organizado do Leste europeu, recostou-se no banco de pele e traçou as mãos sobre o abdómen, encostando a cabeça à janela. Em silêncio, deixou-se conduzir pela cidade, até dar por si novamente a entrar naquilo que lhe pareceu tratar-se de uma garagem. Por cima, via-se um arranha-céus com uma fachada espelhada.

No piso subterrâneo, os pneus do automóvel rodaram suavemente sobre o pavimento, até que o carro se imobilizou junto a outro. Naturalmente curiosa, ela ainda olhou, mas não viu nada. Os vidros eram escuros.

— Ficarei aqui à sua espera — tranquilizou-a o número um da máfia russa, fazendo com a mão um gesto que a convidava a sair do carro. — Não a obrigaremos a participar em nada que não queira. Tem a minha palavra.

A mulher fitou o homem. Era realmente franzino, com uns ombros estreitos, que nem sequer o corte do casaco conseguia disfarçar. Ponderou as suas opções; o destino colocara-a novamente perante uma encruzilhada. Resignada, abriu a porta e saiu. Compôs o colete, puxando-o para a cintura e, cautelosa, entrou no outro automóvel.

Confortavelmente sentado no banco traseiro, um homem que não conhecia recebeu-a com um sorriso e um concerto de música jazz a tocar ao fundo. Tinha idade suficiente para ser seu pai, o cabelo rapado e uma característica que o tornava único — a pala negra que lhe cobria o olho direito.

Fez-lhe uma proposta de trabalho, apresentando-se.

Chamava-se Gavrie Lebodin.

E tratava-se do Diabo.

Burj Khalifa, Dubai, Emirados Árabes Unidos

Tempo Presente

A batida forte de uma música rock inundou o apartamento de luxo, enquanto uns sapatos de mulher, com um salto alto finíssimo, giraram sobre o soalho flutuante e, saindo de um quarto, começaram a percorrer o corredor, rente às janelas panorâmicas com vista para a nova baixa da cidade. Era de noite e ao longe, junto à entrada do arranha-céus onde se localizava a habitação, as fontes luminosas refletiam-se sobre o espelho de água dos lagos artificiais.

Uma centena de metros acima, ela continuou a desfilar graciosamente. As pernas, longilíneas e firmes, avançavam com determinação. O corpo, coberto somente por um delicado conjunto de renda preta, era escultural. O cabelo, comprido, negro e suave como a seda, que naquela ocasião fora penteado especialmente em canudos largos, ondulava, balançando sobre as costas, ao ritmo dos seus passos. E o rosto exótico, uma fusão incomum, de rara beleza, de traços orientais e ocidentais, era desarmante. Subitamente, parou, deixando uma mão apoiada contra a parede envidraçada e a outra na cintura, lançando um olhar sobre o ombro, num momento bem ensaiado de sedução e feminilidade.

Ao ritmo dos acordes da música, uma outra mulher surgiu alguns metros atrás, oriunda de uma divisão privada do apartamento. Era alta, loura, com uma pele branca como o gelo e uma beleza sóbria e intemporal. Vestia um conjunto de renda em tons de pérola e preto, e usava uma écharpe comprida, que lhe cobria os braços e as costas, flutuando atrás dela enquanto caminhava.

Elegantes, como se fossem manequins numa passarela, as duas trocaram um olhar de entendimento. Lado a lado, arrancaram em direção a uma porta aberta, ao mesmo tempo que no potente sistema de alta-fidelidade do apartamento, Joan Jett cantava, perguntando a alguém se queria tocá-la¹.

Reclinado contra a cabeceira da cama, vestido apenas com um robe de cetim vermelho e com as pernas masculinas e peludas traçadas sobre a coberta, um homem charmoso, com quase 40 anos, acolheu-as no interior do quarto, observando-as, embevecido, decidido a aproveitar o espetáculo proporcionado pelo par de acompanhantes de luxo. A sua pele era morena, bem hidratada, e o cabelo, apesar de o rosto não ter qualquer ruga, evidenciava um tom precocemente grisalho.

Alexander Bachmann, um corretor internacional de naturalidade suíça com fama de playboy, mas cuja sexualidade começava a suscitar algumas dúvidas, fitou os seguranças privados que contratara desde que uns meses antes fora seduzido e roubado por um jovem enigmático de olhos pardos. Sentindo-se contrafeito, dispensou os homens, incluindo Michael, o chefe — o mais velho, alto e musculado de todos —, pedindo-lhes para o deixarem a sós com as duas mulheres.

Se alguém lhe perguntasse de onde vinham os seus rendimentos, responderia somente que se dedicava ao comércio de importação e exportação, essas coisas frívolas que soavam tão bem como frase de engate. Todavia, a verdade, tal como a índole do mercado no qual se movimentava, era consideravelmente diferente, negra, negociando principalmente com segredos, protótipos, armas, documentos, propriedade intelectual e obras de arte roubadas. A lista era longa, vendendo e comprando de tudo um pouco — desde que fosse ilegal e tivesse um preço elevado, tal como o do par de prostitutas contratadas para o seduzirem.

Eram um presente da parte de um cliente satisfeito, que depois de Alexander o ter reposicionado no centro daquele que prometia ser o negócio do século, resolvera demonstrar toda a sua gratidão, oferecendo-lhe uma noite na companhia de duas mulheres de grande beleza. Com as mãos nas ancas, altivas e provocantes, observavam-no, denotando no olhar um fogo próprio de um autêntico puro-sangue.

As acompanhantes aguardaram que os seguranças abandonassem o quarto e fechassem a porta atrás deles. Os homens não precisavam de ver, ou ouvir, o que estava prestes a acontecer naquela cama. Assim que se encontraram a sós com o helvético, uma delas caminhou devagar na direção do corretor, enquanto a outra deu a volta e, de caminho, os trancou no interior da divisão.

Alexander sentiu no rosto bem barbeado o toque delicado das mãos da beldade loura, insinuando-se sobre os seus lábios, mas sem lhes tocar. Possuía uma beleza admirável, quase aristocrática, com o cabelo praticamente branco, de uma pureza incrível, a emoldurar-lhe perfeitamente o rosto. Notava-se que era uma profissional, ciente de como prolongar ao máximo o seu jogo de ardil e sedução.

A arder de desejo, o homem tentou puxá-la, sôfrego por senti-la nos braços, mas, no último instante, ela retraiu-se, fugindo de cócoras, como uma gata assanhada, sem tirar dos dele os seus enigmáticos olhos azuis. Deleitado, o suíço sorriu e perseguiu-a, sobre a cama.

Vindas de trás, as mãos da outra mulher afagaram-lhe o peito, abrindo ligeiramente o robe, inebriando-o com um perfume floral. Alexander fechou os olhos, deixando-a tomar a iniciativa, mas, irracionalmente rendido, depressa decidiu esticar os braços, tentando agarrar-lhe as pernas. Contudo, ela desviou-se, evitando, assim, o contacto direto.

A libido tomou conta do corretor internacional, o que o levou a perder a paciência. Julgando-se no domínio da situação, num impulso, virou-se repentinamente e agarrou a oriental pela anca, dando-lhe uma valente palmada no rabo.

Apanhada de surpresa, a mulher mudou subitamente de expressão e a volúpia anterior rapidamente se transformou numa determinação inflexível, de quem acabara de ser contrariada. Por reflexo, esbofeteou-o violentamente numa das faces.

Alexander levou a mão ao rosto, sentindo a cara a arder, mas repentinamente desfez o gesto, revelando uma expressão de puro deleite. A violência excitava-o sobremaneira, de um modo que aquelas duas nem sequer conseguiam imaginar.

Com o suíço subjugado de permeio entre elas, a mulher que se dava a conhecer pelo nome de Megan Wu trocou um sorriso de triunfo com Elena Lebodina, a outra mercenária que naquela noite a acompanhava. Ele estava longe de imaginar o erro que acabara de cometer.

Distribuídos aleatoriamente pelos sofás de pele branca da sala de estar da residência de luxo de Alexander Bachmann no Burj Khalifa, o edifício mais alto do mundo, os seguranças privados do corretor internacional continuaram a assistir sem grande interesse a um jogo de futebol na televisão de ecrã panorâmico do apartamento. Corria o mês de setembro; a liga inglesa estava a arrancar e a partida mantinha-se pouco interessante, devido à parca forma física dos jogadores.

Michael, o líder do grupo, pegou no comando e reduziu o volume do aparelho, para não perturbar o patrão. Quando o fez, um pequeno barulho, certamente oriundo do quarto, sobrepôs-se à transmissão desportiva, levando-o a virar instintivamente a cabeça na sua direção. Um dos colegas, que também o ouvira, trocou com ele um olhar de entendimento, e os dois focaram-se novamente no jogo. Há vários anos que trabalhavam como seguranças privados, tendo lidado ao longo da carreira com estrelas de cinema, políticos, atletas e até banqueiros. Algo que haviam aprendido desde o início era que, naquele ramo, a discrição era essencial.

Estavam recentemente ao serviço do helvético, mas, de qualquer modo, já tinham reparado nas suas preferências incomuns, evidentes de todas as vezes que o haviam apanhado a olhar-lhes fixamente para os músculos dos braços. Era um pervertido inofensivo, que pagava bem e que, curiosamente, naquela noite decidira fazer uma incursão rara pelos prazeres do género oposto. Não poderiam negar o seu extremo bom gosto. Entre as duas acompanhantes, a loura, ou a oriental, que viesse o Diabo e escolhesse a mais bela das mulheres.

Um novo som voltou a sobrepor-se ao da emissão televisiva. Alerta, Michael desviou a atenção do jogo e olhou outra vez na direção da porta fechada do quarto. Parecera-lhe um grito, ou algo semelhante, mas deveria ter sido apenas o cansaço a tomar conta dele, pelo que resolveu ignorá-lo.

Alexander encontrava-se a sós com um par de mulheres lindíssimas. Que mal poderiam fazer-lhe?

No quarto, novamente reclinado contra a cabeceira da cama, Alexander sorria, lascivo, entretido a observar as duas acompanhantes. A loura rasgara a écharpe, transformando-a em tiras finas. Sugestivamente, enrolou-as lentamente nas mãos, até que a oriental regressou.

Vendo-a de cócoras, a avançar sobre a cama, a aproximar-se sensualmente de si, pronta a beijá-lo finalmente, o suíço tentou puxá-la, mas no último instante, ela retraiu-se e empurrou-o para trás, de encontro à cabeceira da cama.

Sorridentes, com o seu cliente rendido, as duas trocaram um olhar e esconderam as mãos, partilhando entre si as tiras de tecido rasgado. A ronronar como um par de leoas no cio, esticaram-se sobre o corpo do homem, amarrando-lhe com força as mãos à madeira, enquanto ele gemia de prazer e dor.

Deleitado, Alexander fechou os olhos, deixando-se prender igualmente pelos tornozelos, acabando por ficar amordaçado, estirado sobre a coberta acetinada, de pernas e braços abertos, completamente à mercê das fantasias mais ousadas daquele par de mulheres. Eram endiabradas.

— O que desejas? O que queres que te faça? — sussurrou a oriental, colando os lábios aos ouvidos do corretor — Diz-me e eu fá-lo-ei.

O suíço foi para responder, mas, ao sentir a aproximação da outra mulher, a sua excitação aumentou ainda mais, ouvindo-a sibilar:

— Diz-me, Alexander — implorou-lhe ela, com uma grande volúpia. — Diz-me, que eu faço.

O corretor tentou controlar-se, manter de alguma forma uma réstia de decoro. Porém, a adrenalina que lhe corria vertiginosamente pelo corpo levou a melhor e, no meio de um gemido gutural, pediu, como se fosse uma confissão:

— Bate-me. Por favor, bate-me!

O helvético sentiu o nariz estalar assim que um valente murro lhe foi desferido no rosto. Subitamente desnorteado, uma dor insuportável acometeu-o. Ainda tentou gritar, mas a oriental foi mais rápida do que ele e, com maior destreza do que um pugilista num ringue de boxe, saltou-lhe para cima do peito, imobilizando-o com os joelhos, enquanto lhe segurava a cabeça e lhe tapava a boca com uma das tiras rasgadas da écharpe que Elena Lebodina usara.

Inesperadamente amordaçado, a sofrer de dores intensas, com os pés e tornozelos atados às extremidades da cama, Bachmann tentou perceber o que se passava, assim que a mulher saiu de cima dele e, ágil como uma gazela, correu para o closet, seguida pela colega.

A visão da sua roupa a começar a amontoar-se à entrada do quarto de vestir fê-lo perceber qual era realmente o intuito das duas acompanhantes — procuravam algo. No entanto, tendo em conta o que lá existia, só poderiam querer uma coisa: o cofre.

A memória de Alexander recuou involuntariamente no tempo, até à noite em que, cerca de seis meses antes, um jovem bem-parecido com olhos pardos o seduzira e levara para o seu quarto de hotel, em Roma. Todavia, o embuste durara pouco. Assim que haviam entrado, o rapaz recusara-se a permitir qualquer tipo de contacto físico com ele, acabando por lhe extorquir violentamente a identidade de um cliente, levando ainda uma obra de arte famosa.

Oh, Roma outra vez, não!, pensou o suíço, começando a debater-se conforme conseguia e esforçando-se por gritar por ajuda. Mesmo assim, a tentativa revelou-se infrutífera. Nenhum dos seguranças que contratara desde o incidente em Itália parecia ser capaz de ouvi-lo.

Com uma expressão indecifrável, as duas mulheres saíram do quarto de vestir e transpuseram o monte de roupas que entretanto haviam atirado para o soalho. Estavam ambas mais compostas, vestidas com uma das camisas brancas dele, que lhes chegava abaixo da cintura.

Ao vê-las de regresso, o corretor calou-se repentinamente, como se fosse um cachorrinho a sentir-se culpado por ter sujado o tapete de casa, mas a oriental ignorou-o e, com uma calma e serenidade notáveis, aproximou-se dele, sentando-se na beira da cama.

— Alexander… — começou ela por dizer, olhando com alguma pena para a cara dele.

Os esforços inglórios que Bachmann fizera, pedindo auxílio, debatendo-se com a mordaça, haviam-lhe deixado o rosto numa lástima, uma amálgama de hematomas, por onde ainda escorriam rios de lágrimas.

— Precisamos de aceder ao seu cofre — prosseguiu ela, com um sotaque britânico inesperado. — Todavia, acabámos de perceber que é acionado por retina, algo que não previmos.

A oriental fez uma pausa ligeira, como se estivesse indecisa sobre o que dizer a seguir. Por fim, decidiu ser franca:

— Como é que acha que devemos fazer isto? Vai levantar-se, parar de gritar, acompanhar-nos e portar-se como um homenzinho, ou prefere que leve o seu olho a dar uma voltinha comigo?

Do You Wanna Touch Me There (Oh Yeah), Joan Jett and the Blackhearts.

Burj Khalifa, Dubai, Emirados Árabes Unidos

Tempo Presente

Na sala de estar do apartamento de luxo de Alexander Bachmann, sentado ao lado dos outros seguranças num dos sofás, Michael tentava concentrar-se no jogo de futebol ao qual assistia na televisão, quando um estalido ligeiro se sobrepôs ao frenesim da partida. Os homens, que teriam de permanecer ali até receberem ordem de saída, olharam instintivamente sobre o ombro e depararam com as duas acompanhantes.

As mulheres saíam sorrateiramente do quarto do suíço, fechando cuidadosamente a porta atrás delas, enquanto, pé ante pé, de sapatos altos na mão, se dirigiam à divisão onde tinham deixado as roupas. Iam muito mais compostas do que quando haviam sido deixadas a sós com o corretor, vestindo uma das suas inúmeras camisas brancas, que apenas lhes cobria pudicamente a cintura. No último instante, mesmo antes de desaparecerem, deixaram cair um sorriso tímido, sentindo-se certamente embaraçadas pela atenção dos seguranças.

Michael e os outros viraram-se para a frente, focando-se novamente no jogo de futebol, animados pela perspetiva de uma dispensa iminente. Pouco deveria tardar a que Alexander se recompusesse e aparecesse, esfomeado como sempre, ordenando-lhes que se fossem embora. Deveriam ser só mais uns cinco, ou dez minutos.

Um pequeno estalido cortou novamente o frenesim da transmissão desportiva. Lado a lado, com malas de aspeto caríssimo na mão, as duas mulheres deixaram o quarto privado e passaram pelos seguranças, ignorando novamente o olhar dos homens cravado nelas. Não fossem os traços fisionómicos tão distintos e quase se poderia dizer que eram gémeas.

Os cabelos iam apanhados num carrapito perfeito e vestiam-se de igual — gabardinas cor de camelo bem traçadas em redor da cintura fina; calças escuras e largas a espreitar por debaixo; uma camisola leve, da mesma cor, a ver-se através do decote; e, claro, uns saltos altos vertiginosos, que ressoavam sobre o soalho, enquanto se dirigiam à porta.

As Armani Residences, o complexo de habitações de elite localizado no arranha-céus no qual se encontravam, eram suítes espaçosas, com acabamentos requintados e um design minimalista e sóbrio, criado pelo estilista italiano. Vidro, aço, pedra, tapeçarias e outras obras de arte locais e internacionais combinavam-se perfeitamente, tal como aquelas duas mulheres se encaixavam ali, tal era a sua elegância.

Michael ficou a vê-las fechar a porta, desaparecendo. Conformado, suspirou e voltou-se novamente na direção da televisão, à espera da ordem de saída que nunca mais chegava. Era uma pena que duas jovens tão bonitas e carismáticas tivessem de ganhar a vida daquele modo tão impróprio. Não soubesse ele o que haviam acabado de fazer no apartamento e ainda se sentiria tentado a tornar numa mulher honrada qualquer uma das duas.

Mal o homem desconfiava que ambas tinham feito de tudo ali dentro, menos perder a honra.

Assim que abandonaram a residência e entraram no corredor, tanto a expressão, como a atitude das duas mulheres se alteraram radicalmente. O olhar revestiu-se de um brilho resoluto e ambas estugaram o passo. Do par de acompanhantes de luxo que fora contratado para satisfazer os desejos mais sórdidos de Alexander Bachmann, apenas dois pormenores restavam.

O primeiro era a lindíssima e cara roupa interior que usavam. O segundo tratava-se de um homem. O corretor fora deixado no interior do quarto, amarrado e amordaçado sobre a cama, sem quase lhes ter tocado. Tal como uns meses antes em Roma, a sua libido voltara a atraiçoá-lo.

Se havia algo que o helvético possuía, além do manancial quase inesgotável de informação, era uma cobardia de uma grandeza praticamente equiparável. Vendo-se na iminência de perder um dos olhos, não se fizera rogado e colaborara cheio de boa vontade. Qual dócil cordeirinho, levantara-se e dera-lhes acesso ao cofre sem elas precisarem de insistir. Depois de encontrarem o que procuravam, voltaram a amarrá-lo à cama, onde deram o toque final… De seguida, as duas regressaram ao papel de donzelas forçadas a ganhar a vida com o corpo, saindo do apartamento tal como haviam entrado: em silêncio, sem grande alarido e com um trabalho a fazer.

Ciente de que a noite ainda ia a meio, Elena Lebodina retirou do interior da mala o telefone e ligou-se à rede sem fios do hotel. Horas antes, um homem que ela conhecia bem passara pela receção. Com uma beleza exótica, de pele muito branca e olhos verde-água, usava o cabelo louro, comprido, penteado em tranças de influência afro e namoriscara brevemente com a jovem que o atendera. Contudo, Anssi, como era o seu nome, não reservara quarto; pelo contrário, deixara instalado um acesso remoto.

Hábil, a sua eterna namorada continuou a andar pelo corredor ao lado da oriental, de olhos postos no ecrã do telemóvel, navegando facilmente no sistema que organizava a distribuição dos quartos pelos hóspedes, até localizar um nome. Com um fio de excitação na nuca, guardou rapidamente na mala o aparelho, trocando-o por um auricular, que aplicou no ouvido. Megan Wu imitou-a.

Um ano e meio antes, um homem abordara Elena Lebodina na rua e contara-lhe uma história. Usava uma pala negra a cobrir-lhe o olho direito, apresentara-se como Gavrie Lebodin, dissera ser seu tio e relatara-lhe a vida de dois irmãos — a dele e a de Sacha, o pai dela.

Confidenciara-lhe muito mais, falando-lhe acerca de uma mulher e de uma criança. Não se tratava da rapariga, mas de um menino, o seu irmão, que naquele dia descobrira ser um dos seus melhores amigos — André Marques-Smith, um jovem português, que, tal como ela e Anssi, trabalhava secretamente para uma agência de espionagem semigovernamental.

Elena, que então julgava chamar-se Monique Richards, uma jovem inglesa filha de um casal que no passado também integrara o mesmo Serviço de Informação, não acreditara. Achara que a ideia de ser adotada era inconcebível, tanto como tudo o resto que o homem lhe contara. Ele dissera-lhe que, na verdade, era filha de um cientista russo, Sacha Lebodin, o qual desenvolvera um processo de clonagem inovador, ao ponto de criar laboratorialmente um ser humano. A criança nascera do sexo masculino, escapara a uma infância difícil, estava viva e era André.

A jovem decidira que não acreditaria naquela história novelesca, recusando-se a ouvi-lo mais, ou a revê-lo. Porém, a dúvida instalara-se e, repentinamente, começara a associar todos os pormenores sobre a sua infância que sempre julgara desajustados e que nunca compreendera — a relação distante que cultivara com os pais; os acontecimentos inusitados que a haviam marcado; ou as memórias que continuavam a assombrá-la.

Seis meses depois, no centro de uma encenação que fora meticulosamente planeada, dera por si deitada numa poça de sangue. Era seu, mas, tal como a vida que levara até àquele dia, não era real.

Distantes, entre a confusão reinante, os passos de André, o irmão que ainda não sabia do laço que partilhavam, ecoavam pelo Palácio da Europa, em Estrasburgo, perseguindo a mulher que pretensamente a alvejara, enquanto ela, apesar da histeria desesperada que a rodeava, adormecia.

Traíra o país, falecendo lenta e publicamente perante os olhos de todos, até a sua antiga vida desaparecer. Alguns minutos mais tarde, levada do Centro de Congressos por uma ambulância falsa e passado o efeito dos medicamentos que tomara para simular a morte, renascera como a mulher que fora desde sempre — Elena Lebodina, a filha mais velha de Sacha Lebodin.

Na falta do irmão, seria ela a trazer ao mundo o legado genial deixado pelo pai.

Continuando a andar pelos corredores do Burj Khalifa, Elena acionou o auricular que acabara de colocar no ouvido e, imitada por Megan, entrou no canal privado de comunicações que a ligava aos restantes elementos da equipa. Chamou um jovem do qual não gostava especialmente, o primo, filho de Gavrie.

— Transmite — respondeu-lhe ele.

— Adquirimos o nome e a localização do alvo. Estás pronto a avançar?

— Afirmo. Diz-mos.

— Piso 7 do hotel Armani, quarto 78, Ashton Patrick, um matemático norte-americano.

— Vou a caminho.

A oriental deixou escapar um olhar preocupado.

— Ilya? — Elena voltou a chamá-lo.

— Transmite.

— Precisamos dele vivo.

— Claro.

E o rapaz desligou o auricular, regressando ao silêncio rádio.

Com os finíssimos stilettos a fustigarem impiedosamente a tapeçaria delicada que cobria os corredores do arranha-céus, as duas mulheres viram uma empregada de limpeza a aproximar-se ao longe. Sentindo-se preocupadas, anuíram uma para a outra e aceleraram mais o passo, na direção dos elevadores.

Alguns metros abaixo, num dos pisos inferiores do arranha-céus, um casal cuja idade deveria andar entre os 30 e os 40 anos, vestidos com roupas brancas e de ar elegante, abandonava um dos quartos, fazendo-se ao corredor. Tratava-se de um par bastante atraente. Ela tinha a pele mais morena do que ele, os olhos escuros e um cabelo preto e forte, que lhe caía pelas costas. Quanto ao homem, era tipicamente nórdico, com a pele e os olhos claros, um cabelo louro arruivado e de estatura alta.

Habituados a atmosferas requintadas, os dois deram as mãos e avançaram, rumo ao elevador que viam mais à frente, num dos átrios. Sentiam-se plenamente integrados na atmosfera única e acolhedora do hotel: a escolha sofisticada das cores, as linhas simples, as aplicações em diversos materiais e as texturas de bom gosto — uma fusão perfeita, que não deixara de lado a influência e tradição árabes, sendo o refúgio idílico para alguém, que, como eles, procurava a autenticidade que só se encontra na verdadeira elegância.

A caminhar em sentido contrário, um empregado de aparência ocidental passou por eles, empurrando um carrinho do serviço de quartos. Era novo, provavelmente com menos de 30 anos, de pele clara e, apesar de ser magro e pouco alto, ostentava uma estrutura óssea larga, que fazia com que se destacasse. Cordial, cumprimentou-os, anuindo e deixando cair um olhar interessado.

A mulher fitou casualmente o marido. Eram profissionais da sedução e, como tal, estavam pouco habituados a desempenhar o papel inverso. Apesar de no passado terem frequentado encontros de casais e outros ambientes mais libertinos, na verdade, ultimamente, haviam optado por manter uma atitude mais recatada. O motivo era simples. Cinco meses antes, uma alegada noite livre transformara-se inesperadamente num pesadelo digno de um mau filme de série B.

Na altura, os dois encontravam-se em Viena de Áustria, a cidade natal dela e onde habitualmente residiam e trabalhavam. Eram cidadãos respeitados, plenamente integrados na sociedade local, demasiado frígida e puritana para satisfazer os seus gostos particulares.

Por isso, numa dessas noites, tinham resolvido ir ao Passage, um dos ex-líbris do divertimento noturno da cidade. Era a chamada noite free, onde todos, independentemente do género, ou das preferências sexuais, poderiam conviver livremente, sujeitos a uma única regra: não existiam regras.

A noite começara bem e, após permanecer durante alguns minutos no bar, o casal metera conversa com um homem atraente, de barba forte e escura, muito masculino, mais novo, cuja idade deveria andar entre os 25 e os 30 anos. O seu único defeito era a pele, que parecia ser ligeiramente imperfeita, com pequenas cicatrizes nas maçãs do rosto, quem sabe devido a um acidente de carro. No entanto, os seus fabulosos olhos verdes, que por vezes pareciam cinzentos, haviam enlouquecido o par, que rapidamente tentara seduzi-lo.

Educado, o jovem recusara, o que só aumentara o desejo que os dois sentiam, especialmente quando o viram partir pela mão de uma mulher de feições orientais, com o cabelo negro, pintalgado de azul por madeixas leves, e juntos, incendiarem a pista de dança.

De água na boca, o casal deixara-se dominar pelo desejo e, apesar de normalmente ser seletivo, não conseguira conter-se, acabando por seduzir o primeiro que aparecera, naquele caso, o barman, um sujeito alto, bronzeado e musculado, que, após uma troca rápida de palavras, lhes dera a entender que teria um intervalo dali a alguns minutos, marcando encontro nos lavabos.

O par fora traído pela volúpia, contentando-se com um mero substituto do seu alvo principal. Todavia, não esperara que a noite acabasse ainda pior. Um alarme falso de incêndio desencadeara uma enorme confusão, o que levara todos os frequentadores do clube noturno a entrarem em pânico, particularmente depois de a Polícia ser chamada ao local. Seminu, o casal fora apanhado a partilhar com o empregado do bar uma linha de pó branco, que, contrariamente ao espírito da noite, não era legal, nem de consumo livre.

A visita fatídica ao Passage redundara em dois acontecimentos de má memória para ambos — uma noite passada na prisão, seguida de uma acusação de atentado ao pudor; e três meses na capa das revistas cor-de-rosa de Viena, que não se pouparam a pormenores, relatando detalhadamente os testemunhos de todos aqueles que posteriormente, ávidos por dinheiro e protagonismo, vieram a público, contando para divertimento alheio as suas participações especiais na alcova do casal, expondo encontros a três, quatro e, por vezes, cinco, ou mais.

No hotel Armani, recordando vivamente a humilhação que

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