Vislumbres Da Verdade
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Vislumbres Da Verdade - Leonardo M. Freitas
Sumário
Sumário
Prefácio
Apresentação
Capítulo 1 – Introdução
O que são os Vedas?
O que é yoga?
O problema fundamental
O jogo da mente desejante
Aceitando a impermanência
Compreendendo a natureza do Eu
Capítulo 2 – Os quatro purushartas
Capítulo 3 – A arquitetura da mente
Capítulo 4 – Os kleshas
Capítulo 5 – Os oito membros do yoga de Patañjali
Yamas: as cinco proscrições
Niyamas: as cinco prescrições
Asana
Pranayama
Pratyahara
Samyama
Dharana
Dhyana
Samadhi
Capítulo 6 – Raja Yoga – O caminho da disciplina mental
Os obstáculos à meditação e seus antídotos
Os resultados da prática de meditação
Capítulo 7 – Karma Yoga – O caminho da ação
Capítulo 8 – Jnana Yoga – O caminho do conhecimento
A natureza do Ser
A firmeza do conhecimento
Capítulo 9 – Bhakti Yoga – O caminho da devoção
Luxúria: o grande obstáculo à devoção
As formas da devoção
Capítulo 10 – Guru Yoga – O caminho da graça
O guru é um poder espiritual
Shaktipat: a descida da graça
Diksha: a iniciação espiritual
A prática de Guru Yoga
Tornando-se um servo
O guru é um despertador
Capítulo 11 – Mantra Yoga
Tipos de mantras
Japa, a meditação com mantra
Resgatando a Shakti
Capítulo 12 – Anatomia sutil
Kundalini Shakti
Os sete chakras
Os cinco envoltórios
Os três granthis
Capítulo 13 – Os três gunas
Sattva, rajas e tamas
A plataforma transcendental: indo além dos gunas
Capítulo 14 – A Bhagavad Gita
A tristeza de Arjuna
A instrução de Krishna
Arjuna aceita seu papel
Prefácio
O Jogo do Despertar
Provavelmente os ensinamentos dos Vedas são os mais antigos da civilização humana. Os textos produzidos há milhares de anos tratam de todos os aspectos da vida humana como a saúde, a sexualidade, a política, a educação, a alimentação, e etc. Mas a espiritualidade é um dos temas tratados nos Vedas que até os dias atuais continua a despertar o interesse das pessoas em todo o planeta. Isso porque o entendimento dos mistérios da vida e da morte são uma chave essencial para quem quer aproveitar o momento presente em que a existência verdadeiramente transcorre. As preocupações geradas com a finitude do corpo e da personalidade induzem as mentes dos indivíduos a vaguearem entre o passado e o futuro sem conseguirem se ancorar no presente que é onde a vida acontece naturalmente.
Os textos sagrados contidos nos Upanishads e Tantras, que fazem parte do tesouro védico, dão pistas essenciais para aqueles que desejam se autoconhecer. As linhas espirituais orientais revelam que o autoconhecimento é o atalho para quem quer decifrar o Divino que habita dentro de cada ser humano. E essa é a grande diferença entre as tradições espiritualistas ocidentais e orientais. Para os shivaístas o mantra Shivoham (Eu Sou Shiva) é a porta para o entendimento prático da eternidade que transcende a limitada visão de corpo, de mente e de personalidade. O estado de jiva é transitório enquanto a consciência desperta de bodhi é permanente.
Jiva é a personalidade que adquirimos durante uma encarnação e que se dissolve durante o Samsara de muitos nascimentos e mortes. Bodhi é o estado búdico de fusão com o Universo que não nasce e nem morre, porque simplesmente é, SoHam (Eu sou Isso). Essa é a Unidade que os textos milenares de Vedanta (que significa final dos Vedas) ensinam aos estudantes ou buscadores da Verdade. É um jogo indutivo para que o jiva reconheça a iluminação e a imortalidade como atributos presentes à sua existência. Como ensina Ramana Maharshi, não há nada a ser buscado e nem nada a ser aprendido, é preciso apenas contemplar através da meditação (dhyana) o fogo interior que incinera a ignorância ilusória gerada por Maya. A ilusão do medo impede a evolução para o despertar da consciência capaz de reconhecer a existência daquilo que já está vivo dentro de cada um de nós muito além dos limites temporais. Então é preciso transcender o medo para que a vida possa fluir como um rio em direção ao Oceano da Eternidade.
Uma parábola indiana conta que um rio se enche de temor quando está se aproximando do Oceano. Ele tem medo de perder a sua identidade como rio. Mas esquece-se que nesse processo de união (yoga) deixará de ser a parte para tornar-se o todo. Afinal, o Oceano contém todos os rios porque essa é a sua natureza divina.
Leonardo M. Freitas, como um sadhaka da Linhagem Sachcha, apresenta nessa obra a leitura interpretativa de diversos textos sagrados da cultura védica induzindo os leitores a Vislumbres da Verdade, que são as mais iluminadas realidades interiores existentes em todos os seres. Eu entendo o ensinar como lembrar o outro. Todos já nascemos com todo o conhecimento necessário dentro de nós e um mestre, um livro, uma aula, são apenas instrumentos para despertar essa lembrança daquilo que somos verdadeiramente.
Acredito que aqueles que se aventurarem pelas páginas desse livro encontrarão um pouco da tradução de conhecimentos milenares para uma vida de bem-aventurança e realização com o nosso verdadeiro Ser. De maneira simples e didática Vislumbres da Verdade é uma fonte para que homens e mulheres comuns acessem tesouros interiores que se revelarão pelas práticas dos mais diferentes yogas capazes de despertar os atributos divinos adormecidos pelos véus da ilusão.
Nelson Liano Jr, escritor e jornalista, autor dos livros O Despertar de Homens Comuns (Ed. BestSeller), Intuição - Despertando a Mediunidade para Alcançar Novos Estados de Consciência (Ed. Jardim dos Livros), entre outros.
Apresentação
No meu primeiro livro, Os Inimigos do Amor, me dediquei a elucidar o caminho da cura e da autotransformação. O foco dessa primeira etapa de trabalho está na purificação do coração e da natureza inferior por meio da autoinvestigação. No presente volume, o foco está no yoga, que é a ciência da autorrealização e na transcendência do ego. É um trabalho avançado
, se comparado ao primeiro livro, pois para realmente entrarmos no âmbito das práticas espirituais, é necessário ter amadurecido em algum grau a relação com nossa mente cega. No entanto, mesmo que pratiquemos diferentes tipos de yoga com intuito de elevarmos a nossa consciência, o trabalho com o eu inferior continuará sendo necessário. Dessa forma, considero que são como as duas pernas, que nos fazem avançar no caminho: uma que procura investigar a natureza inferior, e a outra que procura a sua transcendência.
O caminho do yoga pode se adequar a todos os tipos de pessoas. Existem diferentes meios para se praticar a ciência da autorrealização. Eu pratiquei e pratico há vinte anos. Sinto que é difícil imaginar o sentido da minha vida sem esse caminho para trilhar. Com o tempo, o yoga passa a ser um estilo de vida, voltado para a saúde, simplicidade e conexão interior.
Compreendi que um dos meus propósitos nesta existência é traduzir o conhecimento espiritual em linguagem simples e acessível para o público leigo e interessado em autoconhecimento. Procuro criar pontes entre a psicologia e a espiritualidade, me valendo das escrituras, das imagens mitológicas e da cosmovisão de diferentes religiões. Meu objetivo é levar meu aluno ou leitor a ter alguns vislumbres da Verdade, de maneira a perceber que o mistério está acessível a quem se colocar em sua direção.
Embora o yoga tenha me fascinado desde a adolescência, foi apenas depois do contato com meu mestre espiritual, Sri Prem Baba, que a prática ganhou um sentido mais profundo. Isso se deu quando eu tinha 24 anos. Até então, considero que minhas práticas foram apenas um ensaio ou preparação para receber o guru kripa e a iniciação espiritual formalizada. Não quero, com isso, desencorajar ninguém que esteja engajado em suas práticas, mas preciso ser sincero quanto à forma com que meu caminho se apresentou. A base do caminho do yoga é a transmissão do conhecimento entre mestre e discípulo. Segundo a cultura védica, é necessário ter mérito cármico para poder se aproximar de um guru e receber dele a shaktipat, transmissão de energia que possibilita a intensificação da prática espiritual e acende o fogo da kundalini.
Minha intenção, com este livro, é colocar você em contato com grandes tesouros da cultura védica. São joias de sabedoria utilizadas há milênios e confirmadas por grandes rishis como eficazes para a transcendência. Representam um grande patrimônio espiritual da humanidade, pois venceram as barreiras do tempo e do espaço. A mesma sabedoria alcançada há 5 mil anos ainda serve para os dias atuais, independentemente do contexto em que se viva.
Em gratidão à linhagem Sachcha, ao meu guru Sri Prem Baba e a todos que se esforçaram para manter acesa a chama do yoga, eu ofereço este livro, desejando que ele seja de alguma ajuda no seu caminho de transcendência.
Capítulo 1 – Introdução
O que são os Vedas?
T
odo o tesouro de conhecimento espiritual de que tratarei neste livro tem alguma relação bem próxima com os Vedas. Os Vedas são quatro grandes livros sagrados para a tradição dita hinduísta. O hinduísmo é um nome recente, criado pelo mundo ocidental, para tentar abarcar a grande complexidade das seitas e formas de espiritualidade que se praticam na Índia. Dentro dos Vedas, encontramos um corpo de conhecimento muito extenso, que abarca assuntos tais como: música, arte, arquitetura, história, leis, medicina, gramática, mantras, mitologia, filosofia, orações, dança etc. A palavra Veda significa conhecimento.
Esse conhecimento, materializado em livros, pertence a uma tradição oral de transmissão e, segundo a maioria dos indólogos, se manteve apenas dessa forma por milênios. Para os historiadores, provavelmente os Vedas começaram a ser escritos por volta de 2000 a.C. a 1500 a.C. Ainda hoje, existem algumas escolas onde as crianças aprendem a decorar os Vedas. Reza a lenda que os rishis previram que a humanidade começaria a decair em seu interesse pelas práticas espirituais e havia o risco de que os Vedas se perdessem ou caíssem no esquecimento. Com isso, teve início o processo de registro e escrita do conteúdo que antes se restringia à tradição oral. Dessa forma, o que nos resta hoje talvez seja um fragmento do que já existiu em outras eras. Perceba que há, nesse registro material, uma manifestação da misericórdia dos sábios, pois o acesso a esse conhecimento tem verdadeiro poder transformador, principalmente a parte dos Vedas que trata da libertação espiritual.
Mais preciso do que o termo hinduísmo
ou Vedas, seria correto nos referenciarmos ao Sanatana Dharma, que pode ser traduzido como eterno dever
, Verdade eterna
ou o caminho da iluminação
. Alguns termos em sânscrito, quando traduzidos, perdem muito da profundidade do seu significado, mas vou tentar explicar melhor. O Sanatana Dharma não se restringe a nenhum livro ou conteúdo em particular, mas representa toda a corrente dourada de saber que conduz o indivíduo de volta à morada sagrada. Podemos dizer que é o conjunto de leis espirituais que regem o Universo. Algumas tentativas de traduzir essas leis em palavras compreensíveis em nossa linguagem humana podem ser feitas, mas quero apontar que o Sanatana Dharma está além de qualquer corpo de conhecimento e palavras. Ele é como uma grande corrente de luz que aponta o caminho para nossas almas enredadas no mundo material. Na roupagem da tradição nascida na Índia, o Sanatana Dharma toma os elementos daquela cultura, com suas divindades e práticas espirituais específicas. Mas podemos reconhecer o mesmo teor de ensinamentos espirituais em outras tradições, como o sufismo, a cabala, o cristianismo místico ou, ainda, a tradição daimista amazônica. Embora haja semelhança entre esses ensinamentos, é na Índia, sem sombra de dúvida, que o Sanatana Dharma se manifestou de forma mais completa e preservada. Talvez seja lá, no subcontinente indiano, o local em que essa misericórdia se ancorou no nosso planeta Terra.
No Rig Veda está escrito:
Os ancestrais descobriram a luz oculta nas trevas.
Com mantras de Verdade geraram o alvorecer¹.
Os mantras dos Vedas são revelações que os rishis obtiveram ao realizar suas práticas espirituais e de abertura da consciência. Eles acessaram dimensões superiores da mente e descobriram a luz do conhecimento oculta nas trevas da ignorância. Por meio de seus mantras, eles abriram caminho para que outras mentes pudessem acessar o que eles perceberam, possibilitando um alvorecer na consciência. São mantras de Verdade, com V maiúsculo. Mantras que traduzem a Verdade maior da existência.
Os quatro Vedas e as Upanishads pertencem à tradição sruti, que significa aquilo que foi ouvido
. São textos de grande autoridade dentro do vedismo e que têm caráter de revelação espiritual, pois foram ouvidos pelos sábios, seja pela transmissão oral, seja pela audição espiritual. Mas existem também outros textos, considerados smriti, que significa aquilo que é lembrado
. Esses textos são compilações de sábios autorrealizados, baseados em suas experiências. Ao longo deste livro, trarei citações desses textos sagrados, procurando decifrar e ampliar sua sabedoria oculta.
O que é yoga?
Yoga é um vocábulo cuja raiz etimológica, yuj, traz o sentido de ligar
, manter unido
, atrelar
, unir
. Essa mesma raiz originou o termo latino jungir. Dentro do sânscrito, trata-se de uma palavra bastante genérica, utilizada para fazer referência a muitos métodos. Por exemplo, existe o yoga da devoção, o yoga do conhecimento, o yoga da respiração, o yoga das posturas, o yoga do sono, o yoga do canto, e assim por diante. É correto associar que o vocábulo yoga serve, em geral, para designar técnicas ou métodos de ascese com o objetivo de unificar a alma individual à grande alma universal. A tônica está no esforço do indivíduo, ou seja, na autodisciplina, graças à qual ele pode obter concentração no espírito, em detrimento da atenção difusa em direção ao mundo material, que é nossa condição natural.
No Ocidente, a palavra yoga ficou associada a práticas corporais, muitas vezes acrobáticas ou excêntricas, com o objetivo de promover saúde e bem-estar. No entanto, é possível ser um yogue e nunca ter praticado uma única postura corporal. Quando o yoga foi importado para nossa cultura, o seu caráter iniciático, místico e filosófico se perdeu. Na minha visão, o que o yoga tem a nos oferecer de mais valioso ainda é bem pouco conhecido, mesmo entre praticantes de yoga postural. Não estou aqui condenando a prática yoga atual, mas apenas ampliando o olhar para o fato de que a prática física tem um objetivo que vai além do bem-estar e da saúde: seu objetivo é criar um campo favorável para o yogin experienciar a unidade. A definição mais bela que encontrei de yoga está no Matanga Parameshwara:
O yoga é o meio de revelar a luz infinitamente radiante da alma divina².
Neste livro, minha intenção é apresentar a você o sistema filosófico
do yoga como um caminho iniciático e místico de transcendência. Nesse sentido, não falarei aqui de posturas ou técnicas corporais, mas da base espiritual que fundamenta a prática de yoga enquanto uma disciplina de autorrealização.
O problema fundamental
Uma compreensão muito importante me chegou através de Vedanta, que é a parte final dos Vedas, a conclusão, por assim dizer. Esse conhecimento tem por objetivo iluminar a natureza real do sujeito, trazer uma visão clara a respeito de quem somos. O conhecimento é ofertado por um guru, com palavras, exemplos e transmissão energética espiritual, que levam o discípulo a ter vislumbres do seu próprio Ser, reconhecendo sua própria natureza ilimitada e possibilitando uma transcendência de sua identificação egoica com a mente e o corpo.
Para acessar o conhecimento de Vedanta, é necessária certa preparação, através da disciplina do corpo e da mente, para que se tenha relativa estabilidade e receptividade. Essa preparação, aliada à qualidade da humildade, permite ao discípulo começar a vislumbrar a divina presença e a radiância do Ser. O guru vai apresentando, pouco a pouco, a problemática da ignorância e a sua solução. Não é possível vislumbrar a solução que Vedanta nos oferece se não tivermos clareza do problema que estamos mapeando. O mestre Osho dizia que é impossível ter a resposta certa se fizermos a pergunta errada.
Nesse sentido, devemos começar a nossa empreitada investigando a natureza do nosso problema. Vedanta nos mostra que, por trás da multiplicidade de cada pequeno problema que vivemos em nossa vida, existe um mesmo denominador comum. Há um problema fundamental por trás de todos os problemas, mesmo que eles pareçam ser muito distintos na superfície. Por exemplo, qual o denominador comum de alguém que sofre por problemas financeiros, outro que sofre por uma doença e outro que sofre por dificuldades no trabalho? A raiz de todos esses tipos de sofrimento é que temos uma visão equivocada a respeito da nossa identidade. Somos ignorantes a respeito de nós mesmos. Em sânscrito, utiliza-se o termo avidya, que significa sem conhecimento
ou ignorância. Nós nos enxergamos como seres faltosos e nos condenamos por isso. Nos desvalorizamos e passamos a buscar a felicidade ou algo que possa aplacar essa sensação de ser um eu carente de alguma coisa. A partir dessa visão equivocada da nossa identidade, criamos um movimento incessante e cego de busca pela totalidade, pela completude ou felicidade. Esse é o problema fundamental por trás de cada pequeno problema que nos aflige na vida. Pare um instante e pense em qualquer perturbação que você já tenha vivenciado, aplicando esse raciocínio.
A busca pela felicidade nos impele a tentar conquistar algo, projetando no futuro uma situação mais favorável, onde essa sensação de sermos faltosos não existirá. No entanto, mesmo quando obtemos aquilo que achávamos que traria a completude, a sensação não é duradoura, e mais dia ou menos dia, estaremos novamente correndo atrás da felicidade. Estamos na mesma condição daquela imagem do burro que tem uma cenoura à sua frente e segue trotando para tentar pegá-la, mas assim que ele dá um passo adiante, a cenoura vai junto, pois está pendurada numa vara segurada por seu dono. Ou, ainda: somos como cachorros correndo atrás do próprio rabo, fazendo um movimento circular que nunca se completa.
Quando apresento esse quadro da nossa condição de ignorância, é muito comum que meus alunos digam que vão parar de buscar o carro novo, uma casa nova ou um parceiro, pois entenderam intelectualmente que isso não vai trazer a felicidade. Esse é um pensamento imaturo e rápido do buscador espiritual, que ainda não compreendeu o problema em sua real extensão e profundidade. Deixar de investir no movimento para comprar algo novo ou realizar algum projeto não muda a nossa condição de nos vermos como faltosos. Vedanta não nos incentiva a pararmos de agir no mundo como uma solução para o problema fundamental. A questão não tem a ver exatamente com fazermos ou não algo no mundo externo, mas é uma mudança interna que precisa ser feita em nossa forma de enxergar a vida.
A única mudança que Vedanta nos propõe é na nossa percepção. Precisamos corrigir a nossa visão a respeito de quem somos e, consequentemente, do que estamos buscando. É possível continuar desejando melhorias e dando continuidade à realização de projetos, porém sem a ânsia de acreditar que seremos mais felizes quando a situação x ou y acontecer. Essa mudança em nossa percepção tem o poder de alterar completamente a nossa postura diante da vida e é capaz de relaxar o movimento compulsivo que a mente faz em direção à completude imaginada.
Segundo o Vishwasara Tantra:
Tudo o que está aqui, está lá, e o que não está aqui não está em lugar algum³.
Esse é um tipo de aforismo semelhante a um koan do budismo zen, que tem o poder de parar a nossa mente. Serve como um lembrete para quando estamos caindo de volta no movimento compulsivo da mente, para voltarmos ao nosso centro de presença e lembrarmos que já está tudo aqui. Não precisamos correr para lugar algum. Acreditar que a felicidade ou a plenitude está