Século Xxi
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Século Xxi - Paulo Luís Ferreira
Paulo Luís Ferreira
SÉCULO XXI
Contos
SÃO PAULO
2015
1ª Edição. 2019
FERREIRA, Paulo Luís. SÉCULO XXI – CONTOS
Ed. Clube de Autores. Clube de Autores Publicações S/A
CNPJ: 16.779.786/0001-27. Rua Otto Boehm, 48 - Sala 08
Bairro América - Joinville/SC, CEP 89201-700.
Criação de capa: Paulo Luís Ferreira e Canva design Diagramação: Paulo Luís Ferreira
(Trupe serviços editoriais Freelancer )
http://trupeservicoseditoriais.blogspot.com.br/
Foto do autor: Paulo Luís Ferreira
Impresso pelo Clube de Autores
www.clubedeautores.com.br
Copyright © 2015 by Paulo Luís Ferreira
ISBN: 978-65-000-3291-8
Copyright © 2015 Todos os direitos reservados.
Proibida a reprodução parcial ou total, por qualquer meio.
Lei Nº 9.610 de 19/02/1998 (Lei dos direitos autorais).
2017. Escrito e produzido no Brasil.
Contatos do autor:
E-mails:
paulolusferreira@yahoo.com.br
pluis.177@lwmail.com.br
Dpto. de vendas: Clube de Autores
www.clubedeautores.com.br
UMA REFLEXÃO
A mente é tudo o que temos. É tudo o que já tivemos. E é tudo o que podemos oferecer aos outros. Isso pode não ser óbvio, especialmente porque existem aspectos da nossa vida que precisam ser aprimorados — quando temos objetivos não realizados, ou estamos com dificuldade para encontrar uma carreira, ou temos relacionamentos que precisam de reparos. Mas essa é a verdade. Cada experiência que você já teve foi moldada por sua mente. Cada relacionamento será bom ou ruim do modo como ele se encontra porque há mentes envolvidas.
Se você vive na maior parte do tempo zangado, deprimido, confuso e desencantado, ou se sua atenção estiver em outro lugar, não importa quão bem-sucedido você se torne nem quem faz parte de sua vida — você não desfrutará de nada disso".
Separar a espiritualidade da religião é perfeitamente razoável. Significa afirmar duas verdades importantes ao mesmo tempo: nosso mundo é perigosamente dividido por doutrinas religiosas que todas as pessoas instruídas deveriam condenar, e, no entanto, há mais a se compreender sobre a condição humana do que a ciência e a cultura secular costumam admitir
.
Sam Harris em Despertar:
(Um guia para a espiritualidade sem religião)
AGRADECIMENTOS
Considerando-se que o autor deste livro não seja um escritor, mas apenas um reles beletrista escrevinhador sobram-lhe razões para agradecer àqueles que lhe transferiram entusiasmo e, portanto, desprendimento para publicar seus rabiscos. Que não passam de pequenas historietas ora sem pé, ora sem cabeça.
Primeiramente a EMEB Ondina Ignêz e seu corpo docente, técnico e de apoio; às oficinas literárias: Tantas Letras e Ponto e Contraponto; aos seus amigos e insignes cobaias: Bartolomeu, (in memorian) Eli Silva e Samira Paula
SUMÁRIO
PREFÁCIO
MINHA FAMÍLIA QUERIDA
O ESCRITOR
O CRIME DE LEONORA
O DIA EM QUE ACORDEI MORTO
CHAMPANHE COM MANGA E PIPOCA COM DIAMANTES
CALEIDOSCÓPIOS MENTAL
VELHO JOGO INFANTIL
LABIRINTO
SÉCULO XXI
LATÊNCIA DE UM CRIMINOSO - (Mistério: Assassino, de quem Morreu?)
NOTÍCIAS RADIOFÔNICAS
DE ARABEL OS DIAS DE NAOMIR
A FREIRA E O PERUEIRO DA PERIFERIA
O MESTRE
O VENDEDOR DE GRAXAS
O CACHORRO E A MOÇA
DESENCONTRO
A MORTE DO BOI
DONA NINA
Nós Somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimo no dia em que fazemos. Nos dias em que não fazemos apenas duramos
Pe. Antônio Vieira
PREFÁCIO
Século XXI é um conjunto de contos, cujo tema, necessariamente diga respeito única e exclusivamente ao século que vivenciamos, no entanto está impregnado de suas mazelas, sejam elas pelas incompreensões dos poderosos, seja pela manipulação da famigerada globalização, as quais fazem parte do cotidiano deste mesmo século. No século passado diziam que o século XXI seria a salvação da humanidade. No entanto, hei-nos aqui, no começo deste mesmo esquizofrênico século e nada mudou.
É nesse sentido que a narrativa dos contos faz-se expressar. Seja pelos distúrbios pessoais de cada indivíduo, seja pelos males globais. Isso dito ora de forma melancólica, humorística, ou o trágico. Sendo o psicológico o mais contundente fator de sentido dos personagens. Embora aja em alguns dos contos narrações totalmente desprovida de sentidos, pois seu enredo nada mais seja do que uma sátira de si mesmo ou dos costumes alheios. E também suas malandragens e perspicácias. E por que não suas humanidades e a cruel solidão que assolam a tantos. Cujo tema da solidão está retratado com a devida crueldade no conto que dá nome ao livro. Onde trata num só tempo da solidão, da violência urbana e do Eu interior que tanto devassa o espírito. Nos demais contos se mantêm o mesmo perfil. Enfim, todos irreverentes. Pois o mote das tramas é a incógnita, deixada para o leitor decifrar.
PFL
MINHA FAMÍLIA QUERIDA
A vida é boa de se viver, a gente é que não presta
. (Dito popular)
Penso de quantas maneiras eu poderia apresentar e, consequentemente, dizer a respeito desta situação. Dada à sua vileza, sinto que seja necessário pormenorizar o caso. Porque, no que vale a conjuntura dos fatos, e para tanto, permito-me como envolvido que estou discutir o discutível. Que é por assim dizer, e dessa forma, o que nos é possível contemporizar em busca de alguma verdade, da forma como persiste, seus extremos, dentro de nós.
Nisso creio, porém, não poder salientar, ou antever, inúmeros outros enfoques que se colocaram em perfeita sintonia com o empenho com que descrevo, mesmo que resumido. Digo isto, por ser este assunto, muito delicado. Confesso estar forçando a gramática, principalmente a pontuação, a adjetivação e a adverborização, pelo fato e ato de escrever tão rebuscado, à moda dos grandes escritores, como Suassuna ou até mesmo ao mestre Machado. – que eles não me ouçam – Sem que, com isso, os prezados senhores e queridíssimas damas, não cogitem a mínima intenção. Nem é de meu feitio sair por aí fazendo plágios, pois nem mesmo sou escritor. A custo um reles subliterato beletrista. E deles, sou, somente e somente só, um honrado e saudoso epígono. No que diz respeito à virgulação é apenas e, simplesmente, por certo engasgo momentâneo, em virtude da gravidade do problema. De modo que, e por assim sendo, estar tão nervoso, suando frio, e com uma tremedeira danada nas mãos, ao tentar explicar o inexplicável e, certamente absurdo. Peço mil vênias, mas vamos ao cerne da questão.
Pois bem, vou tentar colocar este dilema como algo extraordinário que me força, pois alguns esclarecimentos se impõem; sem os quais será difícil acompanhar a sucessão dos fatos e entender o enredo em que me meti, embora comedido no vitupério e sóbrio nos elogios. Pois que, elogiar, elogiarei se necessário for.
A verdade é que estou atolado em dívidas, estou até o pescoço de problemas. E para piorar o achincalhe sobre a minha pessoa acabei de ser flagrado pela minha mulher com um cartão de visitas de uma loja na mão, quando estava discando. Nele estava escrito em letras bem grandes "COMPRA E VENDA DE ORGÃOS", então ela disse cheia de desdém e malquerença com sua fala viperina: Estás comprando um piano, Carlos Augusto?!... Eu não sabia que o senhor era músico!...
Imagine só o estado em que me encontro ouvir uma zombaria desta é de arrebentar qualquer um. Com toda sinceridade, jamais me passou pelo juízo que eu fosse precisar deste recurso. Porém, estou no meu limite. A decisão é extrema, eu sei, mas necessária. Fechei negócio com a tal loja, com a qual minha mulher me surpreendeu ao telefone. É isso, está tudo combinado, acertado e consubstanciado pela parte deles e, decidido, consolidado e confirmado no que depende de mim. Vendi meu rim. Vou fazer o transplante amanhã ao meio-dia.
*****
Cego que não sabe se benzer quebra o nariz, diz o dito. Eu não, eu sei me virar. Hei-me aqui convalescente numa cama de hospital, paralisado, mas feliz. A família numa alegria só. Largos sorrisos no rosto de todos. Minha mulher, então, nem se fala de tanto contentamento. Problema resolvido, dívidas sanadas, agora é só pensar o futuro.
Há oito dias que estou internado, mas em plena recuperação. Os médicos me fazem muitos elogios; dizem eu ser muito forte, de uma saúde rara. Minha mulher e meus filhos mostram-se muito envaidecidos com isto. É flagrante em seus semblantes a felicidade estampada no brilho dos olhos, por terem um pai, um esposo, com tanto vigor. Principalmente minha mulher que, também, achou muito louvável minha atitude, meu desprendimento. Salientou até que atos de coragem como demonstrei, poucos têm hoje em dia. Até fico meio encabulado com tantos afagos e gestos de carinho. E confesso estar todo prosa. Sinto-me orgulhoso e garboso com a família que tenho.
Noto também que eles estão mais unidos agora. É fácil vê-los pelos corredores, pelos cantos do hospital, confabulando ideias, estratagemas. Muitas vezes escapa algumas palavras, então percebo que é sobre mim que falam. Outro dia ouvi minha mulher cogitando a ideia de no ano que vem comprar um carrinho para a família. Para tanto, estavam estudando qual órgão é o mais valioso, para assim, fazer negócio. E já estavam vendo preço de mercado. Mercado particular ela quis dizer, porque na lista oficial não se aceita venda e compra. É por lista de espera e não se ganha nada por isso, visto ser, de certa forma, uma ação clandestina. De tal modo que, melhor seria procurar o mercado paralelo devido a esse imbróglio, digamos assim, alfandegário e monetário. Em vista de tal dificuldade, estão tratando o assunto de forma cautelosa. À vista disso deduzi, do que ouvi de um dos meus filhos, quando disse ter posto anúncio camuflado em códigos num jornal, já estavam obtendo boas propostas com ofertas ótimas. Desse modo, se Deus quisesse, e Ele tinha que querer. Eles iriam fazer um bom negócio. Foi sem querer, mas eles deixaram escapar entre cochichos estarem cogitando em vender a córnea de um dos meus olhos.
Antes de ontem, quando já eram mais da meia-noite, eu ouvi uma conversa entre os médicos do plantão que minha mulher já estava estudando a possibilidade de, junto ao hospital de fraturas, negociarem minha perna direita e o braço