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Pode Me Chamar De Nick
Pode Me Chamar De Nick
Pode Me Chamar De Nick
E-book551 páginas6 horas

Pode Me Chamar De Nick

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Sobre este e-book

Inteligente, dedicado e estimado por muitos, Nicholas Kenwall é o que se pode chamar de homem de sucesso em todos os aspectos. No âmbito profissional, a combinação de um currículo acadêmico exemplar, o tato para gestão de negócios e seu carisma elevado fez dele um notável e admirado líder, dono de uma rede de policlínicas espalhadas pelo Canadá e Inglaterra. Sua vida pessoal também não deixa a desejar – casado com a belíssima Louise Marchesi, com quem tem um filho, James, Nick é o marido e pai dos sonhos – ao menos na frente das câmeras. Ele, no entanto, possui uma outra face que não se revela; uma face sua que ninguém conhece – ninguém a não ser suas vítimas… Com tantos casos de desaparecimentos e achados de corpos se acumulando, até quando Nick será capaz de viver uma vida dupla e manter seu lado sombrio longe dos holofotes? “Pode me Chamar de Nick é uma imersão nas profundezas psicológicas de um assassino em série e um convite para questionar o que realmente está escondido por trás das máscaras de pessoas aparentemente perfeitas. Você ousa encarar a escuridão que habita a mente de Nick?
IdiomaPortuguês
EditoraClube de Autores
Data de lançamento11 de jul. de 2023
Pode Me Chamar De Nick

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    Pode Me Chamar De Nick - Michelle Andry

    Capa de "Pode me Chamar de Nick"

    PODE ME CHAMAR DE NICK

    Michelle Andry

    Copyright © 2023 Michelle Villaça Andry Todos os direitos reservados.

    Esta é uma obra de ficção.

    Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.

    Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida total ou parcialmente, por nenhuma forma e nenhum meio, seja mecânico, eletrônico, ou qualquer outro, sem autorização prévia escrita do autor e editor.

    Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

    Contents

    PRÓLOGO

    CAPÍTULO 1

    CAPÍTULO 2

    CAPÍTULO 3

    CAPÍTULO 4

    CAPÍTULO 5

    CAPÍTULO 6

    CAPÍTULO 7

    CAPÍTULO 8

    CAPÍTULO 9

    CAPÍTULO 10

    CAPÍTULO 11

    CAPÍTULO 12

    CAPÍTULO 13

    CAPÍTULO 14

    CAPÍTULO 15

    CAPÍTULO 16

    CAPÍTULO 17

    CAPÍTULO 18

    CAPÍTULO 19

    CAPÍTULO 20

    CAPÍTULO 21

    CAPÍTULO 22

    CAPÍTULO 23

    CAPÍTULO 24

    CAPÍTULO 25

    CAPÍTULO 26

    CAPÍTULO 27

    CAPÍTULO 28

    CAPÍTULO 29

    CAPÍTULO 30

    CAPÍTULO 31

    CAPÍTULO 32

    CAPÍTULO 33

    CAPÍTULO 34

    CAPÍTULO 35

    CAPÍTULO 36

    CAPÍTULO 37

    CAPÍTULO 38

    CAPÍTULO 39

    CAPÍTULO 40

    CAPÍTULO 41

    CAPÍTULO 42

    CAPÍTULO 43

    CAPÍTULO 44

    CAPÍTULO 45

    CAPÍTULO 46

    CAPÍTULO 47

    CAPÍTULO 48

    CAPÍTULO 49

    CAPÍTULO 50

    CAPÍTULO 51

    CAPÍTULO 52

    CAPÍTULO 53

    CAPÍTULO 54

    CAPÍTULO 55

    CAPÍTULO 56

    CAPÍTULO 57

    CAPÍTULO 58

    EPÍLOGO

    ANEXOS

    BIBLIOGRAFIA

    AGRADECIMENTOS

    About The Author

    Books By This Author

    PODE ME CHAMAR DE NICK

    MICHELLE ANDRY

    Para os meus dois grandes amores:

    Guilherme e Sam (meu cachorro).

    O Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal.

    Então o ­Senhor arrependeu-se de ter feito o homem sobre a ter­ra, e isso cortou-lhe o coração.

    Gênesis 6:5-14, Bíblia Sagrada

    PRÓLOGO

    07 de julho de 2018

    Bowen Island – BC, Canadá

    Cavei um buraco fundo na terra e, quando terminei, joguei a pá ao meu lado e limpei o suor da testa com o braço. Que calor desgraçado. avei um buraco fundo na terra e, quando terminei, joguei a pá ao meu lado e limpei o suor da testa com o braço. Que calor desgraçado. E olhe que já eram quase dez da noite.

    — Esse jogo de cama custou caro – falei a você, que estava na caçamba da pick-up, camuflada em meio a sacos de batatas e outras tralhas.  – As outras não tiveram essa sorte de um enterro digno como o seu. Elas não mereciam um lençol. Mas você é especial; sabe disso, não é?

    Fui até você, tirei-a de lá com certo esforço e arrastei-a para perto do buraco recém cavado. Tentei colocar seu corpo embrulhado no lençol lá dentro com cuidado, mas você não estava muito a fim de colaborar comigo, de modo que a deixei despencar dos meus braços no final. Desculpe por isso.

    — Eve, você parece uns dez quilos mais pesada. Preferia carregá-la quando estava viva.

    Levei mais algum tempo para encher a cova de terra novamente e, quando terminei, fiquei um pouco chateado de pensar que agora não poderia mais brincar com você. Foi legal, Eve. Foi tão legal que até uma oração resolvi fazer em sua homenagem, mesmo sem acreditar em nada dessas porcarias, mas só em consideração a você.

    — Pai Nosso que estais nos Céus, santificado seja o Vosso Nome; venha a nós o Vosso Reino; seja feita a Vossa vontade... Ah, que se foda.

    Desculpe, Eve, não consegui terminar.

    Voltei à caminhonete e abri a porta, prestes a ir embora, mas senti-me um pouco mal por não ter terminado sua oração, então voltei e peguei uma pedra qualquer no meio da mata ao redor e coloquei em cima de seu túmulo.

    — Finja que é uma pedra da Escócia.

    Entrei na pick-up, dei partida no motor e fui embora.

    CAPÍTULO 1

    Agora que finalmente meu plano tinha sido executado, era hora de lidar com a parte chata: arrumar a bagunça. E essa bagunça se chamava Tyler e ela estava em Nova York.

    Depois de colocar você para descansar em seu novo lar de terra, voltei ao galpão rapidamente para começar a limpeza. Para o caso de ter esse lugar encontrado pela polícia – o que, eu sabia, era só questão de tempo –, era necessário limpar os vestígios de que estive ali – lenço umedecido Lysol nas superfícies para apagar digitais, que além de tudo deixava o ambiente cheiroso, e um check-up geral para ver se não havia fios de cabelo ou qualquer pequena secreção que pudesse conter meu DNA. Bom, pelo menos eu tinha o bom senso de não derramar sangue. Poupava-me o trabalho de limpar isso também.

    Peguei meus pertences pessoais e o saquinho de lixo com evidências, certifiquei-me de que estava tudo em ordem, tudo no lugar, e parti.

    Tirar a vida de alguém me trazia uma sensação de paz de espírito tremenda, mas, infelizmente, era o tipo de coisa que demandava um procedimento cauteloso e muito bem planejado se não quisesse ser pego. O que queria dizer que eu tinha de passar por várias etapas, além da limpeza, claro, para não deixar nenhuma pista. Isso sim era cansativo. Mas valia a pena quando eu pensava no resultado. Grandes conquistas exigem grandes sacrifícios.

    Check list dos próximos passos, depois de deixar o galpão em ordem: levar a pick-up em outro canto da ilha – longe do galpão, entre norte e nordeste, longe da sua Tucson, ao sul, e, principalmente, longe do seu corpo, Eve, a oeste – de modo a separar todas as ligações com o crime. Era uma ilha pequena, o que facilitava para mim nesse ponto, porque eu podia ir de um lado a outro com facilidade; era uma questão de minutos. Porém grande o suficiente para o pessoal da investigação, se cogitassem explorar cada perímetro de terra.

    Já fiz isso antes e tanto meu galpão quanto minha pick-up ficaram a salvo, e nenhum corpo havia sido descoberto até agora, o que me deixava mais do que confiante que dessa vez não seria diferente, embora, é claro, houvesse uma pista a mais em jogo – estou falando da Tucson. Das outras vezes, Bowen Island não fora uma possibilidade de investigação, e agora seria por causa daquela merda de carro. Mas eu não podia reclamar; tudo aconteceu exatamente como planejei e, mesmo que eu fique um pouco desconfortável com polícia rondando a minha ilha, não acho que terei problemas.

    ​Deixei a pick-up em seu lugar de sempre quando eu estava ausente – estacionada em uma vaga pacata da St. Gerard's Catholic Church, uma igrejinha mais pacata ainda. Igrejas são inofensivas. Carros em vagas de igrejas são inofensivos. Ninguém desconfia de carros em vagas de igrejas. Todo mundo desconfia de carros escondidos – seja no meio da mata, seja em algum lugar abandonado... Em vaga de igreja, não.

    ​Andei mais um quilômetro e meio até chegar no Civic, meu carro oficial, que deixava estacionado perto da Pebbly Beach nessas ocasiões. No meio do caminho, joguei o saquinho com as evidências em uma caçamba de lixo comunitário. Por ser tarde da noite, não cruzei com uma alma viva no caminho inteiro, desde que deixei o galpão. Isso era muito bom. Haveria zero vírgula zero, zero, zero, zero suspeita sobre mim. Eu sou muito foda. Nick, o foda. Não; Nick, o mais foda de todos. Sorri para mim mesmo, porque eu era foda.

    ​Coloquei minha mochila no banco do passageiro – minha preciosa, preciosa mochila, onde dentro estavam guardadas minha preciosa, preciosa caixa, contendo os objetos das minhas conquistas pessoais, e minha preciosa, preciosa câmera, da qual em breve eu revelaria a última foto nela capturada –, liguei o motor e parti em direção ao terminal. A última balsa para Vancouver saía em vinte minutos.

    ***

    Estacionei o carro no centrinho de Kerrysdale e fui a pé até nossa casa – que agora era só minha casa, por sinal – para não chamar a atenção de nenhum vizinho, porque, para todos os efeitos, eu estava em Nova York e meu carro teoricamente devia estar em algum estacionamento perto do aeroporto. Não que os vizinhos soubessem que eu estava fora. E não é como se levantassem suspeitas de um carro chegando em sua própria casa, mas elas com certeza se lembrariam da ocasião caso uma autoridade da lei começasse a fazer perguntas.

    Mochila nas costas e um boné na cabeça, estava quase chegando na entrada de casa quando um casal virou a esquina e começou a vir em minha direção, então não entrei. Passei reto. Talvez eu seja cuidadoso além da conta, mas é melhor assim, porque não sei se esse casal mora aqui por perto e pode ter informações contra mim no futuro. O homem da casa não está na cidade, pessoal, ele está em Nova York. Quando estava a uns duzentos metros à frente do meu verdadeiro destino, olhei por cima do ombro e vi os dois entrando em uma das casas desta mesma rua – do outro lado da rua, na quinta casa à direita da que é de frente para a minha. Veja só, meus vizinhos! Ainda bem que não entrei. Meu instinto não falha.

    Andei mais alguns metros para me certificar de que não tinha mais ninguém passando àquela hora. Não tinha. Virei o corpo noventa graus, abaixei e fingi amarrar o cadarço do tênis, só para o caso de alguém estar olhando por alguma janela no exato momento em que me viraria para voltar o caminho. Isso talvez passasse despercebido, mas talvez a pessoa ficasse desconfiada. Em todo caso, o que fiz era menos suspeito – qualquer um que pudesse ter me visto de relance pela janela não teria interesse nenhum em continuar me observando amarrar o tênis e desviaria o foco de atenção. Será que eu era paranoico ou só precavido mesmo?

    Desamarrei o cadarço e dei um novo laço, contando mentalmente dez segundos. Levantei e comecei a voltar o caminho pelo qual vim. Pouco antes de chegar à porta de casa, corri os olhos ao redor à procura de alguma testemunha. Ninguém. Tirei as chaves do bolso e destranquei a fechadura com a rapidez de um lince.

    Pronto. Entrei.

    Não acendi as luzes, porque, teoricamente, não tinha ninguém em casa, mas, em todo caso, não era necessário – as luzes dos postes de fora faziam claridade suficiente do lado de dentro para que eu pudesse enxergar bastante bem assim que meus olhos se adaptassem à semiescuridão.

    Subi ao nosso quarto – opa, o meu quarto... Estou percebendo que vai ser difícil me acostumar com sua ausência, Eve –, liguei meu laptop e a impressora, pluguei a câmera, descarreguei as fotos que tirei nas últimas horas – fotos suas, Eve, deitada, de olhos fechados, imóvel... linda como um anjo – no HD externo que eu tinha para essa finalidade, e imprimi a que eu mais gostei delas para ir para a caixa, junto com aquela sua outra que tirei em vida e junto com seu anel celta, que era de Amy antes de eu dá-lo a você, e com seu colar da Tiffany, que também foi um presente meu, mas este sempre pertenceu a você e só você.

    — Perfeito – sorri para a minha coleção de fotos e itens que aumentava.

    Desliguei o laptop, removi o HD e guardei-o junto com a caixa ultrassecreta no fundo falso do armário atrás das minhas caixas de sapatos.

    Abre parênteses. Ah, Eve, estou sorrindo neste momento, imaginando o que será que se passou pela sua cabeça quando pedi que pegasse a caixa atrás dos sapatos. Você deve ter ficado se perguntando como é que nunca viu aquilo ali antes. Acho que nunca imaginou um fundo falso, não é? Fico triste em pensar que há muitas coisas sobre mim que você ainda não sabe e nunca terá a chance de saber, embora eu lhe tenha feito um resumo bem detalhado dos eventos mais importantes em minha vida. Ninguém nunca soube nem metade, entende? Você foi definitivamente a pioneira nesse aspecto. Será que um dia alguém vai alcançá-la?

    Devaneios a parte, tomei uma ducha rápida no escuro e joguei minhas roupas suadas de hoje no cesto de roupas sujas. Vesti-me já com a camiseta e a calça que iria ao aeroporto amanhã de manhã, coloquei o despertador para as quatro e meia e peguei no sono em questão de segundos.

    CAPÍTULO 2

    Quando o alarme tocou, eu quis arremessá-lo na parede. Queria muito dormir mais um pouco, ainda mais com a leve dor nos braços que estava sentindo devido ao esforço físico de ontem de cavar sozinho uma cova funda e carregar um corpo – o seu corpo, Eve – para lá e para cá. Mas eu tinha de me levantar. Ainda tinha bagunça para limpar.

    De volta ao check list dos próximos passos, depois de deixar o galpão em ordem: deixar a pick-up num lugar seguro, check. Jogar fora o lixo com evidências, check. Guardar os objetos ultrassecretos no fundo falso, check.

    Agora, lá estava eu dirigindo meu Civic até Abbotsford para deixá-lo em um estacionamento e arranjar um táxi – táxi, não motorista de aplicativo, pois aplicativos geram registros, e meus registros não poderiam constar que eu estava em território canadense no dia de hoje – até o aeroporto, só para não ter minha placa gravada nas câmeras de segurança. Assassinatos de pessoas conhe-cidas geram um planejamento terrivelmente cuidadoso, Eve, saiba disso.

    — Para o aeroporto, então, campeão? – disse o motorista quando me sentei no banco de trás, com um sorriso feliz querendo puxar papo.

    Eram seis e vinte da manhã. Quem quer puxar papo às seis e vinte da manhã, porra? Vá se foder.

    — Isso.

    — Legal! A passeio?

    Não é da sua conta.

    — Sim – respondi, olhando através da janela.

    — Bacana! Não vejo a hora de tirar umas férias também.

    Qual é o nome dessa coisa que faz as pessoas começarem a falar da própria vida sem que ninguém tenha perguntado nada?

    Limitei-me a olhar para ele pelo retrovisor e dar um sorrisinho.

    Fez-se um silêncio de alguns minutos. Acho que ele percebeu que estava sendo inconveniente.

    — Para onde está indo?

    Só que eu achei errado.

    — Toronto.

    — Legal! Nunca estive lá.

    Foda-se, cara.

    Não sei se ele disse mais alguma coisa depois disso, mas pouco importava. Estava pensando nos próximos passos: chegar em Nova York e primeiro de tudo, encontrar John, o meu traficante americano – já tinha falado com ele uma semana atrás para avisá-lo que estaria na cidade em poucos dias e precisaria me abastecer. Era engraçado pensar no fato de Allison e John me enxergarem como um cara fodido da cabeça com transtorno de ansiedade, e um viciado em drogas e remédios para uso recreativo, respectivamente. Meus traficantes não tinham nem ideia do real motivo que me fazia adquirir essas substâncias, ou não me venderiam. Era engraçado porque era mais ou menos assim: tudo bem você comprar umas toxinas e usá-las em si mesmo para se auto entorpecer ou se autodestruir, mas você não pode usar essas mesmas merdas em outra pessoa para entorpecê-la ou destruí-la. Qual era a lógica?

    — É sua primeira vez?

    — Hein? – perguntei, já meio absorto.

    — Em Toronto. É a primeira vez que viaja para lá?

    — Não, já fui duas vezes.

    — Que maneiro, cara! Eu e minha esposa pretendemos ir um dia, antes de termos filhos, porque, sabe como é, né? Depois dos filhos, aí é que não dá mesmo – comentou com uma risadinha, esfregando repetidamente a ponta do dedo indicador e o dedo do meio com o polegar, sinal indicativo de falta de dinheiro após a mulher dar cria.

    — Está dizendo que o gasto que você teria com filhos o deixaria sem recursos para fazer outras coisas, como viajar, é isso?

    Foi uma pergunta retórica. Eu só queria que ele confirmasse, para que eu pudesse falar o que precisava ser dito.

    — Exatamente!

    — Então por que ter filhos?

    Ele demorou uns cinco segundos para responder. Olhe só! Eu consegui deixar o tagarela sem palavras!

    — Bem... – ele me olhou pelo retrovisor, pelo qual eu o encarava fixamente, esperando uma resposta. Vamos, responda! Você não é bom de conversar? – É que filhos são uma bênção, não é? – respondeu finalmente, sorrindo para mim, mas sem muita firmeza. Não senti convicção em sua resposta.

    — Entendi – disse, com uma risadinha irônica e dei de ombros. – Você é quem sabe.

    — Por quê? Você não pensa assim? – ele perguntou, e eu notei a insegurança em sua voz. Percebi que nem ele mesmo acreditava no que dizia. Ele repetia como um papagaio aquilo que lhe fora ensinado – Filhos são bênçãos., Crianças são anjos na Terra., e a merda toda –, mas não era o que ele achava. Ele só não sabia disso ainda.

    — Não mesmo – respondi calmamente. Queria expor minhas ideias a este pobre homem que não pensava por si mesmo e trazê-lo à luz. – Eu acho que somos o tempo inteiro criados para pensar que devemos trazer crianças ao mundo depois de nos estabelecermos com alguém sob a alegação de que nossas vidas ficarão mais completas e felizes com esses filhos. Que eles nos darão razões para viver. Não é isso?

    Ronald – havia uma plaquinha com seu nome sobre o painel do veículo – deixou sumir o último vestígio de sorriso que mantinha nos lábios cem por cento do tempo em que estava trabalhando para manter o ar simpático. Ele agora estava meditativo.

    — É, meio que sim – concluiu.

    — E você sente isso? Que seus futuros filhos é que trarão a você sentimento de felicidade e orgulho?

    — Não é isso que deveria acontecer? – perguntou, meio em dúvida.

    — Não sei... – dei de ombros mais uma vez. – É o que estou lhe perguntando.

    Agora foi ele quem não disse nada. O tagarela se calou.

    — Não acha que – comecei a dizer o que realmente queria dizer – depositar suas expectativas de alegria e senso de responsabilidade em filhos não é um tipo de fuga? Não é querer, sei lá, preencher o vazio de si mesmo? Não é querer dar um significado à sua existência que você próprio considera insignificante?

    Ronald engoliu em seco.

    — O que quer dizer?

    — Vamos – sorri maliciosamente. – Você entendeu. Dizem que ser pai é altruísmo. É dar tudo de si para os nossos filhos. Mas será mesmo? Será que não é exatamente o oposto disso? Um ato completamente egoísta, um jeito de conseguirmos suportar nosso peso na Terra enquanto nos ocupamos em criar um humanozinho que preencha os buracos da nossa alma? A sociedade implantou nas nossas cabeças que ter filhos é uma dádiva e todas essas ideias, mas o que ela diz é mais como um Isso, coloque uma criança no mundo para alimentar o seu ego, porque esse é o único jeito de fazer você se sentir importante!

    Ronald não tinha palavras. Ronald tensionava a man-díbula. Ronald estava aflito.

    Ele engoliu em seco mais uma vez antes de me responder.

    — Você... acha mesmo isso?

    — Você não? – Lancei-lhe um sorriso enviesado pelo retrovisor.

    — Não sei.

    Dei de ombros e fingi desinteresse, tornando a olhar pela janela. Estávamos próximos do aeroporto agora, segundo informavam as placas de trânsito.

    — Acho que você tem razão – soltou.

    Finalmente! É, Ronald, eu tenho mesmo razão. Sempre tenho.

    Virei-me para ele, que agora tinha minha total atenção.

    — O que o fez chegar a essa conclusão?

    — Ah... – ele coçou a cabeça com uma das mãos, refletindo sobre minha pergunta. – Não sei bem. Acho que eu nunca realmente me vi sendo pai, entende? Mas eu meio que aceitava essa imposição, se é que podemos chamar assim, simplesmente porque parecia o certo a se fazer. E agora, você falando isso, fez tanto sentido... – ele balançou a cabeça num ato de epifania, como quem acabou de descobrir os Mistérios da Humanidade. – Tanto sentido! – repetiu, ainda perplexo e de olhos esbugalhados. – Talvez eu só aceitasse a condição de que deveria querer construir uma família porque é o que todo mundo faz e deve fazer, mas sem me questionar direito o porquê. Cara – ele se virou para me encarar de frente, sem ser pelo intermédio do retrovisor. – Você é um gênio, cara – virou-se de volta para olhar a pista antes que enfiasse o carro na bunda de outro ou coisa semelhante. – Você me fez enxergar além do muro que colocaram na minha frente!

    Eu sei, Ronald. Sou seu herói.

    — Então o quê? Desistiu de ter filhos por enquanto? – provoquei.

    — Cara – ele usava muito a palavra cara agora que pensava ter atingido um nível relevante de parceria. De Ronald, o motorista para Ronald, o parceiro. – Eu de fato preciso pensar sobre isso um pouco, mas... – ele não completou a sentença.

    — Mas... – instiguei. Vamos, Ronnie, desabafe.

    — É minha mulher, sabe... Como é que vou dizer a ela que não quero mais ter filhos, sendo que ela já está se planejando toda para um bebê em breve?

    — Acha que ela não aceitaria uma vida ao seu lado sem a promessa de filhos?

    — Eu... Ah, cara, é complicado. Eu acho que não – balançou a cabeça, derrotado. – É que a gente meio que acertou isso antes mesmo de se casar. Ela disse que só se casaria com alguém que estivesse disposto a formar família, saca?

    Eu tive vontade de arrancar aquela aliança dourada e grande e realmente muito dourada e muito grande do dedo dele e jogar pela janela. Mas que vaca manipuladora do cacete! O cara tem que ser muito idiota para aceitar uma chantagem dessas em nome do amor.

    — Hm... Entendo. Então ela não se casou com você porque é você, não acha, amigo?

    — O quê? – disse, meio sem entender. Mas no fundo ele sabia exatamente do que eu estava falando.

    — Pelo que está me dizendo, ela se casou com você porque você se dispôs a dar-lhe filhos.

    — Não, cara. A gente se gosta muito, pô. Senão é claro que não nos teríamos casado!

    — Saquei – respondi, bastante desinteressado. Ronald estava sendo uma mula teimosa e eu não dou atenção a mulas teimosas. Virei-me e voltei a olhar, pelo vidro, as coisas se tornando um borrão por causa da velocidade do carro.

    Passaram-se uns três minutos. Eu contei. Dois minutos e cinquenta e dois segundos, para ser exato. Eu sabia que ele não deixaria isso para lá.

    — Cara – chamou-me.

    — Hm?

    — Será que você tem razão?

    Ronnie, você não percebeu que eu sempre tenho razão, cacete?

    — Cara – usei seu linguajar para passar mais confiança ao meu parceiro. As pessoas gostam de familiaridade. – Não sei, sabe, foi a impressão que eu tive com esse relato seu. Mas é claro que não sou eu o casado. Não posso garantir nada.

    Chegamos no aeroporto. Estávamos passando pelo estacionamento. Ele estava calado e tenso, não dissera mais nada nos últimos quatro minutos. Ele aceitaria seu fatal destino como pai de família ou tomaria as rédeas da vida e decidiria que o que ele queria mesmo era viver, conhecer o mundo e pensar em construir uma carreira de sucesso antes de estar realmente pronto para empestear o planeta com novos pirralhos, se é que um dia o faria?

    Quatro minutos e cinco segundos. Eu contei.

    — Que merda, cara... – ele disse por fim, resignado.

    Bingo.

    Essa frase foi decisiva para que eu soubesse o que enfim seria escrito nas estrelas de Ronald, o motorista parceiro – que em breve seria Ronald, o motorista parceiro divorciado.

    Como eu sabia? Sei lá, cara, eu só sabia. Por sua fala, pelo seu ar de derrota, pelas palavras que usou, eu sabia o que aconteceria dali para frente. Ronald tomaria coragem para falar com a mulher quando viesse a calhar; ele diria a ela que repensou e talvez achasse que eles deviam viver um pouco antes de pensar em bebês, que ele ainda não estava totalmente pronto, ao contrário do que acreditava; ela choraria – O que deu em você, Ronald?, Por que mudou de ideia, Ronald?, Você está me destruindo, Ronald!, "Os nossos sonhos, Ronald, você os está matando!, Ronald... quem é você?"; eles tentariam fazer dar certo e talvez a união ainda durasse alguns meses, mas, em algum momento, eles perceberiam a lacuna que se formou no casamento, que jamais seria preenchida novamente; então ela pediria o divórcio.

    — Boa viagem, cara – disse Ronald, meio desanimado, ao me deixar nos portões de entrada do aeroporto.

    — Obrigado, cara. Tome, fique com o troco – respondi, dando-lhe o dinheiro da viagem e mais uns cinco dólares de gorjeta, porque eu estava me sentindo caridoso. E também porque ele em breve seria um cara divorciado. Talvez fosse precisar de um dinheiro extra para refazer a vida. Antes de sair, acrescentei: – Boa sorte com sua esposa.

    Fechei a porta logo em seguida, não dando a oportunidade de ele me responder.

    Fiquei parado na fachada do aeroporto por um momento, vendo Ronald partir devagar. Se fosse um motorista de aplicativo, eu teria sacado o celular do bolso naquela hora e avaliado minha experiência com ele. A princípio, teria dado uma estrela e teria comentado fala demais. Mas, levando em consideração os últimos dez minutos de trajeto, ele merecia cinco. Não, quatro. Ele ainda falava demais e tem dias em que a gente não está muito para papo. Hoje, porém, ele conseguiu me engajar na conversa e tornar a viagem interessante. Quatro estrelas para você, Ronnie. Fala bastante, mas é gente boa. E dirige bem., teria comentado na avaliação.

    Você deveria virar motorista de aplicativo para receber estrelas, Ronald. Mas, pensando bem, se você fosse motorista de aplicativo, não teríamos nos conhecido. Talvez seu papel no mundo seja como taxista mesmo.

    CAPÍTULO 3

    Eu havia deixado meu chip de celular com Tyler antes de ele embarcar para Nova York, para o caso de o número ser rastreado pela polícia de Vancouver quando as suspeitas do desaparecimento de Eve recaíssem sobre mim. Ei, eu estava nos Estados Unidos o tempo todo, galera. Não podem me culpar. Sendo assim, havia combinado dois dias antes com John, meu traficante, que o encontraria no lugar de sempre no dia de hoje, oito de julho, às oito da noite em ponto.

    Consegui um voo às oito e meia da manhã e fiz os cálculos rapidamente. Chegaria por volta das cinco da tarde no Aeroporto de LaGuardia. Colocando uns minutos a mais, porque aviões sempre atrasam, eu chutava umas cinco e meia. Não, cinco e trinta e cinco. OK, próximos passos: descer do avião e esperar a bagagem levaria alguns minutos, depois eu pegaria um táxi até Manhattan, que ficava a mais ou menos vinte e três minutos do aeroporto. Considerando os padrões de trânsito – puta merda, eu chegaria no pior horário do planeta, com uma porrada de engarrafamento – talvez levasse uma meia hora ou mais. É. Com tudo milimetricamente calculado, eu pensava estar até um pouco adiantado para o meu encontro. Melhor assim. Não gostava de atrasos.

    O táxi me deixou na cidade às seis e vinte e oito. Como agora estava muito adiantado, decidi passar no Starbucks comer alguma coisa, pois eu precisava matar um pouco de tempo. Lá dentro, percebi que talvez estivesse com fome mesmo, então foi bom. Minha última refeição tinha sido antes de sair de casa hoje de manhã – não comi no avião porque dormi durante o voo.

    A última vez em que estive neste estabelecimento foi com você, Eve, então pedi um Red Velvet em sua homenagem, pois era o que você gostava. Dei uma garfada. Credo. Que negócio nojento. Eve, como você conseguia?  Despejei o resto no lixo. Uma mulher que viu a ação me olhou feio, como que me julgando. O que foi, palhaça? Queria mostrar o dedo do meio para ela, mas o contexto não era ideal, então o fiz mentalmente. Fui embora, passando pela mulher bem devagar e olhando-a feio também, mas ela pareceu intimidada, pois baixou o rosto para não me encarar de volta. Vaca.

    Entrei na padaria logo atravessando a rua. Starbucks que se foda. As franquias que se fodam. São superestimadas, caras, e a qualidade é um milhão de vezes inferior à dos estabelecimentos locais. Não acredito que você me fez financiar esse lixo de franquia que é o Starbucks, Eve. Duas vezes! Quando estava aqui comigo em dezembro do ano passado e agora que me induziu pelo pensamento. Você deveria saber que os estabelecimentos locais é que mereciam respeito.

    Pedi uma quiche de presunto e queijo e um café com leite. Porra, isso sim estava uma delícia. Aprenda comigo, Eve. Starbucks nunca mais.

    Eram sete e trinta e dois quando cheguei na viela, porque não tinha nada mais interessante para fazer depois de ter me alimentado, então só me restava esperar.

    John apareceu oito e sete. Ele era uma figura curiosa, parando para pensar. Quando ouvi seu nome pela primeira vez, automaticamente imaginei um cara branco, mimado, que ganhava mesada do pai rico e ainda assim vendia drogas só para quebrar as regras, porque não queria trabalhar honestamente e porque não tinha mais com o que se preocupar na vida. Se fosse em cana, o pai influente mexeria uns pauzinhos para soltarem o filho para não ter o nome maculado nas manchetes. Mas o John de verdade era um negro muito negro de um metro e noventa, que provavelmente cresceu na periferia, não conhecia o pai, e a mãe trabalhava fora o dia inteiro para sustentar os cinco filhos. O John de verdade não concluiu o ensino fundamental e começou a traficar porque era o único jeito de ganhar a vida de modo mais simples. No fim, cheguei à conclusão de que John nem era o seu nome verdadeiro.

    — Fala, mano – ele me cumprimentou.

    — E aí.

    Ele olhou para os dois lados a fim de garantir que não havia ninguém ali além de nós e chegou mais perto.

    — Tá com a grana?

    Foi quase uma pergunta retórica. Ele sabia a minha resposta.

    — Sempre estou – respondi casualmente.

    Eu e John, a gente se dava bem. Só tínhamos contato quando eu o requisitava para me fornecer, mas eu sentia que ele ia com a minha cara. Até porque eu nunca fiquei devendo; estava sempre com a grana no bolso para ele. Assim que fazíamos negócio, cada um ia para o seu lado e vida que segue. Eu não sabia quem era John fora do tráfico, John não sabia quem era eu fora do tráfico. Era perfeito. John era meu melhor amigo, apesar de eu não saber o seu verdadeiro nome.

    Feitas as negociações, dei uma rápida passada na farmácia mais próxima para comprar uma seringa, depois fiquei esperando na calçada até surgir um táxi livre para me levar até a minha casa. Nunca imaginei que um dia sentiria falta de aplicativos de viagem, Eve.

    Eu tinha trocado de identidade com Tyler, o cara que enviei em meu lugar até aqui na data em que deveria ter vindo – a minha data de chegada oficial –, que também estava com meu chip de telefone – não atenda nenhuma ligação, eu dissera a ele –, um cartão de crédito – use como bem entender, eu dissera a ele –, e outros documentos meus – aproveite e seja Nicholas Kenwall da melhor maneira!, eu dissera a ele. O cara estava nas nuvens. Um Zé Ninguém que arruinou a vida quando descobriu as drogas, abandonado pela família e amigos em sua eterna luta tentando se manter limpo e falhando de tempos em tempos, finalmente descobriu a sorte grande quando teve seu caminho cruzado com o meu.

    Encontrei-o, após muita procura, devo dizer, para se passar por mim. Eu o abordei um dia depois do fim de uma reunião dos Narcóticos Anônimos – onde o vi pela primeira vez – e fiz minha proposta. O plano era muito simples: propus-lhe que viajasse no meu lugar, com tudo pago e só vantagens. Ele ficaria em minha casa e poderia usar o cartão de crédito que lhe emprestaria da forma que quisesse, e ainda receberia cinco mil dólares quando terminasse seu papel. Tudo o que ele precisava fazer era se passar por mim. Evidente que o cara desconfiou, porque a gente desconfia mesmo quando uma coisa é boa demais para ser verdade. Então eu lhe expliquei minha situação: eu era um homem de negócios casado, mas também tinha o mesmo ponto fraco que o dele – as drogas. Sim, Tyler, eu era viciadão. Também não conseguia largar a cocaína. Pois é. Difícil mesmo. Mas eu não estava na pior porque era um puta de um sortudo, um herdeiro milionário – essa parte da história era verdadeira –, e por isso não estava na pendura como você, Tyler. Injusto, eu sei. Mas o mundo dava voltas, meu amigo! E você poderia dar a volta por cima com a minha oferta. Eu precisava de você, porque minha mulher pensava que eu estava limpo e que eu iria a Nova York a trabalho, porque tínhamos uma empresa lá e vira e mexe eu tinha de ir para tratar assuntos importantes. Só que a real era que eu iria a outro canto – não lhe disse qual, porque era uma informação irrelevante – para ficar doidão com a minha amante cem mil vezes mais gostosa que a mulher com quem me casei, aquela vaca. Tyler ainda não estava cem por cento convencido de que não era um golpe, então lhe adiantei mil dólares – e comprei-lhe um celular novo, porque, puta que pariu, o dele era uma peça de museu. Fechamos negócio na hora.

    Ele foi o meu pote de ouro, o meu bilhete premiado – embora eu tenha me esforçado durante meses para achar um cara como ele. Sua recompensa por ser o cara ideal era passar o tempo torrando meu dinheiro, aproveitando as regalias da minha casa e curtindo suas pequenas férias em Nova York. Eu, por outro lado, estava sem celular e vivendo como Tyler Johnson há mais de um dia. Sendo assim, eu não podia fazer nenhum tipo de pagamento com um dos meus cartões – embora eu já estivesse nos Estados Unidos, onde deveria estar, e teoricamente já pudesse pagar as coisas com cartões que deixassem registros em meu nome neste território, na prática, ainda não podia. Eu corria o risco de ter registros cruzados com o uso do cartão que estava com Tyler. Como eu explica-ria aos investigadores que comprei comida no centro de Manhattan e pedi delivery em casa na mesma hora? Pois é, era difícil se manter vigilante o tempo todo. Mas isso estava para acabar. Pelo menos, ao chegar em casa, eu já teria um carro alugado à minha espera – sim, orientei meu dublê a alugar um carro na saída do aeroporto – tudo para comprovar que eu estava mesmo em Nova York, cacete. Uma coisa a menos para me preocupar.

    Consegui um táxi.

    — Para onde, amigo? – o motorista perguntou. Esperava que ele não fosse falador igual a Ronald, pois agora eu não estava muito a fim de conversar.

    — 5006 Sycamore Ave, no Bronx.

    Tyler, amigo, você precisa sair da jogada agora mesmo, pois estou cansado de pagar tudo em dinheiro.

    CAPÍTULO 4

    Minha casa era relativamente afastada de outras naquele bairro – boa escolha, pais! – e tão escondida no meio das árvores que a única coisa que dava para ver de longe, na rua, era um pedacinho do telhado cinza e a chaminé. Você só conseguia ver as janelas e o resto do esqueleto da casa quando adentrava mais no terreno. Muito legal. Ninguém saberia que teve gente lá antes de mim nas últimas trinta e poucas horas.

    As luzes da sala e as do quarto dos meus pais estavam acesas.

    — Ô de

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