Pesquisa Quantitativa em Educação Física: Métodos e Técnicas Investigativas
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Pesquisa Quantitativa em Educação Física - Juliano Dal Pupo
INTRODUÇÃO
Esta obra tem como objetivo proporcionar ao leitor um detalhamento minucioso das etapas envolvidas desde a concepção até o desenvolvimento de uma pesquisa científica, com enfoque e exemplificações aplicadas à área da Educação Física.
Na primeira unidade, compondo o Capítulo 1, estão apresentados os conteúdos introdutórios da pesquisa, tais como a escolha do tema, contextualização do problema, formulação de objetivos e hipóteses; na sequência, o Capítulo 2 versa sobre a revisão de literatura nos seus diferentes tipos. Já a segunda unidade desta obra é dedicada a apresentar o método de pesquisa em si, com diversos capítulos abordando, em uma lógica sequencial, tópicos como a caracterização e os tipos de pesquisa, variáveis do estudo, seleção da amostra, instrumentos de medida e a análise estatística dos dados, que é parte fundamental para a testagem das hipóteses da pesquisa. A terceira unidade versa sobre os elementos finais da pesquisa, constando a apresentação dos resultados, exemplificando as possibilidades de apresentá-los (tabelas, quadros, gráficos ou figuras em seus diversos tipos), passando, após, para a discussão dos resultados e as conclusões do estudo. Finalmente, é abordado como referenciar os autores citados durante o texto.
Com base nesses destaques e muito mais, esta obra revela-se uma excelente fonte de consulta a todos que se interessam pela pesquisa científica, em especial aos que buscam elementos metodológicos claros e aplicados à área da Educação Física.
UNIDADE I
Da Escolha do Tema à Revisão de Literatura
A Unidade I apresenta os elementos iniciais na condução de uma pesquisa científica, que passa primeiramente pela contextualização do tema a ser investigado, com a definição do problema de pesquisa. Na sequência, são apresentados os objetivos gerais e específicos determinados a partir desse problema, assim como as hipóteses e a justificativa para a realização da pesquisa. A clareza na elaboração do problema, objetivos e hipóteses vai dar suporte para a correta definição do método, garantindo, assim, a consistência interna e, consequentemente, quando for o caso, as inferências para outros grupos, ou seja, a real contribuição social, papel este da ciência.
CAPÍTULO 1
Conteúdos Introdutórios
A escolha do tema representa o primeiro passo e um dos mais importantes em qualquer pesquisa científica. Encontrar o tema ou o assunto que se deseja estudar e pesquisar nem sempre é uma tarefa fácil. De forma geral, nessa etapa deve-se responder ao seguinte questionamento: o que será explorado?
Segundo Marconi e Lakatos (2017), escolher o tema significa selecionar o assunto de acordo com as inclinações, as possibilidades, as aptidões e as tendências de quem se propõe a elaborar um trabalho científico. Ainda, consiste em encontrar um objeto que mereça ser investigado cientificamente e tenha condições de ser formulado e delimitado em função da pesquisa.
Para a escolha do tema, podem ser considerados os seguintes fatores:
Fatores internos: afetividade em relação a um tema ou alto grau de interesse pessoal; tempo disponível para a realização do trabalho de pesquisa; e o limite das capacidades do pesquisador em relação ao tema pretendido.
Fatores externos: a significação do tema escolhido, sua novidade, sua oportunidade e seus valores acadêmicos e sociais; o limite de tempo disponível para a conclusão do trabalho; material de consulta e dados necessários ao pesquisador.
De modo geral, pode-se dizer que o tema ideal para a pesquisa é aquele que é do gosto e desperte o interesse do pesquisador. Porém é preciso ter sempre em mente que necessita ser algo relevante para uma sociedade ou uma ciência, que trará algo novo e uma possível aplicação.
Um aspecto muito importante ao definir o tema investigado é pensar na possível exequibilidade. Muitas vezes temas complexos são difíceis de investigar, demandam muito tempo ou pessoas altamente qualificadas. Assim, muito importante saber que o tema a ser abordado também deve levar em consideração o nível em que o estudante se encontra. É comum jovens graduandos, iniciantes em pesquisa, escolherem temas abrangentes para seus trabalhos de conclusão de curso. Nesse caso, cabe então aos orientadores guiar com cautela esse processo. O ideal é iniciar com um foco menor e aumentar gradativamente a complexidade, possibilitando o correto desenvolvimento e aprendizagem, para que em níveis mais elevados (ex.: mestrado, doutorado) uma base consolidada em pesquisa auxilie no desenrolar de temas mais complexos. Não há uma regra geral, mas devemos pensar, muitas vezes, em resolver pequenos problemas para alcançar nossos objetivos.
A escolha do tema também é dependente de um conhecimento básico, tal como a experiência e vivência com o objeto de estudo e a base literária para se colocar a par do que está sendo desenvolvido naquele segmento. Esse conhecimento prévio sobre o assunto é essencial na definição futura do problema de pesquisa. Também evitará que ocorram casos em que o pesquisador começa a desenvolver os capítulos iniciais do seu projeto e, quando parte para a revisão, descobre que seu problema formulado já apresenta resposta.
Outro fato de relevância é o modismo na opção por um tema. A escolha sobre um tema novo, sobre o qual recentemente foram publicados estudos, deve ser evitada, pois uma nova abordagem torna-se mais difícil. O tema deve ser preciso, bem determinado e específico.
Cabe destacar que, mesmo sendo o conteúdo deste livro, assim como o deste capítulo, independentemente do tipo de pesquisa ou da área em que ela se enquadre, inicialmente se faz necessário ampla leitura, pois é por meio desta que inicia o processo de gosto pela investigação e pela continuidade do processo de contribuição científica. Portanto a revisão de literatura (conteúdo abordado no Capítulo 2) deve ser sempre tida como um processo inicial na pesquisa, principalmente quando se está nos primeiros passos no processo enquanto pesquisador. Por outro lado, mesmo que o pesquisador apresente um conhecimento prévio sobre o tema escolhido, uma leitura investigativa tem o mérito de aumentar a extensão, a profundidade e a atualização dos conteúdos conhecidos. O conhecimento obtido ajudará a distinguir o secundário do essencial e facilitará a delimitação do conteúdo dos temas a investigar (SANTOS, 2007).
Leituras prévias direcionam adequadamente a pesquisa e evitam desperdício de tempo, mas não abstêm o pesquisador de constantemente buscar conteúdos que contribuam para o seu trabalho. A busca inicial não finaliza a revisão de literatura, que deve estar presente durante todo o desenvolvimento da pesquisa, desde a escolha do tema à elaboração do documento final.
1 INTRODUÇÃO/CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA
A introdução do projeto deve ser elaborada de tal forma a despertar o interesse do leitor pelo(s) problema(s) de estudo. A introdução deve fornecer também informações relevantes sobre o fenômeno a ser investigado, valorizando a problemática do estudo.
Uma boa introdução deve ser clara, com vocabulário simples e direto, evitando prolixidades, pois o leitor tem que entender o problema para ganhar interesse na sua solução, ou seja, ler o trabalho todo. Muitas vezes, ser técnico demais na introdução desmotiva a leitura do trabalho.
A introdução deve conter, ainda, conforme Gaya et al. (2008):
uma exposição clara sobre a natureza do problema investigado, juntamente das questões ou hipóteses específicas a ela relacionadas;
explicações recentes que demonstrem a relevância da pesquisa para a área de estudo;
especificação clara e precisa dos objetivos da investigação, ou seja, a introdução deve conter a descrição geral do tema sobre o qual a pesquisa será realizada;
uma breve referência da(s) teoria(s) orientadora(s) na(s) qual(is) o pesquisador se suporta.
Em termos organizacionais, uma boa introdução deve apresentar inicialmente uma visão genérica do assunto investigado (introdução geral), a qual deve despertar interesse pelo estudo de forma mais ampla, colocando o leitor a par das descobertas científicas do tema em uma esfera global. Em seguida vem a introdução de fundo, na qual, conforme Alves-Mazzotto e Gewandsznajder (1998), são tecidas argumentações com base na lacuna do conhecimento e dos pontos contraditórios na literatura, examinando aspectos mais relacionados à questão focalizada no projeto. Em outras palavras, a introdução deve fornecer informações claras e suficientes para que o leitor compreenda a natureza do problema e sua necessidade de investigação. Ao final da introdução, o problema apresenta-se em forma de pergunta ou, quando mais que um, colocam-se como questões a investigar
.
Na introdução, o pesquisador deve apresentar o resumo do estado da arte do tema a ser investigado, utilizando conteúdos advindos principalmente de artigos científicos, livros, textos etc. O tamanho da introdução pode variar. Em monografias, dissertações e teses não há limite de tamanho, entretanto, não sendo demasiadamente curta ou extensa, deve atrair o leitor para o conteúdo a ser abordado, despertando o interesse pelo assunto e problema a ser trabalhado.
Importante mencionar que, muitas vezes, alguns autores optam por apresentar os tópicos introdução e justificativa em um texto único, seguido pelo objetivo geral. Em suma, recomenda-se seguir uma introdução geral, introdução de fundo e problema de pesquisa, como segue no exemplo hipotético de um estudo tendo como tema Adaptações neuromusculares utilizando o método pilates em idosos
.
Introdução Geral
Características do método de treinamento Pilates.
↓
Adaptações neuromusculares utilizando o método Pilates e de outros modelos de treinamento de força de modo geral.
Introdução de Fundo
Aplicabilidade do método Pilates em idosos.
↓
Visão geral da literatura sobre adaptações deste modelo de treinamento em idosos.
↓
Proposta de modelos de treinamento e lacunas da literatura.
Problema
Um programa de treinamento baseado no método Pilates é capaz de induzir adaptações neuromusculares (força, área de secção transversa, recrutamento de unidades motoras) em idosos?
A introdução, dessa forma, é então finalizada com a questão problema, exposta na forma interrogativa (?).
1.1 Problema
Conforme descrito no item anterior, na introdução deve ser apresentado um conjunto de elementos teóricos para contextualizar e fundamentar sua problemática de pesquisa. Normalmente se costuma explicitar ao final da introdução a nossa pergunta de pesquisa, usando os advérbios interrogativos Quais
, O que
etc. Muitas vezes alguns pesquisadores costumam deixar a pergunta (ou perguntas, em caso de haver mais de uma) diluída
ao longo da introdução, sem necessariamente aparecer uma questão ao final da introdução. Contudo o que vem a representar um problema de pesquisa?
Segundo Cervo e Bervian (2002), o problema é uma questão que envolve intrinsecamente uma dificuldade teórica ou prática para a qual o pesquisador deve encontrar uma ou mais soluções. O célebre cientista alemão Albert Einstein costumava dizer que não são as repostas que movem o mundo, mas sim as perguntas. Assim, postula-se que muitas vezes o mais importante para o progresso da ciência é saber formular perguntas do que propriamente respondê-las.
Pode-se dizer que um problema é de natureza científica quando envolve variáveis que podem ser testáveis. As perguntas devem ser formuladas de forma que haja possibilidade de respostas por meio da pesquisa. Diversas perguntas sem respostas ou soluções ainda existem em nosso meio. Isso se deve à incapacidade atual das técnicas científicas em fornecer todas as respostas.
Algumas problemáticas recorrentes na área da Educação Física são exemplificadas a seguir:
A desnutrição afeta o desempenho esportivo?
O treinamento físico auxilia a reduzir o processo de envelhecimento?
Qual das metodologias de ensino aplicadas melhora o desempenho escolar?
Nesses exemplos de problemas, todas as variáveis são suscetíveis de observação ou manipulação e, portanto, são problemas científicos (GIL, 2008).
1.2 Implicações para a escolha do problema
Algumas implicações para a escolha do tema e consequentemente para o problema devem ser observadas, como descritas por Gil (2010) e destacadas