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RAÍZES RURAIS
RAÍZES RURAIS
RAÍZES RURAIS
E-book477 páginas3 horas

RAÍZES RURAIS

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Sobre este e-book

O livro é dedicado ao meu querido neto Arthur foi escrito para registrar o caminho percorrido pela família, desde o deserto da Tanzânia 60.000 anos atrás até nossos dias. Espero que ele sirva para, no mínimo, informar ao psicanalista sobre a sua ancestralidade e permita assim avaliar traumas e influências que possam ter achado um caminho até ele via genoma. Espero também que seja útil ao Arthur para se dar conta de que é descendente direto da Felicidade e que sua família é, na realidade, uma coorte de Angelos. O livro foi preparado e finalizado em tempos de coronavírus e foi, no final, impregnado com o pessimismo que reinava naquele momento. Minha esperança é que tenha se tornado um mundo melhor.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de dez. de 2022
ISBN9781526071194
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    Pré-visualização do livro

    RAÍZES RURAIS - JOSÉ FILARDO

    Apresentação

    Uma imagem contendo homem, pessoa, gravata, óculos Descrição gerada automaticamente O autor é nascido e criado em Caconde- Estado de São Paulo - Brasil.  Emigrou para a capital do estado em 1965 onde visitou por muitos anos a Faculdade de Letras e a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Por sua assiduidade e simpatia, aquelas instituições lhe concederam certificados e diplomas.

    Casado, duas filhas e um neto, trabalha atualmente (2020) como tradutor comercial, operando a partir de um home office, gerenciado pela filha Paula que também trabalha como tradutora.

    Tem dois cachorros e gosta de ler James Joyce e Jung. Assiste a todos os abacaxis da TV a cabo. Não lê jornais nem assiste à TV aberta desde 2013 quando começaram os golpes de estado contra o regime democrático. Notícias somente em canais estrangeiros e blogues nacionais confiáveis.

    Manteve dois blogues. Um particular cujo conteúdo está publicado aqui e outro público com temática dedicada à Maçonaria da qual foi membro por 40 anos.

    Vota em partidos de esquerda, por entender que esses têm uma visão mais humanista.

    Sofre de gota, o que impede de tomar cerveja e bebidas alcoólicas em geral.  Faz terapia para manter a lucidez morando nessa cidade-dormitório caótica e suja, em um país depredado, sob um regime fascista neoliberal.

    Totalmente desprovido de qualquer esperança de mudança, vai vivendo como se fosse durar para sempre.

    Dedicatória

    Dedico esse livro a você meu querido neto Arthur que veio iluminar nossa vida quando já não tínhamos esperança de ver um netinho correndo pela casa.

    Correndo de verdade. Dando o maior baile nos seus avós, em sua titi, no pai e na mãe. Uma vitalidade explosiva e uma vivacidade surpreendente...

    A intenção é te dar a possibilidade de olhar dentro da cabeça de seu avô xarope que escreveu esse texto caótico e repetitivo, que recolhe lembranças esparsas, pesquisas e tentativas de ser engraçadinho ou irreverente.

    Mas, mesmo assim, espero que você siga meu exemplo, expressando-se pelos meios que tiver à sua disposição nesse futuro cheio de promessas tecnológicas maravilhosas, ao mesmo tempo em que esse futuro se mostra sombrio diante dos prognósticos de aquecimento global, só para citar o mais importante de todos os perigos.

    Nesse momento, em fevereiro de 2020, vivemos tempos interessantes, uma velha maldição dos chineses. De um governo democrático de esquerda, fomos lançados, por meio de um golpe de estado ao outro lado do espectro político ─ um governo fascista neoliberal de extrema direita, que procura desmontar o estado e transferir a renda da maioria da população para uma minoria abastada. De rodo vão direitos do povo, educação decente, tratamento de saúde decente, aposentadorias decentes e pensões decentes.

    Grupos de extrema direita religiosa se formam, uma ameaça real ao futuro da democracia. Membros do governo e o próprio presidente expressam e repetem os argumentos dos nazistas, responsáveis por crimes bárbaros cometidos durante a segunda guerra mundial. Uma pandemia de vírus ameaça todo o mundo, devido à globalização e seus deslocamentos de pessoas.

    Meu neto,

    Vivemos em um país onde Fato é ficção e TV realidade. E esperamos que as condições políticas de teu tempo tenham melhorado em relação a esse momento em 2020. Espero que a insanidade inaugurada em 2018 não dure muito e que possamos retornar à democracia, e que ela perdure.

    Olhe sempre ao seu redor, leia O Príncipe do Maquiavel, leia os Três Mosqueteiros do Dumas para entender como funciona uma empresa, aprenda um ofício, pedreiro, marceneiro, cadista ou padeiro, não importa aprenda inglês, francês, espanhol, alemão, estude história, pergunte sempre a quem interessa?, desconfie da mídia, desconfie sempre das aparências, procure estar bem-informado, de fontes seguras e sempre pense duas vezes antes de tomar qualquer decisão. Desconfie das religiões institucionais... Ouça bem esse conselho de alguém que tomou muitas decisões erradas e também deixou passar muitas oportunidades por não prestar atenção e ser apressado.

    Não tire os olhos da bola e só faça aquilo que realmente gostar! Viva com paixão. Enfie a cara na melancia. Coma as mangas se lambuzando no caldo, deixando escorrer pelo braço até o cotovelo e escorrendo pelo pescoço! Procure seu próprio caminho... Alimente-se saudavelmente. Pratique esportes todos os dias, chova ou faça sol. Jogue rugby. Faça alpinismo. Aprenda a montar. Estude ciências. Aprenda matemática... Dance... pesquise suas raízes judaicas... namore muito, mas se case somente aos 30 anos... antes conheça toda a família dela para ter uma ideia de como ela vai ficar quando for mais velha... procure uma mulher dez anos mais nova e educada... Pense bem no futuro dos filhos quando decidir tê-los.

    E, sobretudo, preste atenção na passagem de cada minuto de sua vida.

    ABERTURA

    Projeto Genographics

    Uma imagem contendo texto, mapa Descrição gerada automaticamente

    Mapa do deslocamento do Homo Sapiens

    Em 2007, li sobre o Projeto Genographics realizado pela revista National Geographic e a IBM.

    Era um projeto fascinante sobre o movimento do Homo Sapiens desde sua origem africana no Rift no Kenya até se espalhar por todo o planeta.

    Colheram amostras do mundo inteiro, principalmente de populações nativas e examinaram o DNA da amostra. Através da análise das mutações ocorridas nas populações, eles traçaram o caminho percorrido pelo Homem desde 60.000 anos atrás.

    Não tive dúvida, mandei vir o kit, fiz o swab da bochecha e mandei pelo correio à National Geographic. Algum tempo depois, a análise do DNA retornou com a informação de que meu Haplogroup era R1a1a.:

    O relatório:

    "Seus resultados de cromossoma Y, lhe identificam como membro do haplogroup R1a1. (Mais tarde esse haplogroup foi reclassificado como R1a1a)

    Os marcadores genéticos que definem sua história ancestral regridem até mais ou menos 60.000 anos até a primeira marca de homem não-africano, M168, e segue sua linhagem até a presente data, terminando com o M17, o marcador definidor do haplogroup.

    Se você olhar para o mapa que mostra a rota de seu ancestral, você verá que os membros do Haplogroup R1a1a carregam os seguintes marcadores de cromossoma Y:

    M168> M89 > M9 > M45 > M207 > M173 > M17

    Hoje, a grande concentração – cerca de 40 por cento – dos homens que vivem na República Checa e através das estepes até o centro da Ásia são membros do Haplogroup R1a1a. Na Índia, cerca de 35% dos homens entre a população Hindi pertencem a esse grupo. O marcador M17 é encontrado em apenas cinco a dez por cento dos homens no Oriente Médio. Ele também é encontrado em frequência relativamente alta ─ cerca de 35% ─ entre homens vivendo na parte leste da Iugoslávia atual.

    O que é um haplogroup e por que os geneticistas concentram sua busca por marcadores no cromossoma Y? 

    Six markers - DNA

    dys19 - 16 Dys388 -12 dys390 – 23 dys391 – 11 dys392 – 11 dys393 - 12

    Cada um de nós carrega DNA que é uma combinação de genes passados tanto da mãe quanto do pai, dando-nos traços, que vão desde a cor dos olhos e estatura, até atletismo e susceptibilidade a doenças. Uma exceção é o cromossoma Y que passa diretamente de pai para filho, de geração a geração.

    Inalterado, que é a menos que sofra uma mutação ─ uma mudança aleatória, que ocorre naturalmente e é geralmente inofensiva. A mutação, conhecida como um marcador, funciona como um sinalizador; ela pode ser mapeada através de gerações, porque passará do indivíduo em que ela ocorre, aos seus filhos, e todos os homens de sua família por milhares de anos."

    Não satisfeito com a resposta muito vaga, mandei ampliar o teste e o resultado, depois de discutir via internet com grupos ligados ao projeto, consegui somente estreitar a origem até a Croácia, o que tem sentido, sendo italiano calabrês, já que para ir da Croácia à Itália basta atravessar o Adriático.

    Entusiasmado, mandei fazer também o teste do DNA mitocondrial. Esse teste é feito em cima da parte do DNA que corresponde à herança trazida exclusivamente do lado da mãe. Passa de mãe para filha e não sofre mutação.

    O resultado não foi exatamente uma surpresa ─ L1C3 ─ um haplogroup africano, indicando que minha mãe tinha uma antepassada africana, da região de Angola.

    Como se pode ver na árvore genealógica dos antepassados de minha mãe, encontramos sua bisavó Florinda Cândida do Nascimento, que segundo a crônica familiar era filha de português com escrava e naturalmente alforriada. Segundo uma anotação de meu bisavô Marciano, Florinda era filha natural de Maria Rita do Nascimento, de Cabo Verde, MG, morreu aos setenta e um anos e deixou uma irmã.¹

    Isso corroborava a história familiar, mas fiquei um pouco desapontado, porque havia desenvolvido uma teoria segundo a qual, minha mãe seria adotada e não filha biológica de minha avó.

    Minha teoria se baseava no fenótipo dela, que era totalmente diferente das outras três irmãs, e também do perfil de saúde, ou seja, doenças que acometeram todas as mulheres, minha avó e minhas tias, que ela nunca sofreu. Minha teoria conspiratória se apoiava também no fato de ela ter nascido em S. José do Rio Pardo, enquanto as outras nasceram em Caconde. Eu nem descartava a possibilidade de ela ser filha de uma infidelidade de meu avô ou de minha avó.

    Claro que isso ainda poderia ser verdade, visto que uma pequena parte da população brasileira de origem portuguesa tem antepassados africanos.

    Mandei também fazer o exame do DNA mitocondrial da Paula (para as mulheres só é possível fazer esse teste, porque elas não trazem cromossoma X em seus genomas). O resultado da Paula foi Haplogroup T

    Uma imagem contendo texto Descrição gerada automaticamente

    Esse Haplogroup entrou na Europa central vindo da Ásia Central e se espalhou por toda a Europa Ocidental.

    Mas, enfim, essa busca pela origem era apenas um sintoma de algum outro complexo psicológico que me tornou um estranho em qualquer lugar que estivesse. Persegui o reconhecimento de minha cidadania italiana, com sucesso e fiz questão de visitar a cidade de origem da família. Senti-me em casa porque a Calábria é idêntica ao município de Caconde onde passei minha juventude, mas jamais me mudaria para lá, como não me mudaria para Caconde.

    Até hoje não me sinto ligado emocionalmente a nenhum lugar. Quando adolescente eu dizia que era cidadão do mundo. Hoje eu continuo me sentindo um estranho em toda parte. Adotei Dublin devido à minha obsessão pelo Ulisses de James Joyce; adotei Paris por sua beleza e Lisboa depois de conhece-la e por ela me apaixonar.

    A Terra

    A quem pertencia a região do Sertão do Rio Pardo?

    O Sertão do Rio Pardo era toda a região além do Rio Mogi Guaçu para o norte e nordeste e era uma região contestada e motivo de divergência entre os governos das províncias de São Paulo e de Minas. Os mapas de Minas definiam a fronteira mineira desde a foz do Rio Pardo no Rio Grande, até a foz do Rio Mogi Guaçu, depois seguindo o Rio Mogi Guaçu até a cidade de Mogi Guaçu e daí uma linha reta até o Morro do Lopo, no município de Extrema. Isso coloca cidades como Caconde, Ribeirão Preto, São João da Boa Vista, Batatais, Franca e outras em território mineiro.

    O único acesso a esse território, vindo de São Paulo, era o Peabiru aproveitado por Anhanguera para as bandeiras em direção ao sertão de Goiás, que na época era parte da Capitania de São Paulo. Esse caminho dos índios (Peabiru) ficou conhecido como Caminho de Goiás e é a Rodovia Anhanguera até Casa Branca. A partir dali ele segue com um traçado em direção norte, até o Rio Grande na altura de Miguelópolis, onde atravessava o rio e seguia até as Minas de Ouro de Cuiabá, na fronteira com a Bolívia.

    Os mineiros tentavam fazer valer a sua fronteira e empurrar os paulistas até o Rio Mogi Guaçu, mas encontravam uma dificuldade representada pela Serra da Mantiqueira que acabou permanecendo como divisa entre os dois estados. A serra era uma barreira natural que, por conta da cratera, faz uma volta em torno do município de Caconde. Mas havia dois pontos fracos nessa barreira: um deles era na altura da Barrânia e Bonsucesso. O outro é a passagem ao sul de Poços de Caldas no caminho de Andradas.

    Por isso, São Paulo decidiu colocar um posto de fronteira com uma guarnição em Bonsucesso, visando interceptar eventuais incursões de forças armadas ou posseiros mineiros e garantir o território como paulista. Foi esse o primeiro núcleo do povoamento da cidade de Caconde.

    Os mineiros continuaram a tentar recuperar seus territórios, mas em 1711, D. Luiz Antonio de Souza, governador da Província de São Paulo enviou ordem para impedir as terras do Sertão do Rio Pardo e proibir sua divisão pelos mineiros. Ele havia secretamente, inaudita altera pars, pleiteado ao governo de Lisboa e conseguido a aprovação para a posse do território do Sertão do Rio Pardo pela Província de São Paulo.

    Como acabou a questão?

    Ricardo de Vilhena2 ³tem um texto muito didático que publicou no site do Palace Hotel de Poços de Caldas e que transcrevemos abaixo (ipsis literis):

    A Curiosa mudança do local do Marco de Divisa entre São Paulo e Minas Gerais.

    A questão bicentenária dos limites territoriais entre Minas Gerais 4e São Paulo perdurou desde e século XVIII até o século XX, intrigava-nos o fato de o sul de Minas ter a conformação física que possui e desde muito tempo estar mais integrado à influência política e econômica paulista desde os primórdios da colonização.

    Através da análise de documentos e fontes cartográficas desse processo histórico, extraímos informações importantes sobre a ocupação, o povoamento e as disputas por esse território. As outrora Capitanias de São Paulo e Minas Gerais, convertidas em Províncias no Império e mais adiante transformadas em Estados – membros da União na República não buscaram uma efetiva solução para o problema, considerando melindroso por envolver regiões importantes. Cada região irá se tornar apta no decorrer dos acontecimentos históricos a manifestar a sua vontade de pertencer a este ou aquele estado já no século XX.

    O processo de formação das divisas dos estados de Minas e São Paulo foi delineado a partir da Capitania de São Vicente, com objetivos de escravizar os indígenas do sertão desconhecido e a busca por metais e pedras preciosas fez com que a Coroa Portuguesa conquistasse áreas territoriais além da linha divisória do Tratado de Tordesilhas. A centralização política do período colonial e a pouca ocupação do território pelos entrantes lusos não geraram problemas litigiosos, porém com o decorrer do desenvolvimento humano e econômico de certos lugares acentuam-se a demanda a principal reclamação que era a bitributação; dois governos cobrando impostos na mesma área.

    A Capitania de São Vicente passa a se denominar Capitania de São Paulo em 1698 e a Villa de São Paulo já se tornara sede desta em 1683. Contendo 150 léguas de Costa, do Rio Macaé até Laguna; para o oeste o centro-sul do Brasil atual até o Alto Peru (Bolívia) e Paraguai.

    A expansão colonial europeia (séculos XV e XVI) insere a América Portuguesa como parte integrante do seu império ultramarino. Os lusitanos procuravam meios de transformar a sua combalida economia e o Brasil oferecia condições para esse projeto. Interesses definidos como encontrar metais preciosos, produzir produtos tropicais comercializáveis na Europa para promover o desenvolvimento da metrópole portuguesa.

    Dentro desse quadro o governo luso estimula a exploração mineral, oferecendo títulos de nobreza, privilégios e honrarias. As precárias condições de vida da sociedade colonial vicentina no final do século XVII, acrescido de um certo isolamento em relação as demais capitanias hereditárias e mais a experiência adquirida com os atritos violentos com os indígenas provocou o fracasso do projeto de agro exportação açucareira obrigando os seus habitantes a buscar novo empreendimento.

    Da Capitania de São Paulo e em especial de sua sede partiram as expedições que penetraram e povoaram as áreas de Minas Gerais, o chamado sertão dos índios Cataguases. Expedições percorreram a Amantikira (Serra da Mantiqueira) encontrando as nascentes do rio Jetycahy (Rio Grande). Fernão Dias Paes Leme, bandeirante paulista funda o primeiro arraial das Minas Gerais, a Ibituruna, outras expedições como as de Diogo Gonçalves Laço e Francisco Proença, seguindo o rumo dos rios Araraquara e Mogiguassú alcançaram o Sapucahyguacú e percorrendo o vale do Rio Grande até a sua cabeceira e desta ao lugar chamado Mhaú ou garganta de serra na Mantiqueira de onde passava o fluxo de viajantes de São Paulo para as Minas mais adiante.

    À medida em que a atividade mineradora se desenvolve e mais pessoas chegam às gerais, a coroa tentava de alguma forma organizar a região, não havia uma noção precisa da dimensão do território, isso fazia com que os paulistas imaginassem que estavam próximos ao Alto Peru, ou melhor, Potosi de onde os espanhóis extraiam grandes quantidades de prata.

    A sociedade mineradora do início era formada basicamente por aventureiros, pessoas do sexo masculino, é rara a presença de mulheres, a precariedade, a pobreza e a provisoriedade são marcantes. O ouro de superfície exigia poucos capitais. Segundo alguns registros da época havia a presença de marginais, pessoas que vinham de vários lugares e sem recursos disponíveis. Uma sociedade improvisada, desagregada e muito violenta, não existia autoridade nem leis que ordenassem os grupos sociais dessa região. Além do mais os colonos tiveram que expulsar e matar as várias tribos indígenas, primeiros moradores desse sertão.

    O estado português respondeu mal às mudanças do século XVII, não se implementou soluções efetivas no local da mineração, somente irá ocorrer uma certa organização administrativa com o decorrer do tempo e isso após distúrbios sociais e essencialmente pelo interesse na eficiência da arrecadação dos tributos. Nesse primeiro momento todas as tentativas de controlar a região vão falhar, pela pouca permanência do poder central e também pela lógica do modelo econômico explorador adotado. Até 1709, a sociedade era auto-organizada e as relações muito instáveis. Na mineração não se levava família, havia todo o tipo de estropiado social, as pessoas pensavam em se enriquecer e voltar para casa em São Paulo, na metrópole ou nas demais capitanias da América Portuguesa. Era uma atividade de fronteira, ficando entre a estabilidade e a precariedade até as primeiras décadas do século XVIII.

    Os vicentinos e paulistas entraram em choque com os forasteiros, os emboabas, pela prospecção do ouro, dissensões que resultaram na Guerra dos Emboabas em 1708. Os primeiros exploradores vindos da Capitania de São Paulo achavam-se com direitos maiores às minas, porque haviam se tornado seus descobridores. O modo de vida dos forasteiros também gerava ressentimentos em relação aos paulistas, os emboabas vinham de fora, de outras regiões que tinham produção econômica superior à São Paulo, tinham condições de vida melhor, isso contrastava com a miséria e precariedade dos paulistas.

    Dissensões que poderiam ter ocorrido entre os paulistas, os vicentinos e os do vale do Rio Paraíba do Sul pois tal era o clima de instabilidade nas minas. Esses fatores passaram como pretexto para a Coroa criar a ordem, elaborando leis na tentativa de controlar e efetivar a arrecadação fiscal.

    Em 23 de novembro de 1709, D. João V criava a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, abrangendo os sertões de 9 antigas donatárias que vinha desde o litoral em Laguna (hoje Santa Catarina) até

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