Trilhas literárias indígenas: Para a sala de aula
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Sobre este e-book
Embasadas na Lei n. 9.394, que trata da obrigatoriedade do ensino da cultura e da literatura indígena nos currículos escolares, as autoras buscam contribuir com o difícil processo de apropriação da leitura, da literatura e da reflexão sobre essa escrita, cujos parâmetros e olhares são muito diversos dos ocidentais.
Para tanto, num diálogo descontraído, transitam no campo literário, organizando um bloco de histórias que contam um mito sob vários pontos de vista; conversam sobre o que é um mito, sobre a trajetória de um herói e sobre como ele se constrói. Partilham leituras de livros que remetem a outras obras de arte, priorizando, entre elas, o que entendem ser o ponto comum às escritas de vários povos indígenas. Lembram a infinidade de etnias aqui presentes, com todas as suas semelhanças e diferenças, seja na língua, nos ritos, nas guerras, nas pinturas corporais ou no relacionamento com outros grupos.
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Trilhas literárias indígenas - Alcione Pauli
Prefácio
Roni Wasiry Guará¹
Muito mais que o simples ato de ler, muito mais que decifrar enigmas da historicidade, percorrer trilhas literárias
é viver, é buscar nos espíritos pertinentes do saber uma saída para as inquietações do fazer um novo, é construir e se fazer parte da história. Um enredo inspirador, que nos leva a uma prazerosa, longa, e ao mesmo tempo breve viagem em suas entrelinhas de raízes cheias de ancestralidade.
Caminhar nessas trilhas é uma boa, nova e gostosa maneira de despertar para um novo olhar sobre a memória brasileira, pois cada olhar vê coisas diferentes dependendo de onde se está sentado.
As autoras, com uma peculiar suavidade, como de uma bruma matutina, nos prendem em duas linhas a serem seguidas, uma carregada de tocante romantismo, explicitando o amor dedicado à obra, outra trazendo um leve e doce veneno, deixando claras suas inquietações, que nos arremetem ao ponto crucial, que mostra nosso caminhar entre o lembrar e o esquecer, palavras tão inquietantes e relevantes presentes na obra.
A oralidade, a escrita vermelha passada ao papel no punho de nobres guerreiros de um novo saber, traz a sabedoria de nossos antepassados, criando assim uma nova porta para se entender nosso presente como um presente, e com o sabor de uma água refrescante nos alivia o caminhar. Em cada parafrasear, com pontos, vírgulas e juntar de ideias, as autoras nos fortalecem em nosso tempo memorial, o que foge às buscas exaustivas costumeiras.
Excursões a trilhas como essas nos dão argumentos tão necessários que conduzem a uma resposta convincente a quem quer reinventar, reolhar e viver a história em uma esfera mais clara, sabendo que em cada ato do acontecer há dois lados, sempre!
A abertura aqui proposta, que faz a relação entre fatos há tempos transcorridos e a visão do presente momento vivido, é objeto de uma série de questionamentos, em que nos ocuparemos em entender que a mediação da leitura do tempo que passou é um processo de relações que se faz no presente entre o lembrar e o esquecer registrados nesses rabiscos para uma melhor interação de qualidade a se estabelecer entre as sociedades.
Em um primeiro momento, essas indagações nos vêm como provocações, e são, mas indicam um caminho suave para o educador que pretende desenvolver uma maneira diferente de se relacionar com os que buscam um interagir mais aprofundado de uma história a que todos nós pertencemos.
Complementada por outros textos, matérias e objetos, a questão da mediação e do mediador merecerá, a partir deste livro, o olhar atento e necessário para nosso envolvimento e para a melhoria contínua da qualidade de nosso novo momento histórico. Entretanto, para ser mediador, deve-se prever o espaço entre o silêncio do vazio e o barulho cheio que nos cerca. Essas trilhas nos mostram que tudo está interligado, cada olhar, cheiro, ruído, cada cair de folhas, cada nascer de uma nova flor, cada respirar, e que às vezes é preciso mudar de lugar, outras é preciso fincar o pé e deixar acontecer, por isso merecem e vêm buscar outros muitos caminhantes para que novas trilhas sejam desbravadas. Basta se perder, assim meio sem rumo, para perceber que a cada frase se esconde uma parte importante de nosso contexto histórico.
Escrita imponente, resultado de um bem-sucedido olhar de integração da vida urbana moderna com a defesa da memória dos antigos, as autoras descrevem com elegância que a história não pode ser entendida por um só olhar.
Viagem longa, pois o rio que corre em nossas veias não para, é mais um rio que cruza, desvia, distancia e atrai encontros, perfazendo um trecho de cada vez, a chave da leitura das trilhas literárias
é uma impressionante ascensão, que nos liberta, que nos dá o poder de voar, uma leitura que abrirá portas para uma outra leitura, que abrirá a mais uma leitura.
Justificando a trilha
As crianças têm um canal aberto com a sua ancestralidade. Elas são emotivas e conseguem chegar onde os adultos não chegam. Os adultos costumam ser bloqueados pelas vozes da escola, da economia ou da política. Isso os impede de acordar
as memórias ancestrais que trazem em si. O adulto precisa se curvar a esta verdade, caso queira compreender a escrita indígena.²
Alcione: Por que o livro Trilhas literárias indígenas para a sala de aula?
Sueli: Muitas são as questões que justificam essa nossa escolha. Antes de qualquer coisa, por ser voltado à escola, ou seja, à especificidade do trabalho