Formação de professores de Educação Física: Diálogos e saberes
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Sobre este e-book
O livro que ora apresentamos foi construído a partir de diálogos entre doutores, mestres, professores e estudantes de várias instituições de ensino do Rio de Janeiro, que têm em comum a reflexão incessante sobre a Educação Física e seus desafios de ensinar e aprender. Algumas
de nossas parcerias datam da década de 1980 quando, ainda como estudantes de graduação e partícipes de variados movimentos estudantis,
ansiávamos por construir uma Educação Física que superasse a matriz hegemônica e unitária da aptidão física e a dualidade cartesiana entre
corpo e mente. As parcerias mais recentes têm-se dirigido à incansável procura por refletir sobre a formação inicial e continuada de professores,
foco de nossas preocupações atuais. Outras ainda, com participação de estudantes de mestrado, graduação e bolsistas de Iniciação Científica,
focalizam igualmente os desafios de formar professores de Educação Física para o século XXI. Uma nova importante consideração diz respeito ao fato de que a presente publicação conta, em larga medida, com a autoria de professores de Educação Física integrantes do corpo docente de uma instituição de ensino superior estadual e de três instituições federais de ensino superior, que oferecem o curso de Licenciatura em Educação Física, sendo todas do Rio de Janeiro. Esse esforço demonstra uma importante capacidade de diálogo interinstitucional, favorecendo intercâmbios permanentes e uma rica troca de experiências, alimentando nossas reflexões, nossas investigações e nossas intervenções cotidianas, assim como permitindo aos estudantes dos referidos cursos compartilharem diferentes formatos de trabalho curricular e pedagógico.
Queremos compartilhar com educadores e estudantes de Educação Física nossos diálogos, nossas inquietações, nossas dúvidas, mas também
o que temos construído ao longo dessas anos em nossas experiências cotidianas com parceiros de trabalho e de vida. Ousamos publicar nossas
incertezas, nossos questionamentos no sentido de buscarmos permanentemente outras respostas, outras parcerias, outras vozes que, junto
conosco, desvendem percursos instigantes e inexplorados. Revisitamos antigas questões, apresentamos possíveis pistas; examinamos caminhos
percorridos, questionamos a pertinência dos atalhos; investigamos trilhas, supomos possibilidades e visibilizamos limites...
Esse é um livro em movimento. Não temos a pretensão de oferecer respostas, mas dividir conhecimentos, compartilhar trajetórias,
instigar outros e novos interlocutores, para que a partir do debate possamos incitar sempre novas possibilidades de ensinar e aprender
Educação Física.
Amparo Villa Cupolillo e Aloisio J. J. Monteiro
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Formação de professores de Educação Física - Aloisio J. J. Monteiro
Créditos
Copyright © 2011 by Aloisio J. J. Monteiro, Amanda M. Singulani, Amparo Villa Cupolillo, Antonio Jorge Soares, Dinah Vasconcellos Terra, José Ricardo da Silva Ramos, Lidiane Picoli Lima, Liz Paiva, Marco Antonio Santoro Salvador, Marcos Antonio Carneiro da Silva, Nádia Souza, Roberta Coube, Vanessa Oximenes Alves.
Revisão: Lucia Koury
Capa e projeto gráfico: Alexandre Brum
Produção para ebook: Fábrica de Pixel
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
F82
Formação de professores de educação física: diálogos e saberes / Aloisio J. J. Monteiro, Amparo Villa Cupolillo (organizadores). - 1. ed. - Rio de Janeiro: Outras Letras, 2011.
150 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-88642-44-7
1. Professores de educação física -Formação. 2. Prática de ensino. I. Monteiro, Aloisio Jorge de Jesus. II. Cupolillo, Amparo Villa.
Outras Letras Editora
Tel.: (21) 2267-6627
www.outrasletras.com.br
outrasletras@outrasletras.com.br
Associada à Libre – Liga Brasileira de Editoras
www.libre.org.br
Prefácio
Perguntar. Creio ser este o convite que os autores presentes neste livro nos fazem. Perguntas sobre a formação docente. Perguntas sobre a educação física. Perguntas sobre o corpo. Perguntas sobre nós. Perguntas sobre a vida. Perguntas sem respostas definitivas, que desafiam a busca de respostas possíveis, constituídas pela parcialidade e pela incompletude. Perguntas e respostas que expressam trajetos já realizados e instigam a seguir em busca.
Busca difícil, pois, emoldurada pelo desabrigo imposto pela desarticulação da dicotomia corpo/mente, central na construção do homem moderno, que formula um projeto colonial de mundo, produz conhecimentos sobre esse mundo e sobre ele atua. Esse sujeito, composto por matéria e espírito – elementos essencialmente diferentes –, nutriu a educação física, desde seu nascimento como disciplina escolar, no movimento de conformação da própria escola como importante instituição engendrada na modernidade.
A dicotomia corpo/mente proporciona um lugar próprio, sólido, objetivo, material, terreno para o corpo – indiscutivelmente físico - e, portanto, para a sua educação. Educar o corpo tendo como pano de fundo a ideia de corpos eternamente jovens, vigorosos, saudáveis e belos
– disciplinados e controlados. A simplificação desse modelo demarca com segurança a ação docente, atribuindo a sua formação um sentido eminentemente técnico e performático.
Essa tradição, esse lugar, essa conformação, essa estrutura, esse paradigma e seus ecos, intensos e insistentes, atravessam a experiência escolar, embora não possam atender as demandas que os sujeitos em suas interações cotidianas trazem desordenadamente para a escola e para os múltiplos espaços-tempos de formação docente. Mais do que isso, docentes e discentes experimentam em seus cotidianos a complexidade de sua subjetividade que não se conforma aos processos que pretendem repartir, classificar, normatizar, delimitar, organizar, prever, controlar.
Enquanto os sujeitos se confrontam com sua incompletude e com suas especificidades, das diversas telas continuam surgindo imagens eternamente jovens, saudáveis e belas, como aquilo em que podem ( e devem) se transformar nossos corpos em suas diferentes configurações, partes de nossos diferentes percursos, nos quais e pelos quais se desenham as diferenças culturais e se imprime a modelagem colonial. Diante da imagem padronizada, expressão de um modelo ideal e idealizado, os diferentes corpos continuam afirmando/indagando a diferença, propondo/ experimentando/narrando diferentes projetos e configurações.
Como educar um corpo que simultaneamente vive, sente, produz? Que lugares ocupam no processo educacional esses corpos que vivem, sentem, produzem, interagem, desafiam, negociam?
Como educar-se como educador? Como educarmo-nos?
O como
que conduz a pergunta se entretece pelos por quê
, para quê
, onde
, quando
. Outra vez, um como
que não pode ser simplesmente respondido, mas precisa ser vigorosamente indagado, forjando questões que levam à interpelação dos próprios sentidos de corpo:
Corpo texto
Corpo tecido
Corpo linguagem
Corpo caos
Entretecido
Pretexto
Pretexto para reflexões sobre o currículo da formação docente, com seus deslizamentos entre o oficial e o praticado, ambos atravessados por conteúdos – práticos, teóricos, vivenciados – que se ocultam/revelam nas experiências cotidianas. Reflexões que se estendem à metodologia para condução dos processos pedagógicos e aos espaços de sua realização, dentre tantas interações e interlocuções reconhecidas/produzidas como alternativas válidas.
Movimento que desloca o olhar fixo sobre o corpo para os deslizamentos do diálogo com o sujeito, em sua complexidade, como produção simultaneamente individual e coletiva, com inscrições e percepções diferentes e múltiplas, imerso em dinâmicas interculturais. Movimento que nos leva a perceber não só cada corpo mas cada sujeito em sua singular configuração plural, em permanente interação com os outros e com o mundo.
Os textos percorrem a formação docente, a interação entre os diferentes segmentos que compõem o sistema educacional, sob o desafio de experimentar cotidianamente processos tematizados pela perspectiva da corporeidade, como uma das respostas à insuficiência da dicotomia corpo/mente. Recolocam a discussão sobre a visibilidade/invisibilidade dos corpos, desfocando a perfeição dos corpos idealizados, partes visíveis dos sujeitos igualmente idealizados, para a corporeidade dos sujeitos ordinários (Certeau) cujos sentimentos, percepções, atos, vozes, desacatados, sujeições interagem na configuração de seus trajetos cotidianos na produção de suas vidas.
Maria Teresa Esteban[1]
Apresentação
Como chegamos até aqui e o que buscamos compartilhar?
O livro que ora apresentamos foi construído a partir de diálogos entre doutores, mestres, professores e estudantes de várias instituições de ensino do Rio de Janeiro, que têm em comum a reflexão incessante sobre a Educação Física e seus desafios de ensinar e aprender. Algumas de nossas parcerias datam da década de 1980 quando, ainda como estudantes de graduação e partícipes de variados movimentos estudantis, ansiávamos por construir uma Educação Física que superasse a matriz hegemônica e unitária da aptidão física e a dualidade cartesiana entre corpo e mente. As parcerias mais recentes têm-se dirigido à incansável procura por refletir sobre a formação inicial e continuada de professores, foco de nossas preocupações atuais. Outras ainda, com participação de estudantes de mestrado, graduação e bolsistas de Iniciação Científica, focalizam igualmente os desafios de formar professores de Educação Física para o século XXI.
Uma nova importante consideração diz respeito ao fato de que a presente publicação conta, em larga medida, com a autoria de professores de Educação Física integrantes do corpo docente de uma instituição de ensino superior estadual e de três instituições federais de ensino superior, que oferecem o curso de Licenciatura em Educação Física, sendo todas do Rio de Janeiro. Esse esforço demonstra uma importante capacidade de diálogo interinstitucional, favorecendo intercâmbios permanentes e uma rica troca de experiências, alimentando nossas reflexões, nossas investigações e nossas intervenções cotidianas, assim como permitindo aos estudantes dos referidos cursos compartilharem diferentes formatos de trabalho curricular e pedagógico.
Queremos compartilhar com educadores e estudantes de Educação Física nossos diálogos, nossas inquietações, nossas dúvidas, mas também o que temos construído ao longo dessas anos em nossas experiências cotidianas com parceiros de trabalho e de vida. Ousamos publicar nossas incertezas, nossos questionamentos no sentido de buscarmos permanentemente outras respostas, outras parcerias, outras vozes que, junto conosco, desvendem percursos instigantes e inexplorados. Revisitamos antigas questões, apresentamos possíveis pistas; examinamos caminhos percorridos, questionamos a pertinência dos atalhos; investigamos trilhas, supomos possibilidades e visibilizamos limites...
Esse é um livro em movimento. Não temos a pretensão de oferecer respostas, mas dividir conhecimentos, compartilhar trajetórias, instigar outros e novos interlocutores, para que a partir do debate possamos incitar sempre novas possibilidades de ensinar e aprender Educação Física.
Amparo Villa Cupolillo e Aloisio J. J. Monteiro
Organizadores
Novas concepções de conhecimento e formação de professores: um debate para a Educação Física
Aloisio J. J. Monteiro[2]
De onde viemos, para onde vamos?
Iniciarei este trabalho de reflexão exatamente sobre a afirmação do núcleo proposto no título: novas concepções de conhecimento e formação de professores. Em se tratando de uma afirmação, podemos concordar que existem novas concepções de conhecimento? Se sim, com certeza devemos indagar sobre a formação do Professor de Educação Física à luz das possíveis novidades do conhecimento. Mas é esta tão somente uma nova concepção ou será também novo o próprio conhecimento?
Ao concordarmos que o conhecimento é novo em si, estaremos falando de um conhecimento novo como critério de verdade. Apesar de identificar que esta possibilidade está presente na ordem do dia da Educação Física, não será este o caminho a se percorrer neste texto, pois um conhecimento novo nos remeterá, inevitavelmente, à trajetória de uma nova epistemologia.
Refiro-me aqui à necessidade de identificação e reflexão das contradições presentes no próprio campo dos cânones definidos academicamente pelas tendências tradicionais vigentes, visando levá-las ao seu limite máximo de exaustão, como processo estratégico, inclusive, de sua saturação e transbordamento, na perspectiva factual de outra epistemologia.
Assim, afirmo aqui a possibilidade de uma novidade epistemológica, ou seja, que apesar dos cânones vigentes, identifica-se e admite-se que o conhecimento apresenta algo de novo e mais, que na Educação Física, diversas concepções instituintes se apresentaram (e se apresentam) desde as últimas décadas, como novas perspectivas que efetivamente contribuem para a tessitura de um novo conhecimento em Educação Física, em oposição aos cânones tradicionais.
O que nos autoriza a dizer que uma novidade epistemológica é aquela que identifica as diferentes novas vozes no conhecimento?
Bem, se tomarmos os últimos cem anos, pode-se afirmar que a humanidade viveu um crescimento brutal na quantidade de conhecimento técnico e científico. O conhecimento foi multiplicado exponencialmente. Esse avanço vertiginoso nos autoriza a dizer que estamos diante de um processo de transformação dialética da quantidade em qualidade. Isto é, a novidade do conhecimento nos é dada também em termos de sua qualidade, mesmo sem esta ser o resultado de uma nova epistemologia, mas que na realidade é fruto do processo dinâmico de multiplicação da quantidade de conhecimento[3].
A partir deste cenário, analisemos a questão da Formação de Professores. Esta questão, tão antiga quanto à memória grega, que pode ser marcada já a partir da Academia de Platão, onde a questão fundamental já emergia: o que e como ensinar o educador? Como formar aquele que terá como função formar outros indivíduos?
Esta questão, vinculada a anterior, nos apresenta um quadro de extrema complexidade, já que a tessitura de um plano lógico-epistemológico, onde o conhecimento pode ser tratado em sua dimensão formal restrita, deve estar muito bem articulada com as dimensões sociais, políticas, éticas, culturais, econômicas etc. presentes ao longo de qualquer análise ou projetos pedagógicos de formação do educador.
Por outro lado, desde o pensamento pré-socrático, vimos fragmentando nossos objetos para melhor nos apropriarmos do conhecimento e para dominá-lo cada vez mais completamente. Mas é a partir de Des-cartes, no século XVII, que esta assume uma forma mais estruturada. Assim, a disciplinarização do conhecimento assume uma forma definitiva em função de uma conduta metodológica oficial, ou seja, uma forma institucionalizada.
Se a ótica fragmentada e disciplinar dominou o conhecimento por longa data, não podemos deixar de identificar que esta ainda esta presente entre nós, e particularmente no campo da Educação Física assume seu caráter mais perverso e dicotomizado, e por que não hegemônico, apesar de outras formas de relação sujeito-objeto, hoje se encontrarem presentes e reivindicarem outra racionalidade. Nesse sentido, perspectivas mais abrangentes a partir de pontos de vista dialético/dialógico se apresentam concretamente como alternativas absolutamente viáveis para uma compreensão mais aprofundada da realidade complexa.
A história do pensamento científico nos mostra nas