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Científica Ficção #002
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Científica Ficção #002
E-book327 páginas3 horas

Científica Ficção #002

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Sobre este e-book

A segunda edição de Científica Ficção traz um pouco mais de nostalgia e algumas surpresas que talvez você não estivesse esperando. E algumas que talvez você já desejasse. O que teremos na #002? Asimov, Campbell, Fairman, Pohl e outros. Teremos a estreia da nossa seção de cartas, vamos bisbilhotar anúncios de época e algumas páginas originais das velhas revistas. Além da nossa seção de filmes, para revisitarmos clássicos do gênero: a Sci-Fi Cinema!

Tem mais: a apresentação desta vez fica por conta do escritor Rubens Angelo, que nos brinda com o conto "Vá e Veja", a estreia da seção de contos de ficção científica de escritores brasileiros! Com ele, vamos embarcar numa jornada rumo a outra galáxia, para buscar uma civilização tão avançada que teria conquistado os confins do universo!

Mas o que nos reserva nosso garimpo Pulp? Teremos sete contos surpreendentes, de vários momentos entre os anos 1930 e 1960:

Vamos conhecer dois garotos curiosos que encontram estranhos bichinhos de estimação e planejam entrar para o circo, no conto "Juventude", de Isaac Asimov. Em "O túnel debaixo do mundo", de Frederik Pohl, vamos conhecer Guy Burckhardt, que acordou assustado de um pesadelo terrível naquela manhã, uma explosão tão vívida que parece alcançar a realidade! E falando em explosão, Dave Miller decidiu por fim à própria vida em "O dia que o tempo parou", de Bradner Buckner, mas no ato do disparo, o pobre coitado explodiu bem mais que seus miolos. Algo deu muito errado e talvez não adiante mais se arrepender. O escritor Tom Godwin nos levará para uma missão interplanertária com o objetivo de conhecermos novos planetas e povos, mas um problema de comunicação entre as espécies vai ser um entrave em "O chamado de um planeta distante". E que tal brincarmos de ioiô com um... asteroide? É o que nos sugere a divertida aventura "Ioiô cósmico", de Ross Rocklynne. Com Paul W. Fairman vamos desvendar um assassinato intrigante, no melhor estilo dos detetives noir, mas desta vez... usando um estranho cálculo alienígena em "A Equação de Dalrymple". E para finalizar nossa viagem no tempo, vamos conhecer um dos primeiros contos escritos por John W. Campbell Jr., "A última evolução", com direito a comentários de Sam Moskowitz!
IdiomaPortuguês
EditoraTramatura
Data de lançamento1 de dez. de 2023
ISBN9786585657174
Científica Ficção #002

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    Científica Ficção #002 - Isaac Asimov

    Juventude

    de Isaac Asimov

    Publicado originalmente em

    Space Science Fiction

    em maio de 1952

    I

    Houve um tirintar de pedrinhas contra a janela e o garoto se mexeu em seu sono. Mais outro, e ele estava acordado.

    Sentou-se empertigado na cama. Passaram-se alguns segundos enquanto ele reconhecia o ambiente estranho em que estava. Não era sua casa, é claro. Estava fora do país. Estava mais frio do que deveria e havia uma paisagem verde na janela.

    — Slim!

    O chamado foi um sussurro rouco e urgente, e o garoto saltou na direção da janela aberta.

    Slim não era seu nome verdadeiro, mas o novo amigo, que ele conhecera no dia anterior, só precisou dar uma olhada em sua figura esguia para dizer:

    — Você vai ser Slim (Magro) — e acrescentou: — Eu sou Red (Vermelho).

    Red também não era o nome verdadeiro do outro garoto, mas o codinome era adequadamente óbvio. Eles ficaram amigos instantaneamente, com a amizade rápida e inquestionável dos jovens que ainda não chegaram à adolescência, muito antes de as primeiras marcas da idade adulta começarem a aparecer.

    Slim gritou:

    — Oi, Red! — e acenou alegremente, ainda piscando de sono.

    Red manteve seu coaxar sussurrante:

    — Fala baixo! Quer acordar todo mundo?

    Slim notou de repente que o sol mal chegava ao topo das colinas baixas a leste, que as sombras estavam longas e suaves e que a grama estava molhada.

    Slim disse, mais baixinho:

    — Qual é o problema?

    Red apenas gesticulou para ele sair.

    Slim vestiu-se rapidamente, limitando espevitadamente a sua lavagem matinal a uma borrifada momentânea de um pouco de água morna. Deixou o ar secar as partes expostas de seu corpo enquanto corria, a pele nua voltando a ficar molhada contra a grama orvalhada.

    Red segredou:

    — Você tem que ficar quieto. Se a mamãe acordar o papai, ou o seu pai acordar, ou mesmo qualquer um dos outros adultos, então vamos ouvir um entre ou você vai pegar um resfriado mortal e vai morrer.

    Ele imitou a voz e o tom de um adulto fielmente, de modo que Slim riu e pensou que nunca havia conhecido um cara tão engraçado quanto Red.

    — Você vem aqui fora todos os dias, Red? Assim bem cedo? Parece que o mundo inteiro é só nosso, não é, Red? Ninguém mais por perto e tudo... — Slim comentou de um jeito meio ansioso. Sentiu-se orgulhoso por ter permissão para entrar naquele mundo quase secreto.

    Red olhou para ele de soslaio.

    — Estou acordado há horas — disse despretensiosamente. — Você não ouviu ontem à noite?

    — Ouvir o quê?

    — O trovão.

    — Houve uma tempestade? — Slim nunca dormia durante uma tempestade.

    — Acho que não. Mas houve um trovão. Eu ouvi, e aí fui até a janela e não estava chovendo. Tinha muitas estrelas e o céu estava ficando quase cinza. Você sabe o que quero dizer?

    Slim nunca tinha visto isso, mas ele assentiu.

    — Daí eu pensei em dar uma saída — disse Red.

    Eles caminharam ao largo do gramado à beira da estrada de concreto. Ela dividia a paisagem bem ao meio, seguindo assim até desaparecer entre as colinas. A estrada era tão velha que o pai de Red não sabia dizer a Red quando fora construída. Não tinha uma rachadura ou sequer um ponto áspero.

    — Você pode guardar um segredo? — Red perguntou.

    — Claro, Red. Que tipo de segredo?

    — É só um segredo. Talvez eu conte a você, talvez não. Ainda não sei.

    Red quebrou um caule longo e flexível de uma samambaia pela qual passaram. Arrancou metodicamente suas folhas e balançou o que restou como se fosse um chicote. Por um momento, ele brincou se imaginando num cavalo selvagem, que empinava e mastigava sob seu férreo controle. Então se cansou, jogou o chicote de lado e guardou o cavalo de mentira em um canto de sua imaginação, para usar no futuro.

    — Vai ter um circo por estas bandas — ele disse.

    Slim respondeu:

    — Isso não é segredo. Eu já sabia. Meu pai me disse antes mesmo de virmos para cá...

    — Esse não é o segredo. Que belo segredo! Já viu um circo?

    — Ah, sim. Pode apostar que sim.

    — Gostou?

    — Vou te contar: não há nada que eu goste mais.

    Red estava observando com o canto dos olhos novamente.

    — Já pensou se você pudesse estar com um circo? Quero dizer, para sempre?

    Slim ponderou:

    — Não, acho que não. Acho que vou ser astrônomo, como meu pai. Acho que ele quer que eu seja.

    — Hum! Astrônomo! — disse Red.

    Slim se sentiu de repente como se as portas daquele mundo novo e secreto estivessem se fechando para ele, que a astronomia estava se tornando algo sobre estrelas mortas e sobre o espaço negro e vazio.

    Acabou dizendo, num tom apaziguador:

    — Um circo seria mais divertido.

    — Você está falando da boca pra fora.

    — Não estou não. Estou falando sério.

    Red elaborou mais a argumentação.

    — Suponha que você tivesse a chance de se juntar a um circo agora. O que você faria?

    — Eu... eu...

    — Tá vendo! — Red exibiu um riso desdenhoso.

    Slim engoliu a isca.

    — Eu me juntaria a ele sim.

    — Iria em frente...

    — Pode apostar.

    Red virou-se para ele de um jeito estranho e intenso.

    — Você quis dizer isso mesmo? Gostaria de ir comigo?

    — O que você quer dizer com isso? — Slim recuou um pouco, surpreso com o desafio inesperado.

    — Eu conheço uma maneira de nos colocar no circo. Talvez algum dia possamos até ter nosso próprio circo. Poderíamos ser os maiores companheiros de circo do mundo. Isso se você quiser entrar comigo. Caso contrário, bem, acho que posso ir sozinho. Eu só achei: vamos dar uma chance ao bom e velho Slim.

    O mundo de repente ficou estranho e fascinante, e Slim disse:

    — Claro, Red. Estou dentro! O que é, hein, Red? Diz logo o que é.

    — Imagina só. Qual é a coisa mais importante nos circos?

    Slim matutou desesperadamente. Ele queria dar a resposta certa. Finalmente respondeu:

    — Acrobatas?

    — Caramba! Eu não daria cinco passos para ir ver acrobatas num circo.

    — Eu não sei então.

    — Os bichos é que são! Qual é a melhor parte do show? Onde estão as maiores plateias? Até mesmo no picadeiro principal, os melhores atos são os que têm animais.

    Não havia dúvida na voz de Red.

    — Você acha?

    — Todo mundo acha. Pergunte a qualquer um. De qualquer forma, encontrei alguns bichos esta manhã. Dois deles.

    — E você os pegou?

    — Claro. Esse é que é o meu segredo. Não vai bater com a língua nos dentes?

    — Claro que não.

    — Tudo bem. Eu os tranquei no celeiro. Você quer ver?

    Eles estavam quase chegando ao celeiro; sua enorme porta negra estava aberta. Bem negra. Vinham caminhando naquela direção por todo aquele tempo.

    Slim parou de repente. Tentou tornar suas palavras casuais.

    — Eles são grandes?

    — Eu bobearia com eles se eles fossem grandes? Eles não podem te machucar. São mais ou menos deste tamanho. Eu os prendi numa gaiola.

    Estavam no celeiro agora e Slim viu uma gaiola grande suspensa por um gancho no telhado. Estava coberta por uma lona grossa.

    Red disse:

    — A gente tinha um pássaro (ou um bicho desses) que ficava lá. De qualquer forma, eles não têm como fugir. Vamos, vamos subir para o sótão.

    Subiram pelos degraus de madeira e Red puxou a gaiola na direção deles.

    Slim apontou e disse:

    — Parece que tem um buraco na lona.

    Red franziu a testa.

    — Como isso aconteceu? — Ergueu a cobertura, olhou para dentro e disse, aliviado: — Eles ainda estão aqui.

    — A lona parece estar queimada — preocupou-se Slim.

    — Você quer olhar, ou não?

    Slim assentiu lentamente. Ele não tinha certeza se queria, afinal. Eles poderiam ser...

    Mas a cobertura foi arrancada do lugar e lá estavam eles. Dois deles, como Red dissera. Eram pequenos e de aparência meio nojenta. Os animais se moveram rapidamente quando a lona se levantou e foi deixada de lado pelos garotos. Red apontou um dedo cauteloso para eles.

    — Cuidado — alertou Slim, em agonia.

    — Eles não vão machucar você — disse Red. — Já viu algo parecido com eles?

    — Não.

    — Não entendeu ainda como um circo adoraria a chance de ter uma coisa assim?

    — Talvez sejam pequenos demais para um circo.

    Red pareceu se irritar. Soltou a gaiola, que passou a balançar para frente e para trás como um pêndulo.

    — Você já está querendo desistir, não é?

    — Não, não estou. É só...

    — Eles não são tão pequenos, não se preocupe. No momento, só tenho uma preocupação.

    — E qual é?

    — Bem, eu tenho que cuidar deles até o circo chegar, não é? Eu tenho que descobrir como alimentá-los enquanto isso.

    A jaula balançou e as criaturinhas presas se agarraram às barras, gesticulando para os jovens com movimentos estranhos e rápidos — quase como se fossem inteligentes.

    II

    O Astrônomo entrou na sala de jantar com certo decoro. Ele se sentia mais como um convidado.

    — Onde estão os garotos? Meu filho não está em seu quarto — disse.

    O Industrial sorriu.

    — Eles estão fora há algumas horas. As mulheres serviram o café da manhã para eles há algum tempo, então não tem nada com que se preocupar. É a juventude, doutor, juventude!

    — Juventude! — a palavra pareceu deprimir o Astrônomo.

    Eles tomaram o café da manhã em silêncio. O Industrial por fim questionou:

    — Você realmente acha que eles virão? O dia parece tão... normal.

    — Eles virão — o astrônomo respondeu.

    Isso foi tudo.

    Pouco depois, o Industrial voltou ao assunto:

    — Me desculpe. Não consigo conceber que você tenha mesmo engendrado uma farsa tão elaborada. Você realmente falou com eles?

    — Tanto quanto estou falando com você. Pelo menos... em certo sentido. Eles podem projetar pensamentos.

    — Deduzi pela sua carta que tinha sido assim. Eu só me pergunto: como?

    — Não sei dizer. Perguntei a eles, claro, mas foram vagos. Ou talvez eu não tenha conseguido entender. Envolve um projetor para focalizar o pensamento e, mais do que isso, uma espécie de atenção consciente por parte tanto de quem projeta quanto de quem recebe o pensamento. Levei um bom tempo até perceber que eles estavam tentando enviar pensamentos para mim. Esses projetores de pensamento podem ser parte da ciência que eles nos darão.

    — Talvez — resmungou o Industrial. — No entanto, pense nas mudanças que isso traria para a sociedade. Um projetor de pensamentos!

    — Por que não? A mudança seria boa para nós.

    — Eu não acho.

    — É apenas na velhice que as mudanças não são bem-vindas — disse o Astrônomo. — E as raças podem ser tão velhas quanto os indivíduos.

    O Industrial apontou para a janela.

    — Veja aquela estrada. Foi construída Antesdasguerras. Não sei exatamente quando. Está tão boa agora quanto no dia em que foi construída. Não teríamos capacidade para fazer uma igual agora. Nossa raça era bem jovem quando foi construída, não era?

    — Naquela época? Sim! Pelo menos eles não tinham medo de coisas novas.

    — Não. Mas eu gostaria que tivessem. Onde está a sociedade de Antesdasguerras? Destruída, Doutor! De que adiantou sua juventude e as coisas novas? Estamos melhor agora. O mundo está em paz e segue em frente. Nossa raça não está indo a lugar algum, mas afinal, não há para onde ir mesmo. Eles provaram isso. Os homens que construíram a estrada. Falarei com seus visitantes, como combinado, se eles vierem. Mas acho que vou apenas pedir que eles nos deixem em paz.

    — Nossa espécie não está indo a lugar nenhum — disse o Astrônomo, com seriedade. — Está caminhando para a destruição final. Minha universidade tem um corpo estudantil menor a cada ano. Menos livros são escritos. Menos trabalho é feito. Um velho pode dormir sob o sol e seus dias continuarão tranquilos e imutáveis, mas cada dia o encontra mais perto da morte do mesmo jeito.

    — Bem, bem — resmungou o Industrial.

    — Não, não desconverse. Ouça. Antes de escrever para você, investiguei sua posição na economia planetária.

    — E você encontrou minhas contas em dia? — interrompeu o Industrial, sorrindo.

    — Ora, sim. Ah, entendi, você está caçoando. E, no entanto, talvez a piada não seja tão engraçada. Você tem menos recursos financeiros do que seu pai e ele era menos solvente do que o pai dele. Talvez seu filho nem consiga o mesmo. As coisas estão ficando muito difíceis, num nível planetário, para que possamos sustentar até mesmo as indústrias que ainda existem, embora elas possam parecer um palitinho de dente perto dos carvalhos enormes que elas representavam Antesdasguerras. Vamos acabar voltando à economia de aldeia. E depois... para onde? As cavernas?

    — E introduzir novos conhecimentos tecnológicos poderá nos salvar de tudo isso?

    — Não apenas uma nova tecnologia, mas todo o efeito da mudança, de uma ampliação de horizontes. Olhe, senhor, eu o escolhi para abordar este assunto não apenas porque você é rico e influente junto aos membros do governo, mas porque você tem uma reputação incomum de, nos dias de hoje, ousar romper com a tradição. Nosso povo resistirá à mudança e você saberia como lidar com todos, como fazer com que... que...

    — Com que a juventude de nossa espécie seja revivida?

    — Sim.

    — Com suas bombas atômicas?

    — As bombas atômicas — respondeu o Astrônomo — não precisam ser o fim da civilização. Esses meus visitantes tinham sua própria bomba atômica, ou qualquer que fosse seu equivalente em seus próprios mundos, e sobreviveram a ela, porque não desistiram. Você não vê? Não foi a bomba que nos derrotou, mas nossa própria neurose com ela. Esta pode ser nossa última chance de reverter o processo.

    — Diga-me — disse o Industrial — o que esses amigos do espaço querem em troca?

    O Astrônomo hesitou. Por fim disse:

    — Vou ser sincero com você. Eles vêm de um planeta mais denso. O nosso é mais rico em átomos mais leves.

    — Eles querem magnésio? Alumínio?

    — Não, senhor. Carbono e hidrogênio. Eles querem carvão e petróleo.

    — Sério?

    O Astrônomo disse rapidamente:

    — Você vai perguntar por que criaturas que dominaram as viagens espaciais e, portanto, a energia atômica, iriam querer carvão e petróleo. Não sei responder a isso.

    O Industrial sorriu.

    — Mas eu sei. Esta é a melhor evidência até agora da veracidade da sua história. Num primeiro momento, a energia atômica pode parecer suplantar o uso de matérias como carvão e petróleo. No entanto, independentemente da energia adquirida pela combustão desses materiais, eles continuam sendo, e sempre continuarão a ser, a matéria-prima básica para toda a química orgânica. Plásticos, corantes, produtos farmacêuticos, solventes. A indústria não poderia existir sem eles, mesmo em uma era atômica. Ainda assim, se carvão e petróleo são o custo, ainda que baixo, pelo qual eles nos levariam a ter de novo os problemas e as torturas de um suposto rejuvenescimento da nossa espécie, minha resposta é que a mercadoria oferecida ainda é cara, até mesmo se eles a entregassem gratuitamente.

    O Astrônomo suspirou e disse:

    — Lá estão os meninos!

    Eles ficaram visíveis através da janela aberta, parados juntos no campo gramado e perdidos em uma conversa animada. O filho do Industrial apontou imperiosamente e o filho do Astrônomo assentiu e saiu correndo em direção à casa.

    O Industrial comentou:

    — Aí está a Juventude de que você tanto fala. Nossa raça tem mais dela do que nunca.

    — Sim, mas nós os envelhecemos rapidamente e os moldamos à nossa semelhança.

    Slim corria na direção do quarto e deixou a porta de entrada bater atrás dele.

    O Astrônomo ralhou, em leve desaprovação:

    — O que é isso?

    Slim olhou para cima surpreso e parou.

    — Desculpe-me. Não sabia que havia alguém aqui. Lamento ter interrompido — sua entonação era quase dolorosamente calculada.

    O Industrial o salvou:

    — Está tudo bem, jovem.

    Mas o Astrônomo ainda retrucou:

    — Mesmo se você estivesse entrando em uma sala vazia, filho, não haveria motivo para bater a porta assim.

    — Bobagem — insistiu o Industrial. — O garoto não fez por mal. Você o está repreendendo só por ser jovem. Você, com suas manias!

    E virou-se para Slim:

    — Venha aqui, rapaz.

    Slim avançou lentamente.

    — Você gosta dos campos, hein?

    — Muito, senhor.

    — Meu filho tem mostrado o lugar a você, não é?

    — Sim, senhor. Red... quero dizer...

    — Não, não. Chame-o de Red. Eu mesmo chamo ele assim. Agora me diga, o que vocês dois estavam fazendo, hein?

    Slim desviou o olhar.

    — Ora, só estávamos... explorando, senhor.

    O Industrial voltou-se para o Astrônomo.

    — Aí está, a curiosidade e a sede de aventura da juventude. A raça ainda não as perdeu.

    Slim disse:

    — Senhor?

    — Sim, rapaz.

    O jovem demorou muito para continuar. Por fim comentou:

    — Red me mandou buscar algo de bom para comer, mas não sei exatamente o que ele quis dizer com isso. Nem sei como perguntar isso...

    — Ora, basta pedir à cozinheira. Ela vai ter algo de bom para vocês comerem.

    — Ah, não, senhor. Quero dizer... para animais.

    — Para animais?

    — É, senhor. O que os animais comem?

    O Astrônomo interveio:

    — Receio que meu filho tenha sido criado na cidade.

    — Bem — disse o Industrial —, não há mal nenhum nisso. Que tipo de animal, rapaz?

    — Um pequeno, senhor.

    — Então tente grama ou folhas, e se eles não quiserem isso, nozes ou alguns frutinhos provavelmente servirão.

    — Obrigado, senhor. — Slim saiu correndo novamente, fechando a porta suavemente atrás de si.

    O Astrônomo perguntou:

    — Você acha que eles prenderam um animal vivo? — Parecia obviamente perturbado.

    — Isso é bastante comum. Não caçamos em minha propriedade e esta é uma região bem pacífica, cheia de roedores e pequenos bichinhos. Red está sempre voltando para casa com animais de estimação de um tipo ou de outro. Eles raramente mantêm o interesse nele por muito tempo.

    Olhou para o relógio de parede.

    — Seus amigos já deveriam estar aqui, não deveriam?

    III

    O balançar da gaiola havia cessado e estava escuro. O Explorador não se sentia confortável na atmosfera alienígena. Parecia tão espessa quanto uma sopa e ele tinha que respirar lentamente. Mesmo assim...

    Ele estendeu a mão, sentindo uma necessidade repentina de companhia. O Mercador estava quente ao toque. Sua respiração era áspera, ele se movia em espasmos ocasionais e obviamente estava dormindo. O Explorador hesitou e decidiu não o acordar. Não serviria a nenhum propósito real.

    Não seriam resgatados, isso era certo. Aquela era a pena pelos altos lucros que a concorrência desenfreada gerava. Um mercador que começava a negociar com um novo planeta tinha um monopólio de dez anos na exploração do comércio com ele, que poderia aproveitar sozinho ou, o que era mais comum, alugar a todos os interessados por um preço elevado. Seguiu-se que os planetas foram procurados em segredo e, de preferência, longe das rotas comerciais habituais. Em um caso como o deles, então, havia pouca ou nenhuma chance de que outra nave pudesse ficar ao alcance de seus sub-éters, exceto na mais improvável das coincidências. Mesmo se eles estivessem em sua nave, isto é, em vez de nesta... nesta... gaiola.

    O Explorador agarrou as barras grossas. Mesmo que eles as arrancassem do lugar, como de fato podiam fazer, estavam presos num lugar muito alto para pular.

    Isso era muito

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