Racismo Acadêmico No Brasil
()
Sobre este e-book
Relacionado a Racismo Acadêmico No Brasil
Ebooks relacionados
Direito, Raça e Políticas Afirmativas: Quilombismos e Feminismos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPolíticas públicas antirracistas: análises sobre racismo estrutural e programas de transferência de renda Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRelações Étnico-Raciais e Outros Marcadores Sociais da Diferença: Diálogos Interdisciplinares Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTransgeneridade e Previdência Social: seguridade social e vulnerabilidades Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDireitos Trans no Ensino Superior: as normativas sobre Nome Social das Universidades Públicas Federais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDireitos Humanos em tempos de pandemia de coronavírus Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEnsaios sobre racismos: pensamentos de fronteira Nota: 5 de 5 estrelas5/5O estatuto da igualdade racial Nota: 5 de 5 estrelas5/5Direitos humanos em múltiplas perspectivas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFeminismos, ações e histórias de mulheres Nota: 0 de 5 estrelas0 notasInterdisciplinaridade, Interculturalidade e Interseccionalidade: Faces Negras na Escola Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs Panteras Negras: Uma introdução Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstatuto Da Igualdade Racial: Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSer Preto não é um Defeito Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPioneiros: Cotistas na universidade brasileira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMulheres Negras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMovimentos Sociais e Resistência no Sul do Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPreconceito De Marca X Preconceito De Origem Na Atualidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAfromarxismo: Fragmentos de uma teoria literária prática Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFeminismos favelados: Uma experiência no Complexo da Maré Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEscolas de luta Nota: 5 de 5 estrelas5/5O pensamento negro em educação no Brasil: expressões do movimento negro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Resistência negra ao projeto de exclusão racial: Brasil 200 anos (1822-2022) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA imprensa do Rio de Janeiro e o conceito de República (1820-1822) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMulheres que gingam: reflexões sobre as relações de gênero na capoeira Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Políticas Públicas para você
Quem sou eu?: nossa identidade em Cristo Nota: 5 de 5 estrelas5/5Delegado Federal: do concurso ao cargo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Crise do Menino: Como compreender os desafios de ser menino nos dias de hoje (e ajudá-lo) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPlanejamento estratégico significativo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Luta pela Qualidade na Administração Pública com Ênfase na Gestão Municipal Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Poder da Cultura Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGerência de contratos: Propostas técnicas para licitações públicas e privadas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCapitalismo monopolista e Serviço Social Nota: 4 de 5 estrelas4/5Gestão em Saúde - Volume 1: Temas em Debate Nota: 5 de 5 estrelas5/5Olavo De Carvalho, Mente Brilhante Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEntre o Encardido, o Branco e o Branquíssimo: Branquitude, Hierarquia e Poder na Cidade de São Paulo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBig Tech Nota: 5 de 5 estrelas5/5SMS: Apontamentos sobre Saúde, Meio Ambiente e Segurança do Trabalho Nota: 5 de 5 estrelas5/5O segredo revelado: Uma introdução à teologia da missão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMinha Luta De Adolf Hitler Com Comentários Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA cidade inteligente: Tecnologias urbanas e democracia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBox Coleção Breves Lições: Hayek, Rand, Hoppe e Sowell Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFé Inabalável Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO atendimento socioassistencial para crianças e adolescentes Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRodrigo Constantino, Mente Brilhante Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUma introdução à economia do século XXI Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAfinal, quando vou me aposentar?: Previdência Social: mitos e verdades Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTorturas Medievais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLiberdade é prosperidade: A filosofia de Ayn Rand Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPor que ocupamos?: Uma introdução à luta dos sem-teto Nota: 3 de 5 estrelas3/5
Avaliações de Racismo Acadêmico No Brasil
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Racismo Acadêmico No Brasil - Lúcio Almeida (org).
RACISMO ACADÊMICO NO BRASIL:
desafios para um Direito Antidiscriminatório.
RACISMO ACADÊMICO NO BRASIL:
desafios para um Direito Antidiscriminatório
Coordenador:
Professor Dr. Lúcio Almeida
Professor Substituto de Direito Administrativo na Faculdade de Direito da UFRGS.
Coordenador do Núcleo de Pesquisa Antirracismo da Faculdade de Direito da UFRGS. Professor Titular da Faculdade de Direito da Dom Bosco de Porto Alegre.
Mestre e Doutor em Direito pela UFRGS. Pós-Doutorando pelo Centro de Estudos Alemães/UFRGS.
Prefácio da Profa. Dra. Dr. h. c. Claudia Lima Marques
Diretora da Faculdade de Direito da UFRGS (2021 - 2024). Professora Titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Professora Permanente da Graduação e do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFRGS. Relatora-Geral da Comissão de Juristas do Senado Federal para a atualização do Código de Defesa do Consumidor. Diretora do CDEA – Centro de Estudos Alemães.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de Direito
Núcleo de Pesquisa Antirracismo
Centro de Estudos Europeus e Alemães - CDEA
Editora Clube dos Autores
©2022 dos Autores
Projeto gráfico: Jorge Barcellos
Revisão do texto em português: Marceli Tomé Martins
Capa e Imagens: Pixabay
Todos os direitos reservados. As ideias e posicionamentos descritos neste livro não expressam a opinião da editora, mas unicamente dos autores.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Racismo Acadêmico no Brasil: desafios para um Direito Antidiscriminatório/
Organização: Lúcio Antônio Machado de Almeida. Porto Alegre, Ed. dos Autores, 2022.
Vários Autores.
Bibliografia.
ISBN 978-65-00-39216-6
1. Antirracismo 2. Antirracismo - Brasil
3. Cultura negra 4. Negros - Brasil 5. Racismo
I. Almeida, Lúcio Antônio Machado.
22-100434 CDD-305.8009
Índices para catálogo sistemático:
1. Racismo : Preconceitos : Sociologia 305.8009
Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129
Editora Clube dos Autores
Rua Otto Boehm, 48, América, Joinville- SC 89201-602
Site: Clubedosautores.com.br
SUMÁRIO
PREFÁCIO: O Racismo Acadêmico no Brasil - Profa. Dra. Dr. h. c.
Claudia Lima Marques, 11
APRESENTAÇÃO: O NÚCLEO DE PESQUISA ANTIRRACISMO NA FACULDADE DE DIREITO - Kauê Kamau, Gerusa Pena e Rosani Aguiar, 21
1 POR QUE UM NÚCLEO DE PESQUISA ANTIRRACISMO NA
FACULDADE DE DIREITO? Professor Doutor Lúcio Almeida, 27
2 DÉMOCRATIE ET RACISME - Lúcio Antônio Machado Almeida, 39
3 RACISMO E CRIMINOLOGIA POSITIVISTA NO BRASIL: OS
ELEMENTOS
ESTRUTURANTES
DOS
PROCESSOS
DE
CRIMINALIZAÇÃO DE NEGROS QUE AFRONTAM À DEMOCRACIA E
AOS DIREITOS HUMANOS - Fernando Antônio Sodré de Oliveira, 75
4 HANNAH ARENDT E A QUESTÃO DO NEGRO: BREVE
INTRODUÇÃO AO ARTIGO ‘REFLEXÕES SOBRE LITTLE ROCK’ - Maria Gabriela Borges Puente de Souza, 103
5 O EXEMPLO: A POSSIBILIDADE DA EMERGÊNCIA DE UMA ELITE
NEGRA INTELECTUAL NO IMEDIATO PÓS-ABOLIÇÃO - Flávia das Neves Chaves, 129
6 DO QUARTO DE DESPEJO À LIMPEZA DA SALA DE ESTAR DO
CAPITALISMO RACIAL E NEOLIBERAL: UM DIÁLOGO ENTRE
CAROLINA MARIA DE JESUS E FRANÇOISE VERGÈS - Rowana Camargo, 163
7 NOVEMBRO E OS ESPAÇOS DE AQUILOMBAMENTO ACADÊMICO
- Priscila Lima Batista, 191
8 DIREITO AO ESQUECIMENTO: UMA ANÁLISE A PARTIR DO
ASSASSINATO DA POPULAÇÃO NEGRA - Beatriz da Silva Pinto, 223
9 MÍDIA E RACISMO - Marcelo Regius Gomes Bastos, 245
ANEXO: Eventos organizados pelo Núcleo de Pesquisa Antirracismo da Faculdade de Direito da UFRGS, 265
PREFÁCIO
O Racismo Acadêmico no Brasil
Profa. Dra. h. c. Claudia Lima Marques
Diretora da Faculdade de Direito da UFRGS, Professora Titular da UFRGS e Professora Permanente do PPGD UFRGS, Diretora do
Centro de Estudos Europeus e Alemães (UFRGS-PUCRS-DAAD) e
Pesquisadora 1 A do CNPq,
R a c i s m o A c a d ê m i c o n o B r a s i l | 11
Dignus inter pares! Igual dignidade de todos os indivíduos, dignidade entre os pares.1 É este o tema deste primeiro livro do Coordenador do Núcleo de Pesquisa Antirracismo da Faculdade de Direito da UFRGS, que visa combater o racismo, em todas as suas formas, inclusive na academia, preparando o Brasil para um Direito Antirracista. O foco são os direitos de igualdade, dignidade e liberdade do povo negro, indígena, das mulheres e da população LGBTQIA+ e de todos os demais que sofrem com o racismo, seja por origem étnica, religiosa ou ideológica.2
2022 é um ano de júbilo no tema, pois em 10 de janeiro foi promulgada a Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância (Decreto nº 10.932/2022), visando prevenir, eliminar, proibir e punir todos os atos e manifestações de racismo, discriminação racial e formas correlatas de intolerância
. A Convenção de 2013, ora internalizada no Brasil, reafirma o firme compromisso dos Estados membros da Organização dos Estados Americanos com a erradicação total e incondicional do racismo, da discriminação racial e de todas as formas de intolerância
e impõe "que a dignidade inerente e a igualdade de todos os membros da família humana são princípios básicos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de 1 Assim o inspirador livro de KAUFMAN, Gustavo Ariel. Dignus inter pares – Um análisis comparado del derecho antidiscriminatório. Buenos Aires: Abeledo Perot, 2010, p. 3 e seg.
2 Veja OZ, Amós; OZ-SALZBERGER, Fania. Os judeus e as palavras, São Paulo: Companhia das letras, 2015, p. 61: "...a procura dos judeus por igualdade social, econômica e política...Esta busca tem sido chamada de tikkun olam, significando em tradução aproximada „o conserto do mundo‟...o tikkun envolve o reparo espiritual de nosso mundo fragmentário..."
12 | D e s a f i o s p a r a u m D i r e i t o A n t i d i s c r i m i n a t ó r i o
Discriminação Racial." A Convenção da OEA define racismo no Art.
1, nr. 4:
"Racismo consiste em qualquer teoria, doutrina,
ideologia ou conjunto de ideias que enunciam um
vínculo causal entre as características fenotípicas ou
genotípicas de indivíduos ou grupos e seus traços
intelectuais, culturais e de personalidade, inclusive o
falso conceito de superioridade racial. O racismo
ocasiona desigualdades raciais e a noção de que as
relações discriminatórias entre grupos são moral e
cientificamente justificadas. Toda teoria, doutrina,
ideologia e conjunto de ideias racistas descritas
neste Artigo são cientificamente falsas, moralmente
censuráveis, socialmente injustas e contrárias aos
princípios fundamentais do Direito Internacional e,
portanto, perturbam gravemente a paz e a
segurança internacional, sendo, dessa maneira,
condenadas pelos Estados Partes."3
Se no direito internacional, constitucional e nacional, a situação legal parece conquistada, a prática no Brasil (veja-se as importantes estatísticas trazidas neste livro), no mercado (veja-se a análise do ‘caso Beto’ de crime e morte em um supermercado de Porto Alegre) e na academia impõe concluir o contrário, pois como afirma Lúcio Almeida, nesta obra (Capítulo 1):
"Nos seus mais de 120 anos de existência, a
Faculdade de Direito da UFRGS teve pouquíssimo
comprometimento com o enfrentamento do racismo.
Tal constatação é possível dado ao reduzido número
3 Acessível in D10932 (planalto.gov.br)
R a c i s m o A c a d ê m i c o n o B r a s i l | 13
de professoras e professores negros, bem como a
ausência de uma disciplina específica que aborde o
fenômeno jurídico do racismo nos termos em que ele
merece."
Realmente, há um distanciamento entre a ciência
apreendida e a experiência vivida,4 e todas as instituições da sociedade devem se unir para enfrentar a quebra do princípio antidiscriminatório e do trato equitativo e ainda mais a academia.
Saúde-se assim, fortemente, a iniciativa deste livro, organizado pelo Professor Lúcio Almeida, egresso de nosso PPGD UFRGS onde realizou com sucesso seu doutorado (‘Reconhecimento e cotas raciais na perspectiva de Charles Taylor’, orientado pelo Prof. Dr.
José Alcebíades de Oliveira Júnior, 2015) e mestrado (‘Igualdade social e ação afirmativa: A contribuição do pensamento de Joaquim Nabuco’, orientado pelo Prof. Dr. Luís Fernando Barzotto, 2011).
O Prof. Dr. Lúcio Antônio Machado Almeida, coordenador da
obra, é o criador e coordenador do Núcleo de Pesquisa Antirracismo da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que tantos e bons serviços tem realizado em nossa Faculdade, ajudando também no ‘Projeto Incluir’, que se inicia em 2022. É Professor Substituto de Direito Administrativo e pós-doutorando sob minha orientação, no Departamento de Filosofia e Direito Público, na Faculdade de Direito da UFRGS, sobre consumo e racismo. É coordenador do Grupo de Pesquisa Antirracismo do Legislativo de Porto Alegre, membro da Comissão Especial de Infraestrutura, Parcerias Público-Privadas, Concessões, Licitações e Desestatização da OAB/RS, Professor Titular da Faculdade de Direito da Dom Bosco de Porto Alegre e Professor Convidado na disciplina 4 Veja-se OLIVEIRA JÚNIOR, José Alcebíades de. Teoria Jurídica e Novos Direitos, Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2000, p. 97 e seg.
14 | D e s a f i o s p a r a u m D i r e i t o A n t i d i s c r i m i n a t ó r i o
de Direito Constitucional na Especialização da Universidade La Salle.
Professor Convidado no Instituto de Acesso à Justiça (IAJ).
Atualmente é Diretor da Escola do Legislativo Julieta Battistioli CMPA. Reconhecido autor das obras sobre o tema, tais como
Direito Constitucional às Cotas Raciais: a contribuição de Joaquim Nabuco
pela Editora Buqui; e Direito da Diversidade: o reconhecimento moral de negras e negros brasileiros
. É advogado, membro imortal da Academia de Letras do Brasil/Seção Rio Grande do Sul, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RS e colunista do IAPJ.
O presente livro é composto por 10 textos, iniciando com a
apresentação do ‘Núcleo de Pesquisa Antirracismo’ na Faculdade de Direito da UFRGS, pelos graduandos- Kauê Kamau, Gerusa Pena e Rosani Aguiar, seguindo de um texto seminal do Prof. Dr. Lúcio Almeida, intitulado ‘Por que um Núcleo de Pesquisa Antirracismo na Faculdade de Direito?". Neste texto, o Núcleo Antirracismo da Faculdade de Direito da UFRGS realiza 15 pedidos (como a criação
de uma linha de pesquisa no Programa de Pós-Graduação do Direito com a atuação de docentes negros para abordagem do problema jurídico do racismo enfrentado pelos negros e negras brasileiros
, criação de uma disciplina obrigatória com a designação de Direito Antirracista na Faculdade de Direito bem como a contratação de professores negros com estudos na área do combate ao racismo para condução da disciplina
, realização de um curso permanente anual para todos os docentes da Faculdade de Direito sobre racismo, criação de uma disciplina de idiomas com ênfase no estudo jurídico para os cotistas
, criação de uma extensão de redação jurídica para cotistas negros e negras, promoção de cotistas negros e negras para intercâmbio nos países que tiveram a experiência da diáspora negra
, criação de um código de ética antirracista para a Faculdade de Direito
, adoção
R a c i s m o A c a d ê m i c o n o B r a s i l | 15
de convênios com centros acadêmicos internacionais que pesquisem o fenômeno jurídico do racismo
), que poderiam ser universalizados para todas as Faculdades de Direito, pois realmente como afirma o autor é preciso um comprometimento sério e sistemático para atenuar os efeitos desses fenômenos que, invariavelmente, impossibilitam uma participação plena dos sujeitos negros.
Realmente são pedidos justos e importantes para combater
o racismo acadêmico, alguns já conquistados, como os referentes aos concursos da UFRGS com a adoção de vagas destinadas a pretos ou pardos segundo a Lei n..12.990/2014 (Parecer 30/2021 que altera a Decisão 446/2014), mas outros necessitarão bastante tempo para serem conquistados, uma vez que o pedido de ouvidoria própria da Faculdade de Direito já foi negado e outros -
que estão sendo executados, como a gravação das aulas ERE-necessitarão de reformas nas salas de aulas de nosso centenário prédio. No que se refere aos levantamentos, a ‘Comissão de Pertencimento’ da Faculdade de Direito da UFRGS já está trabalhando, mas isso só reforça a importância e mesmo necessidade da manutenção do trabalho do Núcleo Antirracismo da Faculdade de Direito para que o tema mantenha sua visibilidade e importância.
Como ensina a Corte Europeia de Direitos Humanos:
"nenhuma diferença de tratamento fundada exclusivamente ou de maneira determinante na origem étnica de um indivíduo pode ser considerada como objetivamente justificada em uma sociedade democrática contemporânea fundada sob os princípios do pluralismo e da diversidade cultural."5 Se o combate ao racismo e às 5 Decisão da Corte Europeia de Direitos Humanos, 13.03.2006, Timichev v. Russie, ( Requêtes 55762/00 e 55974/00), tradução dos autores, acessível in
https://www.echr.coe.int/Documents/Reports_Recueil_2005-XII.pdf
16 | D e s a f i o s p a r a u m D i r e i t o A n t i d i s c r i m i n a t ó r i o
discriminações (raciais diretas e indiretas e agravadas)6 é o objetivo deste livro, a obra vai mais além. Em um segundo texto, o Prof. Dr.
Lúcio Almeida analisa o racismo e democracia em francês, afirmando que a democracia exige igualdade e defende a tese que a preservação do regime democrático é imperativo para o desenvolvimento de políticas de proteção da diversidade em nosso país. O tema não poderia ser mais importante, quando a academia e o compartilhamento de saberes, com igualdade e liberdade, dependem justamente da manutenção da democracia, como condição sine qua non para uma sociedade plural. A dignidade de todos, a dignidade da pessoa humana é nosso direito mais fundamental ( Übergrundrecht).7
6 Veja as definições na Convenção da OEA, Art. 1, nrs. 1,2 e 3: 1. Discriminação racial é qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência, em qualquer área da vida pública ou privada, cujo propósito ou efeito seja anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em condições de igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades fundamentais consagrados nos instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados Partes. A discriminação racial pode basear-se em raça, cor, ascendência ou origem nacional ou étnica. 2. Discriminação racial indireta é aquela que ocorre, em qualquer esfera da vida pública ou privada, quando um dispositivo, prática ou critério aparentemente neutro tem a capacidade de acarretar uma desvantagem particular para pessoas pertencentes a um grupo específico, com base nas razões estabelecidas no Artigo 1.1, ou as coloca em desvantagem, a menos que esse dispositivo, prática ou critério tenha um objetivo ou justificativa razoável e legítima à luz do Direito Internacional dos Direitos Humanos. 3. Discriminação múltipla ou agravada é qualquer preferência, distinção, exclusão ou restrição baseada, de modo concomitante, em dois ou mais critérios dispostos no Artigo 1.1, ou outros reconhecidos em instrumentos internacionais, cujo objetivo ou resultado seja anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em condições de igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades fundamentais consagrados nos instrumentos internacionais aplicáveis aos Estados Partes, em qualquer área da vida pública ou privada.
7 Veja, sobre a constitucionalização do Direito Privado e a necessidade de proteção dos mais vulneráveis em nossa sociedade, MARQUES, Claudia Lima; MIRAGEM, Bruno. O novo Direito Privado e a proteção dos vulneráveis. São Paulo: Ed. RT, 2014, p. 8 e seg.
R a c i s m o A c a d ê m i c o n o B r a s i l | 17
Após se seguem seis textos voltados para o racismo contra
a população negra. O primeiro texto é intitulado Racismo e criminologia positivista no Brasil: os elementos estruturantes dos processos de criminalização de negros que afrontam à democracia e aos direitos humanos
de Fernando Antônio Sodré de Oliveira; o segundo, Hannah Arendt e a questão do negro: breve introdução ao artigo ‘reflexões sobre Little Rock’, de autoria de Maria Gabriela Borges Puente de Souza, um terceiro intitulado O exemplo: a possibilidade da emergência de uma elite negra intelectual no imediato pós-abolição
de Flávia das Neves Chaves; seguido do texto Do quarto de despejo à limpeza da sala de estar do capitalismo racial e neoliberal: um diálogo entre Carolina Maria de Jesus e Françoise Vergès, de autoria de Rowana Camargo, um quinto estudo intitulado
Novembro e os espaços de
aquilombamento acadêmico, de Priscila Lima Batista e o sexto estudo do Direito ao esquecimento: uma análise a partir do assassinato da população negra
de Beatriz da Silva Pinto. Conclui o livro um texto mais geral, denominado Mídia e racismo
de autoria de Marcelo Regius Gomes Bastos. Todos são textos fortes e bem escritos, demonstrando o protagonismo estudantil do Núcleo e seu foco no racismo contra a população negra.
O presente livro traz importantes e sólidas reflexões e serve para a autorreflexão de todos nós, dá voz a demandas muitas vezes invisibilizadas e ajuda a concentrar esforços na construção de uma Faculdade de Direito antirracista
, modificação institucional e estrutural que não se fará imediatamente, mas que deve começar -
como toda longa caminhada – imediatamente!
Parabenize-se o coordenador e a todos os coautores e integrantes do Núcleo de Pesquisa Antirracismo da Faculdade de Direito da UFRGS por esta primeira e bela obra. Desejo a todos, boa leitura!
Porto Alegre, 14 de março de 2022.
18 | D e s a f i o s p a r a u m D i r e i t o A n t i d i s c r i m i n a t ó r i o
Estudante universitária. Fonte: Wikimedialimagens/Pixabay
APRESENTAÇÃO:
O Núcleo de Pesquisa Antirracismo da
Faculdade de Direito da UFRGS
Kauê Kamau
Graduando no Direito da UFRGS. Coordenador discente do Núcleo de Pesquisa Antirracismo da Faculdade de Direito da UFRGS.
Gerusa Pena
Graduanda no Direito da UFRGS. Vice-Coordenadora discente do Núcleo de Pesquisa Antirracismo da Faculdade de Direito da UFRGS.
Rosani Aguiar
Graduanda no Direito da UFRGS. Integrante do Núcleo de Pesquisa Antirracismo da Faculdade de Direito da UFRGS.
R a c i s m o A c a d ê m i c o n o B r a s i l | 21
Fundado em 24 de março de 2021, o Núcleo de Pesquisa Antirracismo da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), coordenado pelos professor Lúcio Almeida, busca, através de sua constituição, tratar sobre as interseccionalidades raciais acerca do Direito.
O combate ao racismo estrutural, institucional, interpessoal e ambiental, protagonizando os direitos sobre o povo negro, indígena, mulheres e a população LGBTQIA+, ocorre através da conjuntura acadêmica do Núcleo composto por estudantes, professores e interessados das mais diversas áreas, que buscam a excelência na pesquisa acadêmica através de análises e de debates sobre referências literárias que tratem a temática racial com fundamentação significativa e contra a invisibilização histórica de autoras e autores primordiais na luta contra o Epistemicídio1.
Devido à pandemia da Covid-19, as reuniões iniciais, bem como as ações do Núcleo, ocorreram em boa parte do ano através de videoconferências à distância e nas redes sociais. O Núcleo é dividido em grupos de trabalho: inglês e eventos/comunicação. Os chamados grupos de trabalho oportunizam vivências acadêmicas através de ações voluntárias e qualificadas. Durante o ano de 2021, essas atividades se desenvolveram através da articulação de ideias propositivas e, consequentemente, da execução dessas ações.
As análises e debates entre o Núcleo durante o ano foram
propostas e executadas pelo coordenador Lucio Almeida com 1 Alan Alves Brito - Professor no Instituto de Física e Pesquisador do Núcleo de Estudos Afro - Brasileiros, Indígenas e Africanos define o termo como sendo estruturas opressoras formadas pela colonização do pensamento que exterminam os corpos de pensamentos africanos. (GARIGHAN, Grégorie. Epistemicídio e o apagamento estrutural do conhecimento africano. Jornal da UFRGS, 2021.
Disponível
em:
https://www.ufrgs.br/jornal/epistemicidio-e-o-apagamento-
estrutural-do-conhecimento-africano/. Acesso em: 25 jan. 2022.)
22 | D e s a f i o s p a r a u m D i r e i t o A n