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O Sequestro
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E-book122 páginas1 hora

O Sequestro

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Sobre este e-book

Rafael e seus amigos envolveram-se em uma sedutora brincadeira. O rapaz foi sequestrado e, quando recuperou a liberdade, descobriu que seu pequeno mundo havia acabado. Mas o destino lhe daria a chance de estar frente a frente com as pessoas que haviam mudado tudo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de out. de 2020
O Sequestro

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    O Sequestro - Joselita Alves Ribeiro

    PRÓLOGO

    Depois de ler a carta, Rafael ficou sentado na poltrona, com os olhos perdidos no horizonte avermelhado pelo pôr-do-sol.

    "Muitas vezes eu me perguntei, nestes últimos anos, o que eu faria se os encontrasse de novo. Realmente, eu não acreditava que a vida me desse essa chance. Eles foram muito espertos, mas eu os encontrei.

    -Levanta, vagabundo! Se eu tiver que entrar aí, te cubro de porradas! ’

    Quantas vezes aquela voz horrível esteve em meus pesadelos? E aqueles olhos frios, que me encaravam como se eu fosse um verme? As armas, os cães ferozes, aquela cela… será que eu merecia tudo aquilo?

    Eu jurei a mim mesmo que, se um dia eu encontrasse qualquer um deles, eu bateria tanto no desgraçado, que nem a mãe dele o reconheceria mais. Na minha fantasia, eu os matava feito baratas..."

    O rapaz olhou mais uma vez para a carta em suas mãos.

    Mas agora, sinceramente, eu preferia que não os tivesse encontrado jamais...

    "Qualquer macho pode fazer filhos, mas somente um homem pode tornar-se pai. "

    Anônimo.

    CAPÍTULO 1 – Num passado não muito distante.

    Tinha sido uma festa e tanto na casa da Claudinha. Ele levantou a cabeça do travesseiro e olhou para o relógio, sem vontade de sair da cama.

    "Duas da tarde! Perdi a aula, de novo! Vou ouvir mais uma ladainha da mamãe! Que saco!"

    Ele forçou seu corpo a se levantar e saiu da cama, trôpego, com as pernas bambas, a cabeça rodando, meio enjoado e fedendo a suor rançoso.

    "Talvez, se eu tomar um banho, isso melhore".

    O rapaz apoiou-se no espelho do armário e, a imagem refletida, era lamentável: um adolescente de dezessete anos, magro, de cabelos castanhos, lisos e feições agradáveis, mas com profundas olheiras e bastante abatido. A barba, já crescida, sombreava levemente o seu queixo. Ele arrastou-se até o chuveiro e deixou a água morna escorrer pelo corpo.

    Minhas costelas estão aparecendo.

    O mal-estar diminuiu um pouco e ele foi direto para a cozinha, para dar uma olhada na geladeira. O pai estava lá, tomando um cafezinho antes de voltar para a fábrica. Era um homem alto, de corpo sólido, que não aparentava os cinquenta anos que tinha, a não ser pela calva pronunciada e, embora pesado, ele não era gordo.

    -Bom dia, vagabundo!  Dormiu bem? Sonhou com os anjinhos? – ele perguntou, sarcástico.

    Rafael preferiu não dar resposta. Ultimamente, as suas relações com ele iam de mal a pior.

    O rapaz procurou alguma coisa doce na geladeira, encontrou um pote de geleia e meteu a mão nele, enfiando punhados na boca. Ele comeu tudo, lambeu os dedos e voltou à caça de outro pote, mas a porta se fechou, repentinamente, quase trancando os dedos dele e Rafael se deparou com os olhos fuzilantes da mãe.

    -Ai, mãe, pelo amor de Deus, hoje não!

    -Rafael, não vou passar sermão, só estou avisando que, se faltar mais uma vez ao curso, eu vou tirar você de lá! – ela afirmou e virou-lhe as costas, pisando duro em direção à sala.

    Ela sempre dizia a mesma coisa e nunca havia cumprido a ameaça. Baixinha e um tanto gorducha, ela tinha um jeito meio bamboleante de caminhar que a fazia parecer uma patinha. Duas covinhas enfeitavam seu rosto e tornavam ainda mais bonito o seu sorriso.

    "Se ela soubesse que este ano também já está condenado..."- o garoto pensou, entre divertido e apreensivo. "Merda, preciso ligar para o Cebola! Ele estava bem chumbado, ontem" – ele lembrou-se, subitamente, correndo para o telefone da sala.

    -Oi, o Cebola está? Não chegou ainda?! - "Meu Deus, o que aconteceu com o Cebola? " – ele pensou, enquanto ouvia a voz alarmada da mãe do amigo, do outro lado da linha.

    Jorgina havia colocado um prato à sua frente, com bife, arroz e batatas fritas, acompanhado por com um copo de suco de laranja. Jorgina era uma mulata clara, de formas arredondadas e dentes acavalados, doméstica da família há vários anos.

    -Tive que aquecer tudo de novo, para você!

    Ele nem sequer a ouviu, apenas engoliu o suco e saiu voando do apartamento. O Cebola morava no condomínio ao lado do seu, um prédio de doze andares. O porteiro do edifício, um nordestino idoso e muito mal-humorado, deu-lhe notícias do amigo.

    -Ele está lá em cima, no salão de festas. Chegou aqui de madrugada, embriagado ou drogado, sei lá. Só sei que não dizia coisa com coisa, nem conseguia parar de pé. Joguei ele lá e tranquei a porta, para que se curasse do porre – o homem falou, de cara amarrada. –Vocês estão sempre arrumando encrenca para os seu pais, são um bando de vira-latas, precisam é de chicote!

    Eles o encontraram o Cebola desfalecido, todo vomitado, mijado, de boca aberta, emitindo um barulho estranho, como de água passando pelo gargalo de uma garrafa. Rafael chamou a mãe do rapaz, que ficou enlouquecida ao ver o estado do filho. Quando a ambulância chegou, tiveram que medicá-la também, antes de levarem o Cebola para o hospital.

    A mulher, fora de si, gritava como uma possessa.

    -Cão danado, maconheiro desgraçado, amaldiçoado, você e o seu bando são os culpados pelo estado do meu filho! Eu vou botar vocês todos na cadeia! Vocês desencaminharam o meu menino! – ela ameaçava, com os olhos esbugalhados e os punhos cerrados, tentando atingir Rafael.

    O porteiro mal conseguiu contê-la. Foi uma cena assustadora.

    E se ele morrer? Cruzes, eu não posso nem imaginar essa possibilidade! Eu sou o único menor de idade e acho que vão jogar a culpa toda em mim, esses sacanas –Rafael ruminava, assustado.

    Os rapazes pertenciam à classe média carioca e moravam em condomínios na Zona Sul do Rio de Janeiro. Todos eles tinham acesso a gordas mesadas, carros, motos e levavam uma vida bastante despreocupada. Eles haviam crescido juntos, frequentado os mesmos colégios, participado das mesmas farras e brincadeiras e quatro deles já estavam na faculdade. Só Rafael continuava a fazer o cursinho preparatório, porque não conseguira aprovação no último vestibular, mas era ele quem liderava as brincadeiras e armações do seu grupo de quatro amigos gozadores.

    Mauro - o Cebola - era um jovem surfista de dezoito anos, que estava sempre mastigando alguma coisa e devia seu apelido ao gosto por cebolas cruas nos sanduíches. Era o amigo mais antigo de Rafael e vizinho dele. Os dois se conheciam desde o curso primário e estavam sempre juntos nas brincadeiras e no gosto pelo surf. O maior sonho do Cebola era surfar no Havaí, mas havia sido aprovado no vestibular para Economia e adiou a viagem.

    Já Fernando - o Nando, era o intelectual do grupo: um rapaz alto, dois anos mais velho que Rafael, um estudante de jornalismo, tinha sempre alguma frase de efeito para mostrar sua superioridade mental sobre os imbecis que o cercavam. Muito inteligente, adorava jogos desafiadores e era craque no xadrez. Ele não era fã de esportes, preferindo exercitar o mais forte dos músculos: o cérebro. Quase um NERD, mas seus conhecimentos sempre ajudavam o grupo a sair das encrencas.

    Para Samuel, o Samuca, o futuro seria feito de bits e bytes.

    -Estou avisando: no futuro não haverá advogados, nem médicos, nem economistas! O computador fará tudo e eu serei o chefe de todos vocês! –ele afirmava e levava tabefes de todos.

    Com a mesma idade do Nando, Samuca era magro e baixinho, de origem oriental e tão fanático por videogame quanto Rafael. Ele já estava frequentando uma escola superior de Informática, onde era o melhor aluno.

    Quanto ao Eduardo Maranghello – o Maranga – era o mais ingênuo do grupo e alvo de todas as brincadeiras. Com dezoito anos, era um bonito rapaz de maneiras tranquilas e fala mansa, um futuro advogado. Considerado charmosíssimo pelas mulheres, era usado sistematicamente como isca para conseguir garotas para as noitadas do grupo. Mas, afetivamente, era o mais carente, pois seus pais estavam sempre ausentes, em viagens pelo exterior. Ele contou para Rafael que a única mãe que ele conhecia era a velha babá que o criou desde pequenino. O rapaz via, no grupo, a família que ele nunca tivera e costumava pernoitar na casa de algum deles, quando seus pais saíam para mais alguma longa viagem e ele não queria ficar sozinho. Maranga tinha especial apreço pela família do Rafael porque a mãe do amigo sempre o mimava, quando ele aparecia por lá.

    A turma se reunia todos os dias, após as aulas, para ir à praia, assistir vídeos, jogar videogames ou, simplesmente para conversar, na casa de algum deles ou em algum barzinho na praia.

    Em uma dessas tardes, Samuca comentou que o Maranga tinha "olhos de sanpaku".

    -O que são olhos de sanpaku?

    -São olhos cuja íris não chega até à pálpebra de baixo. Aparece muito o branco do olho.

    -Tipo olhar de peixe morto? – o Cebola

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