Os Deuses também se apaixonam
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Os Deuses também se apaixonam - Edimarcio Almeida
Anne
O entardecer nas terras nórdicas era muito mais frio do que se podia imaginar, os ventos eram cortantes, mas as noites lindas luzes coloridas dançavam aos céus, era a aurora boreal uma visão divina para aqueles que sabiam admirar.
Arthur, agora era senhor daquelas terras, detinha o poder para governar aquele lugar a seu prazer.
Arthur possuía um grande salão de costura, onde ele empregava algumas camponesas e ajudava o comércio local, assim tirando muitos da miséria. Por mais que as terras eram frias ele tentava adaptar as pessoas a aquela realidade, eles tinham sim as quatro estações, mas de uma forma tanto diferenciada. Bem mais gélida, assim como estava o coração de Arthur.
— Senhor.
— disse um homem já de idade se ajoelhando para Arthur.
— Sua carruagem lhe aguarda para ir à vila.
— Obrigado Valtazar!
— respondeu Arthur caminhando até a porta principal, uma de suas servas lhe entregou um manto feito com pele de lobo, tão branco e peludo que apenas deixava o destaque para os cabelos ruivos de Arthur.
Arthur andou até a carruagem e alguns soldados o acompanharam, a neve tinha parado de cair e a noite em breve chegaria, seu destino era a pequena vila que ficava a meia hora de distância de sua fortaleza, no caminho aquela paisagem branca que parecia ser sem fim com apenas algumas árvores parcialmente em cobertas pela neve era o que vossos olhos se contentavam a admirar. Arthur permanecia belo, sua juventude era eterna, a imortalidade lhe fazia bem, mas em seu coração, no mais profundo de seu ser a dor ainda era presente, o medo, o receio.
Aos poucos um barulho alto de música podia ser ouvido, a vila estava em festa, pois tinham conseguido vender o suficiente para as terras do oeste e tinham conseguido estocar alimentos para o inverno rigoroso que estava chegando.
Quando viram Arthur se aproximando todos sem exceção que estavam no centro, na praça principal da pequena vila pararam a observar seu senhor. Valtazar desceu e verificou que estava tudo em segurança, não que Arthur precisasse de guardas, mas ele gostava que as pessoas se sentissem úteis a algo.
Desceu e todos se ajoelharam, ele olhou sem jeito aquela cena e sorriu.
— Meus caros não se ajoelhem, vamos hoje é dia de festejos. —informou, o regente da vila se aproximou.
Narcíseo tinha cabelos grisalhos, e seu rosto já estava cansado por causa da idade, Arthur o acompanhou em uma caminhada, os olhos de Arthur aparentavam sempre estar atentos a tudo e observava que a mulher de Narcíseo não estava ali.
—Sua esposa está bem?
— perguntou Arthur.
— Ela está em casa, nossa criança nascerá essa noite acredito eu meu senhor. — Ele o contou respeitosamente.
— Que os deuses abençoem, creio que tudo vai correr bem.
— Respondeu Arthur.
— Gostaria de agradecer, pois desde vossa chegada temos tido muita fartura, além de trabalho, creio que passaremos o inverno sem fome esse ano.
— Explicou o regente.
Arthur sorriu aliviado, pois pensou em sua mente que ao menos ele estava ajudando aquelas pessoas que a muito tinham perdido.
Narcíseo o deixou, e Arthur decidiu se aventurar pelas ruas desertas, o foco das pessoas era a praça central e ele estava um tanto longe.
A noite estava mais fria e do céu pequenos flocos de neve começavam a cair, ele andou pensativo por mais alguns minutos e então ouviu um barulho, um pequeno choro, era um bebê.
Aquilo por incrível que pareça lhe chamou atenção e ele foi observar, da janela onde estava à mulher e a parteira viu um bebê, ainda sujo e a mulher contando a outra que era uma menina. Arthur reconheceu a esposa de Narcíseo e ainda mais curioso apertou o colar em seu pescoço desaparecendo, mas ao mesmo tempo estava ali a observar.
A esposa de Narcíseo estava cansada demais e aquela altura dormia profundamente, a parteira saiu para avisar o homem que sua filha tinha nascido, no outro quarto, no berço pequeno de madeira estava a criança. Tinha cabelos loiros e chorava, Arthur observou que ela parecia ter frio e com as mãos fez um gesto para que a coberta cobrisse a pequena e a esquentasse, pois a noite seria muito fria.
Ficou observando a criança em silêncio enquanto a parteira voltava com Narcíseo, ela entrou rapidamente pela porta e mostrou ao seu senhor sua filha no berço, ele a pegou no colo e chorou segurando pela primeira vez sua filha.
Na janela ao lado estava o quarto da esposa e quando Narcíseo foi chamar por ela a mesma já tinha ido, ido para outro mundo além dos vivos. A vida tinha deixado o corpo da jovem mulher.
Arthur sentiu pena e não foi pouca, enfim sentiu-se triste por uma criança tão nova estar no mundo sem uma mãe.
De volta a praça ele acompanhou os festejos em silêncio, algo estava fazendo com que sua mente não se mantivesse no lugar, seria a morte da mãe da pequena ou apenas a criança?
Quando tudo terminou ele voltou a sua fortaleza fria, mas ainda assim pensando naquela criança. Que iria crescer em um mundo solitário sem amor de mãe.
Caminhando pelo salão de seu palácio Arthur olhava em sentido a vila, pensativo no motivo de ter se cativado por um bebê. Naquele momento pensou que deveria voltar e ver se estava tudo bem, se aproximou da borda do salão e se jogou, as asas douradas de sua armadura se abriram e rapidamente ele foi em direção a vila, tudo estava quieto e o silêncio era perturbador, os uivos dos lobos naquela região traziam temor aos corações dos camponeses.
Arthur desceu e observou à casa de Narcíseo ele chorava tanto pela esposa, enquanto isso sua filha estava no quarto dormia no berço profundamente. Arthur usou do mesmo truque da invisibilidade para entrar e fazer com que ninguém o percebesse, Narcíseo saiu junto com algumas pessoas para enterrar sua amada e deixou a pequena aos cuidados da parteira.
A parteira acabou dormindo e a bebê começou a chorar, ela estava em sono profundo e então Arthur desfez aquele feitiço, se aproximou ao berço e novamente ela estava com frio.
Tomou ela em seu colo e a envolveu com seu manto de pele de lobo, ela se aquietou, a pequena estava com frio e ninguém parecia se importar com aquele pequeno ser.
Arthur ficou admirando enquanto ela se aconchegava em seus braços, era um ser tão pequeno.
— Que os deuses abençoem você pequena.
— falou baixo para o bebê enquanto balançava em seus braços.
A parteira acordou e ficou olhando Arthur sem jeito.
— O que está fazendo aqui? — perguntou ela.
— A pequena chorava, estava com frio, apenas estou aquecendo ela. — Respondeu ele se virando e olhando para a parteira.
— Perdão senhor, desculpe pela ousadia. — falou ela.
— Não precisa, admito que eu fui um tanto abusado como vocês dizem. — Ele Sorri.
A pequena em seu colo dormiu, estava agora quentinha e não tinha frio. Se encolheu no colo de Arthur e deu um pequeno sorriso, ele apontou e mostrou a parteira que sorriu também.
— Ela está sorrindo para o senhor, provavelmente se sentiu segura em seu colo. — comentou a parteira sorrindo.
— Ah, que bom. Fico feliz com isso, aqui pegue ela. — Deu à criança a mulher. — Eu tenho de ir, se possível não diga nada que estive aqui e, por favor, a mantenha aquecida.
A mulher olhou sem entender, mas jurou não dizer nada sobre a presença dele aos demais, Arthur saiu e de volta a sua fortaleza conseguiu dormir o resto da noite. Estava feliz com o sorriso daquele pequeno ser.
*Arthur*
Hoje mais um dia de correria, tínhamos de realizar algumas entregas de tecidos a vila de Narcíseo, as artesãs estavam finalizando tudo.
Novamente o inverno gelado estava chegando e o aniversário da filha de Narcíseo também, ela tinha seis anos e eu sempre a visitava sem que soubesse.
Era uma criança diferente, parecia ter um futuro brilhante a frente.
Lara tinha preparado café para um batalhão e acabei convidando os guardas para comerem comigo, sinceramente não me acostumo a fazer refeições sozinho com as pessoas observando. A guerra contra Drium e Uriliminus me fez ver muitas coisas, coisas a qual merecem valor especial a nossos olhos.
Após comer desci as escadas até o jardim, observei que tudo estava preparado e o sol se escondia entre as nuvens. Talvez vá nevar mais tarde, ao menos a vista noturna com as luzes dançando ao céu me confortavam.
— Meu senhor, preparamos tudo. Já vamos enviar algumas peças agora e as demais a tarde. — Me informou uma senhora, ela ajudava os demais e me ajudava a lembrar de tudo que foi enviado.
— Obrigado Anne, aproveite e tire o resto do dia para descansar. Você já trabalhou demais por hoje. — falei e ela sorriu, o sorriso mais largo que tinha.
— Não acho que sou apenas eu a trabalhar demais. — comentou e estava certa. Eu também exagerava um pouco, mas assim mantinha minha mente ocupada de muitos pensamentos ruins, lembranças que desejo esquecer.
Andei até a carruagem, passei pela fonte e as águas estavam congeladas, mesmo assim a vegetação do solo do jardim sobrevivia ao frio e creio que sobreviveria ao tempo mais gélido que estava chegando.
Subi e me sentei, estava frio, mas mesmo assim não me afetava tanto. Decidi apenas usar um chlamys dourada que ficava apenas preso até minha cintura e deixava o