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Um Pequeno Príncipe
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E-book150 páginas2 horas

Um Pequeno Príncipe

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Sobre este e-book

Jovem, indignada com o preconceito da irmã contra o sobrinho, inventa uma origem nobre para o menino e se envolve numa rede de mentiras que ninguém sabe onde vai parar. Mas o destino vai se encarregar de provar que, muitas vezes, a verdade se veste de mentira.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de set. de 2020
Um Pequeno Príncipe

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    Um Pequeno Príncipe - Joselita Alves Ribeiro

    PRÓLOGO

    -Por favor, pessoal, eu tenho algo importante para revelar. Acho que chegou a hora de todos saberem quem é o pai do Bruninho. Elvira pediu-me que não contasse isso ao menino, antes que ele tivesse idade para entender. Mas, já que a Eulália resolveu adiantar o serviço, de maneira tão odiosa, eu acho que posso ser indiscreta. Bruno é filho de príncipe.

    Eulália não conteve uma risada e até o Arnaldo ensaiou um breve sorriso de descrença.

    -Que é isso, filha? Está maluca? Que príncipe? – o pai perguntou, surpreendido.

    -Príncipe aqui, nesta cidadezinha? – Eulália provocou, rindo.

    -Pode rir, mas esta cidadezinha abastece o Brasil inteiro, com as mais belas flores que o país cultiva e atrai visitantes do mundo inteiro. O pai do Bruno veio aqui para o Festival das Flores, já que o seu hobby é a jardinagem.

    -Um príncipe jardineiro?! Mas quem é o figurão? – Eulália debochou, se divertindo.

    -Dom Miguel de Orleans e Bragança, da família real brasileira, descendente de Dom Pedro II. – Eunice revelou. "Jesus, o que é que eu estou dizendo?" –a moça pensou, espantada com a própria audácia.

    Era apenas uma bravata, mas Eunice não tinha ideia da complicação em que se meteria, por causa dela.

    "Não ser descoberto em uma mentira,

    é o mesmo que  dizer a verdade."

    Aristóteles Onassis – armador grego – 1906 - 1975

    RESEDÁ

    Ela tirou a chaleira do fogo, despejou a água na xícara e o perfume verde do chá difundiu-se pela pequena cozinha. Finalmente, um tempinho para sentar e descansar das lides domésticas. De onde estava, ela podia ouvir o ram-rem da rede no varandão, onde seu pai tirava a sua soneca vespertina. A casa estava quieta e limpa. Bruninho dormia como um anjo em sua caminha. Ouvia-se o pipilar dos pássaros no jardim, à cata de comida, e quase se podia ouvir o tique-tique das agulhas de tricô da mãe, que tecia mais um blusão para o neto, sentada ao lado da rede, para aproveitar o calor do sol invernal. Eunice adorava esses poucos momentos de sossego e solidão. Era quando conseguia ouvir seus pensamentos e seu coração, que tinha estado bem pesaroso, ultimamente.

    Tudo por causa daquela peste! - ela lembrou- se, indignada, da irmã mais velha.

    Eulália sempre tinha sido uma pedra no seu sapato, desde menininha. Por ser a mais velha, ela exigia respeito das três irmãs, que não lhe davam a mínima atenção. Aí ela partia para a ignorância, dando cascudos, petelecos e sopapos nas demais. Eugênia apanhava e chorava, Elvira corria, mas Eunice revidava à altura e, mesmo sendo a mais nova, atracava-se com ela, mordia-a, arranhava-a, chutava-a e puxava seus cabelos, até arrancar punhados. Os rounds duravam pouco, pois, logo aparecia alguém para separar as contendoras. Eulália tentava posar de anjo para os pais, mas as irmãs prestavam depoimento, como testemunhas de acusação, e a peste ficava de castigo.

    Isso durou até à idade adulta, já que Eulália se intrometia até nos namoricos das irmãs, provocando mil e um problemas para os pais, que sempre precisavam intervir para evitar uma batalha campal.

    "Só conhecemos a paz quando a bruxa se casou com o infeliz do Arnaldo, que não tem voz ativa dentro de casa..." – Eunice lembrou, bebericando seu chá.

    Eulália, Arnaldo e seus insuportáveis rebentos haviam se mudado para Resedá e agora frequentavam a casa, todo domingo, para filar a macarronada da Eunice e os doces da avó. Infelizmente, nem a maternidade, nem a maturidade haviam conseguido amenizar o gênio insuportável da Eulália e, embora ela já não se atrevesse a atacar Eunice fisicamente, seu sarcasmo grosseiro ainda conseguia tirar a irmã do sério. A moça havia se comprometido a relevar as provocações da irmã, em nome da paz familiar, e passou a ignorar as piadinhas e ironias da megera, que criticava tudo, desde o corte de cabelo dela até o molho da macarronada.

    Eunice havia mantido a sua palavra por bastante tempo, mas, o último domingo, tinha sido a gota d'água. Ela estava absolutamente farta das agressões da irmã.

    Eulália, Elvira, Eugênia e Eunice eram filhas do casal Efigênio e Elenice Lisboa – a dona Nena. Ele era um modesto funcionário público e ela uma dona de casa, que moravam em um sobradinho simples, mas bem conservado, situado próximo ao centro comercial de Resedá, pequena cidade do interior de São Paulo, a poucas centenas de quilômetros da Capital,

    A cidade devia seu nome aos lindos resedás, que enfeitavam as calçadas das ruas e as divisórias das avenidas, com suas encantadoras flores em cachos róseos, brancos ou lilases. No verão e outono, eles se tornavam uma das maiores atrações da cidade. E todos cuidavam das árvores, como um patrimônio local. Aliás, a economia do município estava baseada na floricultura. As flores eram cultivadas, tanto para abastecer o mercado interno – a indústria de perfumes – como para exportação, que era o forte da cidadezinha.

    O lugar pouco havia mudado, desde a sua fundação por suíços e holandeses, há pouco mais de 150 anos. As charretes e carroças ainda abasteciam os moradores com hortaliças, pães caseiros, queijos, doces, compotas e linguiças coloniais. E as pequenas feiras, que se realizavam em algumas ruas durante a semana, eram uma festa para os olhos e os estômagos, pela diversidade de produtos oriundos do trabalho dos colonos. As meninas adoravam acompanhar a mãe nas feiras, já que sempre ganhavam alguma coisa: um aventalzinho bordado, uma boneca de trapos, ou um pacotinho de biscoitos artesanais

    Para sustentar a filharada, dona Nena tricotava roupas para vender e seu Efigênio fazia bicos como eletricista. A mãe utilizava receitas criadas por sua bisavó, e conseguia colocar toda a sua produção nas lojas locais, principalmente aquelas situadas no perímetro turístico da cidade. 

    Com seus esforços, eles conseguiram transformar o velho sobrado em um ninho de amor e proteção para as filhas, um porto seguro para onde todas corriam, sempre que a vida lhes mostrava a sua face mais amarga. Aquele sobradinho era o castelo das quatro meninas, habitado por um bondoso rei, casado com uma bela rainha. E elas guardariam para sempre, em seus corações, a lembrança de uma infância simples, mas encantadora.

    E, de todas as alegrias domésticas, as domingueiras eram as mais esperadas, porque o casal se esmerava em fazer, daquele dia, o melhor da semana. Os preparativos começavam cedo, às vezes, na véspera: o pai armava uma mesa de cavaletes no varandão da casa – um espaço coberto de telhas aparentes, de frente para o jardim-pomar – e ali reinava a mesa improvisada, com todas as cadeiras da casa.  Um velho banco, alto e comprido, disposto sob a janela da cozinha, servia de aparador para os doces que a mãe fazia, especialmente para aquele dia. A comida era sempre um espetáculo à parte: macarronadas, empadões, galinha assada com frutas, saladas coloridíssimas e os doces da dona Nena, tudo muito enfeitado, porque "também se come com os olhos", como dizia a boa senhora. 

    Mas a atração maior era uma guirlanda de luzinhas de Natal, que o pai colocava entre os travões da peça, para ligar quando caísse a noite.

    E não faltava música também, geralmente por conta de algum dos velhos amigos de solteirice do pai. Assim, quase sempre se ouvia um violão tocando uma seresta ou um cavaquinho empenhado em um chorinho. Quando nenhum deles aparecia, um velho toca-fitas enchia o ar de música e alegria. Por isso, mesmo após as meninas já terem se tornado mães, as domingueiras continuavam muito animadas.

    A FADA MADRINHA

    As meninas adoravam ouvir a história da madrinha Zefinha, contada pela mãe.

    -Conte de novo, mamãe –elas pediam, em coro.

    -Pois, meus amores, isso aconteceu quando a Eulália tinha apenas seis anos e pegou uma disenteria das brabas. A coitadinha quase se desmanchou em cocô e nenhum remédio fazia efeito. Ela ficou tão fraquinha que até já dormia de olhos abertos. Nós ficamos desesperados. Uma tarde, eu não tive mais coragem para ficar em casa e vê-la morrer aos poucos. Por isso, deixei-a aos cuidados da tia Antônia e saí para a rua, sem rumo certo. Foi Deus quem guiou meus passos para a capelinha da praça, onde eu rezei, pedindo auxílio para a minha dor. Na saída, notei uma mulher baixinha, uma negra idosa, de cabelos brancos, sentada na mureta baixa das escadas da capela, tendo ao colo uma cesta de vime. Ela me viu e sorriu, mas eu não consegui sorrir de volta e já ia prosseguindo meu caminho, quando ela me chamou pelo nome. Ela disse que me conhecia da feira livre, porque eu sempre comprava alguma coisa na sua banca de frutas. Eu sentei junto dela e lhe contei a minha triste história. Então, ela me disse que Eulália não ia morrer e me deu um punhado de folhas. Isto é sambuco preto e isto é broto de goiabêra. Faz um chá com essas erva e dá p'rá menina tomá. Ela vai sará - Tia Zefinha garantiu. Eu não acreditei muito, mas fiz o que ela mandou e, na manhã seguinte, Eulália olhou para mim e sorriu. Dois dias depois, ela já estava brincando e recuperando peso. Eu fui à feira para agradecer à tia Zefinha e convidei-a para madrinha de crisma da menina. Nós ficamos amigas e, até pouco antes da sua morte, dez anos depois, ela aparecia para tomar chá e visitar a afilhada. Ela me ensinou a usar as ervas para curar alguns mal-estares passageiros e deixar os remédios de médico para casos graves. Um dia, durante um dos nossos chás, ela fez uma bonita profecia sobre vocês três: as suas menina têm boa estrela, vão sê gente importante. Uma vai chefiá um negócio grande, com muito empregado; ôtra vai se casá com um hômi famoso e tê um fio artista; ôtra vai sê conhecida até nos estrangêro e a ôtra vai sê mãe dum piqueno prince.

    Mas as previsões não se realizaram. Eulália, a mais velha das quatro irmãs, agora era uma mulher de estatura mediana, com cabelos escuros e lisos, olhos negros, grandes, meio saltados e uma boca grande, mas bonita. Ela não era feia, mas não sabia se vestir nem se produzir, o que a fazia parecer bem mais velha do que era e, embora fosse uma excelente dona de casa, seu gênio agressivo punha o lar em polvorosa: era uma verdadeira jararaca.

    Elvira era a estrela da família: pele alva, corpo curvilíneo, cabelos castanho-claros, longos e encaracolados, olhos cor de mel e boca carnuda. Com esses atributos todos, ela já havia ganho vários concursos de beleza na cidade e namorara todos os rapazes de lá. Frívola e preguiçosa, ela recusou-se a continuar os estudos, mas a mãe a obrigou a fazer um curso de cabeleireira e manicure. Ela continuou vivendo com os pais e, além de namorar, trabalhava em um salão de beleza, mas apenas para garantir

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