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7 melhores contos de Eça de Queirós
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7 melhores contos de Eça de Queirós
E-book161 páginas2 horas

7 melhores contos de Eça de Queirós

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Sobre este e-book

Eça de Queirós foi o único romancista português a conquistar fama internacional em sua época - atualmente o autor já foi traduzido para mais de 70 idiomas. Em seu tempo ele era polêmico por críticar as instituições nacionais, o clero e os costumes da classe média em saus obras. Seu romance O Crime do Padre Amaro foi o seu primeiro grande trabalho, um marco inicial do Realismo em Portugal.
Os contos presentes nessa obra são:

- Singularidades de uma rapariga loura.
- Um Poeta Lírico.
- No Moinho.
- O Tesouro.
- Civilização.
- A Aia.
- O Defunto.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de abr. de 2020
ISBN9783968581149
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    7 melhores contos de Eça de Queirós - Eça de Queirós

    Publisher

    O Autor

    José Maria de Eça de Queiroz nasceu em 25 de novembro de 1845, numa casa da Praça do Almada na Póvoa de Varzim, no então número 1 ao 3 do Largo de São Sebastião (hoje Largo Eça de Queiroz), no centro da cidade, em casa de um parente de sua mãe, Francisco Augusto Pereira Soromenho, um dos funcionários aduaneiros da Póvoa de Varzim. Dado os seus pais não serem então casados, considerado indecente em meados do século XIX e este parente de certo relevo local, chefe da alfândega local, este preferiu que o batismo fosse realizado na Igreja Matriz de Vila do Conde, em vez da matriz local, muito próxima à casa, e fosse ocultado o nome da mãe.

    Eça era filho de José Maria Teixeira de Queiroz, nascido no Rio de Janeiro em 1820 e delegado do procurador régio em Viana do Castelo, e de Carolina Augusta Pereira d'Eça, nascida em Monção em 1827. O casamento ocorreu posteriormente ao nascimento. O pai de Eça de Queiroz, magistrado e par do reino, convivia regularmente com Camilo Castelo Branco, quando este vinha à Póvoa para se divertir no Largo do Café Chinês. Uma das teses para tentar justificar o facto de os pais do escritor não se terem casado antes do seu nascimento sustenta que Carolina Augusta Pereira de Eça não teria obtido o necessário consentimento da parte de sua mãe, já viúva do coronel José Pereira de Eça. De facto, seis dias após a morte da avó que a isso se oporia, casaram-se os pais de Eça de Queiroz, quando o menino tinha quase quatro anos.

    O pai era magistrado, formado em Direito por Coimbra. Foi juiz instrutor do célebre processo de Camilo Castelo Branco, juiz da Relação e do Supremo Tribunal de Justiça, presidente do Tribunal do Comércio, deputado por Aveiro, fidalgo cavaleiro da Casa Real, par do Reino e do Conselho de Sua Majestade. Foi ainda escritor e poeta.

    Eça, por sua vez, apresenta episódios incestuosos em criança relatados no diário de sua prima. Por via dessas contingências foi entregue a uma ama, aos cuidados de quem ficou até passar para a casa de Verdemilho em Aradas, Aveiro, a casa da sua avó paterna. Nessa altura, foi internado no Colégio da Lapa, no Porto, de onde saiu em 1861, com dezasseis anos, para a Universidade de Coimbra, onde estudou Direito. Além do escritor, os pais teriam mais seis filhos.

    Em Coimbra, Eça foi amigo de Antero de Quental. Os seus primeiros trabalhos, publicados na revista Gazeta de Portugal, foram depois coligidos em livro, publicado postumamente com o título Prosas Bárbaras. Eça veraneava na Póvoa de Varzim, quando matriculado na Universidade de Coimbra. Sua tia materna, Carlota, arrendava casa na Póvoa, de verão e com ela, além do sobrinho José Maria, iam também os seus quatro filhos, três rapazes e uma rapariga.

    Em 1866, Eça de Queiroz terminou a Licenciatura em Direito na Universidade de Coimbra e passou a viver em Lisboa, exercendo a advocacia e o jornalismo. Foi director do periódico O Distrito de Évora e colaborou em publicações periódicas como a Renascença  (1878-1879?), A Imprensa (1885-1891), Ribaltas e gambiarras (1881) e postumamente na Revista de turismo iniciada em 1916 e na Feira da Ladra (1929-1943). Porém, continuaria a colaborar esporadicamente em jornais e revistas ocasionalmente durante toda a vida. Mais tarde fundaria a Revista de Portugal.

    Em 1869 e 1870, Eça de Queiroz fez uma viagem de seis semanas ao Oriente (de 23 de outubro de 1869 a 3 de janeiro de 1870), em companhia de D. Luís de Castro, 5.º conde de Resende, irmão da sua futura mulher, D. Emília de Castro, tendo assistido no Egito à inauguração do canal do Suez: os jornais do Cairo referem «Le Comte de Rezende, grand amiral de Portugal et chevalier de Queiroz». Visitaram, igualmente, a Palestina. Aproveitou as notas de viagem para alguns dos seus trabalhos, o mais notável dos quais o O Mistério da Estrada de Sintra, em 1870, e A Relíquia, publicado em 1887. Em 1871, foi um dos participantes das chamadas Conferências do Casino.

    Em 1870 ingressou na Administração Pública, sendo nomeado administrador do concelho de Leiria. Foi enquanto permaneceu nesta cidade, que Eça de Queiroz escreveu a sua primeira novela realista, O Crime do Padre Amaro, publicada em 1875.

    Tendo ingressado na carreira diplomática, em 1873 foi nomeado cônsul de Portugal em Havana. Os anos mais produtivos de sua carreira literária foram passados em Inglaterra, entre 1874 e 1878, durante os quais exerceu o cargo em Newcastle e Bristol. Escreveu então alguns dos seus trabalhos mais importantes, como A Capital, escrito numa prosa hábil, plena de realismo. Manteve a sua actividade jornalística, publicando esporadicamente no Diário de Notícias, em Lisboa, a rubrica «Cartas de Inglaterra». Mais tarde, em 1888 seria nomeado cônsul em Paris.

    Seu último livro foi A Ilustre Casa de Ramires, sobre um fidalgo do século XIX com problemas para se reconciliar com a grandeza de sua linhagem. É um romance imaginativo, entremeado com capítulos de uma aventura de vingança bárbara que se passa no século XII, escrita por Gonçalo Mendes Ramires, o protagonista. Trata-se de uma novela chamada A Torre de D. Ramires, em que antepassados de Gonçalo são retratados como torres de honra sanguínea, que contrastam com a lassidão moral e intelectual do rapaz.

    Aos 40 anos casou com Emília de Castro, com quem teve 4 filhos: Alberto (16-4-1894), António (28-12-1889), José Maria (26 -2 -1888) e Maria (16-1-1887).

    Morreu em 16 de Agosto de 1900 na sua casa de Neuilly-sur-Seine, perto de Paris. Teve funeral de Estado, foi sepultado em Cemitério dos Prazeres de Lisboa, mas mais tarde foi transladado para o cemitério de Santa Cruz do Douro em Baião.

    Foi também o autor da Correspondência de Fradique Mendes e A Capital, obra cuja elaboração foi concluída pelo filho e publicada, postumamente, em 1925. Fradique Mendes, aventureiro fictício imaginado por Eça e Ramalho Ortigão, aparece também no Mistério da Estrada de Sintra. Seus trabalhos foram traduzidos em aproximadamente vinte línguas.

    Singularidades de uma rapariga loura

    I

    ––––––––

    Começou por me dizer que o seu caso era simples - e que se chamava Macário...

    Devo contar que conheci este homem numa estalagem do Minho. Era alto e grosso: tinha uma calva larga, luzidia e lisa, com repas brancas que se lhe eriçavam em redor: e os seus olhos pretos, com a pele em roda engelhada e amarelada, e olheiras papudas, tinham uma singular clareza e retidão - por trás dos seus óculos redondos com ares de tartaruga. Tinha a barba rapada, o queixo saliente e resoluto. Trazia uma gravata de cetim negro apertada por trás com uma fivela; um casaco comprido cor de pinhão, com as mangas estreitas e justas e canhões de veludilho. E pela longa abertura do seu colete de seda, onde reluzia um grilhão antigo, saíam as pregas moles duma camisa bordada.

    Era isto em setembro: já as noites vinham mais cedo, com uma friagem fina e seca e uma escuridão aparatosa. Eu tinha descido da diligência, fatigado, esfomeado, tiritando num cobrejão de listas escarlates.

    Vinha de atravessar a serra e os seus aspectos pardos e desertos. Eram oito horas da noite. Os céus estavam pesados e sujos. E, ou fosse um certo adormecimento cerebral produzido pelo rolar monótono da diligência, ou fosse a debilidade nervosa da fadiga, ou a influência da paisagem escarpada e árida, sobre o côncavo silêncio noturno, ou a opressão da eletricidade, que enchia as alturas - o fato é que eu - que sou naturalmente positivo e realista - tinha vindo tiranizado pela imaginação e pelas quimeras. Existe, no fundo de cada um de nós, é certo - tão friamente educados que sejamos - um resto de misticismo; e basta às vezes uma paisagem soturna, o velho muro dum cemitério, um ermo ascético, as emolientes brancuras dum luar, para que esse fundo místico suba, se alargue como um nevoeiro, encha a alma, a sensação e a idéia, e fique assim o mais matemático ou o mais crítico - tão triste, tão visionário, tão idealista - como um velho monge poeta. A mim, o que me lançara na quimera e no sonho fora o aspecto do mosteiro de Rastelo, que eu tinha visto, à claridade suave e outonal da tarde, na sua doce colina. Então, enquanto anoitecia, a diligência rolava continuamente ao trote esgalgado dos seus magros cavalos brancos, e o cocheiro, com o capuz do gabão enterrado na cabeça, ruminava o seu cachimbo - eu pus-me elegìacamente, ridìculamente, a considerar a esterilidade da vida: e desejava ser um monge, estar num convento, tranqüilo, entre arvoredos ou na murmurosa concavidade dum vale, e enquanto a água da cerca canta sonoramente nas bacias de pedra, ler a Imitação, e ouvindo os rouxinóis nos loureirais, ter saudades do céu. - Não se pode ser mais estúpido. Mas eu estava assim, e atribuo a esta disposição visionária a falta de espírito - e a sensação - que me fez a história daquele homem dos canhões de veludilho.

    A minha curiosidade começou à ceia, quando eu desfazia o peito duma galinha afogada em arroz branco, com fatias escarlates de paio - e a criada, uma gorda e cheia de sardas, fazia espumar o vinho verde no copo, fazendo-o cair de alto de uma caneca vidrada. O homem estava defronte de mim, comendo tranquilamente a sua geléia: perguntei-lhe, com a boca cheia, o meu guardanapo de linho de Guimarães suspenso nos dedos - se ele era de Vila Real.

    — Vivo lá. Há muitos anos - disse-me ele.

    — Terra de mulheres bonitas, segundo me consta - disse eu.

    O homem calou-se.

    — Hem? - tornei.

    O homem contraiu-se num silêncio saliente. Até aí estivera alegre, rindo dilatadamente; loquaz e cheio de bonomia. Mas então imobilizou o seu sorriso fino.

    Compreendi que tinha tocado a carne viva de uma lembrança. Havia decerto no destino daquele velho uma mulher. Aí estava o seu melodrama ou a sua farsa, porque inconscientemente estabeleci-me na idéia de que o fato, o caso daquele homem, devia ser grotesco e exalar escárnio.

    De sorte que lhe disse:

    — A mim têm-me afirmado que as mulheres de Vila Real são as mais bonitas do Norte. Para olhos pretos Guimarães, para corpos Santo Aleixo, para tranças os Arcos: é lá que se vêem os cabelos claros, cor de trigo.

    O homem estava calado, comendo, com os olhos baixos:

    — Para cinturas finas Viana, para boas peles Amarante - e para isto tudo Vila Real. Eu tenho um amigo que veio casar a Vila. Talvez conheça. O Peixoto, um alto, de barba loura, bacharel.

    — O Peixoto, sim - disse-me ele, olhando gravemente para mim.

    — Veio casar a Vila Real como antigamente se ia casar à Andaluzia - questão de arranjar a fina flor da perfeição. - À sua saúde.

    Eu evidentemente constrangia-o, porque se ergueu, foi à janela com um passo pesado, e reparei então nos seus grossos sapatos de casimira, com sola forte e atilhos de couro. E saiu.

    Quando pedi o meu castiçal, a criada trouxe-me um candeeiro de latão lustroso e antigo e disse:

    — O senhor está com outro. É no n.º 3.

    Nas estalagens do Minho, às vezes, cada quarto é um dormitório impertinente.

    — Vá - disse eu.

    O n.º 3 era no fundo do corredor. Às portas dos lados os hóspedes tinham posto o seu calçado para engraxar: estavam umas grossas botas de montar, enlameadas, com esporas de correia; os sapatos brancos dum caçador; botas de proprietário, de altos canos vermelhos; as botas dum padre, altas, com a sua borla de retrós; os botins cambados, de bezerro, de um estudante, e a uma das portas, o n.º 15, havia umas botinas de mulher, de duraque, pequeninas e finas, e ao lado as pequeninas botas duma criança, todas coçadas e batidas, e os seus canos de pelica-mor caíam-lhe para os lados com os atacadores desatados. Todos dormiam. Defronte do n.º 3 estavam os sapatos de casimira com atilhos:

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