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A FELICIDADE EXIGE CORAGEM: A trajetória inspiradora de Nívia Maria Assunção e os segredos para vencer no maravilhoso mundo das vendas
A FELICIDADE EXIGE CORAGEM: A trajetória inspiradora de Nívia Maria Assunção e os segredos para vencer no maravilhoso mundo das vendas
A FELICIDADE EXIGE CORAGEM: A trajetória inspiradora de Nívia Maria Assunção e os segredos para vencer no maravilhoso mundo das vendas
E-book369 páginas3 horas

A FELICIDADE EXIGE CORAGEM: A trajetória inspiradora de Nívia Maria Assunção e os segredos para vencer no maravilhoso mundo das vendas

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Sobre este e-book

Aos 9 anos, Nívia Maria Assunção bateu sua primeira meta de vendas, ao conseguir dez compradoras para o perfume mais caro do catálogo de uma marca de cosméticos. Tudo porque queria ganhar o prêmio, um colar de bijuteria com pingente de coração. A partir daí, ela nunca mais parou de vender e de colecionar prêmios. "A Felicidade Exige Coragem" conta sua trajetória no mundo das vendas, especialmente no crédito consignado, área em que se especializou, até ter sua própria corretora, a JN Seguros, em Brasília.

Nordestina, filha de mãe solteira, Nívia enfrentou inúmeros preconceitos para se estabelecer e vencer em um universo essencialmente masculino. Na capital federal, onde construiu sua carreira, ela é a "Rainha do Consignado". Sua história de luta inclui os altos e baixos da vida pessoal, permeada por amores, perdas e desafios, como criar os filhos sozinha e abraçar a causa do autismo, a partir do nascimento das netas, gêmeas autistas.

Sua biografia, narrada em prosa fluida pela jornalista Rosane Queiroz é uma história de garra, fé, amor e muita beleza, com toda a verdade que o belo envolve. Na vida de Nívia nada é fake, mesmo que em muitos momentos soe inacreditável. Somam-se à narrativa os depoimentos de quatro mulheres que fazem parte da história do consignado, em Brasília, além do testemunho de amigos e personagens marcantes da sua linha do tempo.

Como o próprio título diz, esse é um livro sobre coragem. São páginas da vida de uma mulher que sempre agiu com o coração, inspirando, incentivando e empoderando outras mulheres. A coragem de Nívia traduz o sentido mais amplo da palavra. Aquela que prevalece apesar do medo, do preconceito e da intimidação. Agir com o coração, afinal, não significa ausência de medo e sim a decisão de seguir em frente, apesar dele.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de ago. de 2023
ISBN9786560480032
A FELICIDADE EXIGE CORAGEM: A trajetória inspiradora de Nívia Maria Assunção e os segredos para vencer no maravilhoso mundo das vendas

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    A FELICIDADE EXIGE CORAGEM - Rosane Queiroz

    cover.jpg

    ROSANE QUEIROZ

    A FELICIDADE EXIGE CORAGEM

    A trajetória inspiradora de Nívia Maria

    Assunção e os segredos para vencer no

    maravilhoso mundo das vendas

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    Angélica Ilacqua CRB-8/7057

    Queiroz, Rosane

    A felicidade exige coragem [livro eletrônico] : a trajetória inspiradora de Nívia Maria Assunção e os segredos para vencer no maravilhoso mundo das vendas / Rosane Queiroz. – São Paulo : Edição do autor, 2023.

    3,11 Mb ; ePUB

    ISBN 978-65-6048-003-2 (e-book) 

    1. Empreendedores – Brasil – Biografia 2. Assunção, Nívia Maria – Biografia 3. Empreendedorismo I. Título

    23-4055 CDD 926.58

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Empreendedores – Brasil – Biografia

    EDITORA AUTORES DO BRASIL

    www.autoresdobrasil.com

    info@autoresdobrasil.com

    Sumário

    Prólogo

    Nota da Autora

    Capítulo um

    O colar de coração

    Fabuloso destino

    Insight perfumado

    Nasce uma vendedora

    Capítulo dois

    Raízes de Rivanda

    Tabuleiro de xadrez

    O preço de uma vida

    Caminho de volta

    Laços de família

    Miss adolescente

    Vendas no velório

    Forró do Bezerrão

    Capítulo três

    Chuva de prata

    Primeiro amor

    Roda do destino

    Sorte na vida

    Segundo casamento

    Altos e baixos

    Dever dado, dever cumprido

    Volta ao ninho

    Musa do poeta

    Nívia

    Capítulo quatro

    Começar de novo

    Encontro de almas

    O caminho do consignado

    Rumo a Capital Federal

    Edifício Ceará

    Primeiro carro

    Ensinando a pescar

    Performance premiada

    Mulheres inspiradoras: Rosania

    Minha história

    Altos e baixos

    O caminho do consignado

    Vida de vendedora

    Perdas e ganhos

    Sonhos realizados

    Nívia Maria

    Força feminina

    Capítulo cinco

    Tudo ao mesmo tempo agora

    Nuvem negra

    Perdas na balança

    Mãe da noiva

    Volta por cima

    Solidão e luto

    Mulheres inspiradoras: Kátia

    Minha história

    Altos e baixos

    O caminho do consignado

    Vida de vendedora

    Perdas e ganhos

    Sonhos realizados

    Nivia Maria

    Força feminina

    Capítulo seis

    Novos amores

    Tijolo por tijolo

    Ana e Alice

    Amor escondidinho

    Com a roupa do corpo

    Deus é mais

    Vovô à primeira vista

    Indecisão no caminho

    Indecisão

    Avó coragem

    Família unida

    Mulheres inspiradoras: Luciana

    Minha história

    Altos e baixos

    O caminho do seguro e plano de saúde

    Vida de vendedora

    Perdas e ganhos

    Sonhos realizados

    Nívia Maria

    Força feminina

    Capítulo sete

    Juntos por Ana e Alice

    Infinito particular

    Primeiras palavras

    Separação e reparação

    Batalhas na esfera legal

    Novos ventos

    Auto–estima em alta

    Flores e frutos

    Mulheres inspiradoras: Socorro

    Minha história

    Altos e baixos

    O caminho do consignado

    Vida de vendedora

    Perdas e ganhos

    Sonhos realizados

    Nívia Maria

    Força feminina

    Capítulo oito

    O NÃO não existe

    Abrindo o leque

    JN de Joel e Nívia

    A volta dos prêmios

    Casamento em Las Vegas

    Love me tender

    Retaguarda forte

    Seguro é prova de amor

    Mulheres inspiradoras: Gerlane

    Minha história

    Altos e baixos

    O caminho do consignado

    Vida de vendedora

    Perdas e ganhos

    Sonhos realizados

    Nívia Maria

    Força feminina

    Capítulo nove

    Síndrome de Joaninha

    Programada para ser forte

    Prece da cigana Kacquitimoche

    Invocação:

    Mãe do noivo

    Novo diagnóstico

    Tripla jornada

    Doutora em preconceito

    Era medieval no consignado

    Menos é mais

    Capítulo dez

    Vendedora de sonhos

    O ano que ninguém esperava

    Antena ligada

    Novas oportunidades

    Perda irreparável

    Biografada em crise

    Minha última palavra vai ser uma venda

    Coragem de ser feliz

    Posfácio

    30 FRASES DE SUCESSO EM VENDAS

    Para minha melhor amiga,

    minha mãe, Rivanda,

    com todo o meu amor.

    Nívia Maria

    "O correr da vida embrulha tudo.

    A vida é assim: esquenta e esfria,

    aperta e daí afrouxa, sossega

    e depois desinquieta. O que ela

    quer da gente é coragem."

    Guimarães Rosa

    Prólogo

    A felicidade exige coragem

    Coragem é agir com o coração. Conhecer a origem das palavras nos ajuda a perceber ligações entre elas que, embora sugestivas, muitas vezes escapam a uma leitura superficial.

    Coragem e coração, por exemplo, são duas palavras que têm uma ligação direta há milhares de anos. O substantivo coragem, registrado em português desde o século dezesseis, foi importado do francês courage, herdeiro do latim cordis, cinco séculos mais antigo, que começou sua existência exatamente como sinônimo de coração.

    Não se trata do coração físico, designado em francês como coeur, mas do coração como morada das emoções. Algumas décadas depois, a palavra passou por uma expansão semântica para nomear estado de espírito ou desejo, ardor, de acordo com o Trésor de la Langue Française, um dos dicionários mais completos da França. Coragem se tornou, assim, sinônimo de força interior.

    Em português, coragem compreende uma coleção de características e sentimentos positivos. Os principais deles, segundo o Houaiss, são:

    1. moral forte perante o perigo, os riscos;

    2. bravura, intrepidez, denodo;

    3. firmeza de espírito para enfrentar situação emocionalmente ou moralmente difícil;

    4. qualidade de quem tem grandeza de alma, nobreza de caráter, hombridade.

    Esse é um livro sobre coragem. São páginas da vida de uma mulher que sempre agiu com o coração, inspirando, incentivando e empoderando outras mulheres.

    A coragem de Nívia Maria traduz o sentido mais amplo da palavra. Aquela que prevalece apesar do medo, do preconceito e da intimidação. Agir com o coração, afinal, não significa ausência de medo e sim a decisão de seguir em frente, apesar dele.

    A felicidade exige coragem.

    Nota da Autora

    Ela me esperou no aeroporto com flores e seu sorriso inconfundível. No primeiro encontro com Nívia, em cinco minutos eu soube que estava diante de uma mulher fora de série. A empatia foi instantânea e iniciamos ali uma relação que foi além da escrita e evoluiu para uma amizade de almas.

    Depois das primeiras entrevistas presenciais, em Brasília, em uma trégua da pandemia, eu voltei para São Paulo e continuamos conversando semanalmente, às vezes diariamente, por chamadas de vídeo e áudios longuíssimos em que Nívia, com seu jeito único de contar as coisas, foi traduzindo trechos de sua vida em prosa e poesia. Assim seguimos, por cerca de um ano, capítulo por capítulo, da comédia ao drama, entre risos e lágrimas.

    Nívia passou a me chamar de escritora maluquinha, quando me conheceu melhor e descobriu que além dos livros eu também cantava e fazia música. Generosa, tornou-se grande incentivadora dos meus singles e shows, vibrando com cada capítulo da sua história –e também da minha.

    Como foi que eu dei conta?, era a frase que ela mais dizia, surpresa ao ver no papel as dificuldades que enfrentou desde menina. O que jamais imaginamos é que, com o fim da pandemia e o texto do livro pronto, cada uma de nós teria de enfrentar uma grande batalha.

    Primeiro fui eu, ao descobrir um câncer de mama, no final de 2021. O ano seguinte foi de quimioterapia, cirurgia, radioterapia. Nívia acompanhou cada momento, rezando por mim, acendendo velas pela minha cura, com o reforço da fé de dona Rivanda.

    Deu tudo certo. No final de 2022, tive a remissão da doença, ao passo que Nívia tomou um susto do coração. Dessa vez era ela, com toda a sua coragem, de peito aberto, lutando pela vida. Nunca me esqueci da sua mensagem, dizendo que no momento em que infartou, pensava: Então a vida é só isso? Cinco minutos e acaba?.

    Não acabou, ufa. Quero agradecer à Nívia por ter sido escolhida para contar sua história. Obrigada ao nosso querido amigo em comum, Wilson Medeiros, por ter nos apresentado. Com seu feeling de grande homem das vendas, certamente ele intuiu que seria um grande encontro.

    Agradeço à Rosania, Kátia, Socorro, Luciana e Gerlane, por compartilharem suas trajetórias e aprendizados profissionais no Empréstimo Consignado e na área de Seguros. Obrigada aos familiares e amigos de Nívia pelos depoimentos genuínos e generosos que enriqueceram a narrativa. Obrigada ao meu amor, Mario Margarido, pela parceria e palpites nos textos, por me acompanhar ao piano e na vida. Obrigada à minha família, que não me deixa cair, e à minha filha Anita, por me questionar e me dar razões para seguir em frente.

    Cada história que escrevo se mistura à minha própria história. Essa foi uma das mais belas e desafiadoras. E não poderia ser diferente. Como boa negociadora, é claro, Nívia deu um jeitinho e convenceu Deus a nos dar uma segunda chance, com muitos bônus de alegria e aqui estamos, com o coração aos pulos, lançando esse livro lindo. Tomara que vocês se emocionem, se divirtam e se inspirem tanto quanto nós, ao escrevê-lo. Boa leitura!

    Rosane Queiroz

    Maio de 2023

    Capítulo um

    O colar de coração

    Aquele colar acendeu os olhos da menina. Era um pingente dourado, em forma de coração, emoldurado por falsos brilhantes, preso por um triz a uma correntinha também dourada. A bijuteria brilhava ao lado da foto do perfume mais caro do catálogo de cosméticos que a mãe vendia para complementar a renda da família.

    Mãe, eu quero esse colar, disse a pequena Nívia Maria, com os olhos fixos na página do perfume.

    Ah, filha, para ganhar um desses você tem que vender dez perfumes, respondeu dona Rivanda, ocupada com os afazeres da cozinha.

    A cena de mãe e filha conversando se repetia todos os dias na cozinha estreita da casa da rua Barão de Aratanha, no centro de Fortaleza. Depois de ajudar Rivanda a lavar, secar e guardar a louça do almoço, Nívia tomava seu lugar em uma das cadeiras da mesa de fórmica para fazer as lições da escola e folhear os catálogos perfumados da Avon, que viviam espalhados pela casa. Ao fim das tarefas, a menina colocava os cadernos de lado e podia sonhar sossegada.

    Entre cremes, blushes e batons, o perfume Timeless ocupava a página dupla central do catálogo, o espaço nobre reservado aos grandes lançamentos do ano. Timeless era o lançamento do ano de 1974. O frasco transparente, lapidado em forma de losango, guardava o líquido amarelo–ouro, combinando com a tampa dourada com o mesmo design e o topo terminando em uma pirâmide. A imagem glamourosa valorizava ainda mais a foto da corrente com o pingente de coração cravejado de brilhos, exibida ao lado do perfume. As melhores vendedoras seriam agraciadas com o lindo colar.

    A empresa de cosméticos Avon, fundada em Nova Iorque, em 1886, chegou ao Brasil em 1952. Em um mercado popular, dominado por fragrâncias como Atkinsons, Phebo e Tabu, a companhia revolucionou a indústria da perfumaria no país com seu inovador sistema de vendas por catálogo, colocando a mulher no mercado de trabalho, inspirando o empreendedorismo e a independência, especialmente das donas de casa como Rivanda.

    Entre os clássicos produtos da Avon, destacam–se o batom Encore, a linha Pretty Peach, com tampa em formato de pêssego, os perfumes Toque de Amor, Topaze, Charisma, Musk, Sweet Honesty e o Timeless. Nas décadas de 1970 e 1980, a maioria das mulheres enfeitava sua penteadeira com perfumes da Avon, até porque, os frascos eram criativos e irresistíveis, em forma de relógio, bule, sino, cisne. Atire o primeiro beijo quem não usou (ou teve vontade de comer!) o brilho labial Moranguinho, com a embalagem de morango que se abria em duas metades, uma vermelha, outra rosa cintilante.

    Os nomes dos perfumes, muitos deles em inglês, soavam estranhos para boa parte das vendedoras e clientes. Timeless, algo como atemporal, costumava ser pronunciado ao pé da letra: Timéliss, em vez de Taimeless. Na embalagem, lia–se a descrição do conteúdo em três línguas, inglês, francês e espanhol: cologne spray, cologne à vaporiser, colônia en spray. O modelo com vaporizador simbolizava o chic do chic.

    A fórmula do perfume, brevemente explicada no catálogo, deixava Nívia cada vez mais encantada. Com uma saída rica em aldeídos e cítricos, a composição aos poucos revelava um centro de rosa, jasmim e íris, acompanhado de cedro e patchouli. Como se não bastasse, havia a promessa de que o aroma seria potencializado no contato com a pele, graças a uma base oriental de âmbar, cumarina, opoponax, baunilha e musk.

    Uma combinação estonteante de palavras e especiarias para uma menina que mal completara dez anos. Ela folheava o catálogo de trás para frente e de frente para trás, parando de novo e de novo na mesma página dupla. Tudo bem que o perfume Timeless era dourado, cheiroso, lindo e maravilhoso, mas seu objeto de desejo era outro. Nívia Maria só tinha olhos para o colar de coração.

    Leninha era uma moça

    Filha de um rico doutor

    Que adotou um moço pobre

    Mas muito trabalhador

    Amaram–se desde crianças

    Cresceram naquele amor

    Para ele era Leninha

    Que aliviava sua dor

    Seu coração estava entregue

    Aquele buquê de flor

    No jardim que passeava

    Num lugar acostumada

    Sua mãe disse a ela

    Seu casamento, Leninha

    Está para ser organizado

    Para casar com seu primo

    Moço rico preparado

    Ela entrou em seu quarto

    Seu revólver preparou

    Vestiu seu vestido branco

    Vou morrer porque não quero

    Outro amor ao meu lado

    Visto meu vestido branco

    Que eu tinha aqui guardado

    Era para meu casamento

    Que papai tinha comprado

    A morte dessa mocinha

    O mundo balançou

    Sofrimento de Adauto

    Oito dias ele aturou

    Ele foi ao cemitério

    No caixão se debruçou

    Derradeiro presentinho

    Leninha eu te dou

    Sentiu um punhal no peito

    Meu coração desmaiou

    Por sorte, dom ou destino, a melancolia nunca foi o forte de Nívia Maria. O desafio acendeu algo novo dentro dela. A determinação, que já morava ali, encontrou um motivo para se manifestar.

    À noite, deitada na cama de baixo do treliche que compartilhava com as irmãs mais novas, por ordem crescente de peso e idade, ela adormeceu arquitetando seu primeiro plano de vendas.

    Se sonhar não custa nada, melhor sonhar alto! A imaginação de Nívia atravessou os três andares do triliche e voou longe, pelo céu estrelado de Fortaleza, embalada pela imagem que não saía de sua cabeça: o colar de pingente de coração, não mais no catálogo, mas brilhando em seu pescoço.

    Fabuloso destino

    Como habitualmente, às seis da manhã, Nívia pulava da cama, vestia o uniforme branco e azul, comia sua fatia de pão com manteiga, e caminhava os três quarteirões que separavam sua casa do imponente Colégio Pio X, instalado em um edifício histórico. O percurso até o colégio dos frades, embora curto, tinha seus tropeços, pois as calçadas que ladeiam a rua Barão de Aratanha, além de estreitas, eram esburacadas e fora do prumo.

    Entre idas e vindas a escola, equilibrando–se na calçada, a rotina da menina não variava muito. Filha mais velha de seis, única de Rivanda com outro pai que não o padrasto, ao chegar do colégio, ela se livrava do uniforme e corria para a cozinha ajudar a mãe no preparo do almoço. No cardápio diário, a carne de sol e o peixe frito reinavam, escoltados pela macaxeira, o feijão com arroz e aquela farofinha amiga, que não pode faltar no prato do nordestino.

    O padrasto, Silvio, nem sempre estava presente. Motorista de caminhão, nessa época, ele passava pequenos períodos fora de casa, em viagens que iam de Fortaleza ao interior do Ceará, ou capitais como Recife, São Luiz do Maranhão, Vitória do Espírito Santo e Salvador da Bahia. Os percursos longos podiam chegar a Rio de Janeiro e São Paulo.

    Antes, havia sido motorista de ônibus da companhia Expresso de Luxo, pioneira no transporte interestadual na região nordeste. Foi em uma viagem da Expresso de Luxo, de São Paulo a Aracaju, que Silvio Silva conheceu Rivanda Morais, a passageira mais bonita do ônibus, levando Nívia Maria nos braços. A jovem mãe, separada do pai da menina na gravidez, regressava para Sergipe, sua terra natal, depois de ter deixado a casa de uma comadre, nos arredores de São Paulo, onde morou até dar à luz.

    Por essa razão, a menina nasceu em Cubatão, perto da capital paulista. No dia 21 de agosto de 1965, às oito horas de uma noite de sábado, sob o signo de leão, veio ao mundo Nívia Maria Morais. Naquela noite, em especial, um vento forte agitava as ondas do litoral de Santos, cidade vizinha, castigada por uma frente fria que abalava o sul do país. Os caminhos que levaram mãe e filha até Cubatão, não vêm ao caso, porque a história de Rivanda é um capítulo à parte.

    O que se pode adiantar é que a beleza da jovem mãe, morena de cabelos negros, deixou o motorista tão perturbado, a ponto de ele bater o ônibus em outro veículo. Os passageiros, assustados, tiveram de descer e esperar a Expresso de Luxo mandar um carro reserva, sob o sol do acostamento ou dentro do ônibus abafado. Nessa troca, Silvio, enrolado com o acidente que havia provocado, pediu ao colega, antes de assumir o volante do ônibus reserva, que, ao chegar em Aracaju, levasse Rivanda e a filha até em casa.

    Para além da gentileza, ele queria saber onde ela morava. Dias depois, de posse do endereço, Silvio bateu na porta da moça. Em pouco tempo de namoro, Rivanda engravidou. Silvio, cearense, propôs casamento e a levou para Fortaleza, onde Nívia foi criada e, a cada um ou dois anos, foi ganhando uma irmã ou irmão, até somar cinco: Silvana, Francisco, José, Suzi e Suzana.

    Nos anos 1960 e 1970, em uma cidade pequena como Fortaleza, no nordeste do país, as mães solteiras e suas filhas sofriam forte preconceito.

    Essa não é legítima, não é da família, comentavam alguns parentes, aos ouvidos atentos da primogênita, que ainda desconhecia o significado daquela palavra.

    Nívia, naturalmente, sentia–se rejeitada. Muitas vezes não era permitido que ela acompanhasse os irmãos nos passeios mais caros ou divertidos porque demonstravam vergonha de andar com ela. Outras vezes, ela comia, à parte, a comida e o pão que os filhos legítimos não queriam. As diferenças, contudo, eram veladas ou disfarçadas na frente de Rivanda. Nívia sofria calada, sem reclamar, porque não compreendia a razão da diferença de tratamento. Os golpes na autoestima cicatrizavam com os beijos da mãe.

    Juntas, as duas cultivavam uma cumplicidade que só as filhas únicas, ainda que por um curto período, podem saber como é, e que Rivanda reconhecia e expressava de igual para igual, em pequenos gestos do cotidiano.

    Nos dias em que lhe faltava o ar, Nívia corria buscá–lo no colo da mãe ou nos livros. Adorava ir para escola, amava ler. Lia tudo o que lhe caía nas mãos. De clássicos, como O Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro Vasconcelos, aos romances cabulosos de Machado de Assis, passando pelas leituras kardecistas da cabeceira de Rivanda. Para criar um mundo impenetrável, Nívia colocava um pano na cabeça, fazendo uma cabaninha, onde só existiam ela e o livro. Assim, viajava para todos os lugares do mundo.

    Enquanto isso, a mãe zelava pelas outras crianças, varria algum canto da casa ou batia um bolo, cantarolando o último sucesso de Núbia Lafayette. A cantora potiguar, morenaça de voz estridente, à la Edith Piaf, era uma das favoritas de Rivanda, com suas letras ousadas:

    "Se quiser fumar eu fumo,

    se quiser beber eu

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