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A escrita do "filho de ninguém": um estudo sobre o narrador do romance Dois Irmãos, de Milton Hatoum
A escrita do "filho de ninguém": um estudo sobre o narrador do romance Dois Irmãos, de Milton Hatoum
A escrita do "filho de ninguém": um estudo sobre o narrador do romance Dois Irmãos, de Milton Hatoum
E-book200 páginas2 horas

A escrita do "filho de ninguém": um estudo sobre o narrador do romance Dois Irmãos, de Milton Hatoum

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Sobre este e-book

A arte da observação à espreita, o silêncio, o olhar atento para o mundo exterior e interior. Um gemido, um sussurro, um grito, a palavra que encontrou uma escuta ou alguma instância de apelo, e, finalmente, a cicatrização. Desse modo, o atormentado Narrador do romance Dois Irmãos, de Milton H/atoum, busca saber quem é seu pai e, entre o estranhamento, a exclusão e o abandono, sobrevive para contar as ruínas da sua família. Para encontrar o seu lugar, desdobra-se em táticas de ação até compor o próprio discurso, superando a situação-limite da ausência paterna, observando outras presenças. Dois Irmãos evidencia o caráter dialógico e intextual. Para responder à pergunta do narrador, o autor utiliza a noção de identidade e de hibridismo cultural, pois se trata de um narrador que é filho de uma indígena e de pai branco e ignorado. A memória (e/ou esquecimento) é um importante recurso utilizado pelo escritor do romance na composição dos seus textos e personagens. Este livro não responde os enigmas do romance, mas provoca uma reflexão sobre a importância do discurso e ao mesmo tempo evidencia a preocupação do romancista com as vidas invisíveis e a dificuldade brasileira com a alteridade.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de ago. de 2023
ISBN9786525296111
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    A escrita do "filho de ninguém" - Josué Brito Santana

    O amanhã fica na frente, filho, só olha pra trás quando teu

    corpo e teu verso forem grandes.

    Mahmud Darwich

    1. O ROMANCE DOIS IRMÃOS DE MILTON HATOUM: HISTÓRIAS QUE SE BIFURCAM

    O romance Dois Irmãos conta a história de uma família de descendentes de libaneses que chegou em Manaus, no início do século XX, momento em que o ciclo da borracha estava em decadência. A família é composta pelo casal, Halim e Zana, pelos filhos Yaqub e Omar (gêmeos) e pela caçula Rânia. Também mora com a família, num quartinho dos fundos, a empregada Domingas, indígena que veio servir a família, após estada num orfanato. Mais tarde, Domingas terá um filho bastardo, que também viverá de favores e, como a mãe, servirá à família de Halim e Zana. Este filho bastardo sobreviverá às intempéries para contar a história que se lê em Dois Irmãos. O livro esconde um segredo em torno da paternidade do narrador e sobre o ocorrido no Líbano durante o período de exílio do gêmeo, Yaqub, quando era adolescente. Dois Irmãos retoma a história das feridas familiares, as preferências dos pais por um dos filhos e as consequências dessas predileções. Ao falar sobre as personagens, dei maior destaque ao narrador por se tratar do objeto da presente pesquisa, o que se estendeu pelos demais capítulos. Reconheço a impossibilidade de esgotamento dos assuntos que podem ser levantados na leitura do romance, a partir dos comportamentos de cada personagem, que se abrem para diferentes interpretações. No romance Dois Irmãos, o narrador conta como observou, ouviu da sua mãe e do avô Halim, principalmente, as histórias da origem da família e de que modo soube recolhê-las, observando à espreita porque precisava entender o seu mundo, a sua origem. O romance Dois Irmãos, de Milton Hatoum, busca promover uma crítica ao seu meio, às crises da família e da sociedade, denunciando o delírio de progresso, a vergonha da ditadura militar, que ameaçava a democracia, a violência e a incapacidade de resolução do problema diante da alteridade.

    Dois Irmãos é um exemplo de dialogismo e de intertextualidade⁴, recursos que conferem profundidade e inovação ao texto e permitem ao leitor o diálogo com outras narrativas que tratam do mesmo tema. Dois Irmãos, assim como diversos textos da literatura, prova que a experiência narrativa só é possível pela presença de outros discursos. Da mesma forma, é a presença do narrador do texto, que precisa de mediação. Para Todorov, é impossível entender o ser humano fora da relação, pois como afirma Bakhtin, Não tomo consciência de mim mesmo senão através dos outros, é deles que eu recebo as palavras, as formas, a tonalidade que formam a primeira imagem de mim mesmo. Só me torno consciente de mim mesmo, revelando-me para o outro através do outro e com a ajuda do outro. (BAKHTIN, 1981, p.

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