O Segredo No Lago
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O Segredo No Lago - Sylvia Feitosa
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PRÓLOGO
Uma garota comum com um drama peculiar.
O que nos prende na personagem não é o turbilhão de desencontros entre o amor e sua própria identidade, e sim a torcida para que o drama genealógico que ofuscou sua origem não respingue em seu futuro repetindo a mesma história. Como um quadro pintado à mão vamos construindo o enredo, transformando os salpicos de tinta em esperança, descobrindo juntamente com os personagens uma preciosa moldura.
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Capitulo 01
Gil comtemplava a silhueta bem delineada da mulher parada diante do lago à sua frente. O lugar agora tinha placas indicando a profundidade e um pequeno alerta Proibido pescar
, a advertência em si era um convite tentador já que o lago dançava a luz do sol com suas dezenas de peixes coloridos na água cristalina. Aquele espaço antes fazia apenas parte da história da vila, parte da vida dos moradores daquele lugar, entretanto atualmente era o point
e o ponto turístico para parentes e amigos, e por ter sido citado em uma revista ecológica, agora era singelamente famoso
. E lá estava ela, os cabelos curtos a altura dos ombros como de costume, o corpo esguio projetado displicentemente na direção do lago, a cabeça erguida e, os olhos voltados ao Céu claro e repleto de nuvens que pareciam formar uma imensa mão acolhedora. Dai-me forças pra continuar
, foi o sussurro que saiu dos lábios rosados de Kátia. Gil aproximou-se fazendo o máximo barulho que pode para chamar a atenção. Ela virou-se nada surpresa, ameaçou um sorriso com o canto dos lábios.
4
- Eu imaginei que encontraria minha esposa aqui – Disse ele.
- Eu estava com saudade, não do lago, mas...
dela. Ela adorava vir aqui, era o seu lugar preferido.
- Eu sei querida. – Gil aproximou-se passando os braços em volta da esposa confortando-a. – Sinto muito.
- Todos nós sentimos. Se ao menos eu pudesse saber o que aconteceria com eles.
- Mesmo que soubéssemos, não podemos intervir no destino. Podemos?
- Eu não sei. – Kátia chorava agora. – Só sei que essa dor não passa nunca.
- Vamos pra casa. – Gil afastou-a gentilmente e apertou suas mãos.
5
Dez anos atrás...
A peculiar menina de tranças parecia cantarolar enquanto descia o morro em direção ao riacho onde adorava pescar e esquecer-se quem era. A música talvez fosse era uma casa muito engraçada
. Logo que chegou perto da margem seus amigos inseparáveis de pescaria gritaram saudando-a Por que a demora May? Já peguei uns três!
.
A menina disparou morro abaixo no sol quente segurando com bravura os apetrechos e escancarando
um
sorriso
perverso.
Duvido que sejam grandes! Peixinhos, estou chegando
.
- Psiu! - Esbravejou David - Faça silêncio!
Ela sacudiu os ombros provocando e o garoto mais velho sorriu pelo canto da boca.
Adorava a companhia da menina. Mariana lembrava em algum lugar secreto de sua alma a si mesmo, e desde de que a conhecera decidiu que iria protegê-la como a uma irmã. Apenas que ela mais parecia um garoto travesso do que uma menininha delicada.
6
Enquanto isso naquela manhã...
- Magda alguma notícia?
- Não Hugo. Andei por toda a vizinhança e nenhum sinal dela. Tenho que voltar a organização da festa. Temos poucas horas.
- Vá. Vou verificar com Camila se alguém telefonou e também se ela consegue dar conta das crianças.
- Oh querido, sinto muito! Kátia já ligou inúmeras vezes.
- Isso é ainda pior. Ela continuará acusando-me de ser complacente demais... Vou enlouquecer!
- Calma. Acredito que ela não subiu a montanha junto com aqueles garotos. Este povo do vilarejo fofoca demais.
- Concordo. Mas, matar aula e sumir assim deixando-nos desnorteados... E ela estava ciente da solenidade de hoje. Desta vez ela me paga!
- Bem... Está na hora de uma boa represália, nisto tenho que concordar com Kátia e com metade do nosso círculo social.
- Até você Magda!
- Desculpe Hugo, momento errado pra dizer isso. Também estou atônita e tenho que deixá-lo
7
sozinho com esse dilema. Caso contrário a reunião será um desastre, preciso cuidar dos preparativos.
- Não se importe. Não sei por que, mas, tenho um pressentimento de onde posso encontrá-la.
- Boa Sorte!
- Obrigado e hasta la vista
.
Que belo prêmio a mãe dela me deixou
. Hugo remoía caminhando pela vizinhança tranquila.
Atrás das montanhas havia um lago bem servido de peixes e uma bela vista de arvoredos ao redor.
Um ponto de atração para os turistas na pequena Vila Califórnia.
- Mariana. May!
Uma menininha ruiva, cabelos crescidos até a altura dos ombros, frouxos num rabo de cavalo quase desfeito. Impunha como um soldado uma vara de pescar que pegou dentre as ferramentas do pai, claro, sem que ele soubesse.
David costumava acompanhá-la sempre que ela pedia e tinha um prazer enorme em protegê-la.
Nessas ocasiões também Ralph e Caio. Eles sempre aquiesciam em um mínimo motivo para matar aula.
David sendo mais velho que os três. Tinha certo zelo pela moleca atrevida, costumava mimá-la.
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Geralmente comprava as encrencas dela, mas, valia a pena ver-lhe o enorme sorriso zombeteiro no rosto.
- Mariana puxe!
Naquela manhã um peixe enorme fisgara a isca. A menina transpirava exposta ao sol quente, esquecera de apanhar o chapéu e as faces ficaram vermelhas com o prodígio.
- David! David! Este é pesado, não consigo!
Ah, meninas! Por que insistem em fazer o que não lhes cabe?
Ele zombava divertindo-se com a cena.
- Vou ajudá-la.
Mas...
Antes de mover-se do lugar avistou o rosto zangado de Hugo Kylle. Reitor da pequena Universidade da cidade. Dr. Hugo era formado em psicologia e doutor em filosofia. Lecionara por alguns anos na Faculdade Luterana, mudou-se há quatro anos para Vila Califórnia onde assumiu a reitoria da Universidade.
-Mariana Beatriz!
Ninguém a chamava pelo segundo nome a não ser... o pai!
Gritos e sussurros fundiram-se. David e Hugo chamavam-na.
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O súbito susto a fez lembrar que havia esquecido algo sobre as bodas
e certa comemoração. Sobressaltada e embaraçada por não conseguir tirar o peixe da água, distraiu-se ao ponto de deixar o peixe conduzi-la com puxão para dentro do rio.
David pulou imediatamente no rio. Hugo correu até a beira do lago, mas David já havia resgatado a menina. O Uniforme escolar branco colou-lhe ao corpo. David a segurava pelos ombros.
- Deixe David! Eu consigo.
Tentou ainda com um pouco de dignidade argumentar, mas só saiu algumas incoerências de seus lábios.
- Está Bem!
David revidou contrafeito.
Aquela era boa! Ela agia como se ele a tivesse dedurado ao pai. Se bem, não podia negar que ela estava bem encrencada.
A voz de Hugo ecoou como um alerta supersônico.
- Mariana, vou dizer-lhe só uma coisa, quero você em casa em dez minutos! E não ouse fazer-me esperar nem um segundo a mais!
Friamente após a intimação Hugo virou as costas e foi-se.
- Droga!
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- Venha!
- Vá plantar cebolas!
- Está bem senhorita mula.
- Mula? Mula é...
- Olha!
Ele deveria ter ficado chateado com a grosseria, mas achou muito engraçado ela brigando com a água para alcançar a margem e o rosto rubro, sabendo que a promessa de uma severa reprimenda a esperava.
Ele parecia preocupado se bem que todos comentavam que Hugo só se preocupava com os filhos do segundo casamento e que era extremamente omisso e indiferente a única filha do seu primeiro matrimônio. Ninguém sabia ao certo se a mãe dela morrera ou se o abandonara. O
assunto era tabu até para a pequena Mariana e ninguém ousava interrogar o reitor.
David começou a caçoar dela pra provocar-lhe o gênio indomável. Mas, parou abruptamente quando constatou que ela lutava com as lágrimas.
Sentiu-se um pouco culpado.
David tinha nesta época dezesseis anos e embora ela fosse ainda uma criança indócil, era bonita e tinha algo indecifrável que o atraia, prendendo-o a ela.
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- Desculpe May, quer que eu leve os apetrechos de pesca até sua casa?
- Não! Não te pedi nada!
- Calma!
Embora Mariana fosse a travessura em pessoa, ela não merecia os comentários maldosos das mães recatadas da vila. "Não deixem as meninas na companhia da filha de Hugo, ela é arruaceira.
Imaginem só, uma mocinha que anda pescando e soltando pipas na companhia de meninos. Pobre da madrasta dela, imagine essa mocinha quando crescer..."
Mariana parecia não se importar com o que diziam. Mas seu pai, a tia, Kátia, a irmã de Hugo, e Magda, sua madrasta, já não suportavam ser alvo de comentários maldosos no pequeno círculo social.
- Vai mesmo levar tudo sozinha? Você está molhada!
David se deu conta que o embaraço dela era por causa do uniforme que se moldou ao corpo revelando enuviadamente o algodão rosa de seu lingerie.
Ele deveria ter se divertido com a situação, mas pensou que se alguém a olhasse com maldade ele lhe quebraria o nariz simplesmente. Pegou a
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camiseta de Caio que era bem alto e sem dúvida mais encorpado.
- Vista isso e não discuta!
- Obrigada.
Ela baixou a cabeça e vestiu a camiseta fitando o chão.
- David...
- O que é?
- Por favor, leve para sua casa os apetrechos de pesca do meu pai. Prefiro chegar à