A FELICIDADE EXIGE CORAGEM: A trajetória inspiradora de Nívia Maria Assunção e os segredos para vencer no maravilhoso mundo das vendas
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Sobre este e-book
Nordestina, filha de mãe solteira, Nívia enfrentou inúmeros preconceitos para se estabelecer e vencer em um universo essencialmente masculino. Na capital federal, onde construiu sua carreira, ela é a "Rainha do Consignado". Sua história de luta inclui os altos e baixos da vida pessoal, permeada por amores, perdas e desafios, como criar os filhos sozinha e abraçar a causa do autismo, a partir do nascimento das netas, gêmeas autistas.
Sua biografia, narrada em prosa fluida pela jornalista Rosane Queiroz é uma história de garra, fé, amor e muita beleza, com toda a verdade que o belo envolve. Na vida de Nívia nada é fake, mesmo que em muitos momentos soe inacreditável. Somam-se à narrativa os depoimentos de quatro mulheres que fazem parte da história do consignado, em Brasília, além do testemunho de amigos e personagens marcantes da sua linha do tempo.
Como o próprio título diz, esse é um livro sobre coragem. São páginas da vida de uma mulher que sempre agiu com o coração, inspirando, incentivando e empoderando outras mulheres. A coragem de Nívia traduz o sentido mais amplo da palavra. Aquela que prevalece apesar do medo, do preconceito e da intimidação. Agir com o coração, afinal, não significa ausência de medo e sim a decisão de seguir em frente, apesar dele.
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A FELICIDADE EXIGE CORAGEM - Rosane Queiroz
ROSANE QUEIROZ
A FELICIDADE EXIGE CORAGEM
A trajetória inspiradora de Nívia Maria
Assunção e os segredos para vencer no
maravilhoso mundo das vendas
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Angélica Ilacqua CRB-8/7057
Queiroz, Rosane
A felicidade exige coragem [livro eletrônico] : a trajetória inspiradora de Nívia Maria Assunção e os segredos para vencer no maravilhoso mundo das vendas / Rosane Queiroz. – São Paulo : Edição do autor, 2023.
3,11 Mb ; ePUB
ISBN 978-65-6048-003-2 (e-book)
1. Empreendedores – Brasil – Biografia 2. Assunção, Nívia Maria – Biografia 3. Empreendedorismo I. Título
23-4055 CDD 926.58
Índices para catálogo sistemático:
1. Empreendedores – Brasil – Biografia
EDITORA AUTORES DO BRASIL
www.autoresdobrasil.com
info@autoresdobrasil.com
Sumário
Prólogo
Nota da Autora
Capítulo um
O colar de coração
Fabuloso destino
Insight perfumado
Nasce uma vendedora
Capítulo dois
Raízes de Rivanda
Tabuleiro de xadrez
O preço de uma vida
Caminho de volta
Laços de família
Miss adolescente
Vendas no velório
Forró do Bezerrão
Capítulo três
Chuva de prata
Primeiro amor
Roda do destino
Sorte na vida
Segundo casamento
Altos e baixos
Dever dado, dever cumprido
Volta ao ninho
Musa do poeta
Nívia
Capítulo quatro
Começar de novo
Encontro de almas
O caminho do consignado
Rumo a Capital Federal
Edifício Ceará
Primeiro carro
Ensinando a pescar
Performance premiada
Mulheres inspiradoras: Rosania
Minha história
Altos e baixos
O caminho do consignado
Vida de vendedora
Perdas e ganhos
Sonhos realizados
Nívia Maria
Força feminina
Capítulo cinco
Tudo ao mesmo tempo agora
Nuvem negra
Perdas na balança
Mãe da noiva
Volta por cima
Solidão e luto
Mulheres inspiradoras: Kátia
Minha história
Altos e baixos
O caminho do consignado
Vida de vendedora
Perdas e ganhos
Sonhos realizados
Nivia Maria
Força feminina
Capítulo seis
Novos amores
Tijolo por tijolo
Ana e Alice
Amor escondidinho
Com a roupa do corpo
Deus é mais
Vovô à primeira vista
Indecisão no caminho
Indecisão
Avó coragem
Família unida
Mulheres inspiradoras: Luciana
Minha história
Altos e baixos
O caminho do seguro e plano de saúde
Vida de vendedora
Perdas e ganhos
Sonhos realizados
Nívia Maria
Força feminina
Capítulo sete
Juntos por Ana e Alice
Infinito particular
Primeiras palavras
Separação e reparação
Batalhas na esfera legal
Novos ventos
Auto–estima em alta
Flores e frutos
Mulheres inspiradoras: Socorro
Minha história
Altos e baixos
O caminho do consignado
Vida de vendedora
Perdas e ganhos
Sonhos realizados
Nívia Maria
Força feminina
Capítulo oito
O NÃO não existe
Abrindo o leque
JN de Joel e Nívia
A volta dos prêmios
Casamento em Las Vegas
Love me tender
Retaguarda forte
Seguro é prova de amor
Mulheres inspiradoras: Gerlane
Minha história
Altos e baixos
O caminho do consignado
Vida de vendedora
Perdas e ganhos
Sonhos realizados
Nívia Maria
Força feminina
Capítulo nove
Síndrome de Joaninha
Programada para ser forte
Prece da cigana Kacquitimoche
Invocação:
Mãe do noivo
Novo diagnóstico
Tripla jornada
Doutora em preconceito
Era medieval no consignado
Menos é mais
Capítulo dez
Vendedora de sonhos
O ano que ninguém esperava
Antena ligada
Novas oportunidades
Perda irreparável
Biografada em crise
Minha última palavra vai ser uma venda
Coragem de ser feliz
Posfácio
30 FRASES DE SUCESSO EM VENDAS
Para minha melhor amiga,
minha mãe, Rivanda,
com todo o meu amor.
Nívia Maria
"O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa, sossega
e depois desinquieta. O que ela
quer da gente é coragem."
Guimarães Rosa
Prólogo
A felicidade exige coragem
Coragem é agir com o coração
. Conhecer a origem das palavras nos ajuda a perceber ligações entre elas que, embora sugestivas, muitas vezes escapam a uma leitura superficial.
Coragem e coração, por exemplo, são duas palavras que têm uma ligação direta há milhares de anos. O substantivo coragem, registrado em português desde o século dezesseis, foi importado do francês courage, herdeiro do latim cordis, cinco séculos mais antigo, que começou sua existência exatamente como sinônimo de coração.
Não se trata do coração físico, designado em francês como coeur, mas do coração como morada das emoções
. Algumas décadas depois, a palavra passou por uma expansão semântica para nomear estado de espírito
ou desejo, ardor
, de acordo com o Trésor de la Langue Française, um dos dicionários mais completos da França. Coragem se tornou, assim, sinônimo de força interior.
Em português, coragem compreende uma coleção de características e sentimentos positivos. Os principais deles, segundo o Houaiss, são:
1. moral forte perante o perigo, os riscos;
2. bravura, intrepidez, denodo;
3. firmeza de espírito para enfrentar situação emocionalmente ou moralmente difícil;
4. qualidade de quem tem grandeza de alma, nobreza de caráter, hombridade.
Esse é um livro sobre coragem. São páginas da vida de uma mulher que sempre agiu com o coração, inspirando, incentivando e empoderando outras mulheres.
A coragem de Nívia Maria traduz o sentido mais amplo da palavra. Aquela que prevalece apesar do medo, do preconceito e da intimidação. Agir com o coração, afinal, não significa ausência de medo e sim a decisão de seguir em frente, apesar dele.
A felicidade exige coragem.
Nota da Autora
Ela me esperou no aeroporto com flores e seu sorriso inconfundível. No primeiro encontro com Nívia, em cinco minutos eu soube que estava diante de uma mulher fora de série. A empatia foi instantânea e iniciamos ali uma relação que foi além da escrita e evoluiu para uma amizade de almas.
Depois das primeiras entrevistas presenciais, em Brasília, em uma trégua da pandemia, eu voltei para São Paulo e continuamos conversando semanalmente, às vezes diariamente, por chamadas de vídeo e áudios longuíssimos em que Nívia, com seu jeito único de contar as coisas, foi traduzindo trechos de sua vida em prosa e poesia. Assim seguimos, por cerca de um ano, capítulo por capítulo, da comédia ao drama, entre risos e lágrimas.
Nívia passou a me chamar de escritora maluquinha
, quando me conheceu melhor e descobriu que além dos livros eu também cantava e fazia música. Generosa, tornou-se grande incentivadora dos meus singles e shows, vibrando com cada capítulo da sua história –e também da minha.
Como foi que eu dei conta?
, era a frase que ela mais dizia, surpresa ao ver no papel as dificuldades que enfrentou desde menina. O que jamais imaginamos é que, com o fim da pandemia e o texto do livro pronto, cada uma de nós teria de enfrentar uma grande batalha.
Primeiro fui eu, ao descobrir um câncer de mama, no final de 2021. O ano seguinte foi de quimioterapia, cirurgia, radioterapia. Nívia acompanhou cada momento, rezando por mim, acendendo velas pela minha cura, com o reforço da fé de dona Rivanda.
Deu tudo certo. No final de 2022, tive a remissão da doença, ao passo que Nívia tomou um susto do coração. Dessa vez era ela, com toda a sua coragem, de peito aberto, lutando pela vida. Nunca me esqueci da sua mensagem, dizendo que no momento em que infartou, pensava: Então a vida é só isso? Cinco minutos e acaba?
.
Não acabou, ufa. Quero agradecer à Nívia por ter sido escolhida para contar sua história. Obrigada ao nosso querido amigo em comum, Wilson Medeiros, por ter nos apresentado. Com seu feeling de grande homem das vendas, certamente ele intuiu que seria um grande encontro.
Agradeço à Rosania, Kátia, Socorro, Luciana e Gerlane, por compartilharem suas trajetórias e aprendizados profissionais no Empréstimo Consignado e na área de Seguros. Obrigada aos familiares e amigos de Nívia pelos depoimentos genuínos e generosos que enriqueceram a narrativa. Obrigada ao meu amor, Mario Margarido, pela parceria e palpites nos textos, por me acompanhar ao piano e na vida. Obrigada à minha família, que não me deixa cair, e à minha filha Anita, por me questionar e me dar razões para seguir em frente.
Cada história que escrevo se mistura à minha própria história. Essa foi uma das mais belas e desafiadoras. E não poderia ser diferente. Como boa negociadora, é claro, Nívia deu um jeitinho e convenceu Deus a nos dar uma segunda chance, com muitos bônus de alegria e aqui estamos, com o coração aos pulos, lançando esse livro lindo. Tomara que vocês se emocionem, se divirtam e se inspirem tanto quanto nós, ao escrevê-lo. Boa leitura!
Rosane Queiroz
Maio de 2023
Capítulo um
O colar de coração
Aquele colar acendeu os olhos da menina. Era um pingente dourado, em forma de coração, emoldurado por falsos brilhantes, preso por um triz a uma correntinha também dourada. A bijuteria brilhava ao lado da foto do perfume mais caro do catálogo de cosméticos que a mãe vendia para complementar a renda da família.
Mãe, eu quero esse colar
, disse a pequena Nívia Maria, com os olhos fixos na página do perfume.
Ah, filha, para ganhar um desses você tem que vender dez perfumes
, respondeu dona Rivanda, ocupada com os afazeres da cozinha.
A cena de mãe e filha conversando se repetia todos os dias na cozinha estreita da casa da rua Barão de Aratanha, no centro de Fortaleza. Depois de ajudar Rivanda a lavar, secar e guardar a louça do almoço, Nívia tomava seu lugar em uma das cadeiras da mesa de fórmica para fazer as lições da escola e folhear os catálogos perfumados da Avon, que viviam espalhados pela casa. Ao fim das tarefas, a menina colocava os cadernos de lado e podia sonhar sossegada.
Entre cremes, blushes e batons, o perfume Timeless ocupava a página dupla central do catálogo, o espaço nobre reservado aos grandes lançamentos do ano. Timeless era o lançamento do ano de 1974. O frasco transparente, lapidado em forma de losango, guardava o líquido amarelo–ouro, combinando com a tampa dourada com o mesmo design e o topo terminando em uma pirâmide. A imagem glamourosa valorizava ainda mais a foto da corrente com o pingente de coração cravejado de brilhos, exibida ao lado do perfume. As melhores vendedoras seriam agraciadas com o lindo colar.
A empresa de cosméticos Avon, fundada em Nova Iorque, em 1886, chegou ao Brasil em 1952. Em um mercado popular, dominado por fragrâncias como Atkinsons, Phebo e Tabu, a companhia revolucionou a indústria da perfumaria no país com seu inovador sistema de vendas por catálogo, colocando a mulher no mercado de trabalho, inspirando o empreendedorismo e a independência, especialmente das donas de casa como Rivanda.
Entre os clássicos produtos da Avon, destacam–se o batom Encore, a linha Pretty Peach, com tampa em formato de pêssego, os perfumes Toque de Amor, Topaze, Charisma, Musk, Sweet Honesty e o Timeless. Nas décadas de 1970 e 1980, a maioria das mulheres enfeitava sua penteadeira com perfumes da Avon, até porque, os frascos eram criativos e irresistíveis, em forma de relógio, bule, sino, cisne. Atire o primeiro beijo quem não usou (ou teve vontade de comer!) o brilho labial Moranguinho, com a embalagem de morango que se abria em duas metades, uma vermelha, outra rosa cintilante.
Os nomes dos perfumes, muitos deles em inglês, soavam estranhos para boa parte das vendedoras e clientes. Timeless, algo como atemporal
, costumava ser pronunciado ao pé da letra: Timéliss
, em vez de Taimeless
. Na embalagem, lia–se a descrição do conteúdo em três línguas, inglês, francês e espanhol: cologne spray, cologne à vaporiser, colônia en spray. O modelo com vaporizador simbolizava o chic do chic.
A fórmula do perfume, brevemente explicada no catálogo, deixava Nívia cada vez mais encantada. Com uma saída rica em aldeídos e cítricos, a composição aos poucos revelava um centro de rosa, jasmim e íris, acompanhado de cedro e patchouli. Como se não bastasse, havia a promessa de que o aroma seria potencializado no contato com a pele, graças a uma base oriental de âmbar, cumarina, opoponax, baunilha e musk.
Uma combinação estonteante de palavras e especiarias para uma menina que mal completara dez anos. Ela folheava o catálogo de trás para frente e de frente para trás, parando de novo e de novo na mesma página dupla. Tudo bem que o perfume Timeless era dourado, cheiroso, lindo e maravilhoso, mas seu objeto de desejo era outro. Nívia Maria só tinha olhos para o colar de coração.
Leninha era uma moça
Filha de um rico doutor
Que adotou um moço pobre
Mas muito trabalhador
Amaram–se desde crianças
Cresceram naquele amor
Para ele era Leninha
Que aliviava sua dor
Seu coração estava entregue
Aquele buquê de flor
No jardim que passeava
Num lugar acostumada
Sua mãe disse a ela
Seu casamento, Leninha
Está para ser organizado
Para casar com seu primo
Moço rico preparado
Ela entrou em seu quarto
Seu revólver preparou
Vestiu seu vestido branco
Vou morrer porque não quero
Outro amor ao meu lado
Visto meu vestido branco
Que eu tinha aqui guardado
Era para meu casamento
Que papai tinha comprado
A morte dessa mocinha
O mundo balançou
Sofrimento de Adauto
Oito dias ele aturou
Ele foi ao cemitério
No caixão se debruçou
Derradeiro presentinho
Leninha eu te dou
Sentiu um punhal no peito
Meu coração desmaiou
Por sorte, dom ou destino, a melancolia nunca foi o forte de Nívia Maria. O desafio acendeu algo novo dentro dela. A determinação, que já morava ali, encontrou um motivo para se manifestar.
À noite, deitada na cama de baixo do treliche que compartilhava com as irmãs mais novas, por ordem crescente de peso e idade, ela adormeceu arquitetando seu primeiro plano de vendas.
Se sonhar não custa nada, melhor sonhar alto! A imaginação de Nívia atravessou os três andares do triliche e voou longe, pelo céu estrelado de Fortaleza, embalada pela imagem que não saía de sua cabeça: o colar de pingente de coração, não mais no catálogo, mas brilhando em seu pescoço.
Fabuloso destino
Como habitualmente, às seis da manhã, Nívia pulava da cama, vestia o uniforme branco e azul, comia sua fatia de pão com manteiga, e caminhava os três quarteirões que separavam sua casa do imponente Colégio Pio X, instalado em um edifício histórico. O percurso até o colégio dos frades, embora curto, tinha seus tropeços, pois as calçadas que ladeiam a rua Barão de Aratanha, além de estreitas, eram esburacadas e fora do prumo.
Entre idas e vindas a escola, equilibrando–se na calçada, a rotina da menina não variava muito. Filha mais velha de seis, única de Rivanda com outro pai que não o padrasto, ao chegar do colégio, ela se livrava do uniforme e corria para a cozinha ajudar a mãe no preparo do almoço. No cardápio diário, a carne de sol e o peixe frito reinavam, escoltados pela macaxeira, o feijão com arroz e aquela farofinha amiga, que não pode faltar no prato do nordestino.
O padrasto, Silvio, nem sempre estava presente. Motorista de caminhão, nessa época, ele passava pequenos períodos fora de casa, em viagens que iam de Fortaleza ao interior do Ceará, ou capitais como Recife, São Luiz do Maranhão, Vitória do Espírito Santo e Salvador da Bahia. Os percursos longos podiam chegar a Rio de Janeiro e São Paulo.
Antes, havia sido motorista de ônibus da companhia Expresso de Luxo, pioneira no transporte interestadual na região nordeste. Foi em uma viagem da Expresso de Luxo, de São Paulo a Aracaju, que Silvio Silva conheceu Rivanda Morais, a passageira mais bonita do ônibus, levando Nívia Maria nos braços. A jovem mãe, separada do pai da menina na gravidez, regressava para Sergipe, sua terra natal, depois de ter deixado a casa de uma comadre, nos arredores de São Paulo, onde morou até dar à luz.
Por essa razão, a menina nasceu em Cubatão, perto da capital paulista. No dia 21 de agosto de 1965, às oito horas de uma noite de sábado, sob o signo de leão, veio ao mundo Nívia Maria Morais. Naquela noite, em especial, um vento forte agitava as ondas do litoral de Santos, cidade vizinha, castigada por uma frente fria que abalava o sul do país. Os caminhos que levaram mãe e filha até Cubatão, não vêm ao caso, porque a história de Rivanda é um capítulo à parte.
O que se pode adiantar é que a beleza da jovem mãe, morena de cabelos negros, deixou o motorista tão perturbado, a ponto de ele bater o ônibus em outro veículo. Os passageiros, assustados, tiveram de descer e esperar a Expresso de Luxo mandar um carro reserva, sob o sol do acostamento ou dentro do ônibus abafado. Nessa troca, Silvio, enrolado com o acidente que havia provocado, pediu ao colega, antes de assumir o volante do ônibus reserva, que, ao chegar em Aracaju, levasse Rivanda e a filha até em casa.
Para além da gentileza, ele queria saber onde ela morava. Dias depois, de posse do endereço, Silvio bateu na porta da moça. Em pouco tempo de namoro, Rivanda engravidou. Silvio, cearense, propôs casamento e a levou para Fortaleza, onde Nívia foi criada e, a cada um ou dois anos, foi ganhando uma irmã ou irmão, até somar cinco: Silvana, Francisco, José, Suzi e Suzana.
Nos anos 1960 e 1970, em uma cidade pequena como Fortaleza, no nordeste do país, as mães solteiras e suas filhas sofriam forte preconceito.
Essa não é legítima, não é da família
, comentavam alguns parentes, aos ouvidos atentos da primogênita, que ainda desconhecia o significado daquela palavra.
Nívia, naturalmente, sentia–se rejeitada. Muitas vezes não era permitido que ela acompanhasse os irmãos nos passeios mais caros ou divertidos porque demonstravam vergonha de andar com ela. Outras vezes, ela comia, à parte, a comida e o pão que os filhos legítimos não queriam. As diferenças, contudo, eram veladas ou disfarçadas na frente de Rivanda. Nívia sofria calada, sem reclamar, porque não compreendia a razão da diferença de tratamento. Os golpes na autoestima cicatrizavam com os beijos da mãe.
Juntas, as duas cultivavam uma cumplicidade que só as filhas únicas, ainda que por um curto período, podem saber como é, e que Rivanda reconhecia e expressava de igual para igual, em pequenos gestos do cotidiano.
Nos dias em que lhe faltava o ar, Nívia corria buscá–lo no colo da mãe ou nos livros. Adorava ir para escola, amava ler. Lia tudo o que lhe caía nas mãos. De clássicos, como O Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro Vasconcelos, aos romances cabulosos de Machado de Assis, passando pelas leituras kardecistas da cabeceira de Rivanda. Para criar um mundo impenetrável, Nívia colocava um pano na cabeça, fazendo uma cabaninha, onde só existiam ela e o livro. Assim, viajava para todos os lugares do mundo.
Enquanto isso, a mãe zelava pelas outras crianças, varria algum canto da casa ou batia um bolo, cantarolando o último sucesso de Núbia Lafayette. A cantora potiguar, morenaça de voz estridente, à la Edith Piaf, era uma das favoritas de Rivanda, com suas letras ousadas:
"Se quiser fumar eu fumo,
se quiser beber eu