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O Chamado da Terra: Uma Guerra de Luz e Sombras
O Chamado da Terra: Uma Guerra de Luz e Sombras
O Chamado da Terra: Uma Guerra de Luz e Sombras
E-book452 páginas6 horas

O Chamado da Terra: Uma Guerra de Luz e Sombras

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Sobre este e-book

Natasha Sanchez sai de seu País para buscar novas oportunidades e conhecimento em um intercâmbio, na faculdade de Yale em Connecticut, onde é sua nova casa, ela conhece Anastásia, sua colega de quarto, as duas se tornam amigas inseparáveis. Em seu primeiro passeio com a amiga em uma loja, uma velha senhora presenteia Natasha com um misterioso amuleto.
Wari Gutierrez, um garoto quieto e muito misterioso, começa seu primeiro ano na faculdade. Em um momento Wari salva Natasha de acontecimentos que poderiam levá-la à decadência, isso fez com que seus destinos fossem traçados em uma linha tênue e invisível que os levariam a viver grandes aventuras.
Após uma mudança drástica em sua vida, Natasha passa a viver todos os dias na companhia de seus dois amigos, Ana e Wari, e com Sisa, uma senhora misteriosa, a qual Natasha já havia conhecido.
O desfecho dessa história pode levar os jovens a caminhos inesperados e misteriosos, qual a verdadeira ligação entre eles?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento2 de mai. de 2023
ISBN9786525043197
O Chamado da Terra: Uma Guerra de Luz e Sombras

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    Pré-visualização do livro

    O Chamado da Terra - Ana Paula Belotto Bruch

    capa.jpg

    Sumário

    CAPA

    PRÓLOGO

    Chegada

    CAPÍTULO 1

    Convite Inesperado

    CAPÍTULO 2

    Uma Nova História

    CAPÍTULO 3

    O Pai

    CAPÍTULO 4

    Apaixonados

    CAPÍTULO 5

    Surpresa

    CAPÍTULO 6

    Sozinha

    CAPÍTULO 7

    Família

    CAPÍTULO 8

    Ombro Amigo

    CAPÍTULO 9

    Pretendente

    CAPÍTULO 10

    Reencontro

    CAPÍTULO 11

    Enfurecida

    CAPÍTULO 12

    A Escolha

    CAPÍTULO 13

    Ana

    CAPÍTULO 14

    A Estrela

    CAPÍTULO 15

    A Oferta

    CAPÍTULO 16

    Ameaçado

    CAPÍTULO 17

    O Grande Dia

    CAPÍTULO 18

    Paixão

    CAPÍTULO 19

    Chola

    CAPÍTULO 20

    A Escultura

    CAPÍTULO 21

    Levada

    SOBRE A AUTORA

    SOBRE A OBRA

    CONTRACAPA

    O Chamado da Terra

    uma guerra de luz e sombras

    Editora Appris Ltda.

    1.ª Edição - Copyright© 2023 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.

    Catalogação na Fonte

    Elaborado por: Josefina A. S. Guedes

    Bibliotecária CRB 9/870

    Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT

    Editora e Livraria Appris Ltda.

    Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês

    Curitiba/PR – CEP: 80810-002

    Tel. (41) 3156 - 4731

    www.editoraappris.com.br

    Printed in Brazil

    Impresso no Brasil

    Ana Belotto

    O Chamado da Terra

    uma guerra de luz e sombras

    À minha família, por me apoiar e não me deixar desistir.

    Agradecimentos

    Agradeço ao meu pai, Waldemir, e à minha mãe, Neiva, por me incentivarem e me inspirarem com seu amor e dedicação em toda a minha caminhada.

    Ao meu noivo, Rodrigo Peroza, por não me deixar desistir nos momentos difíceis.

    A Priscila Vieira e Vanessa Mineiro, por sua importante contribuição e avaliação no processo de escrita.

    A toda a minha família e amigos, que sempre se puseram à disposição para auxiliar quando necessário.

    PRÓLOGO

    Chegada

    Meu nome é Natasha Sanchez, sou brasileira. Meu pai se chama Noah Sanchez e minha mãe se chama Neiva Sanchez. Minha família mora em uma pequena cidade de Santa Catarina, meu pai trabalha como empreiteiro, e minha mãe é vendedora de cosméticos e produtos de higiene. Eles estão casados há 30 anos e são perfeitos, feitos um para o outro. Dessa união nasceram dois filhos, eu e meu irmão mais velho, Rodrigo.

    Meus pais, quando jovens, sempre trabalharam em fazendas e não tiveram a oportunidade de estudar ou fazer faculdade, então sempre nos incentivaram a estudar muito. Minha mãe terminou a escola depois de meu irmão mais velho e eu já estarmos com idade suficiente para cuidar de nós mesmos. E, alguns anos depois de terminar os estudos, conseguiu, com a ajuda do meu pai, abrir sua loja de cosméticos. Já todo o conhecimento do meu pai vem de anos trabalhando duro para poder dar para sua família uma vida no mínimo confortável.

    Meu irmão casou-se há cinco anos, e dessa união nasceu minha sobrinha, chamada Sophia. Eu e ela somos muito apegadas, e a coisa mais triste que tive que fazer foi deixá-la quando me mudei para Connecticut.

    Vou explicar. Meu sonho sempre foi fazer um intercâmbio, e recentemente eu consegui. Com muito esforço e trabalho duro. Minha família é uma família humilde, então, além de conseguir passar nas provas, teria que ter condições para a mudança e sobrevivência em um ambiente novo e sozinha.

    Trabalhei por um ano e meio em dois empregos, para poder juntar dinheiro e conseguir bancar a viagem. Além disso, estudei muito, e, no tempo em que eu não estava trabalhando, estava estudando; a única coisa que conseguia me tirar de foco era minha sobrinha, e era quem me mantinha sã nesse tempo.

    Então, quando finalmente consegui passar na prova, consegui uma vaga na Universidade de Yale não foi nada fácil. Eu tinha conseguido juntar dinheiro suficiente para a viagem e para viver alguns dias tranquila, caso não conseguisse um emprego logo na primeira semana.

    Nossa família sempre foi muito unida; logo antes de viajar, meus pais presentearam-me com um jantar de despedida, que fez com que eu me sentisse muito grata e um pouco mais segura com a grande mudança.

    Minha sobrinha presenteou-me com um porta-retratos com uma foto de todos nós em seu último aniversário, fazendo com que eu deixasse cair algumas lágrimas de tristeza com a ideia da distância.

    O primeiro dia de aula na faculdade está começando, e com ele o nervosismo e a ansiedade por ser um lugar completamente estranho para mim. Depois de tanto esforço, eu consegui uma bolsa de estudos na Yale, que fica em New Haven, Connecticut. Conseguir chegar até aqui foi difícil, pois tive que deixar minha família no Brasil, onde nasci, porém todo o incentivo que recebi da minha família fez com que me mantivesse firme em minha escolha.

    Faz dois dias desde que cheguei à cidade e já consegui organizar quase todas as minhas coisas, porém não tive tempo para conhecer o campus por completo ou lugares próximos, mas posso dizer que, quando cheguei a Yale para encontrar meu dormitório, fiquei maravilhada com a beleza do lugar. Como uma garota que dificilmente saía de sua cidade natal ou só visitava as mais próximas, ir tão longe quanto onde estou agora era algo impensável. Yale é enorme. Logo ao chegar, deparei-me com um gramado lindamente aparado, com calçadas em todos os lados levando aos edifícios, que, a meu ver, mais pareciam castelos com torres em algumas de suas extremidades. Depois de ficar alguns minutos admirando o lugar, logo me pus a procurar pelos dormitórios.

    Quando encontrei o que seria meu quarto e fui porta adentro, deparei-me com uma garota de costas para a porta dobrando algumas roupas em cima de uma cama de solteiro no lado esquerdo do quarto, ignorando minha presença completamente.

    O quarto era simples, porém agradável, tinha duas camas de solteiro, uma em cada lado do quarto, e duas escrivaninhas, uma ao lado da outra, na parede em que havia as janelas, que eram significativamente grandes para o quarto, com cortinas escuras que estavam abertas permitindo que o sol entrasse e iluminasse o pequeno cômodo. Andando pelo quarto, dirigi-me para a cama ao lado direito, que já estava arrumada com alguns lençóis e um cobertor; soltei minha mala e pude ouvir quando a outra garota derrubava algo no chão, que rolou até o meu pé. Estendi a mão para juntar o que quer que fosse que ela havia derrubado, e ao pegar o objeto fiquei surpresa ao perceber que era um globo de neve, com um homem e uma criança brincando na neve. Era tão lindo e único que aparentava ter sido feito à mão.

    — Desculpe, eu sou mesmo desajeitada.

    Ouvi uma voz baixa e, quando ergui os olhos, vi que a garota me olhava com a mão estendida, esperando para que eu lhe entregasse o globo, sem expressar nenhuma emoção.

    Ela tinha os cabelos compridos, mais ou menos até a metade das costas; ao longo dos cabelos, formavam-se leves cachos, o que os faziam parecer estar sempre em movimento. Eles eram de um tom vermelho alaranjado, que lembrava o fogo. Seus olhos eram claros, talvez em um tom azul esverdeado, e a pele era clara, permitindo que se percebessem algumas sardas em seu nariz e suas bochechas. Era alta e magra, mas sua beleza era incontestável. Posicionei o globo em sua mão e soltei-o.

    — É lindo! — falei, abrindo um sorriso acanhado.

    Ela pegou o globo, virou as costas e colocou-o em cima de sua escrivaninha, voltando a dobrar suas roupas que estavam jogadas por toda a sua cama.

    — Somos eu e meu pai — disse-me.

    Olhei para ela curiosa, esperando que continuasse a falar, mas não ouvi mais nenhuma palavra.

    Suspirei, desapontada, tentando puxar assunto com quem seria minha colega de quarto e passaria todos os dias comigo.

    — Eu me chamo Natasha Sanchez, mas pode me chamar de Nathy, se preferir — falei, fazendo uma pausa. — Os meus amigos me chamam assim.

    Tirei algumas peças de roupas da mala para poder organizá-las no pequeno guarda-roupa na outra extremidade do quarto.

    — Qual o seu nome? — continuei.

    — Meu nome é Anastásia Hansen, Ana. Você não é daqui, né? — perguntou ela, com um tom acusador.

    — Sou do Brasil. E você?

    — Nasci aqui, mas meus pais são noruegueses, vieram viver o sonho americano — disse ela, secamente.

    — Hum — murmurei.

    Eu já não tinha certeza de que queria continuar a conversa, pois o desinteresse de minha colega era um tanto notável, e não queria ser taxada como pé no saco logo no primeiro dia morando juntas.

    Depois de terminar de arrumar as roupas de minha mala, retirei com todo o cuidado um porta-retratos que estava enrolado em uma toalha e coloquei-o na minha mesa: era uma foto que tirei com minha família no aniversário de 4 anos da minha sobrinha.

    Eu e ela nos encontrávamos sentadas em um tapete branco no chão, ela estava no meu colo, com um sorriso enorme, segurando a boneca que eu lhe havia dado de presente, e em pé atrás de nós estavam meus pais, meu irmão e sua esposa, todos rindo como se alguém tivesse nos contado uma piada na exata hora do clique da câmera.

    — Você tem uma linda família — murmurou Anastásia, pondo-se atrás de mim para poder ver melhor a foto.

    — Obrigada — falei, surpresa.

    Virei-me para fitar o seu rosto, ela me olhou com um sorriso tímido e voltou a arrumar suas coisas.

    — Pronto! — Ela colocou os livros enfileirados em cima de sua mesa e um pequeno vaso com um cacto. — Agora está perfeito! — exclamou, batendo suas mãos e virando-se para mim com um sorriso no rosto. — Você quer ajuda?

    Rapidamente me virei, pegando a mala e colocando-a embaixo da cama.

    — Ah, não, eu já terminei também — respondi, um pouco surpresa pela oferta.

    — Você não tem nada mais além do porta-retratos de sua família? — perguntou ela, um pouco surpresa e chateada.

    — Não consigo pensar em mais nada que pudesse ser necessário — falei, com um sorriso amarelo.

    Eu podia jurar ter visto um biquinho de desagrado formando-se em seus lábios, o que me deixou um tanto curiosa sobre minha colega.

    — Temos que colorir um pouco mais esse ambiente, já que ficaremos aqui por um bom tempo, não acha? — disse ela, com um tom brincalhão na voz.

    — Hum, mas para mim parece bom — respondi, dando de ombros e olhando para o quarto, sem saber exatamente o que ela queria fazer.

    Eu realmente não me importava de ter somente a foto de minha família (era tudo de que eu precisava), mas, quando me dei conta, ela segurou minha mão, guiando-me para fora do quarto.

    — Venha, vamos resolver esse problema; conheço algumas lojas ótimas para comprar alguns artigos de decoração que podem alegrar nosso quarto.

    Segui-a sem protestar, afinal eu não conhecia nada ali, e essa seria a oportunidade de ver alguns lugares diferentes antes de começarem as aulas.

    Saímos do prédio em que ficavam os dormitórios e caminhamos alguns metros até chegar ao gramado em frente à entrada principal da faculdade. Anastásia parou abruptamente em minha frente, virando-se para mim com empolgação estampada em seu rosto.

    — Há uma loja próximo daqui, deve dar uns 5 minutos de caminhada. Você não se importa de irmos caminhando, né?

    Fiz que não com a cabeça, até porque não imaginava outra forma de irmos. Então nos pusemos a andar novamente. Perguntei a Ana de onde ela vinha, ela me contou que veio de Boston para estudar em Yale, que sua mãe permanecia na cidade morando com sua avó (que estava um pouco debilitada por causa da idade), porém em nenhum outro momento, além de quando lhe entreguei o globo, ela mencionou o pai novamente, e eu não perguntei.

    Ao chegar à frente da loja, notei uma fachada um pouco curiosa, com alguns vasos de vidros, flores, pedras de diversas cores, alguns artigos esotéricos também. Quando entramos, perguntei a ela se tinha certeza sobre estarmos no lugar certo.

    — É claro que sim. Não consigo pensar em uma loja melhor — disse ela.

    Ana começou a olhar alguns pequenos vasos de flores: tinham várias cores (branco, amarelo e rosa). Ela pegou um vaso de lavanda e o levou, radiante, até mim.

    — O que acha deste? Além de colorir um pouco, também vai perfumar o nosso quarto, e é lindo.

    — Por mim, tudo bem — respondi, com um meio sorriso. — Eu não entendo muito de flores, então o que você escolher está ótimo.

    Ela alargou o sorriso e foi até a mulher que se encontrava esperando para cobrar o vaso; enquanto isso, eu observava a pequena loja.

    No interior dela, havia muitas coisas, desde imagens de santos e deuses de todas as religiões até pedras como as que vi na entrada da loja, porém de vários tamanhos diferentes. Também havia livros enfileirados em uma prateleira no fundo da loja, alguns chás, mas algo chamou minha atenção. Depois de passar pelos livros e chás, notei outras prateleiras com várias coisas, como brincos, pulseiras e colares, e em meio a isso havia uma caixinha de madeira que parecia ter sido feita à mão; ela era pequena em formato de baú, envernizada com alguns entalhes, e parecia ser antiga.

    Dentro da caixa havia um colar em formato de Cruz Andina talhado em pedra. Nos livros que já li e que citaram essa cruz, diz-se que cada ponta quadrada da cruz significa os quatro pontos cardeais, as quatro estações do ano e os quatro elementos fundamentais.

    A Cruz Andina possui oito pontas, todas contornadas com riscos brancos nas extremidades; apesar da simplicidade da peça, ela era linda, cada ponta possuía um círculo desenhado embaixo, e um quadrado sobreposto, o meio do colar era aberto em um círculo perfeito.

    Saindo do meu transe de admiração, fechei a caixa e levei-a até onde Ana estava terminando de pagar a lavanda que ela havia escolhido, pus a caixa no balcão e aguardei a mulher finalizar a cobrança.

    — O que você achou? — perguntou, curiosa, pegando a caixa e abrindo-a. — O que é isso, Nathy? — insistiu.

    A mulher no caixa olhou para o colar e para mim com uma expressão de simpatia no rosto e respondeu à pergunta por mim.

    — É uma Chakana, o símbolo primitivo dos povos andinos na América do Sul — explicou a mulher.

    Sua voz era suave e doce. A mulher já aparentava uma certa idade, tinha cabelos presos em um coque, já um pouco grisalhos, algumas rugas no canto dos olhos e da boca, que me faziam imaginar que pudesse ter aproximadamente uns 65 anos, mas, ainda assim, de uma aparência forte e saudável.

    — É uma cruz escalonada — continuou a mulher. — Ela tem essa cruz de braços iguais — disse ela, apontando o colar —, indicando os quatro pontos cardeais do compasso. Esse quadrado sobreposto representa os outros dois níveis da existência humana. Os três níveis chamam-se Hana Pacha, que é o mundo superior, onde vivem os deuses; Kay Pacha é o mundo onde vivemos; e o Ukhu, ou Urin Pacha, onde vivem os mortos e os ancestrais, que têm um contato muito próximo com o Kay Pacha; e esse buraco no meio — explicou, fazendo uma pausa. Pegou o colar em sua mão e passou os dedos por onde o colar se abria ao meio.

    Ana ouvia a explicação com interesse.

    — Este é o eixo onde um xamã pode transitar por todos os três níveis cósmicos. É uma ótima peça, mocinha. Alegra meu coração ver que alguém ainda pode se interessar por nossa história — disse a mulher, abrindo um sorriso e olhando-me com curiosidade.

    Ela guardou novamente o colar com delicadeza e fechou a caixa de madeira, empurrando-a em minha direção.

    — Pegue. Não vou cobrar essa peça, é um presente — disse ela, em um tom de que não aceitaria um não como resposta.

    — Senhora, eu não posso aceitar, isso não seria correto. Deixe-me pagar a você — insisti.

    — Nathy, não se recusa um presente — repreendeu-me Ana.

    — Mas…

    — Sem mas, mocinha. Sua amiga está certa — insistiu a senhora.

    Antes que pudesse tentar argumentar novamente, a mulher fez um sinal com a mão, dispensando-nos do lugar. Segui Ana pela porta, olhando uma última vez para dentro da loja. A senhora já não estava mais no balcão, então me pus a pensar quanto essa situação foi estranha, afinal eu jamais vira a mulher antes.

    — Essa mulher é estranha — disse Ana.

    Segurando o vaso de lavandas em uma mão e dando de ombros, ela apontou para uma lanchonete no outro lado da rua.

    — Vamos comer alguma coisa?

    Fiz que sim com a cabeça, enquanto guardava a caixinha com cuidado em minha bolsa.

    Depois de comermos, voltamos para o dormitório. Peguei minhas roupas e fui para o banho. Ana e eu tivemos a sorte de conseguir um quarto com banheiro, então teríamos nossa privacidade longe dos outros alunos; era um banheiro bem simples, porém era só nosso, o que me fazia sentir muito grata.

    Quando saí do banho com a toalha enrolada no cabelo, encontrei Ana deitada em sua cama, pronta para dormir; escovei e sequei os cabelos por alguns minutos, então me deitei e apaguei as luzes.

    — Boa noite, Ana.

    Sem ouvir sua resposta, adormeci.

    CAPÍTULO 1

    Convite Inesperado

    Na manhã seguinte, acordei com meu celular vibrando embaixo do travesseiro. Ainda sonolenta, atendi.

    — Bom dia, Nathy! — Escuto a voz animada da minha mãe quase gritando ao telefone. — Não nos ligou ontem, ficamos preocupados. Como você está? Está comendo direito? Já levantou para se arrumar e ir à aula? Não pode se esquecer de escovar os dentes e pentear o cabelo! — disse ela, atropelando cada pergunta e aviso.

    — Mãe, vá com calma — respondi, tentando não dormir novamente. — Eu estou bem, mamãe. E vocês, como estão? — perguntei, levantando-me da cama.

    Ana já não estava mais em sua cama, e o banheiro também estava vazio.

    — Nós estamos bem, morrendo de preocupação. Por que não nos ligou?

    — Ai, mãe, desculpe. Eu saí com minha colega de quarto, e depois fomos a uma lanchonete e acabamos perdendo a noção da hora; cheguei tarde ao dormitório. Eu ia ligar agora pela manhã — falei, sentindo-me culpada por deixá-la preocupada.

    — Tudo bem, filha — disse ela, compreensiva. — Que bom que já fez uma amiga. Gostou do lugar? Você está confortável?

    — Sim, mamãe, aqui é enorme! — disse, animada. — Meu quarto também é confortável, e tem banheiro próprio, o que é muito bom também.

    — Que bom! E qual é o nome da sua colega de quarto?

    — Anastásia. Ela parece ser uma pessoa legal, mamãe, mas agora tenho que me arrumar para ir à aula. Mande um abraço a todos! Amo vocês! — disse, sentindo um aperto no coração por conversar tão pouco com a mamãe, mas os deveres chamam.

    — Certo, querida. Tenha um bom dia, e não se esqueça de nos ligar mais tarde.

    — O.K., mamãe.

    Ao desligar o telefone, larguei-o sobre a cama e fui até o banheiro para lavar o rosto. Voltei para o meu lado do quarto, peguei minha escova de cabelo e comecei a penteá-lo. Depois de me olhar no espelho, suspirei, decidindo que já estava suficientemente comportado. Meu cabelo tinha um tom castanho claro, minha pele era clara, quase como leite, e meus olhos eram de um tom azul turquesa.

    Vesti minha calça jeans, uma camiseta e uma jaqueta que encontrei mais facilmente em minhas roupas, calcei o tênis, peguei a mochila, que já tinha deixado pronta durante o dia anterior, e saí do quarto.

    Nervosa, parada em frente à porta do que seria minha sala de aula, assusto-me ao sentir uma mão tocar o meu ombro; virei para trás rapidamente e vi um rapaz com os olhos de um tom castanho quase dourado, cabelo preto aparado pouco acima dos ombros, jogados para trás, mas com algumas mechas rebeldes que caíam por seu rosto; sua pele tinha um tom bronzeado tão bonito que quase perguntei se ele era de verdade. Corei ao perceber que estava de boca aberta fitando-o como se o fosse engolir.

    Ele notou minha reação e deu um leve sorriso, fazendo-me baixar os olhos para seus lábios tão bem desenhados — parecia ser uma obra de arte. Somente quando vi seus lábios se abrirem e ouvi sua voz foi que voltei a mim.

    — Você vai entrar? — perguntou ele, e apontou para a porta.

    Sua voz era suave e melódica. Em um pulo para trás, fiz que sim com a cabeça e entrei correndo na sala, encontrando um lugar para me sentar próximo às últimas fileiras. Notei todos olhando para o rapaz.

    Ele se sentou em uma carteira ao lado da minha. Tinha um ar de elegância, sentava-se como se fosse da realeza — bom, talvez seja... Alguém com tantas qualidades físicas como ele não pode ser comum.

    Suspirei, constrangida, enquanto ele me observava. Peguei meus livros e depositei-os sobre a mesa para o início da aula, até ouvir uma voz baixa, mas conhecida.

    — Nathy! — Ouvi baixinho. — Estamos na mesma turma!

    Quando ergui os olhos, vi Ana virada para trás me olhando animada. Eu não havia notado que ela estava na sala; na verdade, não vi nada mais além daqueles olhos castanhos dourados brilhantes.

    — Ana! — falei, surpresa. — Não sabia que estaríamos na mesma turma.

    — Eu também não. Mas isso é bom, porque, se você quiser, podemos ser uma dupla — disse.

    — Claro — respondi. — Não vi você hoje de manhã, você saiu cedo.

    — Ah, isso! Eu precisava pegar alguns livros na biblioteca — disse ela, virando-se para frente quando ouviu o professor entrar na sala.

    Ele tinha uma aparência cansada, vestia um terno preto, era baixo e magro, com cabelos brancos penteados para trás.

    — Bom dia, meus jovens! — disse ele — Eu sou o professor Jacob Nasser, mas podem me chamar de Sr. Nasser. Bom, como vocês já devem ter visto em sua programação, vocês terão aulas comigo todas as segundas, e espero conseguir sanar suas dúvidas e ensinar a vocês tudo que eu sei sobre história.

    Ele largou seus livros em cima da mesa, observando toda a turma como se tentasse nos avaliar com uma primeira impressão.

    Ao fim da aula, enquanto guardava meus livros, percebi o vulto do rapaz ao meu lado levantando-se. Quando ergui os olhos, eu o segui até que saísse do meu campo de visão porta afora. Anastásia estava esperando em pé ao meu lado para irmos comer alguma coisa. Levantando-me, parei em frente a ela e perguntei, baixinho:

    — Ana, você sabe quem é ele? — Apontei para a carteira vazia ao meu lado.

    — O nome dele é Wari, mas não sei nada sobre ele, além de que é muito bonito — disse ela, dando uma risada alta. — Está pronta?

    — Sim. Podemos ir.

    Seguimos para a mesma lanchonete a que fomos no dia anterior. Ana e eu nos sentamos em uma mesa próximo à janela, de frente para a rua. A atendente aproximou-se para anotar nossos pedidos. Eu pedi um suco natural de laranja e uma porção de batatas fritas, Ana pediu um suco também e um hambúrguer. Quando a atendente se retirou depressa, nós começamos a conversar sobre a aula, até que olhei pelo vidro da janela e vi Wari entrando na loja de artigos.

    — Aquele não é o Wari? — perguntei a Ana, surpresa.

    — Acho que é sim — respondeu ela, com desinteresse depois de espiar pelo vidro.

    Mantive-me olhando para a porta da loja, esperando que ele saísse, porém ele não saiu.

    — Nathy, você está interessada nele? — Ana estava curiosa.

    Olhei para ela, assustada com a pergunta, e minha reação fez Ana dar gargalhadas em minha frente.

    — Não, Ana, só… fiquei curiosa — falei, envergonhada.

    Baixei os olhos para observar minhas mãos. Nossos pedidos chegaram, e eu pude prestar atenção em minha comida. Ana logo esqueceu sobre Wari e começou a me falar sobre os seus planos; ela queria ser professora de sociologia na universidade, adorava tudo que envolvesse assuntos sociais e políticos, ela era uma garota muito divertida. Embora eu não a conhecesse suficientemente bem para dizer que éramos amigas, nós estávamos nos tornando próximas. Ela me perguntou um pouco sobre minha família e como era no Brasil, disse que um dia gostaria de conhecer o país. Fiquei feliz em falar com ela um pouco sobre minha família; pensar neles me fazia sentir próxima, mesmo estando a milhas de distância. Contei a ela sobre minha sobrinha e como éramos apegadas.

    Foi muito difícil para mim deixá-los e vir para tão longe. Quando eles me levaram até o aeroporto para a viagem, e eu virei as costas para embarcar, ouvi minha sobrinha chorando, dizendo que sentiria saudades e que não queria que eu fosse embora, partindo meu coração em pedaços. Porém, continuei sem olhar para trás, sabendo que, se eu o fizesse, não conseguiria seguir. Todas as minhas lembranças de cada momento vivido com todos eles mantinham minha determinação forte, para que um dia eu pudesse voltar e orgulhar a todos, mostrar que os esforços e tudo que fizeram por mim não seriam em vão.

    Quando terminamos de comer, Ana e eu voltamos para o campus; ela me disse que tinha alguns compromissos e saiu. Eu fui para a próxima aula. No fim do dia, eu saí distraída pela porta da sala, até sentir que bati em alguém à minha frente que tinha um doce aroma de sândalo. A pessoa segurou-me pelos ombros com firmeza, e, quando olhei para cima encontrando seus olhos, paralisei.

    Wari olhava-me com um ar sério. Quando eu balbuciei uma desculpa, quase sem voz, sua expressão suavizou-se, e pude ver um leve sorriso se formando em seus lábios.

    — Não há de quê! — disse-me ele, enquanto soltava os meus ombros.

    — Eu não vi você — disse, séria, com um tom culposo na voz, tentando me defender.

    — Não tem problema. Eu que deveria estar fora do seu caminho; você anda parecendo um furacão — disse, com um tom de zombaria na voz, e sorriu.

    Bufei, constrangida e ao mesmo tempo com raiva, por ser tão descuidada.

    — Não ando como um furacão! — contestei, asperamente.

    — Calma! Não precisa ficar brava... Eu estava brincando — respondeu, desapontado. — Eu me chamo Wari.

    Ele estendeu sua mão em forma de cumprimento, dando um sorriso que — eu não entendo o motivo — fazia meu coração bater mais rápido.

    — Desculpe. Sou Natasha, Nathy, se preferir — falei, envergonhada de minha grosseria.

    Wari baixou a mão devagar, ao perceber que eu não a tocaria. Suspirou e acenou com a cabeça.

    — Bom, Natasha, preciso ir agora. Cuidado para não esbarrar em mais ninguém por aí; nem todas as pessoas são gentis por aqui — disse ele, em alerta, enquanto virava as costas e saía.

    Fiquei parada observando sua partida. Ele usava uma camiseta branca com uma gola em formato de V que deixava seu pescoço completamente à vista, uma calça esporte chique preta e uma jaqueta em couro preta, com detalhes brancos costurados nas extremidades da gola de couro, que se estendiam em todo o comprimento do zíper. Nos pés ele usava um sapato casual que fazia parecer que ele flutuava pelo chão. Bati o pé com força no chão e repreendi-me por ficar babando por alguém que eu nem conhecia. Eu não vim tão longe para isso, pensei.

    Voltei para o dormitório e Ana ainda não tinha retornado. Larguei minha mochila em cima da mesa ao lado da foto da minha família e da flor que Ana havia comprado e fui para o banho.

    Senti a água escorrer devagar em meus cabelos e sobre minha pele, respirando vagarosamente, deixando meus músculos relaxarem ao calor da água. Quando fechei os olhos, uma visão de um par de olhos castanhos dourados desesperados fez com que meu coração disparasse. Aqueles olhos pareciam suplicar por socorro, eles estavam sofrendo. Abri meus olhos rapidamente, sentindo todo meu corpo tremer com uma sensação ruim. Peguei minha toalha, enrolei-a em meu corpo; peguei a segunda toalha, enrolei-a em meu cabelo, e saí para o quarto. Ana estava sentada na cama, e levantou-se em um salto quando me viu.

    — Achei que não sairia mais do banho! — exclamou ela, com um sorriso. — Minha vez! — Foi pegando suas roupas, correndo para o banheiro e fechando a porta atrás de si.

    Vesti meu pijama, sequei os cabelos e fui para a cama. Pegando meu telefone, vi que ainda eram 8 horas da noite. Liguei para os meus pais, pois havia apenas uma hora de diferença entre onde estávamos. Conversei com eles por aproximadamente uma hora, contando como havia sido meu primeiro dia de aula, contei-lhes sobre o dia anterior, sobre a loja de artefatos onde ganhei a Chakana, sobre a Ana. Também perguntei a eles como eles estavam, e senti um aperto no coração, pois sentia saudade de todos eles, mas eu precisava ser forte, da mesma forma que eles estavam sendo. Depois de desligar o telefone, a Ana já estava deitada em sua cama lendo algum livro.

    Enfiei-me mais ainda embaixo das cobertas; olhando para o teto, fiquei imaginando se aqueles olhos desesperados queriam me dizer alguma coisa; saí do meu devaneio quando ouvi a Ana guardando seu livro embaixo da cama e apagando as luzes.

    Embora eu não soubesse por que, não tinha sono, revirei-me na cama por várias horas até conseguir dormir.

    No dia seguinte acordei com um leve toque no ombro seguido de um chamado.

    — Nathy, Nathy, acorde! — Ouvi uma voz suave e baixa me chamando.

    Virei para o lado resmungando e ignorei quem quer que fosse que estivesse tentando me tirar de meu sono tranquilo.

    — Nathy!

    Senti um aperto mais forte no ombro seguido de um chacoalhar do meu corpo.

    — O que foi, Ana? Perguntei com rispidez, abrindo meus olhos e me sentando na cama.

    — Você está atrasada, vai perder a aula — disse ela, quase que com uma bronca.

    — Mas como? Que horas são?

    Peguei meu telefone e vi que já passavam das 8 horas da manhã.

    — Droga! — exclamei.

    Levantei em um salto arrancando o pijama e trocando as roupas. Escovei os dentes e saí porta afora gritando um obrigada para a Ana, não sabendo se ela ouviu.

    Wari estava nas mesmas turmas que eu, de todas as matérias. Durante as aulas, eu podia sentir seus olhos dourados em mim. Eu os ignorava com frequência e tentava manter minha cabeça focada nas palavras dos professores, mas a visão daqueles olhos não saía da minha cabeça.

    Depois de ignorá-lo por muito tempo, não me contive e virei a cabeça para encará-lo. Ele estava com as duas mãos cruzadas entre o rosto e olhando para mim. Quando nossos olhos

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