Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Mediação e midiatização: Conexões e desconexões na análise comunicacional
Mediação e midiatização: Conexões e desconexões na análise comunicacional
Mediação e midiatização: Conexões e desconexões na análise comunicacional
E-book277 páginas3 horas

Mediação e midiatização: Conexões e desconexões na análise comunicacional

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Não há trajeto intelectual que não enfrente obstáculos e reveses, como também passagens ou ultrapassagens. Ao escolher o exercício reflexivo e interpretativo sobre dois corpos teóricos – Mediação e Midiatização – que galvanizam as atenções dentro do campo dos estudos de mídia, esta obra contribui para sistematizar, documentar e elucidar postulados intrínsecos a esses dois conceitos, identificando possíveis tensionamentos, articulações e diferenças. O autor explorou mais do que os distanciamentos entre tais "construtos teóricos", suas proximidades e conexões. O rigoroso levantamento documental a respeito desses dois corpos teóricos, centrados, por um lado, principalmente, nas obras e reflexões de Jesús Martín-Barbero e, por outro, na produção intelectual de Muniz Sodré e, ainda, em obras coletivas, organizadas por Antonio Fausto Neto, é apresentado e organizado numa estrutura sustentada num tripé composto pelas categorias comunicação, cultura e tecnologia. (Profa. Dra. Ana Carolina D. Escosteguy)
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de fev. de 2017
ISBN9788546205073
Mediação e midiatização: Conexões e desconexões na análise comunicacional

Relacionado a Mediação e midiatização

Ebooks relacionados

Comunicação Empresarial para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Mediação e midiatização

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Mediação e midiatização - Vilso Junior Chierentin Santi

    março/2016.

    Prefácio

    O que são as teorias?

    Teorias são óculos; são binóculos que nos ajudam a ver de maneira mais cristalina o mundo que nos circunda. São desenhos, concepções específicas que corroboram para um olhar mais profundo a respeito de fenômenos igualmente peculiares. Em compasso com as evoluções inerentes ao campo comunicacional, ao longo das últimas décadas, temos vivenciado o surgimento de inúmeras possibilidades epistemológicas na referida área. Presenciamos, assim, novos modos de ver, ópticas; (...) perspectivas que elucidam fenômenos específicos e que também têm certos pontos cegos e limitações que lhes restringem o foco, conforme já nos alertava Kellner (2001, p. 37), a respeito das teorias, no seminal A cultura da mídia.

    Legítimas lupas do conhecimento, as teorias promovem intersecções, reflexões e críticas. Oferecem instrumentos para mapear e discorrer sobre determinados agentes e instituições sociais, suas vivências, relações, posturas, práticas e falas. Lançando mão de pressupostos particulares, ajudam a aclarar a realidade admitindo concomitantemente a inexistência de verdades absolutas e últimas, o que nos leva a crer que toda e qualquer descoberta nunca será completa em sua totalidade, carecendo sempre de aperfeiçoamento e ampliação.

    Essa inquietude não denota ceticismo em relação à ciência e as suas mais diversas teorias postas. Muito pelo contrário, consiste na busca incessante e incansável do saber. Significa alimentar dúvidas sobre o estabelecido e pensar sempre no passo seguinte, em novas proposições. Demonstra admitir – com certeza – que o melhor conhecimento que possuímos é a incerteza. Acreditar nessas premissas evidencia fidelidade ao espírito científico.

    Como também percebemos, a larga gama de possibilidades epistemológicas proporciona vastas e variadas formas de enxergar os fenômenos. A adequação ou não de uma teoria ou mais teorias neste sentido depende dos anseios da pesquisa. É necessário, portanto, ter discernimento aguçado para eleger os óculos de acordo com os objetivos em jogo.

    Indubitavelmente, essa não é uma jornada fácil. É desafiadora e, por vezes, implica transitar por esferas movediças. Definitivamente, não serve para qualquer um. Porém se encaixa no perfil de Vilso Junior Santi.

    Eu conheci o autor desta obra na graduação em Jornalismo, da Universidade Católica de Pelotas. Fui o seu orientador. Desde aquele tempo, Vilso já apresentava traços do que ele viria a se tornar tempos depois: professor e pesquisador. Vilso sempre se mostrou obstinado em desempenhar todas as suas atividades com o maior brilho possível. De boa participação em sala de aula, demonstrava ser um grande leitor, indo além do programa em suas leituras. Apaixonado pela pesquisa e ensino em comunicação, o então aluno aceitava desafios intelectuais. Além disso, naquela época, já possuía notória capacidade de compreensão sobre diferentes pontos de vista, com possibilidade de realizar sínteses coerentes. O tempo passou e, agora, eu me enxergo compondo a apresentação do seu primeiro voo solo, a sua tese de doutorado, atingindo o patamar da publicação.

    A competência cultural de Vilso ratifica um pesquisador que desafia o estabelecido com uma proposta ousada. Mediação e Midiatização: conexões e desconexões na análise comunicacional posiciona, lado a lado, dois construtos aparentemente distintos que habitam o espectro teórico da comunicação. Assim, de posse de uma bibliografia rica e robusta, que ora é enaltecida, ora é criticada, o autor – com elogiável fôlego – desconfia, descortina, desconstrói, vasculha, arrisca, briga e faz as pazes.

    Desiguais (quanto aos resultados teóricos), mas semelhantes (quanto às operações mentais que supõem), a Mediação e a Midiatização fomentam uma relação de entrelaçamento e separação. Em linhas gerais, a primeira compreende os "lugares dos quais provêm as construções que delimitam e configuram a materialidade social e a expressividade cultural da televisão (Martín-Barbero, 1997, p. 292); já a segunda extrapola todos os procedimentos convencionais do ato de comunicar em direção a um processo de fluxo contínuo, sempre adiante (...) aonde já não é tão simples distinguir ‘pontos iniciais’ e ‘pontos de chegada’, produção e recepção como instâncias separadas" (Braga, 2012, p. 40). Cabe a Vilso, um pesquisador nato, misto de explorador, arqueólogo, cartógrafo e jogador, desvendar os pontos cegos dessa conexão.

    Destarte, valendo-se de um minucioso estudo exploratório acerca das complexas categorias em análise, bem como do consequente processo de historicização das matrizes teórico-metodológicas das mesmas, Vilso, respeitosamente, dá um passo a frente daquilo que já foi postulado a respeito do que está em cena. A partir de uma tríade que envolve comunicação, cultura e tecnologia, o autor cumpre com a sua missão maior: derrubar a nebulosidade que ainda paira sobre os referidos construtos. Assim, de forma elegante e arrojada, postula categorias e, ao mesmo tempo, trava verdadeiros duelos com estas; mapeia possibilidades, problematiza, encontra e desata nós; revela e desvela; sinaliza e contribui com ideias organizadas e corentes.

    Finalizando, ressalto que a crítica epistemológica presente neste livro é honesta e responsável. Dela, emerge, agora, um clamor, uma ânsia irresistível pela exploração desse novo legado deixado pelo autor. Como afirma Kellner (2001, p. 41), o teste de uma teoria consiste, pois, em seu uso, seu desenvolvimento e seus efeitos. Dessa perspectiva, as teorias são vistas como úteis ou deficientes em sua aplicação e em seus efeitos. Portanto, neste momento, o desafio que se impõe é o de mergulhar nas proposições de Vilso Junior Santi. Sempre zelando pelo bem maior, o progresso da ciência.

    Fábio Souza da Cruz

    Pelotas, março de 2016.

    Referências

    BRAGA, José Luiz. Circuito versus campos sociais. In: MATTOS, Maria Ângela; JANOTTI JR., Jeder; JACKS, Nilda (orgs.). Mediação e midiatização. Salvador: EDUFBA, 2012.

    KELLNER, Douglas. A cultura da mídia. São Paulo: EDUSC, 2001.

    MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.

    Introdução

    Aqui, aos moldes de Feyerabend (1993, p. 11), tentamos sustentar uma tese e dela extrair suas consequências – formar seu destino (Silva, 2010, p. 22).

    Na discussão, Mediações e Midiatização, dois corpos teóricos desenvolvidos no século de inserção definitiva dos sistemas midiáticos na vida cotidiana – o século XX – são tomados como construtos, como armações, como formas de conhecimento, como modalidades distintas de análise comunicacional.

    Nossa obra busca investigar tais construtos e, no âmbito do pensamento comunicacional, aclarar seus modelos conceituais, suas conexões/desconexões e suas implicações nas discussões do comunicativo.

    Com ela, pretendemos contribuir para o melhor acabamento (teórico-metodológico) de duas armações amplamente utilizadas no estudo dos fenômenos comunicacionais – auxiliar na sua clarificação, na eliminação de suas zonas de sombra.

    Nosso objetivo é, portanto, pôr em discussão os postulados de dois dos construtos que pretendem dar conta do estudo dos fenômenos/processos comunicativos – as teorias das Mediações e da Midiatização.

    Para nortear a obra nos utilizamos das seguintes perguntas: o que há de particular nos construtos das Mediações e da Midiatização? Qual é o grau de similitude/diversidade entre seus modelos conceituais? Qual a medida das dissonâncias/convergências, conexões/desconexões entre suas armações? E, quais suas contribuições para a análise do comunicacional?

    Este livro emergiu de uma trama de questões que ainda turvam o pensamento comunicacional. Os problemas nele aventados repousam sobre as faltas, sobre o não atendimento dos anseios patrocinados pela observação das próprias armações; e também sobre a constatação de que os resultados isolados apresentados por ambos os construtos não são suficientes à problematização do comunicativo.

    Ambos materializam duas formas relevantes de abordagem do comunicacional e, embora apresentem afinidades teóricas, também preservam diferenças.

    Neste estudo, os construtos (as armações das Mediações e da Midiatização) e seus modelos conceituais são o problema. São, portanto, suas conexões/desconexões, afinidades/diferenças que nos interessam.

    O contexto justificador do livro é composto pelos seguintes elementos: está relacionado ao questionamento das coleções organizativas dos sistemas tradicionais de inquérito em comunicação (da sua lógica de desenvolvimento e da insuficiência de suas matrizes) e à impressão de crise nos modelos explicativos que esse tensionamento provoca.

    Também atestam a pertinência da presente proposta a defasagem (epistemológica) recorrente entre o estudo/teorização dos processos comunicacionais e os processos/práticas de comunicação propriamente ditos; as concepções fragmentárias e instrumentais que contaminam os modelos analíticos do comunicacional; e, a incompletude das molduras teórico-metodológicas movimentadas para o seu estudo.

    Completam a moldura que abona o livro, a proeminente exigência de tratamento do comunicativo de modo mais global; a inexistência de trabalhos que recolham e organizem as contribuições das teorias das Mediações e da Midiatização na problematização do comunicacional; a necessidade de discussão da difusão dos referenciais bibliográficos que tematizam ambas as armações (junto com a omissão de determinadas fontes constituidoras); e, o mal-entendido de alguns dos seus postulados.

    Apreender este instável tecer/re-tecer da rede explicativa apadrinhada pelas teorias das Mediações e da Midiatização é, portanto, elemento chave para o entendimento do comunicativo. Pois, nele, tais aparatos estão relacionados (para além do estabelecimento das problemáticas tratadas) à configuração do próprio aparato de tratamento – constatação que igualmente justifica a presente incursão.

    Na formulação das hipóteses apostamos na configuração de uma área de contato entre as considerações oriundas de uma (Mediação) ou de outra concepção (Midiatização). A importância dessas formulações advém, assim, dos seus indicativos potenciais. Da sua capacidade em apontar direções possíveis para o inquérito.

    Tais apostas hipotéticas partem da noção de que a discussão dos construtos teórico-metodológicos das Mediações e da Midiatização é pertinente à atualização dos estudos acerca do comunicacional; de que há em seus modelos conceituais espaços para reelaboração/refinamento; e, de que tais armações expressam mais do que foi postulado em suas concepções originais.

    Em outras palavras: desconfiamos do sentido evidente das referidas armações e supomos que possa haver mais (ou menos) nas Mediações e na Midiatização do que, à primeira vista, estes construtos permitem vislumbrar.

    Escolhemos para integrar o presente corpus de análise escritos/autores considerados expoentes teóricos desses estudos no Brasil. Isto não significa que atribuímos a eles a exclusividade da discussão, mas que, no contexto deste livro, foram suas formulações que suscitaram e sustentam a abordagem.

    Desses autores tomamos textos referenciais – artigos, ensaios, coletâneas, livros etc. Obras que dão testemunho da evolução das construções teóricas das Mediações e da Midiatização.

    No que se refere às Mediações, o texto fundador de Jesús Martín-Barbero, De los medios a las mediaciones: comunicación, cultura y hegemonía, publicado originalmente em 1987 e aqui utilizado em sua versão brasileira de 2009,⁶ funcionou como ponto de partida.

    Suportam ainda a análise do referido construto os escritos de Maldonado (1999)⁷, de Escosteguy (2001)⁸ e de Lopes; Boreli e Resende (2002)⁹, que manejam com a produção barberiana até o final da década de 1990. E também os principais textos do próprio Martín-Barbero que tematizam as Mediações na última década.

    Já, no construto da Midiatização, dão suporte à análise, além do texto Antropológica do espelho: uma teoria da comunicação linear e em rede, publicado em 2002 por Muniz Sodré de Araújo Cabral¹⁰, as obras coletivas organizadas por Fausto Neto et al. em 2008¹¹ e 2010¹². E, mais alguns dos desenvolvimentos principais acerca da temática divulgados ao longo dos anos 2000.

    Tomamos tais escritos enquanto firmadores das armações teóricas das Mediações e da Midiatização no Brasil. Mas, temos presente que outros pensadores, em outros contextos, e até mesmo antes (no tempo cronológico), manipularam tais ideias ou assim nomearam fenômenos diversos acerca do comunicacional:

    Martín Serrano, por exemplo, já falava de Mediación social em 1977¹³; e autores como Mazzoleni e Schulz (1999)¹⁴, Schulz (2004)¹⁵, Hepp et al. (2008)¹⁶, Hjarvard (2008)¹⁷, Strömbäck (2008)¹⁸ e Lundby (2009)¹⁹ têm vasta produção acerca do termo Mediatization.

    Desse modo, na tentativa de compor uma narrativa mais plural, incorporamos à discussão outros trabalhos, os quais, sistematicamente, vão aparecendo ao longo do relato. Sabemos que algumas das vozes exibidas estão posicionadas (geográfica e teoricamente) em lugares distintos, mas cremos que isto não as impede de estabelecer as interlocuções que pretendemos.

    Para construir essa interlocução tentamos não repetir métodos (nem fórmulas). Nosso método e seus preceitos (sua linha filosófica, suas estratégias de coleta e forma de análise das evidências) antes têm a ver com certo tipo de experimentação.

    Tal estratégia metodológica buscou problematizar os construtos teóricos das Mediações e da Midiatização através de subsídios fornecidos pelas suas próprias armações.

    Metodologia aqui diz respeito a um caminho percorrido. Caminho que não se pode descrever antes de caminhar. Foi assim que procedemos.

    O percurso que adotamos, aos moldes do que recomenda Silva (2010, p. 14-34), implicou estranhar (sair de nós mesmos) – abrir mão de nossos pré-conceitos; entranhar (entrar noutro universo) – a fim de compreender esses construtos mergulhando no seu mundo; e desentranhar – sair desse universo outro retornando ao nosso mundo de forma dialógica.

    Tal itinerário, junto com sua matriz de averiguação, foi semeado sobre o solo exposto por uma prévia análise exploratória; emergiu por entre as brechas da historicização e acerca dos eixos temáticos que propomos; e, ganhou corpo com a aproximação comparativa que realizamos entre os construtos das Mediações e da Midiatização.

    A análise exploratória esteve relacionada a um esforço primeiro de acesso e catalogação dos estudos que no Brasil têm as discussões de Mediação e de Midiatização como problemática central. Nela, inspirados em Duarte (2007), utilizamos a revisão de literatura como técnica de investigação e os seguintes indicadores descritivos como instrumentos de observação: quem é o autor e a quem se dirige; como entende e desde onde estuda a comunicação; quais suas propostas teórico-metodológicas; e quais os pontos críticos/criticáveis de sua abordagem.

    Tal procedimento resultou na separação dos textos posteriormente manipulados; na identificação dos primeiros vasos comunicantes por entre os construtos; e no apontamento prévio de algumas de suas principais dissonâncias.

    A historicização, segundo passo em nossa caminhada metodológica, serviu para recuperar retrospectivamente as matrizes teórico-metodológicas que formaram as Mediações e a Midiatização; para emprestar estrutura aos seus construtos; para torná-los visíveis e, assim, mais sugestivos. Tal operação permitiu observar o desenvolvimento dessas armações; ilustrar seus movimentos de formulação/reformulação e acompanhar a sucessão gradual de suas transformações.

    Este procedimento (a historicização) possibilitou desatar os construtos das Mediações e da Midiatização de suas explicações mais tradicionais – ajudou a desancorá-los. Contribuiu para melhor observação dos seus conceitos e do lugar construído para eles em cada armação e, também, para caracterização da atmosfera (dos cenários) onde o pensamento acerca de tais linhas foi gestado.

    Isso implicou colocar entre parênteses as ideias que formaram a moldura ordenadora de ambas as armações e, ao mesmo tempo, escovar os conceitos manejados pelos construtos a fim de melhor revelar a sua essência. Envolveu a tentativa de desenterrar estes juízos dos seus enraizamentos.

    Foi a historicização que nos permitiu desnaturalizar as designações Mediações e Midiatização e, assim, emprestar estatuto sistêmico às suas formulações. Foi ela também que nos ajudou a identificar os eixos temáticos que propomos para o detalhamento da discussão.

    Comunicação, cultura e tecnologia aí passaram a funcionar como linhas reorganizadoras dos argumentos; como guias marcadores das conexões e desconexões, das convergências e divergências.

    Em nossa cruzada metodológica realizamos ainda a aproximação comparativa entre as armações teórico-metodológicas manejadas. Nesta etapa trabalhamos no desenho de um paralelo teórico, no esboço de um mapa relacional entre os modelos conceituais dos construtos pareados.

    Aqui, depois de desfiar tais armações com a historicização, a proposta foi voltar a fiá-las – construir uma narrativa outra como forma de estabelecer um novo tecido, um novo cartograma.

    Esta re-fiação é, porém, um olhar ulterior que lançamos sobre a problemática a partir do nosso ponto de vista – um ponto de vista entremeado por tais armações e pelas práticas que elas convocam/tematizam.

    Este fazer, em contraponto à etapa da historicização, teve caráter mais analítico e buscou, via comparação, realizar uma leitura transversal das concepções das Mediações e da Midiatização.

    Implicou, portanto, re-apreciar (impingir um novo apreço) os construtos manejados e reapresentar (apresentar de novo) a matriz lógica de sua construção conceitual.

    Optamos por esse trajeto por acreditar que o pareamento entre construtos teóricos distintos (mas aproximáveis) como os da Mediação e da Midiatização é um caminho viável à sinalização de outras possibilidades de desvendamento, tão caras aos debates acerca do comunicacional. E, por crer, que a aproximação comparativa destas formas de conhecimento pode auxiliar no desenvolvimento de um outro sistema de pensamento que melhor dê conta do comunicativo.

    Nosso procedimento envolveu, portanto, uma estratégia específica: uma etapa de análise preliminar (exploratória); uma etapa de análise situada historicamente (historicização); um estágio de reordenamento das discussões no entorno dos três eixos temáticos (comunicação; cultura e tecnologia); e outro momento de confronto entre os pontos de vista admitidos como relevantes (aproximação comparativa).

    Tal itinerário permitiu estender os limites dos construtos das Mediações e da Midiatização e testar até que ponto eles dão conta daquilo que se propõe na tematização do comunicacional.

    Foi esta estratégia compósita que, enfim, consentiu analisar por dentro a estrutura lógica desses dois corpos de conhecimentos, acompanhar parte da trajetória de seu desenvolvimento e inferir algumas projeções acerca das suas implicações na discussão futura do comunicativo.

    Foi este caminho que possibilitou ler em outra chave os debates acerca das Mediações e da Midiatização e, desta forma, emprestar maior nitidez à faixa de conhecimento apreensível pelo que neles há do comunicacional.

    Acreditamos que esses procedimentos, e os juízos deles extraídos, responderam com eficiência aos propósitos da obra. Porém, se este argumento não parecer suficiente, gostaríamos de lembrar que neste fazer também fomos levados a apostar e, nesta aposta, fomos obrigados a seguir nossa intuição.

    Na presente construção atuamos, portanto, como exploradores (excursionadores por entre o desconhecido e o conhecido não reconhecido); como arqueólogos (desenterradores/desentranhadores a escovar conceitos); como cartógrafos (mapeadores a fornecer quadros possíveis de complexos territórios); e, como jogadores (profissionais em cientificizar suas apostas).

    Os resultados desta articulação são apresentados em três capítulos: nos dois primeiros (respectivamente intitulados Teoria das Mediações e Teoria da Midiatização) apresentamos os dados referentes à historicização dos construtos; e, também, a corpora dos eixos temáticos Comunicação, Cultura e Tecnologia. No terceiro (chamado Mapa Comparativo das Armações),

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1