Deslocar-se por outras histórias: mulheres e a fronteira Brasil-Paraguai
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Deslocar-se por outras histórias - Losandro Antônio Tedeschi
Sumário
FISSURAS
DESLOCAR-SE POR OUTRAS HISTÓRIAS
1. FISSURAR A HISTÓRIA
2. DESLOCAR-SE
3. O NARRAR COMO POTÊNCIA
4. UM LUGAR SÓ MEU
5. DEVIR-MULHER FRONTEIRA
6. O DESLOCAR-SE NÃO SE CONCLUI
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ENTREVISTADAS
EDITORA MANDAÇAIA
SOBRE O AUTOR
Créditos
Ficha Catalográfica
capafolhaderostoFISSURAS
Fissuras são fendas, brechas, aberturas, gretas, trincas, rachaduras, rupturas, lascas, rompimento... todo ato qualificado de operar cisões, às vezes de longa duração, mais ou menos profundas, sobre dado elemento material histórico ou não, sensíveis ou não.
A série FISSURAS busca publicar textos que movimentam sujeitos/escritas que resistem ao aprisionamento das ideias, produzindo cisões nos discursos e práticas instituídas que nos capturam e nos paralisam, diminuindo as possibilidades de (re)existir; lança o desafio de romper com a reprodução, na tentativa de pensar com/por outros movimentos, histórias outras, espaços outros, que buscam trincar com os modelos, escapando, fugindo e se aproximando de outras linguagens, de termos (des)acostumados, invisibilizados, paradoxais.
Apoiamos textos que caminham pelas linhas de fuga, fissurando conceitos canonizados, criando des-certezas
, abrindo brechas e cisões na e com a palavra. Nossa (in)tensão é percorrer o meio, as margens, buscar as lascas de histórias (in)visíveis, das ausências, dos vazios.
FISSURAS busca ser uma escrita inapropriada, tal como o pensamento que, como a terceira margem do rio, parafraseando aqui Guimarães Rosa, torna-se uma espécie de zona silenciosa e indomável. Escrever é como um rio, que caminha pelos seus fluxos, intensidades, dobras, movimentos.
Os escritos que vamos acolher são aqueles que desenham a partir de olhares e vivências outras, subalternidades que emergem a partir do arrombamento, dos acasos; um pensar por experimentação e (re)existências fora da colonialidade. Desejamos publicar epistemes pulsantes, escritos (mal)ditos, rizomáticos, onde possamos fissurar a língua, fazer ruídos, desobedecer a norma, o padrão, o trivial. É, portanto, no espaço da FISSURA, da trinca, da vertigem, que as histórias dos sujeitos no Sul Global, suas existências, (re)existências e seus desdobramentos são possíveis.
Enfim, é somente porque existe o espaço da fissura, do corte, da rachadura, que as histórias outras, as vozes subalternizadas podem vazar, transbordar, escorrer. O que buscamos nessa coleção não é usar a escrita para preencher esse espaço vazio, é, antes, talvez, cultivar a FISSURA, alimentá-la, para que dela, de sua fenda, de seu buraco, todos os sujeitos, vozes, e manifestações do Sul Global possam vazar, provocando um rizoma de epistemes, um espaço de liberdade sem limites, onde a escrita seja a possibilidade de transbordamento.
A coleção FISSURAS pretende visibilizar esses deslocamentos, que nascem nesses des-limites ou, talvez, na terceira margem do rio
. E, se da fissura vaza a alteridade, o outro, vazam também novos mundos, novas possibilidades de devir-mundo, de devir-epistemes, para deformar o que está posto.
Você está convidado(a) a Fissurar conosco.
Losandro Antônio Tedeschi
DESLOCAR-SE POR OUTRAS HISTÓRIAS
Nas narrativas oficiais, a memória feminina raramente aparece. Ao silenciar a fala e o registro da participação das mulheres neste processo, sua história deixa de ser memorizada, produzindo uma epistemologia abissal
¹. Esta iniciativa de silenciamento das narrativas femininas decorre de uma noção de história moderno-colonial-patriarcal sobre as mulheres, que não interessaria à memória oficial.
A história das mulheres migrantes em região de fronteira com o Paraguai é, no presente, uma história ainda com traços de colonialidade², invisível. No presente trabalho, resultado de entrevistas e vivências com camponesas brasiguaias que vivem hoje em assentamentos rurais no Mato Grosso do Sul, busco perceber como essas mulheres subalternizadas, que se aventuraram por caminhos tortuosos e difíceis, concebem sua experiência contracolonial, tendo como base elementos trazidos em suas memórias de vida.
No confronto entre o passado e o presente, as memórias narradas se entrelaçam e se sobrepõem, demonstrando práticas, estratégias, estéticas, resistências, discursos e relações feitas e desfeitas no cotidiano desses sujeitos fronteiriços.
As mulheres migrantes que atravessaram a fronteira nos contam como desenvolveram uma identidade com o lugar; uma identidade que participa de um processo, de uma construção. Ao entrevistá-las sobre suas memórias de deslocamento e de busca por melhores condições de vida, procuro entender as diversas histórias que marcaram seus corpos. A partir das lembranças, podemos construir um quadro histórico da percepção que essas mulheres têm de suas vidas, de suas trajetórias na busca pela terra, suas leituras contracoloniais sobre