Torta de Cereja: Contos de um Sodalício
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Torta de Cereja - Jasmim H Wynne
Torta de Cereja
Contos de um Sodalício
por Jasmim H Wynne
Oi, oi! Aqui é a Jasmim passando rapidinho para situar sua leitura!
Torta de Cereja é uma coletânea de todos os contos que escrevi para o desafio do Sodalício das Pétalas lá em 2020! Para quem não conhece, temos um desafio onde todo mês (praticamente) soltamos um tema e escrevemos um conto inspirado por ele. Em 2020, todos os temas foram músicas sorteadas, sendo onze no total. Os contos presentes neste livro seguem a ordem postada originalmente e estas foram as músicas:
Human – Rag’ N’ Bone Man
A Rua – Jão
Run Boy Run – Woodkid
Sucker – Jonas Brothers
Sweater – Spencer Sutherland
Rose Petals – S. Carey
Cheguei – Ludmilla
Machine – Imagine Dragons
Chewing Gun – Nina Nesbitt
Take me to church – Hozie
Cake – Melanie Martinez
Para conferir todas as músicas já sorteadas para o desafio do Sodalício, é só visitar nossa playlist ou conhecer nosso projeto no instagram!
Boa leitura!
Copyright© 2022 JASMIM H WYNNE
Todos os direitos reservados à autora. Nem uma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida em qualquer meio existente sem a permissão prévia da autora.
Mais Bela
O som oco o fez voltar de seus pensamentos. A espuma descia pela caneca riscada, acumulando-se sobre a mesa de madeira escura. Ele observou a branquidão que se unia em uma poça rasa, sem muito ânimo de mover os dedos. Sentiu olhos presos a ele e se virou para a moça. Estava observando-a, confundindo a realidade com o encadeamento meândrico de devaneios. Devia ter olhado demais, já que ela pareceu ter notado.
— Aproveite, viajante. — Ela se afastou, o mesmo sorriso nos lábios como se estes não se dobrassem em outro formato.
Não era bonita. Foi o que primeiro notou, bem ao se sentar na mesa ao entrar. Não tinha como ter pensando em outra coisa, a não ser em como era a moça que servia as mesas. O ambiente estava vazio e era tão insosso quanto ele imaginou ser a comida ali. Tinha a aparência barata, daqueles lugares que se visita apenas para não gastar muito e ainda assim conseguir encher a cara. Por isso, e apenas por isso, a aparência da mulher saltou primeiro aos olhos.
Ela se colocou mais uma vez atrás do balcão, muito entretida em sua tarefa de limpar os copos. Todos que trabalhavam naquele ramo pareciam achar graça em limpar as coisas: mesas, balcões, pratos, copos… Era tão entediante que chegava a ser particularmente cômico na cabeça do viajante. Eles eram sempre os mesmos, mudavam os rostos, mas os hábitos não, uma pequena familiaridade em todos as cidades por onde passava.
— Como soube que eu sou um viajante? — A bebida finalmente resvalou seus lábios, um tanto quanto tímida ao se derramar pela garganta seca. A mulher continuou em silêncio, como se o homem tivesse indagado a qualquer outra pessoa, mesmo no ermo escuro do lugar. — Sou tão diferente assim das pessoas desta vila?
Silêncio. O toc-toc dos sapatos dela passearam pelas costas dele e um prato de amendoim foi colocado à sua frente, ao lado da mancha que ficara sobre a madeira. A moça não perdeu tempo e passou o trapo ali também. Sob a pouca luz das luminárias que teimavam em permanecer acesas, naquele ângulo, talvez ela tivesse alguma graça. O nariz despencava reto, perto demais das maçãs do rosto, quase em uma ponte invisível, e então subia novamente em uma pequena elevação charmosa.
— O senhor gostaria de comer alguma coisa?
— Não… Bem… O que me indicaria?
— Está para chover, ficará frio. Um caldo talvez?
— Não vai chover, o céu está muito claro. O que a faz pensar isso?
Ela moveu o nariz como se farejasse algo. Era um gesto débil, muito ligeiro. Uma estranha delicadeza em algo incomum.
— Cheira a chuva. Assim como o senhor cheira a viajante.
A testa dele se franziu, o breve pensamento de ter acabado de ser insultado rodopiou pela sua face, deixando claro que não ficara satisfeito com o comentário.
— Forasteiros se entendem — ela remendou, voltando a limpar a mesa.
A verdade o atacou como lobos famintos. Ela não era dali. Ficava mais e mais claro a cada vez