Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Os Parentes Nobres de Mr. Darcy: Uma variação de Orgulho e Preconceito
Os Parentes Nobres de Mr. Darcy: Uma variação de Orgulho e Preconceito
Os Parentes Nobres de Mr. Darcy: Uma variação de Orgulho e Preconceito
E-book412 páginas6 horas

Os Parentes Nobres de Mr. Darcy: Uma variação de Orgulho e Preconceito

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Só há um facto sobre o qual Lord Charles, um libertino de má fama, e o seu primo, Fitzwilliam, Darcy concordam: uma reunião festiva dada pela Marquesa de Bentham tem tudo para ser um absoluto tédio. Para aliviar o seu enfado, Lord Charles aceita uma aposta em como consegue seduzir a bela amiga de sua irmã durante a sua estadia em Bentham Park. No final de contas, é dinheiro fácil para um sedutor inveterado. Porque se deve ralar se o seu sisudo primo Darcy desaprova?

Mas quando Darcy descobre que o novo alvo de Lord Charles é nada mais do que Elizabeth Bennet, a mulher que recusou a proposta de casamento de Darcy, ele não pode ficar impávido e ver a mulher que ele ainda ama ser arruinada de forma tão leviana. O que ele não sabe é que Lord Charles tem um segredo sombrio, e que as suas atenções para com Elizabeth podem não ser o que parecem. Depois de um salvamento a meio da noite, encontros clandestinos, um filho há muito perdido, conspirações, chantagem e uma tentativa de fuga para casar, todos concordam que esta reunião é tudo menos monótona.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de abr. de 2023
ISBN9781954417137
Os Parentes Nobres de Mr. Darcy: Uma variação de Orgulho e Preconceito
Autor

Abigail Reynolds

Abigail Reynolds is a physician and a lifelong Jane Austen enthusiast. She began writing the Pride and Prejudice Variations series in 2001, and encouragement from fellow Austen fans convinced her to continue asking “What if…?” She lives with her husband and two teenage children in Madison, Wisconsin.

Relacionado a Os Parentes Nobres de Mr. Darcy

Ebooks relacionados

Romance de realeza para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Os Parentes Nobres de Mr. Darcy

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Os Parentes Nobres de Mr. Darcy - Abigail Reynolds

    Capítulo 1

    À MEDIDA QUE A CARRUAGEM avançava ao longo da alameda rodeada de ulmeiros, Elizabeth retirou um fiapo de cotão das suas luvas de pelica. A viúva que a tinha acompanhado na diligência envergava uma capa de lã castanha escura com tendência para largar pelo. Quando Elizabeth saiu finalmente da carruagem, estava coberta de fiapos de lã castanha. Como não queria chegar a parecer que tinha fugido de um canil, tinha passado a última meia hora a apanhar metodicamente todos os fiapos. A melhoria era visível, mas por muito cuidadosa que fosse, continuaria a parecer uma parente pobre quando chegasse a Bentham Park. Não que se pudesse intitular uma parente rica; era apenas uma parente afastada pobre de um dos parentes pobres de Lord Bentham.

    Mas também não importava. Quaisquer que fossem as falhas da sua aparência ou da sua educação, estaria uma vez mais em Bentham Park. Durante anos tinha sido como um lar para ela, contudo tinha pensado que nunca voltaria a vê-lo. O que importava se a sua roupa tinha um pouco de cotão? Lord e Lady Bentham poderiam não estar na propriedade, e mesmo que estivessem, provavelmente só os veria ao jantar. Lord Bentham tinha tendência para se refugiar num mundo só dele e a nova Lady Bentham tinha padrões que Elizabeth nunca poderia alcançar, por isso não valia a pena inquietar-se por causa disso. Só ia a Bentham Park porque Eleanor o tinha pedido e a sua amiga não se importaria se Elizabeth aparecesse coberta de andrajos. Uma falta de interesse pelas modas mais recentes era uma das características que ambas partilhavam.

    O humor de Elizabeth foi melhorando à medida que a alameda dava lugar à vista imponente e familiar de Bentham Park. O mordomo que esperava à porta era menos imponente, mas mais sobranceiro, deixando bem claro, com uma fungadela, qual era a sua opinião acerca de jovens senhoras que viajam acompanhadas apenas por uma criada. — Vou ver se Lady Eleanor está em casa — proferiu o mordomo.

    Uma vez que Elizabeth tinha acabado de chegar na carruagem de Eleanor que esta última tinha enviado para a trazer há menos de uma hora, parecia improvável que Eleanor não estivesse em casa, mas Elizabeth conseguiu reprimir o ímpeto de chamar a atenção do mordomo para este facto. Mais tarde rir-se-ia disto com a sua amiga. Em vez disso, passou a mão por uma das colunas de mármore que sustentavam a magnífica abóbada do Hall Grande. Era bom estar de volta.

    Passados poucos minutos, o mordomo, com um olhar pesaroso gravado nos seus traços doentios, acompanhou-a até à sala de visitas onde Eleanor estava sentada com uma postura elegantemente senhoril, todos os caracóis louros no devido lugar e que a saudou com o langor tão na moda entre a alta sociedade - uma maneira bastante diferente da carta desesperada que tinha enviado alguns dias atrás. Elizabeth não estava à espera de outra coisa, uma vez que os olhos de falcão de Lady Bentham estavam fixados na sua enteada.

    Após a troca de algumas cortesias, Eleanor sugeriu que Elizabeth talvez desejasse descansar depois da sua viagem. Com um passo tranquilo, acompanhou Elizabeth ao andar de cima até um quarto pequeno, mas elegantemente mobilado, fazendo conversa de circunstância durante todo o percurso.

    Logo que fechou a porta atrás de si, o sorriso de Eleanor desvaneceu-se. — Obrigada por teres vindo, Lizzy! Estava desesperada pelo teu bom senso e amizade.

    — Foi o que eu deduzi da tua carta — Elizabeth envolveu a mão de Eleanor na sua. — Vim o mais depressa que pude, mas não tão cedo quanto desejava. A tua carta preocupou-me tanto! Não parece coisa tua enviar um pedido de ajuda! O que aconteceu?

    — Tanta coisa – Mal sei por onde começar! É uma grande trapalhada. O Papá meteu na cabeça que já é altura de eu me casar e eu simplesmente não suporto a ideia! Já começou a tratar dos pormenores com o cavalheiro que escolheu para mim — Eleanor estremeceu. — O Papá planeia anunciar o noivado em setembro e devemos casar no início da Temporada.

    Elizabeth estava bem ciente da tendência da sua amiga para o drama, mas desta vez a sua voz tinha um tom de desespero. — Ele é assim tão mau?

    Eleanor torceu os dedos na seda cor-de-rosa bordada da sua saia. — Não — sussurrou ela. — Podia ser muito pior. Não tem mau feitio e não tem hábitos repugnantes, mas é cá um dândi! Não se preocupa com mais nada a não ser com a moda mais recente em coletes ou a perfeição do nó da sua gravata, imagina bem, e parte do princípio que toda a gente está tão fascinada com o seu guarda-roupa quanto ele. No nosso último encontro, chegou ao ponto de me dizer que tinha algumas ideias sobre a que modista de chapéus eu deveria recorrer para as minhas roupas de casamento, pois é crucial para a sua reputação que eu esteja à altura dos seus padrões de elegância masculina. E, claro, ele é um dos amigos da minha madrasta.

    — Oh, lamentou imenso. O teu pai está absolutamente decidido?

    — Irrevogavelmente. Mas ainda não te contei a pior parte.

    — Há mais?

    Eleanor acenou lastimosamente com a cabeça. — Estou apaixonada por outro homem.

    Uma batidela na porta anunciou a chegada do chá e Eleanor levou um dedo aos lábios em forma de aviso. As duas jovens permaneceram sentadas em perfeito silêncio enquanto o tabuleiro do chá era depositado e até a criada ter saído.

    — Oh, minha querida Eleanor! Não é um partido adequado?

    Ela abanou a cabeça. — Não para mim, mas para o meu pai é – totalmente inadequado, apenas porque o pai dele era comerciante. Não importa que o Geoffrey seja um perfeito cavalheiro, tão bem-educado como o meu pai ou qualquer um dos meus irmãos e que seja dono de uma bela propriedade. Está irremediavelmente manchado aos olhos do meu pai — Eleanor apertou os olhos para conter as lágrimas.

    Elizabeth afagou o braço da sua amiga. — Como o conheceste? Foi em Londres?

    — Não. Conheci-o pela primeira vez quando tinha seis anos, mas não o voltei a ver até ao Verão passado. Ele é um dos nossos vizinhos mais próximos e é o único homem do mundo que não espera que eu seja alguém que não sou. Não suporto perdê-lo, Lizzy.

    — Ele sabe dos teus sentimentos?

    — Ele sabe tudo. Por vezes conseguimos arranjar uns minutos juntos, mas não é frequente. A minha madrasta é um pau-de-cabeleira muito atento e os meus pais não aprovam a relação, mesmo como amigo. Foi só nos últimos dois anos, desde que o pai do Geoffrey morreu, que eles reconheceram a sua mera existência e mesmo agora ainda não o convidam cá para casa. Ele tem a educação de um cavalheiro e não parece diferente de qualquer um dos nossos amigos, mas o pai dele era tecelão antes de fazer fortuna na fiação — A sua expressão ficou um pouco mais triste. — Eu gostei do pai dele, na primeira e última vez que o conheci.

    Elizabeth franziu as sobrancelhas. — Se os teus pais não o reconheciam socialmente, como foi que tu o conheceste ou ao filho?

    Eleanor levantou-se e dirigiu-se à janela, com os dedos a delinear o caixilho enquanto olhava para fora. — Sem permissão, claro — A sua voz era monocórdica. — Foi durante os verões, quando eu ainda tinha rédea solta, sabes. Antes do meu pai voltar a casar... ainda mesmo antes de te ter conhecido.

    — Isso faz mais sentido — Elizabeth perguntava a si mesma se Eleanor tinha noção de quanto a sua própria vida ainda se parecia com o que Eleanor chamava rédea solta, o que tinha incluído tudo desde passear sozinha pelo campo a brigar com os seus irmãos. Tudo tinha terminado para Eleanor quando a sua madrasta, uma famosa beldade apenas oito anos mais velha que Eleanor, tinha decidido que era tempo de iniciar o processo de transformar Eleanor numa jovem senhora. A boa disposição de Eleanor tinha esbatido ao longo dos anos sob a rigorosa tutelagem da madrasta, que tinha sido tão bem-sucedida que, por vezes, Elizabeth se tinha questionado se a rapariga alegre com quem tinha brincado teria desaparecido de vez, deixando apenas a perfeita debutante. Elizabeth nunca tinha engraçado com a nova Lady Bentham, mas o pior era observar a mudança da sua amiga. Era bom ver a velha Eleanor outra vez, mesmo sendo por ela estar a sofrer.

    — Eu sei que tive sorte de ter tido uma altura em que podia voar livre, mas detesto tanto isto – quer dizer, ser uma menina como deve ser e um crédito para a família — Os olhos de Eleanor encheram-se de lágrimas. — Na altura não sabia a sorte que tinha. Naquele verão estava demasiado ocupada a ter pena de mim própria porque os meus irmãos não queriam brincar comigo por ser rapariga. Também se achavam bons demais para o Geoffrey e por isso eu e ele tornámo-nos amigos, mesmo apesar de ele ser mais velho do que eu. Ele ensinou-me a apanhar girinos — Moveu-se de forma inquieta pelo pequeno quarto como se este fosse demasiado exíguo para ela.

    — Como é que se voltaram a encontrar?

    — Não vais acreditar, mas foi num baile em Londres. Ele tem amigos suficientes na alta sociedade para lhe permitir comparecer a alguns dos saraus menos importantes. Não o reconheci logo, só quando passei por ele numa dança e ele disse que esperava que eu não tivesse girinos na minha bolsa. E foi aí que o reconheci, mas também percebi que algo tinha mudado entre nós. A forma como ele olhava para mim – fez-me sentir frio e calor ao mesmo tempo. Dancei como ele a dança seguinte a depois a dança antes do jantar. Fez-me rir e falei mais com ele do que tinha falado com qualquer cavalheiro durante toda a Temporada. Foi maravilhoso. Tive tanta pena de o deixar e logo que entrei na carruagem depois do baile, a minha madrasta começou a repreender-me pelo meu comportamento arrapazado. Meninas de bem não riem nos bailes; têm de fingir enfado. Nem falam com homens para além das palavras necessárias para despertar o seu interesse e partindo sempre do princípio que o homem em questão é um bom partido — Calou-se e deixou-se cair na cama como se o peso do seu elegante vestido fosse demais para ela. — Isto foi há quase um ano atrás.

    — Tens a certeza que o teu pai não permitiria um casamento entre vós?

    — Sem sombra de dúvida. A meu pedido, Charles, o meu irmão, levantou a questão, dizendo que financeiramente seria um bom casamento. O meu pai disse que preferia ver-me morta a casada com um dos Paxton.

    Elizabeth tentou imaginar como seria, mas era algo demasiado estranho para a sua própria experiência. Era impossível conceber algo que ela pudesse fazer que levasse o seu pai a preferir que ela morresse, mas não duvidava da história de Eleanor. Lord Bentham não era nada como o seu pai.

    — O Geoffrey queria pedir permissão de qualquer forma, dizendo que o pior que o meu pai podia fazer era recusar, mas está enganado. Isso não é o pior, se os meus pais fizessem a mais pequena ideia do meu interesse pelo Geoffrey, tornariam impossível para mim voltar a vê-lo. Já estamos juntos tão poucas vezes, que negar até isso – seria intolerável. Eu enlouqueceria.

    Sentindo-se impotente perante a infelicidade da sua amiga, Elizabeth disse: — Lamento imenso. Quem me dera poder fazer algo para ajudar.

    Eleanor apoiou-se nos cotovelos, agora, com um brilho nos olhos. — Mas há! É por isso que te pedi que viesses.

    Aquele olhar da Eleanor era normalmente sinónimo de sarilhos. O que é que alguém poderia fazer para ajudar? De certeza que não esperava que Elizabeth servisse de intermediária ou, pior ainda, que encobrisse uma fuga de casa! Com algum receio, disse — Espero que não estejas a pensar fugir com ele.

    Os ombros da sua amiga afundaram-se. — Quem me dera poder. O Geoffrey está disposto a isso, mas eu não posso. Significaria abandonar tudo o que conheço e amo. Seria renegada pela minha família. Não, já abandonei a esperança de conseguir casar com o Geoffrey. Tudo o que posso esperar é a oportunidade de passar algum tempo com ele antes de ser tarde demais.

    — Eu compreendo o teu desejo de estar com ele, mas isso tão tornará a despedida ainda mais amarga?

    — Não farias essa pergunta se alguma vez tivesses estado apaixonada. Sim, vê-lo vale bem qualquer dor.

    Então ela deveria quer ajuda para marcar um encontro secreto. Elizabeth sentiu um aperto no estômago. — E se fores apanhada com ele?

    Eleanor abriu um sorriso. — Não faz mal porque tu estás comigo a fazer-me companhia.

    — A tua criada não pode fazer isso?

    — Iria imediatamente contar do encontro à minha madrasta, que por sua vez iria impedir que isso voltasse a acontecer. Mas contigo é diferente. Desde que eu não faça nada impróprio, não precisas de contar a ninguém, pois não?

    Inquieta, Elizabeth respondeu: — Se os teus pais descobrem, vão ficar furiosos e com razão.

    — Eu tenho um plano para isso também. Se formos descobertos, eu digo-lhes que o Geoffrey está interessado em ti e que eu o estou a encorajar. Ele também convidou um amigo, um neto de um conde de reputação impecável, e nada seria mais natural que nós formássemos dois casais.

    Elizabeth abanou a cabeça com incredulidade. — Uma falsa corte entre mim e o teu Geoffrey?

    — Sim. A minha madrasta ficaria encantada, pois já não teriam necessidade de o excluir se ele casasse com a filha de boas famílias. É um desejo dela que ele consiga um casamento desses. Ela nunca aceitaria que ele se casasse com alguém da nossa classe, pois estaria a subir na escala social. Mal sabe ela! Tu serias a solução perfeita, uma filha de boas famílias, mas pobre o suficiente para fazeres vista grossa à origem da sua fortuna e tens boas maneiras, portanto serias uma vizinha aceitável.

    — Ao passo que o neto de um conde já seria uma companhia aceitável para ti!

    — Bem, talvez não para casar, mas para interações sociais, sim — Ao ver a expressão no rosto da sua amiga, Eleanor acrescentou apressadamente: — Espero que não tenhas ficado ofendida, Elizabeth. Não queria dizer que estás desesperada para arranjar marido ou que há alguma coisa de errado com a tua família. Só que é diferente para ti.

    Elizabeth riu-se — Não fiquei ofendida. Já ouvi bem pior acerca da minha família e sei bem que não sou igual a ti perante a sociedade. Quanto a um marido, nunca estive tão pouco interessada num na minha vida. Por vezes parece que não faço mais nada do que recusar propostas de casamento!

    — Alguém te pediu em casamento e não disseste nada a mim? — perguntou Eleanor.

    — Queridíssima Eleanor, partilharei qualquer outra coisa contigo de boa vontade, mas não humilharei os cavalheiros em questão revelando a ti ou a outra pessoa os seus nomes. Basta dizer que dois cavalheiros elegíveis e de posses me propuseram casamento nos últimos meses. Um era tolo e o outro era mal-humorado e rancoroso, e nem me passou pela cabeça aceitar qualquer um deles.

    — Oh, mas eu quero saber os pormenores! Sabes que te vou arreliar até me contares.

    — Nem sequer posso lavar o rosto e tirar esta roupa poeirenta? — perguntou Elizabeth com um sorriso.

    — Oh, claro que podes, patetinha! — rindo, Eleanor tocou à campainha.

    — Não preciso de uma criada se tu estás aqui para me desabotoar o vestido — objetou Elizabeth.

    Eleanor sacudiu um dedo na sua frente. — Agora estás em Bentham Park — disse ela. — Se Lady Bentham descobre que não tiveste uma criada para te servir, vai-nos repreender até chorarmos.

    Tu talvez chorasses, minha querida. Eu desataria a rir.

    Só mais tarde é que Elizabeth se apercebeu que não tinha exposto as suas objeções ao plano de Eleanor.

    PAXTON ERA HABITUALMENTE um indivíduo moderado, e era por isso que Darcy observou com preocupação o seu amigo servir-se do terceiro cálice de Porto em meia hora. Considerou perguntar diretamente o que o estava a preocupar, mas decidiu não o fazer. Uns meses atrás acharia que a sua velha amizade lhe dava esse direito, mas isso tinha sido antes de Elizabeth Bennet ter tido a audácia de o acusar de se comportar de uma forma pouco cavalheiresca. Nunca a perdoaria por isso, mas o facto tinha-o tornado mais cauteloso, mesmo com amigos íntimos como Paxton. Em vez disso, disse: — Este Porto é muito potente.

    O seu amigo ergueu o cálice e examinou-o. — Material potente para um tolo impotente — fez o Porto rodopiar como se fosse brandy. — Darcy, alguma vez estiveste apaixonado?

    Será que nunca lhe conseguiria escapar? O amor era o último assunto que ele queria discutir.

    — Deixa lá — disse Paxton. — Esquece a minha pergunta. Não é da minha conta — Engoliu um grande trago de Porto.

    Abruptamente, Darcy disse: — Sim. Já estive apaixonado. Não acabou bem.

    Isto fez Paxton erguer um olhar surpreendido. — Sempre achei que este tipo de coisa seria fácil para ti. Tens tudo – berço, fortuna, juventude.

    — Tu também — Darcy acabou a sua bebida e serviu-se de outra. Talvez Paxton estivesse certo.

    — Fortuna e juventude, sim. Mas não berço.

    — Isso nunca te importou antes.

    — Nunca me importei com o que os filhos de boas famílias pensavam de mim. Tinha demasiada pouca consideração por eles – excetuando o presente – para dar valor às suas opiniões. Até agora.

    — Uma dama da sociedade, é isso? E ela não te quer? — Darcy bem gostaria de ter um motivo tão bom para explicar o desdém de Elizabeth por ele.

    Ela aceitar-me-ia de bom grado. O pai é que não. Não sou bom o suficiente para a filha de um marquês.

    Se o pai dela era um marquês, não era de surpreender. Muitos pais da nobreza não permitiriam que as suas filhas casassem fora da sua esfera social, embora também houvesse aqueles cujas dificuldades financeiras eram tais que fechariam os olhos à fonte da fortuna de um homem. Mesmo assim, devia doer. — Então não existe nenhuma esperança de o fazer mudar de ideias?

    — Nenhuma. Já escolheu o futuro marido dela e planeia anunciar o noivado em breve — Paxton pousou o seu cálice com um suspiro. — E isso será o fim de tudo. Muito provavelmente não a voltarei a ver.

    — Lamentou ouvir isso. Se houver alguma que possa fazer para ajudar, se for útil eu falar com o pai dela em teu nome, só tens de dizer — Que disparatado isto soava! Claro que não havia nada que ele pudesse fazer. Se nem conseguia fazer uma proposta de casamento que não insultasse a mulher amada.

    — Sempre foste simpático em te ofereceres para usares as tuas relações em meu nome, e o meu orgulho sempre me levou a recusar. Neste caso, perdi o orgulho e, de facto, convidei-te para te pedir ajuda.

    Darcy nunca tinha visto o seu amigo tão desesperado. — Terei todo o gosto em fazer o que puder.

    — Preciso de um bilhete de entrada em Bentham Park. Conheces Lord Bentham, não conheces?

    — Sim. Então é a filha dele? — Era realmente um caso perdido. Talvez se justificasse um pouco mais de Porto.

    — Sim. Lady Eleanor Carlisle — proferiu o seu nome com uma certa reverência.

    Darcy tinha uma vaga memória de uma rapariguinha magra e algo desgrenhada. Provavelmente tinha melhorado desde esse tempo. — Já planeava visitar Lord Bentham. Podes acompanhar-me se quiseres, mas imagino que não precises de mim para isso.

    — Infelizmente preciso. Eles nunca me convidaram para lá nem me visitaram cá. Mesmo assim tenho mais sorte que o meu pai – pelo menos cumprimentam-me em público.

    Darcy estremeceu. — Lamento.

    — Não estou a pedir que intercedas por mim. Só quero uma oportunidade de conversar com Lord Bentham, para lhe provar que me consigo comportar corretamente e que não tenho sujidade por baixo das unhas. E se ele for tão longe como condescender em tratar-me como um cavalheiro, pretendo pedir a mão da filha dele em casamento. Vai recusar, claro, mas pelo menos tentei.

    — Lady Eleanor sabe do teu plano?

    — Não. Ela também convidou uma amiga na esperança de podermos ter alguns momentos juntos, mas não lhe contei que tenho um plano para tentar um ataque frontal. Ela tentaria dissuadir-me, com medo que isso enfurecesse o pai dela — A boca de Paxton estava apertada numa linha firme.

    — Não tenho objeções em realçar as tuas melhores qualidades a Lord Bentham, mas talvez seja melhor fazer isto por fases. Se os visitar-nos, terão de devolver a cortesia ou, pelo menos, convidar-nos para jantar. Seria difícil para eles ignorarem a minha presença na vizinhança. Embora tenha encontrado Lord Bentham poucas vezes nos últimos anos, o meu pai era o seu melhor amigo e a Marquesa Viúva é minha tia-avó e gostava bastante de mim. É uma mulher prática e é possível que esteja disposta o tomar o teu partido.

    — A Marquesa Viúva? No tempo dela, ignorava os meus pais, mas também não importa. Já não vive em Bentham Park. A atual Lady Bentham não aprecia a sua companhia e até a casa destinada à viúva é demasiado perto para ela se sentir confortável. A viúva tem a sua própria casa a cerca de vinte milhas daqui.

    Darcy ergueu as sobrancelhas. — Não acredito que o tenha aceitado de bom grado! Sempre foi uma mulher sem papas na língua.

    — Não sei o que aconteceu, mas a minha Eleanor gosta dela. Achas que Lord Bentham vai ter em conta a tua opinião sobre mim?

    Darcy esticou as pernas à sua frente. — Ele ouvirá o que tenho para dizer, quanto mais não seja, em consideração ao meu pai. Os meus pais apresentaram-no à sua primeira esposa, embora eu e a sua atual esposa não morramos de amores um pelo outro. O seu filho mais velho era o meu amigo mais próximo, mas está no exílio e fora das boas graças, portanto serve de pouco. Mesmo assim, Lord Bentham tem tentado manter-se em contacto comigo nestes últimos anos, e por isso talvez fique contente por me ver — Era verdade; Darcy tinha sido quem tinha repelido todas as tentativas feitas por Lord Bentham.

    — Nem que só consiga vislumbrar a Eleanor, vale a pena tentar. Embora Bentham Park fique apenas a três milhas daqui, tem sido difícil encontrar-nos porque ela está sempre acompanhada. Não vai dar em nada, está visto, mas dá-me algum conforto estar na presença dela.

    Darcy questionou-se se seria um conforto ou uma tortura estar na presença de Elizabeth. Era improvável que alguma vez soubesse a resposta. Mesmo assim, se um ombro amigo pudesse ajudar Paxton a ultrapassar o seu desgosto, Darcy estava disposto a ouvir, especialmente se outro cálice de Porto conseguisse afugentar aquela figura graciosa e agradável que insistia em o assombrar.

    Após emborcar mais três cálices, Darcy tinha perdido as esperanças de esquecer os belos olhos de Elizabeth nem que fosse por uma hora. No fim de contas, Paxton era mais afortunado do que ele. — Pelo menos podes consolar-te por saberes que Eleanor gosta de ti — Era mais do que ele tinha. Se Elizabeth gostasse dele, mas não pudesse casar com ele, teria sido suficiente. Ou era ao contrário – se ela tivesse casado com ele mas não gostasse dele, será que isso teria sido suficiente? Os seus pensamentos já não eram claros o suficiente para ter a certeza.

    — Presumo que a dama por quem estavas apaixonado não sentia o mesmo por ti?

    — Não — O Porto ardeu-lhe na garganta. — Ela detesta-me.

    Detesta-te? Isso é ridículo. É assim tão idiota?

    — Não, o idiota sou eu, por não perceber o que ela sentia antes de ter sido louco o suficiente para a pedir em casamento.

    — Vejamos, Darcy, pode ser verdade que ofendes as pessoas de vez em quando, mas ninguém te detesta.

    O rosto de George Wickham materializou-se na visão turva de Darcy, seguido por um eco da voz de Elizabeth. O senhor é o último homem do mundo com quem me convenceriam a casar. — Ela achava-me arrogante e egoísta. Conheci-a numa pequena vila do campo onde estava de visita ao meu amigo Bingley. Conheces o Bingley?

    — Darcy, estás bêbado. Fui eu quem te apresentou ao Bingley.

    Darcy tentou lembrar-se, mas só conseguiu evocar uma imagem indistinta de um jantar ou era uma partida de caça? — Fiquei enfeitiçado por ela, embora ela não fosse mais do que a filha impertinente de um proprietário rural de boas famílias mas sem fortuna. Tinha uma irmã apresentável, mas o resto da família comportava-se de uma forma lamentável. Casar com ela teria sido um rebaixamento e tive medo de criar expectativas a que não poderia corresponder, e por isso não disse nada. Saí de lá logo que pude e determinado a esquecê-la.

    — Abaixo de ti — disse Paxton, com amargura. — Sei bem o que isso é. De que vale o amor comparado com a tua linhagem.

    — Nada disso tinha importância. Ela não me queria — Darcy suspirou e, em seguida, repetiu as palavras mais devagar. — Ela não me queria.

    — Como podes dizer isso, se partiste sem dizer palavra?

    — Voltei a encontrá-la mais tarde. Pedi-a em casamento e ela recusou-me da forma mais áspera possível. Tinha passado meses a admirá-la, a demonstrar-lhe o meu interesse e no final das contas, ela não fazia a mais pequena ideia. Isso mostra o quanto ela me detestava – nem sequer me conseguia imaginar no papel de um possível pretendente. Eu pensava que ela estava a flirtar comigo, mas devia estar cego. Afinal não a conhecia. Acreditei que ela era doce e carinhosa, e se me tivesse passado pela cabeça que ela me poderia rejeitar, acreditava que o faria de uma forma meiga e bondosa. Em vez disso, repreendeu-me, fez-me acusações, disse que a minha atitude não era a de um cavalheiro. Fiz-lhe o maior elogio que poderia fazer a uma mulher e, como paga, ela atacou o meu caráter — Elizabeth tinha provado que não era a mulher perspicaz, inteligente e carinhosa dos seus sonhos. E então por que é que não a conseguia esquecer?

    Paxton sacudiu a cabeça e, em seguida, colocou a sua mão na testa como se precisasse de a firmar. — A mim parece-me que era uma víbora! Escapaste por pouco, meu amigo.

    Darcy encolheu os ombros, sem saber o que responder. Nunca tinha visto sinais de crueldade ou de um espírito vingativo em Elizabeth antes dessa noite. Tinha-o escondido bem ou então só era uma megera quando o assunto o envolvia. Contudo, o seu sentido de justiça não permitia que a explicação ficasse por aí. — Ela tinha uma alguma desculpa para ter uma ideia errada sobre mim. Lembras-te do George Wickham? Ele encheu-a com mentiras sobre a forma como o tratei mal. Mas ela acreditou nele.

    — O George Wickham que consegue enfeitiçar os passarinhos nas árvores, se estiver para aí virado.

    A boca de Darcy contorceu-se. — É bem verdade.

    — Mas porque é que ela te acha pouco cavalheiresco? Fizeste avanços que ela pudesse considerar impróprios?

    — Não. Ela simplesmente não gostou da forma como eu falei dos meus legítimos escrúpulos relativamente à família e às relações dela. Mas é tudo verdade. Ela é inferior a mim e eu pensei que a minha franqueza lhe mostraria quão forte é o meu amor.

    — Tu disseste que ela era inferior a ti durante o pedido?

    — Não era nada que ela já não soubesse!

    — Mesmo assim... — Paxton, com o rosto fechado, esvaziou o seu cálice tão depressa que se engasgou. — Imagina que um Duque...não, um Duque da Família Real pede a mão da tua irmã e diz-te durante o processo quão inferior tu és em relação a ele, quão degradante é para ele a mera ideia de casar com uma mulher sem um título e que os teus parentes são embaraçosos. Achas que te serias honrado com a sua franqueza?

    — Como se houvesse um Duque vivo da Família Real com quem eu permitisse que a Georgina casasse — resmungou Darcy. O quadro que Paxton tinha pintado era desagradável.

    Paxton suspirou. — Deixa lá. Mesmo assim, pensava que nenhuma mulher recusaria um homem com tanto para oferecer como tu. Existia outro que ela preferisse? Um partido melhor, talvez?

    — Não existia outro homem, pelo menos que eu tivesse conhecimento — A ideia fez o seu estômago dar uma volta. — Ela nunca conseguiria encontrar um melhor partido do que eu. Não tem fortuna. Fui provavelmente o homem mais elegível que ela alguma vez conheceu.

    O seu amigo assobiou baixinho. — Deve ser doida.

    Era precisamente isso que Darcy tinha dito a si próprio, vezes sem conta, mas ouvir as palavras em voz alta quebrou o feitiço. — Não, ela não é doida, simplesmente não é mercenária. Muito simplesmente achou que eu não era digno da sua atenção. Eu amava-a. Meu Deus, o que teria feito por ela!

    Mas ele sabia o que não tinha feito por ela. Não tinha tentado ganhar o seu respeito, apenas a tinha tentado comprar, e ela não podia ser comprada. Com uma mão trémula, verteu mais Porto para o seu cálice.

    Capítulo 2

    — Então, Lizzy, insisto que me fales dos cavalheiros que te pediram em casamento — Eleanor mostrava o caminho ao longo de um trilho que levava à zona arborizada do parque.

    — Há muito pouco para contar.

    — Não acredito! Quem foi o primeiro, o tolo ou o mal-humorado?

    — O tolo. Ele é um primo meu que nunca tinha visto, um clérigo que um dia vai herdar a nossa casa. Veio visitar-nos com o plano expresso de escolher uma esposa entre as minhas irmãs. Oh, se ao mesmo se tivesse interessado pela Mary! Mas não tivemos tal sorte. Não imaginas quão obsequioso e idiota ele é. Toda a gente ria à socapa por causa das suas maneiras pomposas e falta de discernimento. Nem sequer conseguia dançar sem fazer figura de parvo! Tive que passar pela dança mais mortificante da minha vida com ele num baile. No dia seguinte pediu-me em casamento de joelhos, expressando o seu amor ardente, embora só me conhecesse há menos de quinze dias. Podia ser uma cena de

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1