Sem Ti Não Voltaria a Viver
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Sobre este e-book
Só quando encontra um animal abandonado e decide acolhê-lo e amá-lo é que percebe que, a partir desse momento, é que terá o tão esperado ponto de viragem. Quando finalmente consegue estabilizar a sua vida emocional, o passado entra de rompante e leva-a a uma cama de hospital.
Nuno tem um segredo há muito guardado. Apesar de influenciar a sua vida, nunca aceitou a chantagem para o fazer desaparecer. Quando confrontado com a possibilidade de amar Rute, ele tenta livrar-se dessa sombra sem que ela se aperceba.
Só existe um problema. Não só ela fica a saber, como conhece parte do seu segredo.
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Sem Ti Não Voltaria a Viver - Marta Janicas
Agradecimentos
São muitos os agradecimentos e isso significa que tenho a felicidade de contar com muitas pessoas que me apoiam.
Primeiro que tudo, carinhosamente, ao meu marido pelo apoio e incentivo. Agradeço à minha enteada pelas palavras meigas e abraços nos momentos mais débeis.
Agradeço aos pais e outros familiares, que, mesmo não sabendo exatamente o que eu estava a fazer, disseram: Só podia. Esta obra também não teria visto a luz do dia se eu não tivesse do meu lado amigos incansáveis, a contribuírem com entusiamo e motivação, com leituras repetitivas destas palavras e com ralhetes amorosos quando pensei deixar tudo arrumado na gaveta.
Também quero agradecer à Cordel D’ Prata e aos seus fantásticos colaboradores, que me guiaram e acompanharam em todo este processo de aprendizagem e realização de um sonho.
Quinta-feira, 20 de junho de 2019
O dia começou como tantos outros, mas a vida dela estava prestes a dar uma volta de trezentos e sessenta graus.
Nunca tinha ido àquele jardim, nunca tinha ido a nenhum sítio ali nas redondezas.
Hoje tinha de ser.
Estava um dia de sol vibrante, mas a temperatura já não era quente e sufocante como fora à hora de almoço. Era quase pôr do sol e a brisa fresca que avizinhava a chegada da noite tornava aquele final de tarde maravilhoso.
Enquanto passeava pelo meio daqueles relvados verdejantes, ia pensando numa forma de recompor a sua vida. Tinha-se separado há oito meses, há seis que se tinha mudado.
Mudou de emprego, de casa e de localidade. Mal sabia o que a rodeava, a sua rotina era trabalho-casa e casa-trabalho.
Em casa, reinava a desordem, refletia bem o estado emocional dela. A única coisa intacta naquela casa era a cama. Uma armação em madeira castanha clara, com um estrado e um colchão. Nunca se tinha deitado nela, preferia dormir no sofá. A aversão pelo ninho do amor era demasiado grande, doía menos pernoitar naquele sofá velho e frio, rodeada de mantas e almofadas.
Comer… devia ter comido, não sentia fome.
De dia para dia, a situação ia piorando. No trabalho, fizeram-lhe um ultimato: ou se recompunha ou seria despedida. Não podia ficar desempregada, não podia voltar para o lugar de onde tinha fugido. Foi aquela conversa com o chefe que a fez acordar para tudo o que a rodeava. Tinha de tomar uma decisão.
Era isso que estava ali a fazer, só não sabia como. O parque era enorme e tinha muitas pessoas, umas a passear, outras sentadas a conversar, outras a tomar conta dos filhos enquanto eles brincavam, outros corriam ou exercitavam-se. Até havia um grupo de mulheres a fazer uma aula que lhe pareceu ioga.
Ficou indecisa. Devia sentar-se e esperar que o tempo passasse ou andar até que o cansaço a mandasse para casa?
Olhou em volta e viu um banco isolado, vazio e solitário. Decidiu-se pela primeira opção.
Recostou-se e fechou os olhos, não era uma sensação tão má quanto imaginara. Rute era uma mulher alta, morena, com olhos cor de avelã, era magra – neste momento, em demasia –, era considerada uma mulher bonita e era também inteligente. Mas, neste momento, não se apresentava no seu melhor. Estava com o cabelo desgrenhado, a precisar de um corte, a pele claramente não via um creme hidratante há muito tempo e as unhas estavam todas roídas.
Estava perdida em pensamentos, a refletir nas mudanças que precisava de fazer e a imaginar as consequências que cada uma delas lhe podia trazer.
Alguma coisa estava a interferir com tal raciocínio, um som esporádico, no entanto irritante. O barulho não era muito alto, mas era agudo e agonizante.
Fazia lembrar um gemido de dor, devia ser outra partida de mau gosto da sua mente. Olhou em redor, não havia ninguém ali perto. Cada vez que se concentrava nesse som, parecia propositado, ele desaparecia.
Era a terceira vez que se concentrava nos seus problemas e na sua resolução quando alguém a interrompeu:
− Desculpe incomodá-la, a senhora ouviu algum som estranho desde que aqui está? – perguntou Luísa, uma senhora já na casa dos cinquenta anos, que estava equipada a rigor para fazer uma corrida. – Passei aqui há pouco e ouvi um barulho, parecia alguém a chorar. Fiquei na dúvida se era real ou não, por isso decidi voltar cá.
− Há pouco, pareceu-me ouvir qualquer coisa também, tentei perceber o que era ou de onde vinha, mas não tive sorte. – respondeu Rute.
Enquanto as duas mulheres decidiam se estavam a alucinar com o mesmo som ou não, um novo gemido veio confirmar que nenhuma delas tinha sucumbido à loucura.
− Vem dali! − disseram as duas em uníssono. Com o olhar, identificaram uma papeleira de lixo situada ao lado do banco.
Rute levantou-se num ápice, desencaixou a papeleira e colocou-a em cima do banco. Estava prestes a meter uma mão por lá adentro quando o pouco conteúdo que tinha se remexeu.
− Será um bicho? − Luísa ficou reticente, não estava muito contente por ter de meter as mãos no lixo, mas Rute poupara-lhe a decisão e já estava a vasculhar o conteúdo.
− Precisa de ajuda? − perguntou um cavalheiro que por ali passava. − Perdeu alguma coisa?
− Preciso que abra este saco! – Rute passou-lhe um saco de plástico que tinha no bolso do casaco para mais tarde ir às compras e, depois disso, começou a despejar lá para dentro o conteúdo da papeleira. Agora sim, o choro ouvia-se melhor e à sua volta aglomeravam-se cada vez mais pessoas. Ninguém sabia o que se passava, mas todos queriam saber o desfecho de toda aquela agitação.
No fundo da papeleira estava um saco plástico preto do lixo com um nó no cimo bem apertado. Rute pegou no saco pelo nó. Quando o segurou sem o apoio da papeleira, achou-o demasiado leve. O conteúdo revolveu-se e o seu instinto foi largá-lo, mas quando o saco bateu no fundo da papeleira, ouviu-se a dor proveniente de uma alma em sofrimento. Foi aí que Rute percebeu o que estava lá dentro.
Com os olhos marejados em lágrimas, envolveu o saco nos braços e voltou a sentar-se no banco. Com cuidado, utilizou o dedo indicador e furou-o, rasgou-o e expôs um pequeno cachorro à vista de todos. Era muito pequeno, estava demasiado magro e podiam contar-se todos os ossos da sua tenra coluna.
Enquanto Rute contemplava o pequeno corpo que tremia, tanto de medo como em resposta à súbita aragem que o atingiu, as pessoas em seu redor comentavam o ato desumano e insensível que alguém cometera ao deixar o pobre cão ali abandonado à sua sorte.
− Alguém conhece um veterinário, de preferência aqui perto? – ouviu-se perguntar. Não