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Por que falar em morte se é primavera?
Por que falar em morte se é primavera?
Por que falar em morte se é primavera?
E-book75 páginas1 hora

Por que falar em morte se é primavera?

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Sobre este e-book

Nos oito contos reunidos em Por que falar em morte se é primavera? a autora Maria Leonor Lopes-Assad constrói, ora em tom confessional e intimista, em primeira pessoa ("Laços"), ora de forma distanciada por um narrador onisciente (nos demais contos), personagens singulares em busca de algo indefinido que transforme suas vidas estagnadas. Apesar da melancolia e certo amargor que perpassam todos os contos, brota a certeza de que o surgimento de uma forte amizade (no último conto da coletânea) tem o condão de afastar a sombra da morte e anunciar uma nova primavera.
IdiomaPortuguês
EditoraEdUFSCar
Data de lançamento18 de abr. de 2023
ISBN9788576005865
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    Por que falar em morte se é primavera? - Leonor Assad

    POR QUE FALAR EM MORTE SE É PRIMAVERA?

    Logotipo da Universidade Federal de São Carlos

    EdUFSCar – Editora da Universidade Federal de São Carlos

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

    Editora da Universidade Federal de São Carlos

    Via Washington Luís, km 235

    13565-905 - São Carlos, SP, Brasil

    Telefax (16) 3351-8137

    www.edufscar.com.br

    edufscar@ufscar.br

    Twitter: @EdUFSCar

    Facebook: /editora.edufscar

    Instagram: @edufscar

    Leonor Assad

    POR QUE FALAR EM MORTE SE É PRIMAVERA?

    Logotipo LetraSelvagemLogotipo comemorativo de 30 anos da Editora da Universidade Federal de São Carlos

    © 2022, Leonor Assad

    Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

    Coordenação editorial: Nicodemos Sena e Wilson Alves-Bezerra

    Editora adjunta: Marli Perim

    Design editorial (capa e miolo): Cesar Neves Filho

    Ilustração da capa: Pintura digital de Dodi Ballada inspirada em quadro de Sandro Botticelli

    Foto da autora: Daiane Freitas e Giuliano Wassall

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    Catalogação na fonte: Angélica Ilacqua CRB 8/7057

    Editoração eletrônica (eBook): Alyson Tonioli Massoli

    Assad, Leonor.

              Por que falar em morte se é primavera? / Leonor Assad. -- Documento eletrônico. -- 1. ed. - Taubaté, SP : Letra Selvagem ; EdUFSCar, 2023.

    ePub: 793 KB.

    ISBN: 978-85-7600-586-5

    1. Contos brasileiros. I. Título.

    CDD – B869.3

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP). Catalogação na fonte: Angélica Ilacqua CRB 8/7057

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônicos ou mecânicos, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema de banco de dados sem permissão escrita do titular do direito autoral.

    Sumário

    Palavras de Papel

    É Vice-Campeão!

    A Vizinha

    Entre Ruídos e Cheiros

    Laços

    O Dia em que Clarinha Matou seu Professor de Literatura

    Com Incidente

    De Algum Lugar

    Posfácio

    Os autores costumam esconder os tormentos de sua criação. Quando os personagens são vivos, realmente vivos, diante de seu autor, este não faz outra coisa senão segui-los, nas palavras, nos gestos que, precisamente, eles lhes propõem. E é preciso que ele os queira como eles querem ser; e ai dele se não fizer isso! Quando uma personagem nasce, adquire logo tal independência, mesmo em relação ao seu autor, que pode ser imaginado por todos, em outras várias situações, nas quais o autor nem pensou colocá-lo, e adquirir também, às vezes, um significado que o autor nunca sonhou dar-lhe!"

    (Seis personagens em busca de um autor, Luigi Pirandello)

    PALAVRAS DE PAPEL

    Um dia, depois de uma noite mal dormida, ela decidiu não mais falar. Só assim poderia controlar as palavras que saíam de sua boca voando pela casa como bando de aves. Palavras vagas, palavras fúteis, palavras duras, palavras sem graça: todas fazendo barulho de maritacas que perturbavam o silêncio que esperavam dela. As palavras sem graça eram as mais difíceis de controlar. As vagas, bobas por natureza, a deixavam apenas cansada. Eram tantas e tão insistentes que às vezes vagavam soltas enquanto ela fazia suas tarefas diárias. As palavras fúteis quando apareciam deixavam a impressão de que podiam não ter sido ditas. Desapareciam rápido com o esquecimento. As palavras duras eram apenas vingativas, mas daquela vingança vazia que fica só na ameaça frívola que ninguém leva a sério. Mas as palavras sem graça... eram quase sempre inoportunas, pois apareciam com ares de importantes, queriam ter graça, mas o máximo que conseguiam era um sorriso forçado ladeado por ouvidos alheios.

    Decidiu então trancá-las todas dentro de si, aprisionadas longe das cordas vocais. Porque se ficassem por perto daquelas pregas poderiam provocá-las e, forçando um pigarro indesejado, sair aos borbotões pela boca mal fechada. Os riscos de respingos de saliva e de má concordância verbal ou nominal seriam grandes. E ela, que gostava de falar um português correto, ultimamente vinha cometendo muitos erros vulgares. Trancou-as todas entre o estômago, órgão habituado a porradas alimentares e emocionais, e o cérebro, que se julgava o líder daquele corpo mal-ajeitado e já envelhecido.

    No início ninguém notou o seu silêncio. Não porque falasse pouco. Ao contrário. Seu falatório muitas vezes incomodava. O silêncio dela não foi notado porque havia muitos espaços naquela casa onde ele podia se abrigar marotamente, protegida por sons de TV, de rádio e de arrumações domésticas. Só notaram o seu silêncio após alguns dias porque ela passara a ficar sentada em algum canto da casa, irrequieta e com uma tosse enjoada porque as palavras faziam-lhe cócegas ao vagar agitadas, tentando escapar pelo céu da boca.

    Os da casa diziam para ela falar alguma coisa. Mas não falavam isso com muito entusiasmo. No fundo estavam gostando do seu silêncio. Apenas perceberam sua agitação, principalmente nos pés, que se esfregavam um no

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