O Necrófilo
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O Necrófilo - Gilberto Feliciano De Oliveira
GILBERTO FELICIANO DE OLIVEIRA
O NECRÓFILO
1
O NECRÓFILO
2
I
A madrugada do dia dois de junho estava bastante fria. Uma neblina densa cobria, com seu manto úmido, os muros e os jazigos que decoravam aquele ambiente lúgubre e desolador. Mal dava para enxergar as sepulturas, pois a escuridão ainda estava presente. Até mesmo a coruja, inquilina do lugar, não se atrevia a botar os pés pra fora da toca, localizada em um buraco do velho pinheiro. Tudo favorecia a um convidativo descanso no ttaconchegante leito, mesmo para os habitantes do Campo Santo, palco dos acontecimentos inusitados que ora se passavam.
Na terceira quadra do cemitério São João Batista, entremeado de túmulos e protegido pela camuflagem natural, mal se divisava um ser bizarro, que numa labuta constante, munido de martelo e talhadeira, se esforçava para abrir a tumba. O ser, trajando capa preta e chapéu atolado na cabeça, se encontrava de cócoras. De vez em quando, lançava um suspiro e algumas imprecações. O esforço contínuo fazia
3
verter de seu rosto pequenas gotas de suor.
Após considerável tempo, o homem conseguiu remover a lápide do sepulcro. De um salto, adentrou o vão. Observou com certa ansiedade o caixão novinho em folha, enterrado no dia anterior. Segurou firme em uma de suas extremidades, começou a removê-lo da gaveta. Após alguns minutos, conseguiu retirá-lo e acomodá-lo fora do jazigo. Removeu a tampa, lançou um olhar voluptuoso, na jovem que lá se encontrava deitada com as mãos cruzadas, a segurar junto ao peito um rosário e um botão de rosa branca, tendo refletida no rosto, a luz fraca do luar. O profanador de sepultura, tremendo de emoção, segurou o cadáver pela cintura. Com um pequeno esforço conseguiu removê-la do ataúde. Colocou o inerte corpo sobre a tampa do jazigo próximo. Sem nenhum constrangimento, removeu com um gesto brusco o vestido da defunta. Ao observar-lhe o corpo branco de formas arredondadas, os seios intumescidos e o belo par de coxas, ficou excitado, com o membro enrijecido e a boca espumando
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numa ânsia de animal ao deparar com uma fêmea que se encontra no cio. Nesse momento, sentiu uma onda de calor a invadir-lhe corpo. Em seu
pensamento surgiram emoções
adormecidas que dominaram seu corpo de forma avassaladora. Um desejo incontrolável de beijar aquela bela moça, tomá-la nos braços, possuí-la com toda a paixão que um homem pode dar a uma mulher, tomou conta de seu pensamento insano.O fulano ajeitou o corpo da defunta e com esforço conseguiu abrir as pernas enrijecidas; colocou-se de quatro. Começou então a cheirar suas partes íntimas. Em pouco tempo, consumiu o ato. Por várias vezes, penetrou a jovem morta, em diferentes posições, se deliciando em cada uma delas. Satisfeito, vestiu a calça, fez uma prece para a alma da moça e sumiu na escuridão, coxeando num bambolear ritmado, tomando rumo desconhecido.
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II
O delegado João Bartolomeu, após um dia exaustivo de trabalho, repousava tranquilamente ao lado de sua esposa, na confortável e quente cama, quando acordou assustado com o som de batidas enérgicas na porta. Murmurando palavrões, se levantou bocejando e se dirigiu rumo à sala. Com voz de poucos amigos, perguntou:
— Quem é que vem me acordar em plena madrugada? Será que
ninguém mais consegue dormir
sossegado nessa maldita cidade?
Com um solavanco, abriu a porta, fuzilando com o olhar o visitante que aguardava, em pé, a tremer de frio, do lado de fora da residência.
6
— Desculpe-me senhor delegado. Mas o assunto que me traz aqui é grave. Aconteceu novamente.
— O que aconteceu Afrânio?! Só espero que seja grave mesmo. Ora bolas, me acordar tão cedo logo num dia de feriado!
— Apareceu outra vítima de estupro senhor.
— E essa infeliz não poderia esperar até amanhecer o dia?
— Ora senhor! Já passa das sete! Ademais, a vitima, não pode vir até aqui, pois ela é uma das habitantes da eterna morada.
— Como é que é?! Você quer dizer que ela está morta?
—Sim! Com essa, são duas.
—Mas que inferno! Esse maldito estuprador não poderia escolher outra cidade para atazanar? Tinha que ser justamente essa cidade esquecida por Deus e pelo Diabo?
—Quem é a vítima, Afrânio?
7
— Não sei, Delegado. O Zeca Pimenta estava um pouco afobado e se esqueceu de me dizer.
— E você, imbecil como sempre, não perguntou!
— Não senhor. — Respondeu Afrânio, aborrecido.
—Entre! Ou quer virar picolé? —Com licença, senhor!
O delegado foi até o mancebo no canto da sala, apanhou o sobretudo, o chapéu de feltro, entrou no quarto e, após apanhar suas roupas sobre a penteadeira, se vestiu com a maior rapidez possível; despediu-se da mulher que estava entorpecida pelo sono, e saiu apressadamente. Na porta da residência, o velho Ford aguardava seus ocupantes. Os homens embarcaram. Saindo em desabalada correria, rumaram em direção ao cemitério.