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Os dias que nos faltam: Serie Stonebridge
Os dias que nos faltam: Serie Stonebridge
Os dias que nos faltam: Serie Stonebridge
E-book337 páginas2 horas

Os dias que nos faltam: Serie Stonebridge

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Sobre este e-book

Depois da pior das mentiras, Anne está disposta a esquecer-se por completo de Reed Blackman. A dor lhe mostrou que não tem que esperar que os outros ofereçam o que ela mesma pode conseguir e desfrutar.

Reed não pôde evitar vê-la ir, mas seu desejo é forte e egoísta demais para oferecer-lhe a liberdade que ela tanto busca. Sabe que se quer recuperá-la terá que aceitar seus desejos e suas novas condições, mas os demônios de seu passado o deixarão desesperado de ciúmes e ele vai se afundar na escuridão.

Anne será capaz de esquecer o ocorrido?
Reed será capaz de aceitar os novos apetites de Anne?
É possível manter o amor quando as coisas mudaram?

É possível manter o amor quando as coisas mudaram?

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento22 de ago. de 2018
ISBN9781547538140
Os dias que nos faltam: Serie Stonebridge

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    Pré-visualização do livro

    Os dias que nos faltam - Diana Scott

    Índice

    Prólogo...

    Um novo dia

    Procurando sem saber

    Sem você

    Só trabalho

    Outra, garçom

    Só lágrimas

    Minha amiga

    Um futuro por escrever

    Regresso

    O templo de suas paixões

    O que desejo

    A lista

    Só comigo

    Encontrando uma razão

    Um mundo de fantasias

    Uma joia por descobrir

    Não se afaste

    Não desperte

    Um dia a menos

    Descobrindo seu olhar

    Novos horizontes

    O fundo

    Entre sorrisos e esperanças

    Só por você

    Verdade oculta

    Confissão suspeita

    A seu lado

    Epílogo

    Prólogo...

    Central Park Stonebridge

    Pouco se pode ver do campo. A luz de um poste de luz envelhecido emoldura três figuras que tentam se esconder de sua própria maldade. Árvores como gigantes hercúleos ocultam o brilho das estrelas e mascaram o som de uma conversa que ameaça com morte e dor. O vento frio da noite pareceu descobrir a intenção das palavras porque bufou irritado tentando acalmar as vozes.

    — Você vai viajar para Paris essa mesma noite. Não podemos perder mais tempo.

    — Paris?

    — Sim. Ali estarão te esperando.

    — É muito cedo. – o loiro de dois metros e com uma grande cicatriz parecendo uma coleira rugiu nervoso.

    — Você vai pra onde te mandarem! Vai se reunir com meus contatos. Vai fechar a porra da boca ou eu mesmo vou fechá-la. – A voz raivosa ressoou no parque.

    —Você não ser meu chefe! – O loiro ergueu as costas tentando se impor – Você não me manda!

    — Me coloque à prova – o Relojoeiro endureceu a mandíbula – e verá como te fabrico uma caixa de Pinheiro com minhas próprias mãos.

    Seus olhos acinzentados como chumbo líquido resplandeceram de ódio. Os punhos se fecharam dispostos a lutar e seu corpo ficou tenso pela espera. O Relojoeiro estava precisando mesmo de uma boa briga e dava pra perceber.

    O grandalhão, conhecedor de suas vantagens físicas esperou ansioso o golpe. Desejava arrancar-lhe de uma só vez aquele maldito sorrisinho de perfeito sabe-tudo.

    — Genrikh! – a ordem prendeu o gigante em seu lugar.

    O segundo valentão, aparentando um pouco mais de tranquilidade só precisou de um olhar para que o colosso ficasse a um lado e calasse a boca como um cordeirinho.

    — Relojoeiro... Esses não serem os planos. Você mudar por quê? – perguntou com uma falsa calma.

    — Paris é a oportunidade perfeita para converter o Fabergé em dinheiro. Genrikh viajará sem demora e se reunirá com meu contato. O receberão sem fazer perguntas. Em menos de vinte e quatro horas seremos asquerosamente ricos.

    O chefe sorriu, mas com suspeitas. Ele e o Relojoeiro trabalhavam juntos há anos, mas ultimamente esse patife já não era o mesmo. Matar aquele arqueólogo avarento o mudou, e não para melhor. Teria que ficar alerta.

    — Misha, você tem que se assegurar de que minhas instruções sejam seguidas ao pé da letra. Se esse estúpido foder com tudo, eu mesmo o matarei. – Relojoeiro cuspiu sem delicadeza ao grande chefe.

    Genrikh bufou furioso enquanto se lançava sobre o Relojoeiro. O corpo de Misha o deteve novamente e o titã bufou como um touro de Miura¹

    — Genrikh ser um dos meus melhores homens e eu confiar nele. Se duvidar tanto, porque não viajar você mesmo? – sorriu com valentia enquanto cruzava os largos braços ressaltando seus fortes bíceps.

    — Imbecil! Eu faria se pudesse. – seus olhos injetados em sangue se acenderam como ferro ardente e dessa vez foi Misha quem se aproximou do Relojoeiro com passos lentos.

    — Você baixar o tom comigo ou não contá-lo duas vezes.

    — Então não diga estupidezes! – gritou raivoso – Você conhece os motivos que me prendem aqui. Se encarregue de que o Fabergé chegue a seu destino e que minhas instruções sejam seguidas ao pé da letra ou estaremos atrás das grades em menos de vinte e quatro horas. Misha, se eu cair, você me segue.

    — As grades não nos assustar. Não poder conosco. – Genrikh respondeu com um brilho em seu olhar.

    — Mas eu sim, e se algo sair mal, irei atrás de você e da vadia da sua namorada.

    O Relojoeiro se virou sem medo da descarga de fúria do titã que novamente foi detido por seu chefe. O ladrão foi embora coberto pela escuridão da noite e com a morte de um amigo, que ainda não conseguia superar, sobre suas costas.

    — Misha, eu matar ele. Relojoeiro não ser de confiança. – Genrikh imaginou a cabeça do Relojoeiro em uma bandeja e sorriu de canto.

    — Ainda não. Quando chegar o momento, vamos nos desfazer dele.

    O titã assentiu. Subiram no carro e organizaram seus próximos passos. Genrikh devia ir a Paris o quanto antes e concluir o plano. A venda do Fabergé simbolizava muitos milhões para todos.

    Não muito longe dali...

    Reed

    Você não pode fazer isso comigo, não pode... Fiz tudo isso por você.

    20:50

    Reed

    Não posso suportá-lo. Diga-me onde você está ou vou enlouquecer.

    20:55

    Reed

    Sabe que precisa de mim e eu de ti, ambos nos compreendemos...

    20:57

    Reed

    Sou um imbecil, mas você sabe o quanto te amo. Minha garota, volta pra mim.

    21:00

    Reed

    Foster! Não posso te perder. Mas que merda, RESPONDE.

    21:05

    Reed

    Me bate, me xinga, me odeia. Mas aqui, ao meu lado...

    21:10

    Reed

    Onde você está? Não consigo te encontrar.. Me diz onde você está? Vou te buscar seja onde for.

    21:30

    Reed

    Estou enlouquecendo. Não sei mais nem meu nome. Tenho que te ver...

    21:48

    Reed

    Não vou te perder. Não dessa forma. Se pensa que isso acabou está muito enganada. Algo como o que temos não se termina desaparecendo.

    21:59

    Reed

    Puta que o pariu, Anne... JÁ CHEGA!

    22:07

    Silencio o celular e permito que a noite com todas suas variedades de solidão me envolva. O colchão afunda sob meu peso tentando abrigar um corpo machucado demais para se curar com um simples descanso. Uma linda xícara de cerâmica traz em si um chá escuro, que ainda fumega sobre a mesinha de noite e o qual sou incapaz de beber.

    É curioso, mas já não tremo, o frio percorre meu corpo, mas não o sinto. Os pensamentos fazem minha cabeça rodar e o estômago revira enojado, mas sem poder vomitar. Tento fechar os olhos e descansar, mas tampouco posso. As imagens de lembranças vívidas inundam meu cérebro. Não falam, simplesmente me torturam uma e outra vez recordando meu terrível erro. A lembrança de seu olhar, seus gritos desesperados sob a chuva, seus braços suplicando perdão, a dor do engano. Todos eles se amontoam em minha mente apontando a imensidão de minha estupidez. Jurou que me amava e eu acreditei. Me disse que era a primeira e aceitei. Sonhei com seus braços e o adorei. Voei com suas carícias de amor e me espatifei.

    Aperto minha cabeça entre as mãos para sustentá-la enquanto a luz da lua clareia meu quarto. Com certeza é muito tarde e Jane está dormindo, a pobre mulher quase desmaiou ao me ver. Imagino que encontrar sua irmã no portão de sua casa, em estado de choque e completamente ensopada, não é algo fácil de digerir. Só comigo que acontecem essas coisas. Não tenho direito de desesperá-la com meus problemas e muito menos de preocupá-la dessa forma, mas em minha defesa tenho que dizer que não estava em condições de pensar além da minha própria vergonha. O que foi que disse quando abriu a porta? Cheguei a me explicar ou simplesmente caí em seus braços, desmaiada? Como fui capaz de chegar até sua casa sem desmontar pelo caminho? Isso é um pesadelo.

    Tento me levantar com a ajuda dos travesseiros, mas não posso, a tontura só me permite sentar na borda da cama. Abaixo a cabeça e experimento respirar devagar, mas não tem jeito, a pressão no peito não me permite. É um infarto! Tem que ser, porque nada pode causar tanta dor no coração. Não! Não penso em gritar. Se for morrer o farei em silêncio, já demonstrei ser patética demais para agora morrer com tão pouca dignidade. Inspiro, suspiro, respiro e volto a inspirar. As lágrimas brotam novamente como cataratas. Não, não é um infarto... Minhas dores não pertencem à carne, minha angústia é própria daqueles que entregam seu amor a quem nunca deveriam olhar. John e seus maus tratos conseguiram me afundar na miséria, mas Reed me apunhalou mortalmente.

    Quantos te amo falsos me assegurou sentir? Quantos suspiros de prazer aceitei como reais sem ser? Olho para a janela e meus olhos ficam cobertos de lágrimas, outra vez... E eu que pensei estar seca por dentro, no entanto sigo aqui, chorando, sem saber quando vai acabar.

    Durante um tempo sonhei com uma vida que acreditava merecer, sonhei com as flechas do cupido e o sorriso de um anjinho do amor que me olhava encantado... que iludida. Estarei destinada a colecionar espinhos de amor?

    Você não serve pra nada. Maldita mulher que não faz nada bem. Mais estúpida que a mais estúpida das baratas. Não sabe nem dar uma mamada que preste!. Essas eram suas palavras antes de me acertar um de seus golpes. John não errou nenhum. Sempre me neguei a acreditar em suas afirmações, mas em dias como hoje a realidade se confunde em meu próprio mar de inseguranças. Estúpida ou enganada, e isso o que importa quando o resultado é o mesmo fruto envenenado. Acreditei em galãs de novelas românticas, desses que te prendem desde as primeiras páginas e que finalizam com um te amo apaixonado, mas, para variar, só encontrei com uma caricatura de minha própria vida. É possível ser mais idiota? Sonhei com o amor e a vida me esbofeteou com um saco de dolorosas mentiras. As mulheres como eu não nascemos para ser amadas, somos dessas que sempre olham a felicidade na calçada da frente, dessas que por injusto desígnio divino, existimos para observar a fortuna passar, não importa o quanto corramos, nunca conseguiremos alcançá-la.

    Me levanto sem forças e tento caminhar. As pernas me sustentam, mas não sei muito bem como. Se dependesse de mim ficaria na cama eternamente. Com muito esforço chego à janela e consigo abri-la, inalo o ar frio da noite e me resigno ante o fracasso. O zunzum de uma cidade adormecida me lembra que ainda estou viva, mesmo que meu coração não seja capaz de percebê-lo. Devo me esforçar. Sei que tenho que sair dessa. Não posso me permitir cair. Não outra vez, mas como?! Levanto o olhar para o céu escuro procurando por uma resposta, mas ninguém responde, nem anjos, nem demônios. Parece que ninguém me ouve. Qual é meu carma para ter semelhante castigo? Por que eu? Eu só procurei um doce minuto de amor...

    Chamada através do Skype.

    Doutora Brenda Klein chamando.

    As mãos tremem para atender. Não quero perder a chamada. Preciso falar com Brenda.

    — Doutora Klein. Obrigada por responder minha mensagem.

    — Querida Anne, a essas horas creio que podemos quebrar as formalidades paciente-doutor e pode me chamar simplesmente de Brenda. – disse depois de um grande bocejo.

    — Sinto muito te incomodar a essa hora.

    — Não se preocupe. Está incluso nas cem libras por hora.

    Sorri sem vontade. Brenda Klein é uma psicóloga das mais importantes do país, mas comigo não ganha um centavo. Pertenço ao grupo de mulheres vítimas de violência Regional C. Sou uma das dez mulheres que Brenda cuida pela simples vocação e coração puro. Quando cheguei ao grupo, não tinha certeza se era o lugar certo para mim, inclusive estive a ponto de ir embora, mas o radiante sorriso da doutora Klein me convidou a entrar. Ela começou a me tratar faz pouco mais de um ano e é a responsável de que acredite que minha vida ainda vale algo, ainda que eu persista em esquecer.

    — Bem, como verá, tenho uma boa xícara cheia de café, então pode disparar sem medo.

    Levanta a mão e com um sorriso em potência máxima, me mostra pela câmera uma enorme caneca com a frase Porque Você Vale a Pena.

    — Me enganou e sinto que vou morrer... – a voz quebrada sai sem pensar.

    — Intuo que estamos falando desse novo homem em sua vida.

    — Sim, falamos de Reed Blackman.

    Brenda se reúne comigo uma vez por semana e se encontra a par de minha relação sentimental, e os supostos progressos que em teoria estava conseguindo no último ano.

    — Acreditei nele como uma idiota, mentiu pra mim. Disse que me amava, mas a única realidade é que vai casar com outra.

    Brenda tosse engasgada com o último gole de café.

    — Ele mesmo te disse?

    — Não. Descobri da pior maneira. Vi os dois com meus próprios olhos...

    — Entendo. – A doutora Klein apoiou a caneca e esperou uns segundos intermináveis antes de perguntar – E você o que pensa disso?

    — O que penso disso? O que quer que eu pense?! Penso que sou a maior das imbecis. Achei que um homem irresistivelmente atraente poderia estar interessado em alguém como eu. Achei que seus sentimentos eram reais e agora me sinto completamente destruída. Isso é o que penso.

    — Por quê?

    — Por que o que? Brenda, você bebeu?

    — Só café. – Responde com indiferença diante de meu desespero.

    — Então por que me pergunta algo assim? Como você se sentiria se o amor da sua vida te enganasse?

    — Não estamos aqui para falar da minha vida e sim da sua. Volto a te perguntar. O que está sentindo? – suspiro resignada e com umidade nos olhos tento responder.

    — Tristeza, medo, dor, covardia...

    — Responsabilidade?

    — É minha culpa! Eu acreditei nele. Me deixei enganar.

    — Anne, você é uma espécie de Deus ao que nada escapa? Tem algum poder especial para detectar mentiras?

    — Não, claro que não, mas eu tinha que... – me corta sem me permitir continuar com meu discurso vitimista.

    — Minha querida, não tinha que nada. Mentiram pra você como a milhares de pessoas diariamente. Você não é idiota, nem imbecil, nem nada semelhante. É uma mulher como todas, uma que não merece a dor como castigo de nada. Seus sentimentos te desesperam e ainda que os tenha enumerado perfeitamente, sempre se originam na mesma base, a culpa. Pensa que te falta valor e que não merece o amor de um homem bonito, mas imagino que os resultados seriam os mesmos com um muito pouco agraciado. O maior de seus problemas não são os sentimentos dele nem as mentiras, mas seu constante sentimento de culpabilidade.

    — Mas não te contei a história toda, se me escutasse... – balbucio tentando escapar da verdade.

    — E não preciso. Não me interessa saber as razões do Reed para mentir para você. Estamos aqui para que descubra suas próprias razões. A vida te dará golpes e mimos de forma intermitente e contínua, mas tudo isso não é parte de nenhum castigo ou recompensa de ninguém. John te bateu e você não merecia. No passado você não teve como se defender, mas não foi por falta de valor. Ele foi o abusador, não você. Reed te enganou, mas a mentira é responsabilidade dele e não sua. Me conte, você continua escutando essa voz interna que opina branco e preto ao mesmo tempo?

    — Sim. Às vezes... Mas isso é algo muito comum nas mulheres. Somos assim, não? – tento me desviar pela tangente.

    — Anne, me escute bem. Pratique seus exercícios, controle sua mente, reforce sua autoestima e controle seu lado Mr. Hyde destruidor. Você conseguiu crescer profissionalmente pelo que você vale. Agora é o momento de trazer à tona seu eu interior. Com ou sem Reed Blackman você é uma mulher inteligente, se ele não viu isso, não é problema seu. Você vale muito, é inteligente, foi sincera e é a dona de seu próprio destino. Não ceda o controle de sua vida a mais ninguém além de seu próprio coração.

    As lágrimas escorrem silenciosas por minhas bochechas enquanto tento digerir cada palavra.

    — Querida Anne, você se apoiou em um suposto amor para fortalecer sua autoestima, eu te peço que o faça por si mesma. Não acredite que vale por se te amam ou não, encontre seu valor nos seus próprios atos. Você foi capaz de ressurgir de um passado com a pele arroxeada e insultos martelando nos ouvidos, o que mais precisa pra saber o quanto vale?

    Meneio a cabeça assentindo para a câmera porque um nó na garganta não me permite falar.

    — Anne, você é fraca?

    Brenda pergunta com bondade e consegue me despertar de minha letargia. Ela me mostrou e confia em mim. Devo isso a ela.

    — Não, já não...

    — Querida, no passado você foi uma vítima, mas hoje será seu próprio algoz se não se permitir o dom do erro e o poder do auto perdão. – suspiro aceitando uma triste realidade.

    — Anne, você sofre por um desamor como o faria qualquer mulher. Permita-se chorar e insultá-lo, comer muito chocolate e insultá-lo, tomar um banho de espuma e seguir insultando.

    — Achei que você era psicóloga. Se supõe que esse é um bom conselho? – levanto uma sobrancelha estranhando.

    — Querida, antes de tudo sou mulher, e nada melhor que uns quantos insultos para se sentir nova. Desgraçado, filho de uma mãe ou canalha, junto com uma boa colher ou um pote cheio de sorvete de chocolate, acabam sendo a melhor das curas. – seco as lágrimas enquanto sorria para minha peculiar psicóloga.

    — Doutora Klein, muito obrigada por ter respondido minha mensagem e por estar aí sempre que preciso.

    — Obrigada a você por ser uma paciente tão inteligente. Luta porque ninguém o fará por ti. Já não é mais nem o rastro da mulher apavorada que conheci, siga assim. Levanta e segue.

    — Vou tentar...

    — O que?

    — Farei. Farei. Brenda... de todo o coração, obrigada. – disse enquanto apertava o botão de desligar.

    Você é fraca? Não, já não... Já não.. Não, não o sou!

    ––––––––

    ¹Nota da tradutora: Miura é a denominação de uma raça de touros de briga, surgida a partir da cruza de cinco outras raças em 1849 e utilizados em touradas. São criados na região de Sevilha, Espanha.

    Um novo dia

    — Tá acordada?

    — Que horas são?

    — Muito cedo. Como você está? – a voz de Jane pareceu nervosa e assustada. É óbvio que quase a matei do coração.

    — Estou bem. – balbuciei com falso entusiasmo.

    Brenda me deixou com muito em que pensar. Tento me sentar perto da cabeceira da cama mostrando segurança, mas não consigo. Meu corpo se sente fraco e ressentido. Não preguei os olhos a noite toda, tenho as pálpebras inchadas, e meu cabelo é um emaranhado terrível de lã embolada e avermelhada. Minha imagem não podia ser pior.

    — Espera, já arrumo isso.

    Jane acomoda as almofadas atrás de minhas costas para que possa me ajeitar e isso me faz sentir ainda mais inútil do que já me sinto, mas claro, sou uma... Já chega de pensamentos negativos! Status: bufando irritada.

    — Estou bem. Não tem porque se preocupar.

    Minha irmã se senta em seu lindo sofá individual que reserva para os convidados e me olha com carinho. Ambas estamos em silêncio. É mais que óbvio que espera uma explicação, mas o que se supõe que devo dizer? Como explicar que você tentou ser uma heroína de conto de fadas e acabou sendo uma cópia barata da Marianne Delacroix?

    Como explicar a ela que sonhava com um desses homens de terno Armani cinza chumbo, mas só é capaz de conquistar um mentiroso de camiseta regata e meias esportivas? Conquistar! Haha, é rir pra não chorar. Me deitei com ele, mas conquistar? Isso é algo que com certeza nem sequer arranhei. Não se chama exatamente conquistar se o dito-cujo pisa nos seus sentimentos como se fosse lixo. Brenda diz que é normal, que todas já nos decepcionamos alguma vez, mas dói como mil demônios. Respiro com força para pegar coragem em minha própria vergonha e começo a me explicar.

    —Me enganou. Mentiu. Está noivo. Vai se casar e... – aqui vai o pior – Espera um filho.

    — Desgraçado... – Jane abaixa a cabeça, mas o olhar diz tudo.

    Seu ódio contra Reed começou a nascer. Ambas ficamos em silêncio outra vez para nos recuperar enquanto as lágrimas traiçoeiras começam a brotar novamente. Por que não se esgotam de uma vez?!

    — Um filho...

    Jane acaricia minha mão sem me olhar. Sei que pareço patética, mas não me importa quase nada o tanto de pena que estou dando. Preciso dela. Preciso de minha irmã e seu carinho. Ou aceito toda a ajuda possível ou acabarei como Joana, a Louca. Status: escondendo o rosto entre as mãos e querendo desaparecer.

    — O vi com meus próprios olhos – Jane se levanta como se a cadeira queimasse e caminha pelo pequeno quarto de convidados.

    — Não entendo. Não é possível. Por que fazer algo tão cruel? Te seduzir sabendo que te deixaria largada. É perverso, é egoísta, é de um ser mal nascido, é um grande filho da puta!

    Abro os olhos estranhando os palavrões de Jane. Ela nunca os diz.

    — Sim... – mal sou capaz de mover os lábios.

    — Que desgraçado. – Jane não se contém nas qualidades atribuídas e minha própria vergonha se esconde envergonhada.

    Abaixo a cabeça sem defesa possível. Me incomoda que pense assim do homem que ainda sigo amando, mas como defendê-lo? Ela tem toda a razão, mas meu coração se nega a raciocinar diante de tão claras evidências.

    — Canalha em tempo integral... – e ainda tem mais?

    Jane está tão perplexa quanto eu. A única diferença é que nela se nota uma raiva monumental, enquanto em mim... Eu só procuro desesperadamente um salva-vidas que me resgate da dor, uma pomba que traga uma mensagem de esperança, um relógio que me desperte do meu pesadelo.

    — Nos enganou. – arregalo os olhos sem compreender as declarações de minha irmã.

    Será que a loucura e a estupidez em minha família são questão de genética? De que está falando agora? Será que acha que ela foi a enganada?

    — Jane, do que você está falando? Aqui não existe nenhum nós, aqui só existe uma única idiota vencedora de prêmio e essa sou eu.

    — Não fale assim! Quando você fica assim eu não te aguento. – bufa irritada – A primeira vez que o vi, me pareceu completamente caído por você. Se em algum momento tivesse passado qualquer dúvida pela minha cabeça, algum leve indício de mentira, teria cuspido logo, e depois teria chutado as bolas dele, e então o teria jogado no chão, teria amassado ele como um mísero rato nojento e então...

    Minha irmã estava tão acalorada com a lista de ameaças que apenas pude fazer o que qualquer outra mulher teria feito em minha posição. Ri até que meu peito se partisse

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