Brasil: Cor de brasa, cor de sangue
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Sobre este e-book
Os capítulos apresentados são resultado de pesquisas feitas por diversos autores, que consideraram e analisaram situações diversas sobre o tema.
O objetivo é entender a origem e o processo de toda a formação autoritária na história de nosso país e como esses traços se estende até a sociedade atual.
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Brasil - Danielle Gregole Colucci
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Revisão: Márcia Santos
Capa: Matheus de Alexandro
Diagramação: Larissa Codogno
Edição em Versão Impressa: 2021
Edição em Versão Digital: 2021
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Conselho Editorial
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Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi (FATEC-SP) (Lattes)
Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna (UNESP/ASSIS/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Carlos Bauer (UNINOVE/SP) (Lattes)
Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha (UFRGS/RS) (Lattes)
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Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins (UNICENTRO-PR) (Lattes)
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Profa. Dra. Thelma Lessa (UFSCAR/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt (UNIPAMPA/RS) (Lattes)
Prof. Dr. Eraldo Leme Batista (UNIOESTE-PR) (Lattes)
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Estes escritos são fruto da dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, originalmente intitulada Brasil dos Brasis e outros ensaios. Compõe o acervo da universidade na área de concentração Organização do Espaço, linha de pesquisa Teoria, Métodos e Linguagens em Geografia. O trabalho foi orientado pelo professor Dr. Cássio Eduardo Viana Hissa e defendido em maio de 2013. O texto agora apresentado passou por nova revisão e possui algumas modificações feitas em agosto de 2020 pela autora.
À minha família, que sempre sonhou comigo! E, em especial, à minha mãe: primeira pedagoga, lutadora e feminista com quem eu aprendi a trilhar a vida com amor e garra!
Agradeço às pessoas que, em algum momento, caminharam comigo nestas linhas. Umas mais intrepidamente, ao lado; outras, não menos importantes, em pequenos trechos. As palavras aqui pronunciadas são tecidas de inúmeras interdependências, de conversas e experiências compartilhadas, de infindáveis encontros com muitas pessoas. Quaisquer detalhes ou pontos convergem ou divergem com elas, intencionalmente na direção de uma palavra geradora, chamada busca.
Ao Cássio, meu orientador, pelo companheirismo na construção das ideias e dos textos. Pelas conversas, pelas aulas, pelas orientações feitas de compartilhamentos, dúvidas e buscas.
À Doralice Barros, José Geraldo Pedrosa e André Veloso, pela leitura cuidadosa e exigente, pelas conversas, sugestões, críticas, trocas, ideias, referências e questionamentos.
Agradeço também aos meus alunos e alunas — crianças, jovens e adultos — que há 21 anos fazem parte do meu cotidiano como professora, repleto da difícil busca de ensinar-aprender.
Aos colegas do Centro Pedagógico da UFMG, em especial do Núcleo de Geografia e Geoeduc, pelas trocas cotidianas repletas de diálogos, conflitos e entendimentos, tão importantes às aprendizagens da vida.
Brasil: cor de brasa, de sangue.
A sua cor sempre foi vermelha!
SUMÁRIO
Folha de rosto
Dedicatória
Agradecimentos
Epígrafe
I – Primeiras palavras: ensaios e inícios
Ensaios
Inícios
Estado, nação e fusão de ideias
Breves passagens de um Brasil autoritário
Silêncios Legados
Lugares de encontros dialógicos
II – Sobre autoritarismos
Ocidental corpo do mundo
Partidas
Contrapartidas
O político, a política
Tensões
Confluências
III – Brasil dos Brasis
Movimentos ambíguos
Exércitos de Nossa Senhora do Rosário
Línguas, língua
Intencionalidades
Resíduos
IV – Territórios de utopia
Sobre superposições e atravessamentos
Utopias
Lugares-território
Diálogos: outras tensões
Usos transgressores
V – Ponto final: origens
Ou sobre liberdade e humanização
Ou por um Brasil dos Brasis
Referências
Página final
I – Primeiras palavras: ensaios e inícios
Escrevo-te como exercício de esboços antes de pintar. Vejo palavras. O que falo é puro presente e este livro é uma linha reta no espaço. [...] Mesmo que eu diga vivi
ou viverei
é presente porque eu os digo já.
Clarice Lispector
Ensaios
Por que ensaios? Esta primeira questão talvez seja de fácil resolução, pois ancora um dos princípios desta pesquisa: o antigo e inconcluso (inatingível?) desejo humano de liberdade. Vontade de buscar uma forma acadêmica menos formal. A intenção de, mesmo que minimamente, transgredir o que geralmente é feito no interior das universidades. O texto ensaio carrega consigo o conteúdo do que se pensa.
O ponto final do ensaio representaria o lugar de origem, do nascimento da reflexão e das palavras que a representam. Uma pausa apenas, em vez da pretensão do acabamento definitivo. Um silêncio eloquente. O eterno devir da linguagem, dos conceitos de um mundo permanentemente em construção. Espaço de algo a ser continuamente experimentado e, portanto, transmutado, transcriado. Lugar sem mapa cujo percurso, desenhado e redesenhado por um incessante devir, redefine trajetórias de partida e de chegada, aproximando fim e início, desordenando e desalojando significados culturalmente construídos e estabelecidos. Significações impostas e repetidamente recitadas durante séculos por uma cultura fundada no pensamento moderno [...].¹
Talvez seja possível dizer que hoje há uma tentativa de desvalorização dos esforços teóricos de pesquisa: de desqualificação daqueles exercícios que se enveredam nas artes de pensar. Isso reforça a ideia de que teoria e prática vivem em mundos opostos e distantes, reanimando a antiga dicotomia entre ação e reflexão. Por isso, nestas primeiras palavras, há este esforço de dizer algo sobre a estranheza que causa nos sujeitos do conhecimento falar em reflexão, em pensar, em teorizar.
Um dos princípios teórico-metodológicos deste estudo, em contrapartida, leva em consideração a inseparabilidade do pensar-fazer, da teoria e da prática, da ação e da reflexão. A base empírica, nesse caso, é a própria experimentação do mundo — refletida, sentida, praticada. Assim sendo, não haveria uma pesquisa que pudesse ser considerada apenas teórica, da mesma maneira como não há uma prática totalmente irreflexiva. Nesse sentido, poder-se-ia considerar estes escritos como ensaios de vida, como saber de experiência feito², refletido. Nenhum pesquisador fala do vazio, mas de um contexto histórico-geográfico específico. Do seu lugar de experiência existencial.
Talvez [...] o gênero ensaístico esteja mais próximo da ciência que se quer plena de vida, de mundo, do cotidiano das pessoas: uma ciência mais prática, também, e, sobretudo, repleta de sabedorias e de experiências que jamais poderiam ser desperdiçadas como são na universidade moderna.³
Ensaios: formas de libertação dos conteúdos. Considerações epistemológicas que filtram caminhos metodológicos, teóricos. Trajetórias que se permitem dúvidas, incertezas. Resistências aos autoritarismos científicos. Textos: representações de contextos dos seus sujeitos-autores.⁴ Os conteúdos desta pesquisa não se desprendem de sua forma, nem da experiência.
Outros princípios teórico-metodológicos também são importantes nestas primeiras palavras. O de que qualquer conhecimento é parcelar.⁵ Possui potencialidades, limitações, lacunas ou possibilidades. Os sujeitos do mundo⁶ — ou as ciências, ou os saberes por eles produzidos — não esgotam o mundo. Ninguém ignora ou sabe tudo. Todos ignoram ou sabem alguma coisa.⁷ Isso não significa, devido o reconhecimento das limitações da inteligibilidade humana, a proclamação da acomodação dos sujeitos ao mundo. Apenas sugere que o processo de busca é ininterrupto e inerente a eles. Vital.
Neste sentido, a pesquisa que deu origem a este livro, como qualquer outra, apresenta-se como mais uma das várias leituras do mundo,⁸ uma busca reconhecidamente passível de falibilidades, de carências, de ilusões, de contradições, assim como de potencialidades e importância. Uma pesquisa feita através de diálogos diversos: com autores de obras, de lugares e tempos distintos, com pessoas próximas e distantes, com colegas de trabalho e pesquisa. Experiências compartilhadas. Busca de afirmações e suas contrapartidas. Mas, ainda assim, um desejo de leitura do mundo.
Uma tentativa de compreensão inconclusa, inacabada, circunstancial do Brasil contemporâneo, de legados, de processos de formação histórico-geográficos, de possibilidades. Uma busca por entender a formação do Brasil como processo autoritário. Uma maneira de compreender como tais raízes possuem prevalências nas relações socioespaciais. E, para além disso, intenciona-se pensar sobre potencialidades e limites dos lugares compreendidos como espaços⁹ de coletividades, de encontros e de discussões, de interesses comuns, construídos a partir de relações dialógicas: territórios de utopia.
Para se chegar a estes objetivos, outras problematizações são necessárias e exigem outros esforços reflexivos: compreender a categoria lugar e a potência política do adjetivo encontro; e os conflitos e entendimentos próprios da coletividade. Também se tem a intenção de entender o que são liberdades (libertações) e humanidades (humanizações) e, a partir destes aprofundamentos, refletir sobre possibilidades de invenção de territórios utópicos.
Neste sentido, não se pode deixar de refletir sobre a História enquanto história contada, muitas vezes, pelas poucas vozes dos que têm voz.¹⁰ Não é possível perder de vista que a maioria das histórias do Brasil é ausente da historiografia oficial. Assim, haverá um esforço de leitura sobre o país. Alguns autores — como Darcy Ribeiro, Marilena Chauí, José Murilo de Carvalho, Milton Santos, José de Souza Martins, Paulo Freire, entre outros — serão leituras importantes para as reflexões que se pretende neste estudo.
Também, como princípio teórico-metodológico, procurar-se-á refletir segundo pontos de partida: as denúncias. E suas contrapartidas: os anúncios — elaborações utópicas, possibilidades de transformação. Nesse sentido, denúncias e anúncios não podem ser considerados, pretensiosamente, como a denúncia do que é e o anúncio do que será. As denúncias devem ser compreendidas como uma tentativa de leitura do que pode estar sendo. Visões de mundo sobre contextos histórico-geográficos colocados em questão. Neste caso, problematizações espaço-temporais acerca da formação autoritária do Brasil. Tentativas de perguntas e respostas sobre experiências contemporâneas há séculos semeadas.
Por outro lado, as denúncias perdem sentido quando se fazem solitárias. Sua potência teórico-metodológica desabrocha quando, a elas, acoplam-se anúncios. Esses entendidos como uma certa posição sobre o que pode vir a ser, ou não. Desejos de mudanças, deslocamentos acerca do que se acredita que está sendo em direção a um outro mundo possível. Sonhos de transformação. Assunção do devir histórico.¹¹ Assim, denúncias e anúncios são possibilidades: de leitura de um país contemporâneo construído a partir de uma brutal invasão; de reinvenções, ressignificações, transformações.
Inícios
Como pensar prevalências da formação autoritária do Brasil? Em contrapartida, que aberturas (ou fechamentos) podem ser gestadas nos lugares de encontros germinados por culturas¹² dialógicas?
Brasil, uma invenção brutal. País demarcado sob massacres, desigualdades e expropriações. Legados repletos de violentos confrontos e desmandos. Pensar e viver o Brasil, hoje, é experienciá-lo a partir de suas raízes autoritárias e suas prevalências. Tais experiências coexistem com movimentos de resistência e com resignações. Pensar e fazer outros caminhos possíveis passa pela compreensão destes conformismos e inconformismos e pela construção de lugares de encontros, repletos também de conflitos, mas mediados por relações dialógicas, opostas às imposições autoritárias.
Partir do Brasil