Quarentena Faz Coisa

De Talita Vasconcelos

Com a cachaça fazendo coisa a gente já está acostumado, mas isolamento social é tão enlouquecedor quanto. Vamos dar uma espiada em como a Emanuelly está se saindo nesse isolamento social, iniciado no final de março. Quarentena também faz coisa que, se contar, ninguém acredita. Dá só uma olhada no diário dela. Só não contem que fui eu que peguei.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 5 de jan. de 2021

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Primeira Semana: É Só Um Recesso Não Planejado...

Quarentena, Dia 01

Praticamente umas férias. Vai durar o quê? Uma semaninha... Quinze dias... Já, já a vida volta ao normal.

Quarentena, Dia 02

Já que vamos ter que ficar em casa, vou aproveitar para colocar em dia as tarefas que venho procrastinando desde... desde... bem, desde sempre. Tipo:

Arrumar meu guarda-roupa – de repente consigo desobstruir a passagem para Nárnia;

Separar as roupas que não uso mais para doação;

Consertar aquela gaveta cujo fundo vive caindo no meu pé;

E ver se consigo fazer algum milagre com aquela sapatilha de pano cor de diarreia que a tia Vilma me deu de aniversário três anos atrás e que eu já esgotei o repertório de pretextos para explicar porque ela nunca me viu usar.

Quarentena, Dia 03

Minha meta para o dia de ontem: fazer tudo o que eu listei no tópico acima.

O que eu realmente fiz: uma panela de brigadeiro e virei a noite colocando em dia as séries da Netflix.

Objetivo a alcançar nesse isolamento: focar na realização de todas as tarefas que eu realmente preciso fazer.

Mas posso começar amanhã, né?!

Quarentena, Dia 04

Ok, admito, não sou boa em manter o foco. Minha próxima meta será focar em aprender a manter o foco. Vou até fazer uma lista de tarefas para me ajudar a manter a rotina em ordem.

E agora que eu estou reparando que ainda não tirei os enfeites de Natal da varanda... Acho que vou começar por aí.

Quarentena, Dia 05

Check-list das tarefas diárias:

Limpar a casa (feito)

Tomar sol (fiz ioga na varanda – isso se chama otimizar o tempo; feito)

Comprar comida (NÃO ESQUECER: a ração do Piripaque está acabando; feito)

Comprar álcool gel (caro pra chuchu, mais difícil de achar que o Wally, mas feito)

Terminar o roteiro do teatro (feito)

Dedicar duas horas para leitura (me empolguei e li três horas; feito)

Uma hora de malhação (malhei o cérebro uma hora a mais com a leitura; mente sã, corpo são, então, feito)

Lavar a roupa (ninguém vai morrer se eu deixar essa tarefa para amanhã)

Filmeeeeeeeee!!!! (feito, feito, feito!)

Quarentena, Dia 06

Aquela maldita gaveta acaba de esmagar o meu dedinho do pé. De novo! Aliás, mais um item para a lista: passar na farmácia e renovar o estoque de curativos. E comprar pregos para consertar de uma vez essa gaveta. Ai!

Quarentena, Dia 07

O Piripaque está desesperado, tadinho. Faz exatamente uma semana que eu não levo meu cachorro para passear. O bichinho hoje ficou quase uma hora correndo para lá e para cá e pulando na direção da porta. Só faltou falar vamos dar uma voltinha, diz que sim, anda sim, vamos siiiiim! (porque, na minha cabeça, meu cachorro implora que nem o Quico). Será que se eu prender a coleira e der umas quinze voltas com ele por todos os cômodos do apartamento ele me perdoa?

Segunda Semana: Ainda Estamos Otimistas!

Quarentena, Dia 08

Fiquei hoje com uma sensação esquisita, quando deu nove horas da noite e a Dona Lourdes, síndica do prédio, não veio encher o saco porque o meu carro estava ocupando a vaga para visitantes na garagem. Isso acontece toda terça-feira, porque os namorados da Karina Periguete insistem em estacionar na minha vaga. Como eu não saí de casa, eles devem ter arrumado outra vaga para ocupar. Ficou faltando alguma coisa para completar a minha rotina diária...

Quarentena, Dia 09

Pronto! Criei vergonha na cara e consertei o fundo da gaveta. Agora preciso comprar outra maçaneta para ela, porque a original acaba de se transformar num quebra-cabeças.

Quarentena, Dia 10

Essa quarentena está deixando todo mundo maluco. Estava saindo para ir ao mercado, e de repente descobri que estou preocupada com a Dona Lourdes. Arranca-rabos à parte, eu sei que ela é hipertensa, e já não é nenhuma garotinha. Deve ser do grupo de risco. Acho que vou dar um pulinho no apartamento dela e perguntar se ela precisa de alguma coisa do supermercado. Não custa nada, né, fazer um favor para uma vizinha tão... marcante.

Quarentena, Dia 11

Finalmente, acho que consegui dar um jeito nas sapatilhas que a tia Vilma me deu. Já que a tinta para tecido não funcionou para melhorar a cara daquele pano cor de diarreia, o jeito foi cobrir tudo com crochê – uma