Sermos Humanos
()
Sobre este e-book
Leia mais títulos de Alessandro Lo Bianco
Comunicação De Negócios Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJornalismo De Celebridades Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVentilando Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCentelhas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPedaços De Um Tempo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSinais Fechados Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDe Todas As Reflexões Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDos Momentos Com Valentina Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Que Você Fez? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasComunicação E Administração Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Sermos Humanos
Ebooks relacionados
Um sábado que não existiu Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDarcy Ribeiro Crônicas Para Jovens Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMário de Andrade: Exílio no Rio Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSuplemento Pernambuco #190: coronavírus • s. m. 2n. Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSuplemento Pernambuco #205: Por um letramento trans no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNilto Maciel Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAtravessagem: Reflexos e reflexões na memória de repórter Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPão tirado de pedra: raça, sexo, sonho e política Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRevista Continente Multicultural #257: O que é NFT? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Primeira Pessoa: Duas Histórias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLabirinto da palavra Nota: 0 de 5 estrelas0 notasReflexões de um cidadão do mundo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSete Crônicas de Milton Hatoum Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVitória Nota: 4 de 5 estrelas4/5Da minha lavra diária: Crônicas selecionadas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs Almas que se Quebram no Chão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Plural do Diverso - Conversas Sobre a Dignidade Humana Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFanzine Ilustrado 4 - Calazans Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCronoanatomias De Meus Encantos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA escrita do "filho de ninguém": um estudo sobre o narrador do romance Dois Irmãos, de Milton Hatoum Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA arte de mentir: Pequenos textos encontrados na caverna de Cronos Nota: 4 de 5 estrelas4/5Peixe-elétrico #01: Piglia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSecreta Razão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLima Barreto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO modernismo de Mário de Andrade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA coragem da esperança Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoéticas do contemporâneo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSuplemento Pernambuco #184: Estamos sendo atacados Nota: 4 de 5 estrelas4/5Um estudo do ciúme em Machado de Assis: as narrativas e os seus narradores Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLugar do eterno Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Religião e Espiritualidade para você
Como Liderar Pessoas Difíceis: A Arte de Administrar Conflitos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Kamasutra Ilustrado Nota: 2 de 5 estrelas2/5Massagem Erótica Nota: 4 de 5 estrelas4/5Contos Eróticos Para Mulheres Nota: 5 de 5 estrelas5/5As Pombagiras E Seus Segredos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Tudo que Quiser é Seu Nota: 4 de 5 estrelas4/5A sala de espera de Deus: O caminho do desespero para a esperança Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Livro Mestre De Feitiços & Magias Nota: 5 de 5 estrelas5/5Entendes o que lês?: um guia para entender a Bíblia com auxílio da exegese e da hermenêutica Nota: 5 de 5 estrelas5/5Lições de liderança de Jesus: Um modelo eterno para os líderes de hoje Nota: 5 de 5 estrelas5/5Capa Preta Nota: 4 de 5 estrelas4/5As cinco fases do namoro Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Chave da Liberdade Emocional: Troque o centro e tudo transforme Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Quarta Dimensão Nota: 5 de 5 estrelas5/5Estresse, ansiedade e depressão: Como prevenir e tratar através da nutrição Nota: 5 de 5 estrelas5/5Umbanda para iniciantes Nota: 4 de 5 estrelas4/5Manhãs com Spurgeon Nota: 5 de 5 estrelas5/550 Banhos Poderosos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mulheres Que Correm Com Os Lobos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDe Eva a Ester: Um relato sobre grandes mulheres da Bíblia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pecadores nas mãos de um Deus irado e outros sermões Nota: 5 de 5 estrelas5/5A voz do silêncio Nota: 5 de 5 estrelas5/530 minutos para mudar o seu dia Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Livro de Urântia: Revelando os Misterios de Deus, do Universo, de Jesus e Sobre Nos Mesmos Nota: 4 de 5 estrelas4/5Curso Básico De Violão Nota: 4 de 5 estrelas4/5Bíblia: Um estudo Panorâmico e Cronológico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTalmude Nota: 0 de 5 estrelas0 notasApocalipse Explicado Nota: 5 de 5 estrelas5/5Odus Nota: 5 de 5 estrelas5/5Devocional da Mulher Vitoriosa 4 Nota: 4 de 5 estrelas4/5
Avaliações de Sermos Humanos
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Sermos Humanos - Alessandro Lo-bianco
Selo Editorial
SERMOS HUMANOS – CRÔNICAS DA GENTE
Copyright@2016 by Selo Espaço Novo
1º Edição | Maio de 2016
Projeto: Alessandro Lo-Bianco
A5 (padrão) 14.8x21.0cm Série Colaborativa
Impresso no Brasil Printed in Brazil Presita en Brazilo
SELO ESPAÇO NOVO
RUA PEDRO AMÉRICO, 147
BAIRRO CATETE
RIO DE JANEIRO – RJ – BRASIL
CEP 22211-200
editoraenovo@gmail.com
http://alessandrolb.wix.com/editoraen
AS CRÔNICAS PUBLICADAS NESTA OBRA FORAM CEDIDAS DE FORMA
COLABORATIVA PELOS AUTORES. O DINHEIRO ARRECADADO COM AS VENDAS
SERÁ
DESTINADO
AO
PROJETO
ME
PROTEJA
(
WWW.MEPROTEJA.BLOGSPOT.COM), QUE TRABALHA COM A REALIZAÇÃO DE
CAMPANHAS DE PREVENÇÃO CONTRA O DESAPARECIMENTO DE CRIANÇAS NO
BRASIL E AS PRÁTICAS DE ALIENAÇÃO PARENTAL. É PROIBIDA A REPRODUÇÃO
DESTE EXEMPLAR – PARCIAL OU TOTAL – ATRAVÉS DE QUALQUER FORMA, MEIO
OU PROCESSO ELETRÔNICO, SEM PRÉVIA E EXPRESSA AUTORIZAÇÃO DA
EDITORA E DOS ESCRITORES NOS TERMOS DA LEI 9 610/98, QUE REGULAMENTA
OS DIREITOS DE AUTOR E CONEXOS.
- PREFÁCIO : Aline Novaes
TEXTOS:
- Paulo Cezar Guimarães
- Simone Magalhães
- Alessandro Lo-Bianco
- Tuna Dwek
- Diego El-Jaick Rapozo
- Cláudia Alencar
- Zeca Fonseca
- Angela Pedretti
- Leonardo Rivera
- Ana Blue
- Wanderson Nogueira
- Bernardo Dugin
- Perla Castro
- Tatiana Bastos
- João Pedro Moretzsohn
- Vitória Brandão
- Flávia Cavalcanti
- Monique Bier Freitas
- Caroline de Moraes
oje, temos algumas opções ao nosso alcance.
Dependendo de nossas escolhas, poderemos até
H mesmo participar do impulso natural que há por
trás da matéria. Difícil mesmo é o que vem antes. É o agora. É o
contorno da caneta, a textura do papel. É o peso da matéria. É
ser humano.
Por alguns momentos antes de iniciar essa leitura, escute num
absoluto silêncio, mais extenso e mais forte. Por essa
experiência, num dado momento, nos veremos a sós com o
mundo inteiro. Esta é a partida para começar este trabalho, o
ponto da percepção: o momento em que nos descobrimos a sós,
com o mundo inteiro...
Após essa descoberta, foi revelado um correio! Por isso, ele
ainda circulará. Essas cartas não farão diferença para alguns...
Poderão ler tudo, mas não entenderão. Não podem senti-las.
Mas as mensagens continuarão a circular nestas e em outras
edições. Chegarão a seus bons e verdadeiros destinatários.
Estamos nos comunicando.
Uma
aliada na
busca por
sermos
humanos...
(.. ) o cronista não abre mão de testemunhar o seu
tempo, de ser seu porta-voz. As crônicas, quase
sempre, são respostas a certas perplexidades
pessoais e sociais. Renato Cordeiro Gomes
A citação, em epígrafe, escrita pelo professor e ensaísta
Renato Cordeiro Gomes, em estudo analítico sobre a obra
de João do Rio, pseudônimo utilizado por Paulo Barreto,
escritor-cronista do início do século XX, nos serve de
inspiração para refletir sobre a crônica, um gênero tão
peculiar em seu propósito e suas características, e sobre o
que pretende este livro: olhar para a humanidade em sua
essência.
Machado de Assis, em História de Quinze dias (1877),
oferece sua contribuição a respeito da origem do gênero:
se deu a partir da conversa das primeiras duas vizinhas,
afirma. A ironia machadiana revela que a investigação a
partir de uma perspectiva histórica seria irrelevante. O
que importa é o tom de conversa fiada, a ressignificação
do banal presente no cotidiano, coisas que são só dela, da
crônica. Em A vida ao rés-do- ch~o
(1992), o crítico
literário Antonio Candido, por sua vez, discorre sobre o
chamado gênero menor
. É importante salientar que,
aqui, o adjetivo menor
é desconstruído e apresentado
como uma possibilidade da crônica de estar próxima à
vida. No mesmo ensaio, o crítico a ressalta como "amiga
da verdade" e comenta:
(.. ) a crônica está sempre ajudando a estabelecer ou
reestabelecer a dimensão das coisas e das pessoas.
Em lugar de oferecer um cenário excelso, numa
revoada de adjetivos e períodos candentes, pega
o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza
ou uma singularidade insuspeitadas.
Antonio Candido
Em meio a tantos acontecimentos ligados ao cotidiano –
matéria-prima da crônica –, o cronista vai pinçar o que
mais lhe interessa e revelar por meio de uma narrativa
solta, de uma linguagem natural
, de um tom leve e uma
grande simplicidade; características marcadas sobretudo
pelo artifício desse artista. Sem grandes pretensões, a
crônica acaba por se adequar à sensibilidade do dia a dia.
A despretensão, como aponta Candido, refere-se também
à durabilidade do gênero, feito inicialmente para o jornal,
que no dia posterior da publicação serve apenas para
"embrulhar um par de sapatos ou forrar um ch~o de
cozinha". N~o mais fincadas no suporte da efemeridade,
quando as crônicas são encontradas em livros, por
exemplo, fazem parte de um conjunto, serão fragmentos
da construção de uma obra. Em novo suporte, com
significação distinta, dividindo espaço com diferentes
textos, submetem-se ao objetivo dessa outra narrativa.
Ao refletir sobre esse gênero, observa-se com mais
veemência a sua principal característica que, de certo
modo, é também seu principal objetivo: ser a escrita de
um tempo. A bem da verdade, sobre nosso tempo,
precisamos falar de questões veladas, de vozes
historicamente silenciadas, dos negros, das mulheres, dos
refugiados. Precisamos falar de intolerância, de
preconceito.
Dos
direitos
humanos, da necessidade da
bondade e da compreensão para a
construção de um mundo mais
justo e menos desigual. Por
acreditar na força da palavra,
nasce este livro: uma coletânea
que presta uma homenagem a uma tradição de cronistas –
como Machado de Assis, João do Rio, Lima Barreto, Carlos
Drummond de Andrade, Rubem Braga, Paulo Mendes
Campos, Fernando Sabino e tantos outros que, com suas
penas, testemunharam o seu tempo
, foram dele "porta-
vozes". Por acreditar na força da palavra, em sua
capacidade de conscientização e transformação social,
nasce este livro: uma coletânea que se apresenta como –
para usar as palavras de Renato Cordeiro Gomes –
respostas a certas perplexidades pessoais e sociais
.
Aline da Silva Novaes
Rio de Janeiro, maio de 2016
Aline da Silva Novaes é doutora em Literatura, Cultura e
Contemporaneidade pela PUC-Rio, mestre em Comunicação Social e
bacharel em Jornalismo pela mesma instituição. É, também,
licenciada em Letras pela UERJ. Desenvolveu pesquisa de Pós-
Doutorado no Departamento de Letras da PUC-Rio, onde atuou como
Professora Colaboradora. Foi repórter de veículos de comunicação,
como os jornais O Globo e O Fluminense. Atualmente, é professora em
instituições do ensino superior. É autora do livro "Jo~o do Rio e seus
cinematographos: o hibridismo da crônica na narrativa da belle
époque carioca" (Mauad X/Faperj), finalista do Prêmio Rio de
Literatura.
Sermos
humanos...
A ENQUETE DE SARMENTO
Paulo Cezar Guimarães
Trabalhei com o repórter Luiz Carlos Sarmento n’O GLOBO.
Camisa para fora da calça, gravata com o laço frouxo e sempre
com os óculos embaçados e com as marcas das digitais dos
dedos. Uma figura desleixada que, quando não estava olhando
para ontem, alisava o espesso bigode mal aparado e falava
sempre sobre a matéria que acabara de escrever. Geralmente
entremeada com alguma cascata.
Subia e descia pela escada os dois andares da redação. Tinha
medo de andar de elevador. Sorte dele que a redaç~o d’O
GLOBO não era no sexto andar, como era a do Jornal do Brasil
(JB), na Avenida Brasil, 500. À época do Sarmento, por volta
dos anos 80, os jornais tinham a mania de fazer enquetes sobre
qualquer coisa que acontecia. O sambódromo
foi construído
num prazo muito rápido e pode cair? Faz uma enquete. O
Congresso vai aprovar a votação das Diretas Já? Faz outra. Fora
as notícias factuais do dia a dia. Certa vez, numa segunda-feira,
chegou a notícia de que um casal tivera heptagêmeas na
Noruega. O editor Milton Coelho da Graça mandou repercutir o
assunto.
- Vamos suitar , vamos suitar. Vamos entrevistar mães. Por
telefone mesmo pois já estamos fechando o segundo clichê .
Perguntei: - Pô, Milton, onde a gente vai arrumar mães às 11
da noite?
E Milton: - Vocês querem o quê? Querem um catálogo de mães?
Até que apareceu o Sarmento. Milton, puto da vida, intimou: -
Tô precisando de mães, Sarmento, tô precisando de mães. Para
o que está fazendo e cai dentro disso aí.
Sarmento anotou num bloquinho: "Noruega, heptagêmeas,
entrevistar m~es etc." Ficou parado alguns minutos olhando
para os colegas na redação. De repente, desatou a escrever,
sem parar: "Como m~e, eu particularmente acho que são
muitas crianças. Dá pra formar um time de vôlei com uma
reserva" (Maria Helena da Silva, advogada). No parágrafo
seguinte: Essa m~e pariu uma ninhada, né?
(Carmem Lúcia de
Oliveira, secretária). Em seguida: "Haja fralda pra sustentar
essa galera toda" (Ciana Russo, publicitária). Quando ele já
estava no quinto depoimento, de molecagem, falei:
- Sarmento, o que é isso? A gente está aqui há um tempão e não
conseguiu porra nenhuma. Já tomei dois esporros por ligar a
essa hora para a casa dos outros. Você deu só um telefonema e
já está na quinta mãe?!.
E ele respondeu:
- Sabe o que é? Dei a maior sorte. Disquei um número qualquer
de telefone e caiu numa festa de criança. As mães fizeram fila
para conversar comigo. E eu ainda estou na quinta mãe, tem
mais dez aqui!.
E tudo isso numa... segunda-feira.
MEU AMIGO TIBÚRCIO
Paulo Cezar Guimarães
Quem conhece a figura não tem dúvida: Tiburcio só existe um,
o meu amigo. Branco como a página em que escrevo este texto,
desengonçado, comprido, óculos fundo de garrafa, fala mansa e
pausada, cumprimenta a gente com a mão mais leve que uma
pena. Mas não é por falsidade, não, é timidez mesmo. Se você
consegue penetrar na intimidade dele, passa a conhecer uma
pessoa admirável. Astuto, esperto, inteligente, criativo e,
sobretudo, engraçado. Certa vez, seu pai, que deve ser tão
Tiburcio quanto ele, foi ao banco resolver um problema
burocrático qualquer. Chegando ao caixa, percebeu que a moça
tossia muito. Amável e prestativo quis ajudá-la, e disse-lhe que
o melhor remédio para curar a tosse era levantar os dois
braços e respirar fundo. Ela aceitou o conselho. Alguém de
longe viu a cena e gritou: É um assalto!
- Foi a maior
confusão. As demais caixas se abaixaram, os outros
funcionários esconderam-se atrás de armários e uma das
subgerentes desmaiou. Pulou gente pra tudo que é lado. Até
que o gerente, j| debaixo de uma mesa, refletiu: ‘N~o pode ser.
É o seu José. Ele tem 70 anos. N~o pode estar assaltando’. Difícil
foi esclarecer o caso à Polícia. Mas Tiburcio também tem as
suas.
Certa vez, no Rio, próximo à estação de trem da Leopoldina,
meu amigo, que mora em Niterói, estava num ônibus. De
repente, passou um trem cruzando a Avenida Francisco Bicalho
e o ônibus teve que esperar. Sem ter o que fazer fiquei
contando os vagões do trem. Maior barato; 68 vagões. Contei
tudinho; não deixei passar um sequer. Quando o trem acabou
de passar, Tiburcio percebeu que o ônibus estava em silêncio
total, as pessoas assustadas e o passageiro ao seu lado
totalmente pálido.
- O que aconteceu com você? – perguntou meu amigo.
- Cara, você não percebeu? O ônibus foi assaltado – respondeu
o passageiro.
- Ih! Então esqueceram de mim!
A última história ele chama de clássica; para mim é lírica.
Estava cansado, com dinheiro no bolso e resolvi pegar um
frescão
para retornar à minha casa. Sentou-se ao meu lado
um homem de terno, muito elegante e arrumado. No meio do
caminho, puxou conversa comigo, com um jeito meio carente.
Disse ser advogado, famoso, mas uma pessoa triste. Seus
clientes eram bandidos, traficantes, marginais, corruptos. Abriu
seu coração comigo e chegou a chorar. Contou que tinha medo
de ser assassinado por um de seus próprios clientes. Durante
toda a viagem, não me deixou falar um segundo. Antes de sair,
o advogado quis saber o que seu companheiro de viagem fazia.
E Tiburcio respondeu: - Eu? Ilustro livros de crianças. Não
ganho dinheiro, mas sou feliz!
DOIDÃO CONHECE DOIDÃO
Paulo Cezar Guimarães
Um dia, ao chegar para dar aula, numa época em que usava os
cabelos longos, o professor percebeu que um pequeno grupo
de alunos fumava um baseado no fundo da sala ainda vazia.
Disse apenas:
- Pô! Qual é?
Um deles respondeu: - Fecha a porta, cara, fecha a porta!
E ele: - Fecha a porta porra nenhuma: eu sou o professor.
Um outro gritou: - Ih! O professor. Sujou! E saíram correndo
porta afora.
Poucos dias depois, a aula já estava quase no fim e outro aluno
entrou na sala, esbaforido, suado, rindo muito, com um
sanduba cheio de catchup em uma mão e um copo de mate na
outra.
- Desculpe, professor. É que estava no trabalho e...
Ao ver os olhos brilhando do rapaz, o professor não conversou:
- Acho melhor você botar um colírio nesses olhos. E sabemos
bem o motivo...
O aluno emendou de bate pronto:
- Pois é, professor: doidão conhece doidão!
NA SUÍTE COM O REI
Paulo Cezar Guimarães
Tadinho do Silvio Marinho. Oito anos de casamento,
quatro filhos para criar, não via a hora de passar um dia
inteiro sozinho com a mulher. E esse dia chegou: seu
aniversário.
- Benhê: vamos passar a tarde num motel.
Deixou as crianças na casa da sogra, pediu folga no jornal,
pegou o carro emprestado da cunhada, e foram. Para bem
longe de casa. Num desses motéis que tocam todo o
repertório do Roberto Carlos e servem drinque para
recepcionar os casais. A suíte, com nome de música do
Rei, foi, digamos, escolhida a dedo: Recordações
.
- Essas recordações me matam. E entrou feliz da vida,
cantarolando, meio desafinado o refrão da música. .
Tinha reparado que a mulher carregava uma florida bolsa
grande, pesada. Não perguntou o