Relações internacionais em Goiás: uma análise sobre paradiplomacia, comércio exterior e outros aspectos da inserção do estado no mundo
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Sobre este e-book
No meio do caminho, são abordados diversos outros temas, como comércio exterior, refugiados, direito, educação e o papel dos próprios cidadãos, o que deixa clara a amplitude de assuntos que dizem respeito às relações internacionais em Goiás. A obra, dessa forma, surge com o objetivo de preencher uma lacuna historiográfica: traçar um panorama geral do que já foi feito nos âmbitos tanto público quanto privado.
A escrita é baseada em artigos acadêmicos, material jornalístico e fontes primárias, sendo alguns documentos inéditos. Em certos momentos, o autor recorre a relatos pessoais e conversas com personalidades, que, de uma forma ou de outra, fizeram parte da atuação de Goiás no cenário global. Ao final, apresenta sugestões para serem seguidas daqui em diante.
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Relações internacionais em Goiás - Marcelo Mariano
PREFÁCIO
Por Marcelo Gomes P. da Silva
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A consolidação das Relações Internacionais (RI) enquanto um campo de estudo representa um processo relativamente recente se comparado ao de outras áreas, como é o caso do Direito ou da Medicina. Apesar de contarmos com a literatura desenvolvida por autores históricos, como Tucídides, Thomas Hobbes ou Nicolau Maquiavel, que tinham as relações internacionais como objeto de estudo, as RIs enquanto campo se solidificaram somente no século 20, no período posterior à Primeira Guerra Mundial, quando a necessidade de entender em maiores detalhes os porquês da guerra e quais dinâmicas contribuem para a eclosão de um conflito armado entre Estados tornou-se latente.
A partir da percepção de que o ferramental teórico fornecido por campos de estudos tradicionais e consolidados como a Filosofia e o Direito não era suficientemente apurado para compreender os movimentos de guerras, surgiu a necessidade de um campo novo, para o qual novos conceitos, teorias e metodologias foram criadas para fornecer as bases de análise e compreensão das Relações Internacionais.
A primeira vez que o campo de estudo das RIs se estabeleu na forma de um departamento dentro de uma estrutura universitária foi em 1919, na University College of Wales, Aberystwyth, no País de Gales. No Brasil, o primeiro curso de bacharelado em Relações Internacionais foi criado na Universidade de Brasília, em 1974, no Instituto de Relações Internacionais (Irel). A partir de então, algumas poucas iniciativas foram criadas, como o curso voltado para a área no final da década de 1980, na Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, e o Programa de Mestrado em Relações Internacionais da PUC Rio, em 1987.
A disseminação deste campo e a ampliação dos cursos de RI pelas instituições de ensino superior do país aconteceu tardiamente, se comparado com o restante do mundo, que assistiu a este fenômeno no período posterior à Segunda Guerra Mundial e início da Guerra Fria. Em terras brasileiras, essa expansão se deu, principalmente, depois dos anos 2000, quando saímos de menos de uma dezena de cursos entre 1974 e 1999 para mais de cem cursos em funcionamento no país.
Uma das consequências do tardio processo de disseminação dos cursos de Relações Internacionais no país é observado no fato de que somente em 2017 é que o Conselho Nacional de Educação do Ministério da Educação iniciou as audiências públicas para a criação do primeiro conjunto de Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de bacharelado em Relações Internacionais. Até então, não havia uma normativa que estabelecesse o que deveria ser um curso no Brasil.
As informações apresentadas servem apenas de pano de fundo para ilustrar como o debate sobre as Relações Internacionais no país esteve limitado a reservados grupos de burocratas estatais, dentre os quais se destacam os diplomatas, o presidente da República, alguns ministros de Estado, assessores e parlamentares. A população nunca esteve engajada ou teve a oportunidade de participar ativamente do processo de construção das RIs.
Ao compreender que as relações exteriores constituem uma política pública, parece natural que houvesse, em alguma medida, diálogo maior com a sociedade e suas representações. Inclusive, tive a oportunidade de participar das discussões sobre a criação de um Livro Branco da Política Externa Brasileira para estabelecer prioridades e direcionamentos complementares aos firmados na Constituição. A iniciativa foi encabeçada principalmente pelo Fórum Nacional de Secretários e Gestores de Relações Internacionais (Fonari) e pela Federação Nacional de Estudantes de Relações Internacionais (Feneri), buscando alcançar o que foi desenvolvido para a área de Defesa Nacional.
Os avanços que as tecnologias de informação e comunicação trouxeram, a maior exposição do Brasil no exterior que chamou a atenção de investidores e governos estrangeiros e a disseminação dos cursos que formam pensadores nesta área contribuíram para que novas instituições fossem criadas, como Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), com o intuito de ampliar o debate e, como dizia o presidente da Fundação Alexandre de Gusmão, embaixador Sérgio Moreira Lima, democratizar
o ensino e o debate deste campo de estudo.
Apesar de tudo isso, o tema ainda é desconhecido pela maioria. Este panorama que revela o quanto estas dinâmicas são recentes explica, em partes, o motivo pelo qual as Relações Internacionais ainda representam um tema pouco conhecido, debatido e explorado na sociedade brasileira. Em Goiás, a situação não é diferente. Historicamente marginalizado pela distância geográfica e política dos grandes centros de poder, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, e também distante das fronteiras terrestres e das saídas para o mar, o estado e seu povo se viram ilhados bem no centro de um país de dimensões continentais.
Falar sobre Relações Internacionais não é tarefa fácil, apesar de iniciativas precursoras, como a da PUC Goiás, que oferece o curso de bacharelado desde a década de 1990. Quando o assunto é comércio internacional, Goiás se destaca por meio das exportações de bens, ao mesmo tempo em que importa insumos importantes, como os necessários pela indústria, e também para revenda a preços competitivos pelo comércio varejista.
No entanto, outras dimensões das Relações Internacionais, como cultura, educação e política ficam à mercê da visão de quem chefia o governo, que nem sempre possui a compreensão das vantagens que as parcerias internacionais podem trazer para potencializar e consolidar o que temos de bom e evoluir o que precisamos aperfeiçoar.
Apenas para listar uma iniciativa, o Sistema Comércio Goiás, sob a liderança do presidente Marcelo Baiocchi e do diretor Leopoldo Veiga Jardim, composto pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), pelo Serviço Social do Comércio (Sesc) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), desenvolve de maneira independente e privada agendas de promoção comercial, sobretudo visando à exportação de serviços voltados para a tecnologia, a cooperação internacional na área cultural, trazendo festivais de cinema, eventos musicais, levando exposições de artistas goianos para o exterior e, por fim, na área de educação, ampliando as oportunidades do ensino de idiomas, as possibilidades de estudo no exterior e os intercâmbios para cursos técnicos e profissionalizantes.
A agenda desenvolvida pelo Sistema Comércio é um exemplo da importância de se ampliar a atuação internacional e da necessidade de fomentar a atuação das organizações da sociedade civil neste fundamental trabalho de aproximar Goiás do mundo e, consequentemente, aproximar o mundo de Goiás, trazendo boas práticas, recursos, tecnologia e inovação, ao mesmo tempo levando nossa moda, nossos veículos, nossos serviços, tecnologia e cultura para o mundo.
Iniciativas como a deste livro são fundamentais para que se conheça o histórico de atuação internacional de Goiás e, com base nisto, aprendamos as valiosas lições que a história nos fornece, evitando a repetição de erros conhecidos e concentrando os esforços na criação de uma agenda internacional altiva e que contribua com o desenvolvimento de Goiás e de seu povo.
Não poderia deixar de cumprimentar o autor, meu xará e amigo, por tão nobre e inovadora obra que discute neste livro a questão das RIs de maneira transversalizada, como de fato deve ser. Os temas de Relações Internacionais são simplesmente todos os temas da sociedade, desde que seja possível algum nível de interlocução com atores estrangeiros. Há espaço para isto na medicina, construção civil, política, literatura, na prestação de serviços diversos como a advocacia ou mesmo das empresas funerárias.
Nesta obra, Marcelo Mariano discorre sobre assuntos complexos e importantes, que quase nunca recebem a atenção daqueles que não possuem formação na área: paradiplomacia no executivo e legislativo, estados e cidades-irmãs, os assuntos consulares e de direitos humanos, o comércio exterior e os investimentos estrangeiros, o direito internacional, as possibilidades na área da educação e conclui brilhantemente com uma série de recomendações.
Reitero a relevância desta obra para democratizar o debate acerca das Relações Internacionais no estado de Goiás, desejo a todos uma boa leitura e concluo