Tecnologias e letramento digitais: influenciam subjetividades?
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Sobre este e-book
Considerando-se que a linguagem é o mais importante traço cultural que se adquire e um dos principais (se não o principal) elementos constitutivos de subjetividades, este livro busca somar-se àqueles estudos de diferentes correntes epistemológicas que têm como ponto comum encontrar respostas para os eventos relativos à linguagem e o homem que atendam às expectativas da humanidade sobre a constituição do ser e seus procedimentos em sociedade. Dessa forma, procura responder, mais especificamente, se e como as diferentes linguagens oportunizadas pelas TIC?s, num contexto que aproxima sociedades, têm influenciado subjetividades.
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Tecnologias e letramento digitais - Luiz Henrique Touguinha de Almeida
Este livro é dedicado a todos aqueles que, de uma ou outra forma, estiveram envolvidos com seu processo de criação emprestando-me seu tempo e/ou atenção em momentos em que eu próprio não lhes podia emprestar a minha. É dedicado, também, ao leitor que, em busca de informação, o tem em mãos ou na tela de seu computador ou smartphone.
AGRADECIMENTOS
Àqueles que tiveram participação direta neste trabalho concedendo entrevistas, participando da pesquisa quer por depoimentos, quer permitindo observações de suas atividades, àqueles que orientaram, sugeriram, trocaram ideias e àqueles que o fizeram de forma indireta, mas não menos importante, o meu muito obrigado.
(...) depois que tu conheces a internet tu não para mais... tu começas a pesquisar, pesquisar, pesquisar...sobre flores... sobre tudo... tu clicas e tá ali... é um mundo mágico, não é? Pra mim foi!¹
1 Aluna formanda, do curso de Pedagogia, matriculada no Polo de Apoio Presencial da UNOPAR em Rio Grande-RS, integrante do grupo de sujeitos pesquisados do presente trabalho.
SUMÁRIO
Capa
Folha de Rosto
Créditos
APRESENTAÇÃO
CAPÍTULO 1
1.1 TECENDO RELAÇÕES ENTRE OS ELEMENTOS CONDICIONANTES DE CULTURAS E SUAS TECNOLOGIAS COM UM VIÉS PARA A EDUCAÇÃO
1.2 TECENDO RELACIONAMENTOS E CONSTRUINDO CONHECIMENTOS
CAPÍTULO 2
2.1 SUBJETIVIDADES: DA BASE CONSTITUTIVA ÀS RELAÇÕES SOCIAIS
2.2 LINGUAGEM COMO ELEMENTO BASE CONSTITUTIVO DE SUBJETIVIDADES
2.3 RELAÇÕES SOCIAIS NA CONSTRUÇÃO DE SUBJETIVIDADES
CAPÍTULO 3
3.1 AS RELAÇÕES SOCIAIS E AS TECNOLOGIAS
3.2 A WWW: UMA NOVA DIMENSÃO DE ACESSO AO MUNDO
3.3 NATIVO DIGITAL E IMIGRANTE DIGITAL
3.4 INCLUSÃO E EXCLUSÃO DIGITAL
CAPÍTULO 4
4.1 LETRAMENTO
4.2 LETRAMENTO ALFABÉTICO E LETRAMENTO DIGITAL
4.3 SUBJETIVIDADES E LETRAMENTO
CAPÍTULO 5
5.1 METODOLOGIA
CAPÍTULO 6
6.1 ANÁLISE DOS DADOS
PARECER FINAL
REFERÊNCIAS
ANEXOS
ANEXO I
ANEXO II
ANEXO III
ANEXO IV
ANEXO V
Landmarks
Capa
Folha de Rosto
Página de Créditos
Sumário
Bibliografia
APRESENTAÇÃO
Este livro resulta da Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Católica de Pelotas como condição parcial para a obtenção do título de Mestre em Linguística Aplicada. Foi orientada pelo PhD em Linguística Aplicada, Prof. Vilson José Leffa e obteve o conceito máximo da banca.
Ainda que tal estudo date de 2010, continua absolutamente atual dada a importância dos fatos apurados e da história da humanidade em si que, em momento algum, pode desconsiderar o ontem para a consolidação histórica do hoje. Para a versão livro
, nada foi suprimido de seu texto principal e houve algumas inserções para subsidiar ainda mais os conceitos apresentados. Busca dar conta da constituição de subjetividades a partir da utilização de tecnologias e suas linguagens em um contexto acadêmico, o que não dispensa a necessidade de conhecimentos iniciais da evolução humana estudados, principalmente, em Tomaselo (2003).
Esse autor propõe que a habilidade de transmissão cultural é o fator preponderante na evolução humana em um tempo tão curto de 6 milhões de anos que separa o homem moderno dos grandes macacos bípedes, do tipo Australopthecos. Desses, após transformações, há 2 milhões de anos surgiram os Homo que, há aproximados 200 mil anos acabaram originando os Homo Sapiens, os primeiros a se consolidarem como populações mais permanentes e como uma nova espécie. Possuíam novas características: além do cérebro um pouco maior, destacaram-se as novas habilidades cognitivas e os produtos que criavam. Produziram novas ferramentas de pedras adaptadas a fins específicos, apropriadas a cada população, começaram a estruturar as sociedades a partir da utilização de símbolos linguísticos e artísticos, a ponto de algumas criarem linguagens escritas, dinheiro e notação de matemática e arte2 e criaram, ainda, novos tipos de práticas e organizações sociais como enterro dos mortos e domesticação de plantas e animais, entre outras.
De qualquer forma, para o autor não houve tempo suficiente, mesmo nesses 6 milhões de anos, para que os processos normais de evolução biológica criassem todas as habilidades cognitivas para que os humanos modernos desenvolvessem e conservassem aptidões e tecnologias no uso de ferramentas, formas de comunicação e representação simbólica, assim como organizações e instituições sociais de formas tão complexas como hoje o fazem.
Para ele, a cognição humana tem as qualidades únicas da espécie porque, além dos olhares filogenético e histórico, ontogeneticamente os seres humanos crescem em meio a artefatos e tradições social e historicamente construídos. Isso lhes faculta, além de beneficiarem-se das habilidades acumuladas de seus grupos sociais, a adquirir e usar representações cognitivas na forma de símbolos linguísticos e internalizar certas interações discursivas, o que os remete a maiores capacidades de metacognição, redescrição representacional e pensamento dialógico.
Assim, a herança cultural é deixada de geração para geração sofrendo, em suas práticas e tecnologias, alterações de acordo com o surgimento de novas necessidades a partir do já posto, valendo-se do que Tomasello (2003) chama de efeito catraca, que evita o retrocesso nesses processos de transformação.
Nesse sentido, ele sustenta que apenas os seres humanos se envolvem em aprendizagens culturais por terem modos de transmissão únicos da espécie. Suas tradições e artefatos vão acumulando transformações ao longo do tempo, ao que denomina de evolução cultural cumulativa. Instrumentos básicos inventados por alguém, em algum momento, podem ser adotados em práticas sociais até que algum usuário ou grupo de usuários, em outro tempo, indeterminado, imprimam-lhe alterações que passam a ser apreendidas e aceitas por novos usuários, sem mudanças, por novo espaço de tempo, até que novo aperfeiçoamento é proposto caracterizando, assim, o efeito catraca, que cuida que não haja um retrocesso no meio do percurso em relação a essas alterações.
Esse processo de evolução cultural cumulativa exige a invenção criativa e uma transmissão cultural confiável, as quais passam a funcionar como a catraca que vai impedir o retrocesso, a fim de que os novos artefatos ou práticas sejam preservados em sua forma melhorada. Conforme o estudioso, o mesmo não acontece com os primatas não humanos uma vez que, ainda que produzam inovações e novidades comportamentais, seus companheiros de grupo não participam do tipo de aprendizagem social que possibilite tal efeito.
Nos seis capítulos que constituem o livro, são feitas abordagens a importantes elementos condicionantes de culturas como paradigmas, sociedades e tecnologias, destacando como as pessoas se conduzem de acordo com seus contextos e influências sofridas. Esses aspectos são fortemente fundamentados em Michel Foucault (1977) e Gilles Deleuze (1992).
Heidgger (2001), Vigotsky (1994) e Saussure aportam teoricamente o texto no que se refere à associação de linguagem e subjetividade em diferentes correntes epistemológicas.
As relações sociais e sua relação com as tecnologias e as subjetividades são, também, destacadas ao longo dos capítulos, além dos indispensáveis temas como a Internet e sua história, os termos nativo e imigrante digital, inclusão e exclusão digital e outros de suma importância, ligados entre si que, juntos, formam elenco e cenário para as atividades contemporâneas. Warschauer (2006) embasa e influencia diretamente esses estudos.
Os Letramentos Alfabético e Digital e sua relação com as subjetividades constituem o mote deste estudo dada a importância de suas aquisições para a formação de subjetividades. Este tema está ancorado nos demais assuntos versados no decorrer dos capítulos.
Será feita, ainda, alusão à metodologia utilizada para investigar o nível de complexidade dos procedimentos on-line dos sujeitos pesquisados, como também à composição do grupo de sujeitos, bem como à análise dos dados coletados e os aspectos teóricos que direcionaram a pesquisa, além das impressões do pesquisador a partir de observações. Todos esses elementos aportam, amparam e levam à conclusão resultante do trabalho de pesquisa desenvolvido.
Na ânsia de um entendimento do quanto a educação, mais especificamente, influencia as subjetividades e em consequência as sociedades e seus modos de vida, buscou-se um breve resgate de sua linha do tempo e o panorama que se apresentou contribuiu de maneira significativa para o desenvolvimento dos trabalhos e as considerações aqui apresentadas.
Há registros da educação na Antiguidade, por volta do século XXVII a.C., que apontam um aluno submisso, passivo, disciplinado e obediente, pronto para reproduzir os ensinamentos transmitidos oralmente (único tipo de linguagem na educação da época), com o claro objetivo de perpetuar a imutabilidade do processo e autoridade dos adultos, que era o foco do tipo de sociedade constituída na época3. O mesmo perfil também é mantido no Médio Império (2133 a 1786 a.C.) ainda que, além da linguagem oral, tenha sido incluída a de textos escritos através de rolos de papiro − primeira − tecnologia inserida na educação −, aos quais os alunos não tinham acesso. Entretanto, no Novo Império, quando os interesses são as grandes batalhas, a educação, além da instrução intelectual se volta para o aspecto físico-militar, a partir do que se presume um perfil de aluno disciplinado, com o pensamento em se constituir um guerreiro, com corpo forte e com habilidades para o manejo das tecnologias de guerra, então introduzidas nas atividades educativas.
Esses perfis vão se adaptando conforme os momentos e os elementos condicionantes de culturas − paradigmas, sociedades, tecnologias, etc. −, passando por educações como a grega, que despertou nos jovens o fascínio pela oratória inspirados nos sofistas, que eram especialistas em retórica. Essa educação também os influenciou a serem guerreiros na juventude e políticos na idade avançada4. Já na educação europeia, na Alta Idade Média, alunos e professores eram colocados em salas de aula, com atividades baseadas em textos aos quais somente os mestres tinham acesso, ainda que já tivesse chegado à Europa o papel, criado pelos chineses5. A socialização do livro só aconteceu a partir da imprensa de Guttemberg e da impressão da Bíblia6. Percebe-se que embora a língua escrita esteja presente ainda prevalece a oralidade, através da qual as informações eram passivamente recebidas pelos alunos, mesmo sendo previsto um momento destinado à discussão da aula anterior que nem sempre acontecia7.
A história avança, criam-se novas situações, novos contextos e tecnologias surgem e são incorporadas à educação: lápis e canetas como materiais de escrita, mimeógrafo e copiadoras como materiais de reprodução e até mesmo o gravador, que mudou o foco, no ensino de línguas, do texto escrito para a oralidade.
As sociedades evoluem e com elas suas tecnologias e os modos de mediação educacional. Até há aproximadamente 40 anos predominavam, inabaláveis, o livro e demais mídias impressas. Na atualidade, além dessas, têm-se as mídias sonoras, televisivas e telemáticas como forma de comunicação. À medida que surgem, as tecnologias vêm sendo incorporadas à vida cotidiana nos diversos setores sociais, havendo uma relação direta entre necessidade/introdução/aquisição de competências e habilidades para o manejo das novas ferramentas. No caso dos materiais de escrita acima citados, por exemplo, além da educação, faziam parte de várias outras atividades sociais, inclusive e principalmente de atividades do mundo do trabalho. Esse setor teve, além dessas e algumas outras, a máquina de datilografia como importante material de escrita, tecnologia que embora transitasse também por outros espaços, bem caracterizava os de trabalho. A ferramenta, além de otimizar o tempo de execução das tarefas, organizava e apresentava de maneira mais eficiente os trabalhos desenvolvidos.
Seu uso, entretanto, não chegava a produzir novos entendimentos, linguagens e conceitos significativos. Além das vantagens citadas, representavam ou reproduziam exatamente o que um lápis ou uma caneta reproduziriam ou representariam se utilizados. Embora se constituísse em uma tecnologia de ponta no mundo do trabalho e transitasse por alguns outros setores, era mais comumente encontrada em escritórios e similares e as competências e habilidades necessárias à sua operação eram buscadas por pessoas da área ou que pretendiam nela ingressar.
O computador, que na sequência ocupa o lugar dessas máquinas como material de escrita, carrega consigo uma complexidade maior, na medida que muda conceitos, apresenta novas linguagens e poucos setores da esfera social dispensam seu uso. Torna-se, assim, fundamental