Os Tempos e a Deficiência
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Os Tempos e a Deficiência - Olavo Leopoldino da Silva Filho
OS TEMPOS E A DEFICIÊNCIA
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2022 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Ana Bárbara da Silva Nascimento
Olavo Leopoldino da Silva Filho
OS TEMPOS E A DEFICIÊNCIA
Dedicamos esta obra, com todo nosso amor,
a nosso filho, Olavo Leopoldino da Silva Neto.
O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente...
(Mário Quintana, 2005, p. 285)
APRESENTAÇÃO
Nossas concepções sobre o mundo e suas intercorrências não raro possuem lastro em uma dimensão profunda de nossa existência. Uma existência calcada em conceitos basilares escondidos na profundidade de nossos comportamentos usuais; conceitos considerados, normalmente, óbvios
e avessos ao processo de revisão, que usualmente aplicamos a muitos outros conceitos, mais superficiais, que nos permitem conhecer o mundo.
Ocorre, por vezes, que a referida revisão de conceitos mais superficiais não pode ser feita sem que sejam movimentados e, portanto, postos à luz, tais conceitos fundantes de que são extensão quase formal.
Assim é com a relação entre o conceito de deficiência
, tão utilizado para categorizar amplas gamas de indivíduos, e o conceito profundo de tessitura temporal
. Conceitos que, em um primeiro momento, parecem estar desvinculados, mas que a explicitação de uma relação quase direta entre eles revela a necessidade de se reconsiderar as possibilidades de temporalidades diversas daquela em que estamos cotidianamente imersos e que, para nós, tornou-se quase um sinônimo de existência.
Nossa preocupação nesta obra foi, primeiramente, estabelecer de maneira clara como se dá a relação entre nossas concepções sobre as tessituras temporais que perpassam a realidade subjetiva e nossas concepções sobre a deficiência. Apresentar a maneira como a adesão a uma tessitura temporal particular (de caráter serial – o tempo do relógio), não apenas no contexto social mais geral, mas mais especificamente naquele escolar, leva a um posicionamento frente ao que se deve ou não considerar como deficiência
.
Também nos esforçamos por mostrar que a tessitura temporal serial é uma maneira dentre outras de estabelecer a temporalidade como ordenadora da nossa realidade cotidiana. Apresentamos, assim, outras tessituras temporais que não podem ser subsumidas pela tessitura serial e que, quando consideradas, modificam de maneira forte (porque estrutural) nossas concepções sobre o que se deve conceber por deficiência
. Nesse sentido, o próprio conceito de deficiência é retomado sobre essa nova luz, e suas dimensões analíticas são explicitamente consideradas.
Este não é apenas um trabalho teórico. Fizemos, também, uma investigação em duas escolas do Distrito Federal, para mostra que os conceitos que aqui apresentamos têm, de fato, lastro na nossa realidade cotidiana.
Esperamos conduzir o leitor a uma viagem ao interior de si mesmo, de suas concepções profundas de tessituras temporais para, talvez, produzir como efeito uma mudança radical na forma como a deficiência é por ele reconhecida.
Os autores
PREFÁCIO
Este livro não se origina no ano de 2021, à altura de sua publicação, tampouco em 2020, quando defendida a tese de que deriva. O seu início remonta a espaços-tempos outros, múltiplos e multifacetados; o seu conteúdo diz respeito a plurais e consistentes iniciativas de ensino-pesquisa-extensão desenvolvidas pelos colegas doutores Ana Bárbara da Silva Nascimento e Olavo Leopoldino da Silva Filho, organizadores de Os tempos e a deficiência, que nesta oportunidade venho mui satisfatoriamente apresentar.
Dentre outros muitos, destaco dois os motivos dessa satisfação: o primeiro é a certeza de que se apresenta uma obra que respeita — na concepção, na forma, no conteúdo e em seus propósitos — valores da ciência e do ensino compartilhados pelas modernas epistemologias do campo; o segundo, que se une ao primeiro, é a importância do ineditismo na forma de abordagem da relação entre os tempos e uma certa noção institucionalizada – datada e certamente controversa — de deficiência.
É do tempo, a propósito, que trata o texto: o tempo como rito, série, convivência, fluxo, salto e contradição. Em particular, o tempo escolar como a condição de observância de um modo muito particular de ser. Uma (dentre muitas outras) formas de subjetividade – fragilmente delimitada e menos ainda óbvia, mas cuidadosamente retratada no livro não como diagnóstico, como pretende, para ilustrar, a rarefação dos enunciados da Psiquiatria, mas como potência, quem sabe, de outros tempos e do reconhecimento de outras subjetividades.
Na pós-modernidade, a combinação de formação qualificada e reconhecimento à diversidade coloca-se como o mais arrojado e complexo objetivo de qualquer reflexão educacional e de qualquer didática que se pretendam, de fato, progressivamente organizadas. É nesse sentido que o livro se situa no espectro da epistemologia e da crítica, como um documento da práxis.
O texto inicia desafiando-nos a refletir acerca do tempo e da existência humana, tomando por antecedente da deficiência discussões a esse respeito presentes, entre outros, em Aristóteles, Platão, Agostinho e Kant. Avança abordando relações humanas, como trabalho e educação, em suas evoluções longitudinais, pensando o desenvolvimento como forma de existência e não como contradição de deficiência. Insere-se, com esse objetivo, em questões existenciais, do sagrado e do profano, dos mitos e dos rituais em relação ao tempo, com suas características e forma de organização.
Após essa imersão filosófica, que visa a desenhar o cenário da pesquisa realizada, aborda a deficiência no contexto escolar com um olhar reflexivo a respeito de assuntos inquietantes, como inclusão e exclusão. Arrasta, a esse propósito, conceitos basilares relativos à deficiência sob o ponto de vista biológico, incluindo as dimensões funcional e social e correlacionando-as ao desenvolvimento humano, sobretudo a partir das contribuições de Vygotsky para o campo.
Metodologicamente, a pesquisa contrapõe determinações de dois espaços escolares bastante representativos da territorialidade brasileira, uma urbana e outra rural, analisando-as a partir de elementos discursivos de alunos respectivos. Expõe, das enunciações do recorte urbano, a presença da temporalidade individual e daquela externa, na qual intenta encaixar o sujeito identificado como deficiente na normalidade de um suposto tempo comum. Já na escola rural, identifica compreensões distintas para a relação entre o entendimento de uma (de novo, suposta) doença e um associado diagnóstico de aprendizagem. Essa conclusão é sobremaneira marcante, pois expõe a fragilidade da classificação da deficiência pelo discurso clínico que predomina no ambiente escolar e, a partir disso, anuncia alternativas que passam pelo tempo como potência.
Mais se teria a dizer sobre a qualidade, a relevância e a aderência estratégica da reflexão, embora os autores já o tenham em muito avançado na discussão introdutória que a apresenta. Aproveito, então, para articular uma ideia que me parece convergir e amplificar a proposta desta obra. Valho-me, para isso, das ideias de Rorty (1988, p. 286, grifos nossos):
Os grandes filósofos sistemáticos são construtivos e oferecem argumentos. Os grandes filósofos edificantes são reativos e oferecem sátiras, paródias, aforismos. Eles são intencionalmente periféricos. Os grandes filósofos sistemáticos, como os grandes cientistas, constroem para a eternidade. Os grandes filósofos edificantes destroem para o bem de sua própria geração. Os filósofos sistemáticos querem colocar o seu tema no caminho seguro de uma Ciência. Os filósofos edificantes querem manter