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Hipérion
Hipérion
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E-book699 páginas10 horas

Hipérion

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Sobre este e-book

Concluída a saga original da nave Hipérion eis que a página precisa ser virada, após todos os percalços e o preço pago. Para isso o multimilionário empresário Julko abre a carteira para recriar a nave com auxílio do Dr. Lreorod e sua equipe para, com um grupo maior de tripulantes e uma nova Hipérion, salvar o planeta de outra terrível ameaça e dar início à nova saga rumo às estrelas e a memoráveis e épicos confrontos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de dez. de 2019
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    Hipérion - R. C. Zímmerl

    Image 1Image 2

    HIPÉRION

    R. C. ZÍMMERL’

    1ª Edição

    Rio das Ostras, RJ

    2021

    Quando você olha para o abismo, o abismo também olha para você

    Nietzche

    Prefácio

    Nosso mundo foi salvo, afinal. Mas a que preço?

    Na tristeza da ausência dos amigos, na desolação causada pela falta de esperança, talvez somente os loucos possam encontrar conforto na sandice da não aceitação da realidade.

    E o que é realidade de fato?

    Será aquilo que vemos?

    Será o que acreditamos?

    Será o que sonhamos ou desejamos?

    Caro leitor, prepare–se para superar a dor da perda, a dor da realidade e encarar novos desafios. A página precisa ser virada: Uma nova era se inicia, uma nova saga que, juntos, desbravaremos.

    O Autor

    Índice

    CAPÍTULO 1

    Uma Nova Era .....................................................................................................................

    Tentativas ............................................................................................................................

    Prisioneiros .........................................................................................................................

    Será possível? .....................................................................................................................

    CAPÍTULO 2

    Perdidos... .............................................................................................................................

    Rescaldo ................................................................................................................................

    Vermes Malditos! ..............................................................................................................

    Virando Fantasma ............................................................................................................

    Voltando do Mundo dos Mortos .................................................................................

    CAPÍTULO 3

    Esperança Renovada? .....................................................................................................

    O Preço a Ser Pago ...........................................................................................................

    O Grande Problema .........................................................................................................

    Ao Resgate ...........................................................................................................................

    A Vida Entre 3 Sóis ...........................................................................................................

    CAPÍTULO 4

    Prosérpina ...........................................................................................................................

    O Ardil de Plutão ...............................................................................................................

    CAPÍTULO 5

    Nova Missão – De Novo..................................................................................................

    Embarcando ........................................................................................................................

    Ativando o Campo ............................................................................................................

    Fazendo o tour ...................................................................................................................

    Pondo em pratos limpos ...............................................................................................

    Novas Armas .......................................................................................................................

    CAPÍTULO 6

    A Batalha do Rei de Uruk ..............................................................................................

    Conhecimento nunca é demais? .................................................................................

    O Conselho ...........................................................................................................................

    A Luta .....................................................................................................................................

    As consequências..............................................................................................................

    CAPÍTULO 7

    Retorno ao lar ....................................................................................................................

    Desaparecidos ....................................................................................................................

    Na Casa dos Mortos .........................................................................................................

    Presas presas ......................................................................................................................

    Novo tripulante .................................................................................................................

    O problema de milhões de pernas ............................................................................

    Novos amigos .....................................................................................................................

    CAPÍTULO 8

    Chamas do Gelo .................................................................................................................

    O caminho da redenção. ................................................................................................

    A Vingança é um prato que se serve frio! ..............................................................

    O fim da festa ......................................................................................................................

    Image 3

    Capítulo 1

    A dualidade de sentimentos, da leda felicidade pela inconcebível vitória ao triste pesar pela terrível perda de amigos tão queridos, perpassa os corações de todos os que participaram diretamente do projeto. Emergindo do caos da violenta destruição da base, porém, dois homens não têm seus corações amargurados pela perda, ambos, todavia, nutrem sentimentos extremamente diversos: O feroz magnata Joshua Julko, em cujos olhos vê–se irradiado o brilho do alvorecer de uma nova era, na qual as armas desenvolvidas pela equipe de Lreorod não somente poderão engrossar a extensa lista de produtos militares de suas indústrias com artigos muito acima e à frente de seus concorrentes, como, outrossim, dar-lhe–á total controle sobre a arma definitiva: a nave transdimensional, com a qual poderá, se assim desejar, se colocar como senhor de toda a humanidade, mal contra o qual o médico e espião Steven Sunderman sempre se insurgiu, felizmente falecido, segundo pensa Joshua; o outro homem é o idealizador do projeto, Dr.

    Lreorod Ricorzim, o cientista sente em seu coração que a equipe continua viva.

    Como? ... Onde? ... Quando?

    Ignora.

    Como contatá-los? Como averiguar se permanecessem existindo e, se vivem, se poderiam regressar?

    Isso seria possível?

    E, caso tenham sobrevivido, poderiam se manter vivos por quanto tempo?

    Essas dúvidas e incertezas acossam seu coração e mente; sente–se compelido pela força da amizade, do carinho, do afeto para com todos a bordo da Hipérion, a tentar resgatá-los.

    ... Caso ainda estejam vivos!

    A valente e bem-disposta brigada de incêndio e os bombeiros da ilha passaram todo o dia em frenético trabalho para conter e controlar as chamas, o maquinário da base está seriamente avariado, foi muita sorte tanto o radar TD2 e os canais de comunicação subespaciais terem se mantido a despeito do violento golpe subespacial, o Dr. Lreorod os construiu com grande esmero e capricho, preparados para enfrentar as mais difíceis condições da batalha.

    Tal qual fizera com a Hipérion.

    Será que ela resistiu? Se pergunta em seu íntimo.

    A estranha visão que os tripulantes tiveram – a nave fantasma – teria sido um aviso do futuro para que não desistissem de tentar salvá-los?

    Quiçá sim.

    O velho cientista se apega a esta crença.

    A primeira preocupação do líder das indústrias Julko foi com a segurança das instalações: obviamente a explosão

    em sua ilha em sincronismo com o evento espacial estranho

    captado por telescópios de vários países poderá causar-lhe problemas, fora o prejuízo dos equipamentos e instalações danificadas, todavia, sem os tripulantes da Hipérion, em especial do irritante médico Dr. Sunderman, está livre para construir outra nave, completamente nova e, nesta, enviar equipe de fiéis e dedicados empregados, sequiosos em atender aos seus desígnios!

    Quer sejam para o bem, quer sejam para o mal...

    O poder absoluto contra o qual nada poderá ser feito!

    Isso lhe inflama a alma de júbilo e satisfação: Após tantos anos, décadas, perseguido e acossado por gente calhorda e nefasta, agora poderá pôr fim em quem quiser!

    Até em todos, se quiser...

    Este imenso poder está, finalmente, ao alcance de suas mãos, ávidas dele! O incontível sorriso ilumina sua face: Foi uma grande sorte a Hipérion ser destruída, conclui.

    Todo seu poder será exclusivamente dele!

    Evidentemente Lreorod quererá construir outra nave, seja para supostamente proteger a Terra, seja para buscar os destroços da antecessora; essa motivação há, porém, de ser irrelevante, pois Julko planeja usá-lo sim e o velho cientista colaborará de bom grado enquanto crer estar trabalhando por nosso mundo! Incautamente, no entanto, estará dando ao cruel magnata o poder supremo de domínio sobre o planeta e isto precisa ser mantido em máximo sigilo!

    O jubiloso empresário elucubra cautelosamente os passos a seguir...

    Passadas as caóticas horas após a imensa explosão no hangar, o fogo está inteiramente debelado e as instalações

    devidamente evacuadas para as equipes de contenção e segurança poderem trabalhar na estabilização da estrutura de modo a permitir sua limpeza e, eventualmente, reforma, se desejado. Entrementes o Sr. Julko convoca os membros da equipe de Lreorod a uma reunião após o jantar, tática para começar a amaciar a equipe, cooptá-los a cumprir com seus desígnios e definir conjuntamente o que virá a seguir.

    O almoço da equipe após a explosão houvera sido tumultuado entre passar em exames na enfermaria, curativos às feridas superficiais aos que precisaram e toda a desordem na operação de controle de avarias.

    Demorou até a poeira assentar, por assim dizer.

    Refeitos do baque imediato, limpos, de banho tomado, o jantar era, de fato, o momento mais adequado para pôr as ideias no lugar, ponderar sobre a retumbante vitória e o sacrifício realizado para obtê-la, e Julko os chama, a todos da equipe, ao jantar comemorativo do triunfo. Quer afastá-los da base, do caos, da necessidade de procurar pelos amigos perdidos na fatídica batalha. Para esta página começar a ser virada e, enfim, o grupo de Lreorod poder se dedicar aos seus interesses maliciosos. E o ardiloso anfitrião, a despeito da confusão toda e do prejuízo consequente, caprichou, servindo o buffet digno da comemoração da nossa sobrevivência, com caro champanhe, sofisticados canapés, caviar russo, dentre outras iguarias requintadas.

    Às dezenove horas, na noite iluminada pela resplandecente lua cheia despontando altiva no límpido horizonte, toda a equipe se fez presente no grande salão de jantar privativo na mansão de Julko, longe do alvoroçado burburinho de veículos e pessoas a trabalhar no hangar.

    Salão este finamente decorado, amplo, sob um teto elevado do qual pendem três enormes lustres dourados

    repletos de cristais e luzes. Os convidados do opíparo jantar foram trazidos em elegantes carros e o evento, a portas fechadas e segurança reforçada, esbanja requinte e elegância, contrastando com o clima enlutado e apreensivo dos comensais. Que foram, todos, conduzidos ao salão por duas belíssimas e delicadas jovens, assistentes da mansão de Julko.

    Tomaram assentos ao seu alvitre, reservados, unicamente, foram os de Joshua, à ponta, próximo à grande escadaria e acessos ao salão de jantar menor, com vista para a varanda dos fundos, e a cozinha, e o do Dr. Lreorod, à sua direita imediata. Lílian fez questão de sentar–se ao lado do cientista, à esquerda do empresário sentou–se Percival.

    A enorme e elegante mesa com 50 lugares, de um metro e oitenta de largura e vinte de comprimento, feita em mogno sobre o belo piso de mármore "calacatta oro"

    cristalizado contrasta com o tom fúnebre nos semblantes do grupo convidado, por demais patente para simplesmente ser ignorado sem despertar suspeita, a despeito do sucesso obtido. Assim, astutamente, o dono da casa procurou demonstrar empatia: – Estimados companheiros, estamos aqui reunidos graças ao imensurável feito, ao ímpar triunfo dos queridos amigos da Hipérion, para nossa sorte: a derrota de um atroz inimigo, desafortunadamente ao custo de seu próprio sacrifício.

    Gus, sentado três lugares adiante, toma a palavra de chofre: – Não necessariamente!

    A súbita interrupção de seu discurso minuciosamente elaborado o constrange, olha ao técnico fixamente e, com estranheza, demanda: – Perdão?

    O fiel especialista em informática do Dr. Ricorzim continua: – É possível terem escapado à explosão por estarem interdimensionais.

    A imprevista declaração, carregada de imponderável esperança, o surpreende. Como assim, possível?

    Não! Não é possível, não.

    Nem poderia ser possível!

    Eles PRECISAM ter morrido!

    Se a absolutamente magnífica explosão houver sido insuficiente para isso, então que se percam onde estiverem até a morte lhes sobrevir de outro modo!

    ... Ao menos ao irritante médico de bordo!

    Basta do Dr. Sunderman atrapalhando sua vida, que aquele cretino vá infernizar o capeta onde estiver! Pensa consigo mesmo e franzindo as hirsutas sobrancelhas, então diz: – A explosão, pelo que foi captado por telescópios, não deixou nada no local além de fragmentos diversos.

    René, engenheiro programador de ANA, elucida: –Sr.

    Joshua, a explosão causou a ruptura do vórtice e, isso, quando ocorre, em tese, faz com que o objeto nele imerso, em situação transdimensional, instantaneamente vá parar no ponto espaço–temporal mais adequado à sua situação de energia, o que pode ser em qualquer lugar...

    – Ou época! – Acrescenta Gustavo.

    – Exatamente! Não foram identificados destroços da Hipérion lá por que ela lá não está, nem estava, de fato, e ignoramos como esteja, ou onde. O Dr. Lreorod planeja localizá-la para podermos resgatá-los. – Completa Percival.

    O empresário volta o olhar ao cientista, seu semblante anuvia-se ligeiramente, desquer essa perda de tempo em tentativas de resgate, mesmo e, principalmente, se, acaso, tiverem sobrevivido: isso está absolutamente fora de cogitação! Não apenas por atrapalhar seus planos, mas,

    muito pior, por, talvez, significar ter de aturar de volta o inoportuno e incontrolável Sunderman: – O que dizem é verdade?

    Lreorod acena com a cabeça afirmativamente.

    O empresário respira fundo buscando conter seu ânimo, será preciso pensar, mudar de tática, se apruma na cadeira: – E isso significa quanto tempo e qual o custo?

    Percival prontamente lhe responde: – É impossível precisar, no entanto estão sem suprimentos para muitos dias, se o resgate demorar, hão de perecer.

    O empresário contém o sorriso malévolo que tentou sair após ouvir essa afirmação: Morte por inanição...

    Cruel, talvez, entretanto um merecido fim para o médico de bordo!

    Num átimo imaginou-o canibalizando os demais para sobreviver, a barbárie da situação, a equipe desesperada definhando enquanto tripulante por tripulante morre.

    Esforça-se em manter a postura e olha os comensais atentamente em silêncio, percebe onde esse discurso pode conduzir: se estiverem certos, perderão demasiado tempo e irão querer resgatar a nave; e se estiverem errados perderão ainda mais tempo e isso não terá fim até ser comprovada sua destruição.

    É preciso lançar mão de um bom estratagema para demovê-los dessa ideia!

    Raciocina por instantes, é imperioso fazê-los desistir o quanto antes: – O hangar está totalmente destruído, sua reconstrução certamente irá demorar muito tempo! – Declara em tom grave para frustrar as tentativas de resgate – Além

    disso como se poderia saber se sobreviveram? – Argui para incutir, na equipe, o vírus da dúvida.

    Dr. Ricorzim, não obstante, com a firmeza e determinação que lhe são peculiares fixa seus olhos em seu prato e afirma convicto: – Eles sobreviveram! – E prossegue, resoluto encarando os negros olhos do anfitrião com o profundo azul escuro de seus – Devemos procurar estabelecer contato com eles! Enquanto isso a restauração do hangar é de máxima prioridade, temos de refazer todos os sistemas para poder trazê-los de volta.

    Joshua fica soturno. Ouviu dizer que Lreorod é muito decidido, dir-se-ia obstinado, sendo quase impossível fazê-lo desistir de um objetivo independente de contratempos e isso pode se tornar um sério empecilho, destarte urge neutralizar as intenções do cientista e fazê-lo se concentrar na construção da futura nave, aquela que lhe dará o poder máximo sobre os demais na Terra. E rapidamente!

    Antes da WOM ou qualquer outro a construir e ser ele o aniquilado!

    É imprescindível destruir essa convicção irritante do velho cientista: – Como podes saber se sobreviveram? Quero dizer, após a violentíssima explosão que vimos, vista a olho nu, clareando a noite. Será que não se autodestruíram para eliminar o Arcanjo? – Argui o empresário.

    – A nave não se autodestruiria! A explosão subespacial resultante seria incapaz de eliminar o Arcanjo, Sr. Joshua. –

    Informa Percival.

    René acrescenta entusiasmado: – Sim! A explosão foi diretamente na esfera, vimos isso no TD2, rompendo as suas três realidades superpostas. O golpe subespacial fez a Hipérion desaparecer ao apagar seu vórtice.

    – Eles sobreviveram, creia–me! Tão logo tenhamos contato com eles poderemos saber quais suas condições e, então elaborar a estratégia de resgate. – Afirma Gus.

    O empresário diante da persistência do grupo decide ganhar tempo, lança um sorriso cínico e diz: – Sendo possível e seguro, refaremos o hangar, asseguro-lhes! Contudo, se o estabelecimento de contato for malsucedido, seria prudente e interessante começarmos a pensar e trabalhar na construção de outra nave, substituta. Até mesmo para resgatá-los, se for o caso. Meus técnicos terão grande satisfação em assessorá-lo nesta questão, caro Dr. Lreorod.

    O cientista fita novamente o prato enquanto deposita a taça após sorver um gole de água: – Temos urgência nisso! –

    Responde secamente.

    O anfitrião sorri, tentando fingir compaixão: – Sim, é claro, faremos tudo o que estiver ao nosso alcance... Desde que o senhor se comprometa a ajudar meus técnicos na construção da sucessora da Hipérion, caso o resgate por outros meios se mostre inviável.

    O cientista o olha profundamente em seus olhos, perscrutando as intenções ocultas por trás e seu sentimento é sinistro. Intui que Joshua esconde deslealdade, percebe haver interesses alheios no frio olhar do magnata.

    Contudo, por precisar de seu apoio, se quiser salvar seus amigos deve jogar, fingir aceitar, se submeter: –

    Certamente. – Responde.

    O empresário se alegra com a resposta: se Lreorod revelar o segredo do transdimensionamento a seus técnicos, o cientista e seu grupo serão dispensáveis e ele poderá seguir com o projeto de acordo com as próprias ideias.

    Por enquanto, todavia, o criador da Hipérion é o ser humano mais importante do planeta para Julko: É o único que possui os segredos da arma suprema. Se ele puder se apossar deles, desta vez não haverá Sunderman nenhum para incomodá-lo! Então ergue o brinde: – Assim, meus

    amigos, antes de sermos servidos para este banquete comemorativo da vitória, proponho um brinde à valente tripulação da Hipérion que nos salvou a todos do fim terrível.

    Graças a eles poderemos ver o raiar do amanhã, graças a eles temos esperanças de um futuro melhor, e graças ao Dr.

    Lreorod este futuro irá muito além do que a humanidade pôde realizar até hoje. Uma nova era está prestes a se iniciar e vocês podem contar com meu irrestrito apoio.

    Os convivas erguem o brinde, sem o entusiasmo e alegria manifesta pelo empresário, preocupados quanto ao destino dos amigos a bordo da nave.

    O jantar teve grade sortimento de requintadas bebidas, categoricamente evitadas pela equipe pois ninguém dentre eles quer dormir, querem sim é continuar as sondagens à procura da nave. Houve pouca conversa, de fato, queriam ser breves por mais que o anfitrião tentasse puxar assunto, todos estavam arredios. Os deliciosos e sofisticados pratos do nababesco banquete preparados pelo chef pessoal de Joshua, dos mais renomados cozinheiros do mundo, pouco contribuiu para aumentar o apetite dos convivas em permanecer a saborear sua arte, ao contrário, degustaram as iguarias como se fosse a requentada marmita de algum pobre operário da construção civil apressado a retomar o trabalho.

    Ao final do banquete Joshua os informa que todos do grupo dormirão no Hotel da ilha e não na base e o grupo fica indignado com esta ideia: como deixar a base neste momento crucial em que todos os esforços devem ser feitos para resgatar os companheiros na nave?

    Allan é o primeiro a externar essa contrariedade: –

    Por quê?

    O matreiro empresário aguardava a natural reação e, com toda serenidade de sua eloquente desfaçatez elucida: –

    As instalações da base precisam ser avaliadas por segurança, enquanto isso devem permanecer desabitadas. Se a estrutura colapsar quem estiver por lá poderá acabar soterrado e até morrer, o risco é excessivo. Não posso permitir que o corram.

    Surpreso com a justificativa, Gus redargui: – Contudo precisamos continuar monitorando o subespaço, caso a nave tente contato!

    O empresário sorri e deposita a mão sobre seu ombro:

    – Entendo... tão logo seja seguro irão retornar à base!

    – Mas precisamos fazer isso imediatamente! – Enfatiza René.

    Julko reforça sua postura para parecer convincente em sua preocupação: – Sinto por seu irmão. Por toda a tripulação. No entanto se matarem não ajudará a trazê-los de volta. Procurem ter bom-senso, sei que estão preocupados, que querem ajudar os amigos, caso tenham sobrevivido.

    Vocês ficarão no hotel somente o tempo necessário para garantirmos a segurança na base!

    – Permita ao menos que um de nós acompanhe os equipamentos de monitoramento! – Solicita Percival.

    Essa insistência irrita o empresário, ele os quer longe da base e das esperanças de salvar a equipe: – O risco é por demais elevado, neste comenos a permanência naquele lugar de qualquer pessoa fora das equipes de controle e avaliação de danos está completamente fora de cogitação! – Diz

    Image 4

    determinado, quase em tom rude, tentando, ao máximo, conter seu aborrecimento.

    Lílian, aflita, observa fixamente Lreorod, esperando por sua intervenção. O cientista, astuto, percebe serem outras as intenções de Julko, conquanto ignore quais, sabe que ele não consentirá com a permanência de qualquer deles na base. Precisarão encontrar outros meios para assistir aos amigos, e confrontar o empresário, o único com recursos para refazer o hangar, está longe de ser o melhor deles.

    Por hoje é preciso ceder: – Vamos ao hotel, amanhã veremos o que fazer.

    – Dr. Lreorod, o senhor tem certeza? – Pergunta Ben.

    O cientista faz um pequeno aceno afirmativo com a cabeça e se retira, amparado por Lílian.

    Quando todos deixam o salão rumo a seus novos quartos no hotel abandonando, enfim, o empresário sozinho na sala de sua mansão, Joshua começa a gargalhar de satisfação: – Finalmente! – Brada, em júbilo – Agora terei o poder máximo em minhas mãos! Essa nova era, a minha era, há de ser memorável!

    Todos os membros da equipe chegam ao hotel, onde são alojados individualmente em boas suítes a exceção dos cônjuges Lílian e Schirra. Cada suíte foi estrategicamente selecionada em andares diferentes, em alas diferentes, a fim de isolá-los, conforme determinação expressa de Joshua.

    Ao receberem a informação de quais suítes ocupariam todos da equipe protestam, o gerente, Carlos para acalmá-los lhes diz, na maior desfaçatez, serem os quartos disponíveis, pelo momento, e que, havendo vacância tentará remanejá-los. Ele os informa, igualmente, terem sido seus pertences, os que se encontravam na base, levados às respectivas suítes.

    Tal afirmação surpreende o grupo, deixando-o mais desconfiado. O gerente esclarece que esse processo se deu enquanto estavam jantando com o Sr. Julko.

    – Aí tem coisa! – Resmunga Gus, à René.

    – Certamente! – Concorda o engenheiro.

    Antes de subirem às suítes Lílian os avisa que, em vinte minutos, às vinte e três horas em ponto, todos são aguardados na suíte de Lreorod para uma reunião.

    Na hora combinada, conforme é de se esperar, os seis membros da equipe chegam.

    Basta todos tomarem acento na confortável saleta acarpetada da suíte, cuja parede oposta à porta de entrada é um paredão de vidro com quatro metros de altura e pelo qual, por intermédio de duas portas pivotantes de vidro temperado se pode acessar a confortável sacada, larga o bastante para acomodar, com folga, a requintada mesa

    redonda de ferro toda ornada em arabescos detalhes, branca, com quatro cadeiras igualmente em ferro, cujo estofamento é revestido por camurça vermelha, para o velho cientista principiar a falar; a gravidade em seu tom de voz denota sua preocupação e angústia: – Desconfio das reais intenções do Sr.

    Julko. Não acredito que esteja querendo ver a Hipérion de volta!

    Allan indaga: – Por causa do Steven?

    O cientista acena com a cabeça em concordância.

    – É claro! São inimigos mortais! Se o médico morrer será ótimo para ele. – Opina René.

    – E para nós! – Completa Allan olhando de esgueio para o lado.

    – E quanto a nossos amigos, e a meu irmão? – Zanga–

    se René.

    Schirra procura acalmar os ânimos dos colegas: – Não percamos a cabeça! Tudo bem, aquele médico é espião e, segundo ele mesmo disse, ia nos matar..., contudo não matou e nos ajudou inúmeras vezes. Sem ele duvido que a equipe tivesse sobrevivido às missões, incluindo seu irmão, René.

    Sejamos sensatos! – Relanceia o olhar para René – Sim, é evidente que Julko o quer morto e deve ter lá seus motivos para isso, e também não deve estar nem aí para os demais da nave, incluindo seu irmão, Max. – Voltando a olhar o restante do grupo – E, concordo com o Dr. Lreorod, aquele homem não tem intenção alguma de nos ajudar a despeito do que disse no jantar, por isso precisamos agir por nós mesmos! Se obtivermos contato com a Hipérion ele, mesmo a contragosto, não poderá nos negar ajuda!

    – Seria moralmente vil! – Afirma Lílian.

    – Sim. E, obviamente, se fizer isso não o ajudaríamos a fazer outra nave! – Diz Percival.

    O velho cientista intervém enquanto relanceia o olhar pressuroso a todos do grupo: – Senhores, por obséquio, sejamos comedidos! O que estamos conversando aqui, aqui fica! – E, mantendo o tom determinado de sua voz, demanda –

    Quero você, Gustavo, René e Percival tentando o contato com a nave, veja o que conseguem. Allan e Ben, quero-os sondando os planos do Sr. Julko; – repostando-se na cadeira e tornando o tom de sua voz mais sinistro diz – Cooperaremos com ele enquanto cooperar conosco. O importante é o hangar ser reconstruído o quanto antes e os equipamentos refeitos.

    Cuidarei disso pessoalmente.

    – Como será que estão, Léo? – Pergunta Lílian.

    Dr. Ricorzim olha-a com seriedade, revelando toda a sua preocupação: – A nave deve estar muito avariada, irão ter trabalho para torná-la operacional. Creio que precisarão de, ao menos, uns três dias para poder retomar contato conosco, entretanto é bom estarmos de prontidão, caso o façam antes.

    – Por isso não se incomodou com irmos para o hotel hoje? – Pergunta-lhe Percival.

    – Exatamente! Penso que os canais subespaciais hão de permanecer mudos, ao menos, por três dias.

    A reunião é encerrada, todos vão para seus aposentos dormir o sono restaurador após este dia tão tribulado.

    Na manhã seguinte, após o café, a equipe tenta obter transporte para levá-la ao prédio do hangar, no entanto o gerente do hotel os informa que o acesso àquelas instalações está proibido. Exclusivamente as equipes de análise e controle de danos têm permissão de acessar a área, e Carlos

    recebeu instruções do Sr. Julko para impedir que tentem ir para lá, até a área ser considerada segura.

    – Necessitamos ir! E iremos para lá de qualquer forma! – Adverte Allan.

    O gerente persiste: – Acalme–se por gentileza. Sua entrada seria barrada. Os acessos estão bloqueados por seguranças.

    O assistente inconformado demanda: – Queremos falar com o Sr. Julko!

    Sem perder a pose elegante e serena, Carlos responde:

    – Receio ser impossível, no momento. Ele saiu da ilha, está em voo. Tem diversos compromissos urgentes. Todavia deixarei recado para que entre em contato com os senhores quando possível.

    – Isso é absurdo!!! – Reclama, indignado, Allan.

    Agora nada resta a fazer: Joshua, sorrateiramente, saiu da ilha, supostamente, e, ao mesmo tempo, os impediu de continuar as buscas por seus amigos. Resta claro não ter qualquer interesse em ajudar. Porém Gustavo tem uma ideia:

    – Bom, Sr. Carlos, pelo visto teremos muito tempo ocioso, então, pela frente...

    – Os senhores podem aproveitar a praia e nossas variadas opções de lazer.

    – A sim, certamente! Não sou muito de praia, não.

    Existe, acaso, alguma lan-house por aqui?

    O gerente franze as sobrancelhas: – Em todas as suítes há centrais multimídias, com acesso à internet e todos os recursos computacionais, de jogos e entretenimento que possa desejar.

    O técnico finge um pouco de constrangimento: – Sim.

    Eu sei. No entanto prefiro em um ambiente externo, menos íntimo, menos convidativo a distrações.

    – Entendo... – Faz pequena pausa – Dispomos, aqui perto, de um escritório coletivo. Nosso concierge cuidará de levá-lo lá.

    – Agradeço. – Responde e logo se afasta com os demais do grande balcão semicircular da recepção para próximo ao conjunto de sofás do saguão, defronte à imensa parede envidraçada, de pé–direito duplo, da entrada do hotel cujo brilho se reflete no piso marmóreo extremamente limpo e polido.

    – Qual seu plano, Gus? – Pergunta René.

    Quase aos sussurros ele responde: – Irei tentar acessar os sistemas do hangar, ver se consigo monitorar os canais subespaciais e o TD2.

    – Por que não tenta de sua suíte? – Pergunta Allan.

    – Deve estar grampeada pelo senhorio, não é? –

    Responde desconfiado.

    – Acho que está ficando com as manias do Dr.

    Sunderman! – Diz Ben, irônico.

    – E ele está certo! Prudência nunca é demais, ademais em nossa situação atual. – Sentencia Lreorod.

    – O que devemos fazer? – Pergunta-lhe Allan.

    O cientista olha seu assistente com ar contrariado: –

    Finjamos entrar no jogo do Sr. Julko. Vamos despistar para Gustavo poder tentar restabelecer contato. Se não houverem desligado os sistemas, será simples, enquanto isso precisamos aguardar até termos permissão de retornar ao hangar.

    – Se o Dr. Sunderman estivesse aqui... – Comenta, saudoso, Percival.

    René concorda: – Ele já teria resolvido esse problema!

    Bom, não somos ele, mas, também, não somos inúteis! Meu irmão está lá fora, perdido alhures, não vou descansar até que esteja em casa de novo.

    Gustavo lhe dá um tapinha no ombro: – Deixe comigo!

    O Concierge do hotel chega e o conduz ao escritório mencionado pelo gerente, enquanto o restante do grupo, junto a Lreorod, resolve passear pelo centro comercial da ilha. Chegada a hora do almoço todos se reúnem novamente em um dos vários restaurantes usados pelos colaboradores das empresas de Julko, este de frente para o mar, próximo do escritório onde Gustavo passou a manhã. Ansiosos para saber as novidades.

    – Então? – Demanda René.

    – Consegui invadir a rede de computação da base. Tive acesso aos nossos sistemas.

    – Algum contato?

    O técnico abaixa a cabeça com ar frustrado: – Não René. Nada ainda. Os canais permanecem mudos. – Aí a ergue com olhar apreensivo: – Entretanto desligaram o TD2!

    – Como assim? – Surpreende–se Allan.

    Ele prossegue em tom carregado: – Desligaram a energia, creio. Os sistemas do radar estão fora do ar. Acessei o sistema de câmeras de vigilância. Aparentemente a ação foi proposital!

    – Proposital? – Indaga Schirra.

    – Sim. Três técnicos ficaram fuçando os equipamentos até conseguir desligar. Pela reação alegre deles vi que era exatamente o que pretendiam fazer. – Declara convicto.

    – E os canais subespaciais? – Preocupa–se Allan.

    Percival esclarece: – Não saberão como desligar! Os GEATECs de sondagem são protegidos. Ninguém que ignore os equipamentos saberá onde estão, tampouco descobrirá um modo de desligá-los!

    – E se desligarem a energia do prédio do hangar? –

    Insiste.

    – Em nada afetaria o funcionamento, Allan. Lreorod e eu tivemos o cuidado de derivar do abastecimento central da ilha a energia para mantê-los.

    – A ilha toda precisa ficar sem energia para serem desligados! – Deduz René.

    – Ainda assim contam com nobreaks. Manter-se-iam em operação, por, possivelmente, quatro dias. – Informa.

    – E os elos subespaciais com as balizas?

    – O sistema de comunicação e telemetria das balizas havia sido desativado pelo golpe subespacial da explosão.

    Perdemos contato, Ben.

    Allan conjectura: – Por que a nave também estava em sincronismo com esses canais?

    – Provavelmente. – Responde Gus.

    O velho cientista, com semblante apreensivo unindo as mãos pelas pontas dos dedos com os polegares recuados encostando os indicadores no queixo diz, determinado: –

    Precisamos retomar o contato com elas!

    O técnico meneia a cabeça: – Farei os computadores trabalharem nisso, embora receio possa vir a ser impossível.

    – Por quê? – Pergunta Allan.

    – A ruptura dos canais se deu por golpe subespacial.

    Neste caso o sistema de comando interno das balizas deve considerar isso como ameaça e as autodestruir.

    Baixando as mãos as desune e aponta o indicador direito ao engenheiro: – Verdade! Entretanto tente recuperar o contato, Gustavo. Precisamos delas, caso ainda existam.

    – Sim, Dr. Lreorod. – Submete–se e, ato contínuo, indaga: – E quanto ao nosso bom anfitrião?

    Lílian informa, aborrecida: – Nada! Estive tentando contato com ele, não responde nem retorna.

    O garçom chega com o cardápio, todos os sete fazem seus pedidos, a maioria opta pela lagosta grelhada na manteiga de alho com espuma de algas, recomendação da casa, acompanhada de vinho branco seco.

    – O pessoal do Julko está avaliando a segurança do lugar? – Questiona, curioso, Schirra.

    – Não, Ben. Não me parece isso! Estão é desligando os equipamentos e removendo as coisas.

    – Que tipo de coisas?

    Em tom indignado responde: – Que tipo? As nossas instalações! Os painéis, a parte elétrica... Desmontando e removendo, René.

    – Precisamos deles para salvar nossos amigos! –

    Protesta Percival.

    – Como desconfiávamos, esta não deve ser a intenção de Julko! – Afirma Allan.

    – E o que faremos? – Argui, aflito, René.

    O velho cientista toma a palavra: – Deixem o Sr. Julko comigo! Ele quer outra nave, pois bem, só a terá se resgatarmos a tripulação da Hipérion com vida! Primeiro precisamos saber como estão, e aí veremos o que fazer para salvá-los. Mantenha a escuta, Gus.

    O garçom retorna com os pratos e bebidas. Todos almoçam, apreensivos. De tarde Gustavo continuou sua operação clandestina enquanto os demais percorriam a orla da praia aguardando o Sr. Julko retornar as ligações e mensagens. À noite, reunidos no imenso restaurante do hotel jantaram, René e Percival comunicaram a todos sua intenção de invadir a base para descobrir o que está acontecendo a seus equipamentos, Lreorod anui.

    Enquanto todos estão recolhidos às suítes, a dupla, às vinte e duas horas sai como que para passear pela orla marítima, no entanto o interesse é outro: Se apropriam de um dos veículos elétricos disponíveis para transitar pela ilha e vão para próximo das edificações onde fica o hangar.

    Estacionam e desembarcam antes, pouco distante, coisa de dois quilômetros, da portaria do complexo e seguem pelas rochas e areal em meio à mata, lugar onde o tripulante médico e espião soia passear com Rex.

    – Por onde pensa entrar, René?

    – Pela entrada de serviço da base do hangar. Aquela perto da escada externa de evacuação de emergência.

    Percival matuta um instante: – Para chegar lá teremos de passar pelo gradil, como sugere fazermos isso? Pular pela cerca elétrica que fica no topo?

    – Não. Atravessando-a! – Responde com ar de quem está cônscio do que diz.

    Quando chegam à cerca René retira um alicate de corte da pequena mochila que trouxe consigo à tiracolo e principia a cortar os arames do gradil ao lado da haste de sustentação da cerca, faz cortes abrindo um L na base, de modo a facultar a passagem da dupla. Leva coisa de dez minutos para estarem dentro. Diversas câmeras de vigilância espreitam atentas por todo o perímetro e, evidentemente, podem estar sendo observados neste momento, todavia, sem pesar as consequências seguem rumo à porta de acesso, de fato, uma saída de emergência.

    Ao chegar lá, como é de se esperar, a dupla se depara com a porta trancada, a abertura é feita por dentro, por uma barra de pressão. René, previdente, retira de sua mochilinha um grande e poderoso magneto de neodímio, guardado em embalagem espessa de isopor, coloca no local onde deve ficar a barra de liberação da porta, mexe algumas vezes enquanto força a maçaneta até a porta se abrir.

    – Você teve aulas com o Dr. Sunderman? – Pergunta Percival, impressionado.

    – Nada disso! Eu pesquisei sobre arrombamento. Você não acha que viria despreparado, acha?

    – Você realmente está preocupado com seu irmão, né?

    – Ele faria o mesmo por mim! – Declara emocionado.

    Entram e seguem à Sala de Análise e Comando de Operações e, quando lá chegam, se estarrecem: a operação de desmontagem mencionada por Gus foi efetivamente muito intensa, substancial parte dos painéis e equipamentos se encontra desmontada e removida, está completamente inútil, agora.

    – E quanto à sala de máquinas? – Pergunta Percival, apreensivo.

    Os dois vão a passo acelerado para lá, por meio das escadarias de acesso. Felizmente o sistema de luzes está ativo, as luzes ambientes são deixadas ligadas, a energia geotermal da ilha é gerada ininterruptamente destarte é desnecessário economizar.

    Ao chegarem lá veem que, por enquanto, as máquinas permanecem onde deviam estar. Todavia após a explosão do vórtice provavelmente várias jazem danificadas, precisam ser revisadas e reparadas. Pelo momento o relevante é se manterem no lugar. Decidem vasculhar o hangar, este sim em trevas. A pouca luminosidade ambiente vem da Sala de Análise e Comando de Operações e da Sala de Máquinas e outras salas e oficinas contíguas. O hangar em si é um imenso bloco vazio chamuscado, negro. Tenebrosos escombros de metal retorcido e de coisas queimadas repousam sobre o chão, uma pilha de sucata com, talvez, uns cinco metros de altura, nas partes mais elevadas, e o cheiro de fuligem e de fiação queimada empesteia o ar. Todavia os equipamentos removidos da Sala de Análise e Comando não estão aqui.

    Onde estarão?

    Eles seguem para investigar os laboratórios do projeto, todos quase limpos, só o mobiliário permanece por lá. Onde teria ido parar todo o equipamento?

    Enquanto perscrutam por pistas quanto ao paradeiro dos materiais e equipamentos, ou qualquer coisa que possa ter sido deixada para trás, esquecida, são surpreendidos por um grupo de dez seguranças, armados e trajando negras roupas balísticas, com capacetes vedando suas faces com espelhos dourados nos quais a incauta dupla pode divisar, claramente, seu medo.

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    – O que estão fazendo aqui? Esta área está bloqueada a visitas! – Brada, com voz grossa e cavernosa o provável líder do grupo, único com dragonas vermelhas sobre os ombros.

    Eles não precisam se identificar, por que, afinal, quem supervisionava o sistema de câmeras deve conhecê-los bem.

    Infelizmente isso não alivia a situação: Quatro dos seguranças os abordam desabridamente, seguram–nos e os algemam enquanto os demais, exceto o líder, os mantém sob a mira das armas. Ambos relutam, contudo, mais fracos, despreparados, acabam imobilizados.

    – O que pretendem fazer conosco? – Indaga Percival.

    O líder se aproxima e encosta no pescoço de Percival um aplicador pneumático, aciona-o injetando nele, de forma subcutânea, uma substância química e, em poucos segundos, o engenheiro elétrico fica inconsciente.

    René se desespera: – Ei! Não podem fazer isso! Quem pensam ser?

    Sem se abalar, com toda a calma, o segurança de dragonas vermelhas e face espelhada se aproxima dele e encosta a seringa pneumática em seu pescoço. Após ouvir o ruído do disparo pneumático tudo se apaga para René.

    Chega a manhã, e a equipe, ao se reunir para o café no restaurante do hotel, nota a ausência dos amigos.

    – Cadê eles? – Pergunta Allan, aflito.

    Lílian relata: – Chegaram a entrar nos laboratórios, avisaram que estavam vazios. Foi a última mensagem que recebi.

    – Será que se acidentaram?

    Ben opina: – Creio que não, Allan. Acaso um se acidentasse o outro nos avisaria.

    – E se tiver havido desabamento? A estrutura estava fragilizada.

    – Descreio. Devem é ter sido detidos! A única estrutura fragilizada era a do hangar, contudo a explosão do vórtice não foi tão intensa a ponto de comprometê-la.

    – Tem certeza, Gus?

    O velho cientista apoia-o: – Ele está certo. Devem ter sido detidos! Precisamos acionar quem for preciso para localizá-los. Lílian, mande Eldon ou Francis virem aqui imediatamente. É hora de pormos fim a essa palhaçada!

    – Sim, Léo. – Responde enquanto saca o celular para fazer as ligações.

    – Se nosso anfitrião foge sem nos dar respostas, as encontraremos por nós mesmos! – Conclui carrancudo.

    – Pode contar conosco, Dr. Lreorod. – Afirma Allan.

    – Gustavo, após o café, veja o que descobre nos computadores. Veja se, de fato, o Sr. Julko saiu desta ilha.

    – Ok. Dr. Lreorod.

    Os gerentes da Julko chegam pouco após o final do café. Gustavo os havia deixado para retomar seu trabalho no tal escritório compartilhado. Francis esclareceu Lreorod quanto a dupla que invadiu o hangar. Foram presos por violação as normas de segurança de área, estão no quartel da segurança da ilha, e não poderão ser visitados lá. A dupla reclusa aguarda a decisão de Joshua, se a solta ou se a deporta para os locais de origem, a praxe concernente aos descumpridores de normas internas. Não obstante, no caso específico da equipe do projeto do Dr. Ricorzim, como a deportação é questão de segurança empresarial, aguardam pela decisão do presidente da corporação, o Josh.

    Ao ser informado disso Lreorod fica furioso, exige a libertação imediata de ambos e que parem de desmontar os sistemas da base e Julko os atenda. E se ele se recusar a fazer isso, se não retornar contato até ao meio–dia e René e Percival não estiverem com eles, ameaça ir embora da ilha.

    – O senhor não pode sair daqui. – Informa Eldon, mais simpático que o enérgico e sisudo Francis.

    O cientista, determinado, insiste: – Posso sim! Irei sair se o Sr. Julko não me atender!

    Ele se esforça em ser mais didático: – Dr. Lreorod, o senhor não entendeu. O senhor não pode sair daqui!

    Cai-lhe a ficha: – O Sr. Julko, acaso, me fez prisioneiro?

    Francis responde: – Seria preferível não encarar sob esta perspectiva. Nossas ordens são para garantir que nem o senhor nem ninguém de seu grupo saia desta ilha em

    hipótese alguma. Entretanto aqui gozam de todo o conforto e regalias que pudermos proporcionar.

    – Uma prisão de luxo! – Reclama Allan.

    – Absolutamente! Isto se dá para a própria segurança dos senhores. Os senhores estão oficialmente mortos em seu país e há a WOM que possui grande interesse em capturá-los vivos. Aqui estão seguros. E nosso trabalho é garantir que continuem seguros e satisfeitos. – Conclui.

    – Pois não estou satisfeito enquanto meus amigos não estiverem aqui conosco e o sr. Julko não conversar comigo!

    Ele tem até às doze horas de hoje ou não me verão mais.

    Francis meneia a cabeça, seco: – Dr. Lreorod, isso nos obriga a colocá-lo sob guarda.

    O cientista não se intimida e afirma convicto: – Façam isso e verão que ponho fim em minha vida! Existem várias formas de se sair daqui!

    A resposta assusta os dois gerentes. Eles se retiram ao celular, ambos falando com interlocutores desconhecidos.

    – Você não vai fazer isso, realmente, vai, Léo?

    – Lílian, o único interesse do Sr. Joshua é a nave e só eu sei como fazê-la. Está na hora de usar isto a nosso favor. Se ele não começar a cooperar serei forçado a tirar dele o que mais deseja.

    A moça abraça o velho cientista com olhos marejados:

    – Não faça isso, por favor!

    O cientista continua determinado: – Minha intenção está longe de ser essa! Não obstante devemos dar um basta a essa palhaçada!

    – Julko poderia desmontar a base, fazer engenharia reversa nos sistemas! – Argumenta Allan.

    O cientista esclarece: – Humpf. De nada adiantaria! Os segredos por trás de gerar campos monopolares e de fazer o campo magnético abrir o portal entre os campos formador e formado ninguém além de mim conhece. Ele ignora o que, exatamente, nos equipamentos faz isso, ou qual. Precisaria de muito tempo e muita pesquisa para compreender. E o campo monopolar por si é insuficiente, é preciso rotacioná-lo, criar o vórtice. Dentre outros detalhes, boa parte dos quais até vocês ignoram.

    Pouco após as onze horas da manhã um grande carro negro estaciona em frente à entrada do hotel. Lreorod e seu grupo ficaram sentados no saguão, aguardando. Do carro desceram seguranças carregando os cambaleantes René e Percival. Eles são conduzidos aos sofás junto ao grupo.

    – O que fizeram a eles? – Pergunta indignado, Allan.

    – Estão saindo de sedação. Foram sedados para se acalmarem.

    – Seus monstros, isso é absurdo! – Protesta.

    O Dr. Ricorzim ergue a mão em sinal para o Assistente se acalmar. O importante neste momento é ver como estão os amigos. Percival, com alguma dificuldade diz: – Que bom vê-los novamente. Nos pegaram no laboratório. Achei que seria o nosso fim.

    – E talvez fosse, se não fossem tão importantes! –

    Pondera Schirra.

    O grupo leva a dupla para a suíte de Lreorod, mais ampla e confortável dentre todas as deles. Na hora do almoço há batidas na porta. Lílian abre. É Francis com um celular na mão: – O Sr. Julko quer falar contigo, Dr. Lreorod.

    Ela o deixa entrar, o velho cientista pega o aparelho.

    – Por que está desmontando as instalações da base?

    Precisamos dela para trazer a Hipérion de volta!

    O empresário responde-lhe secamente: – Não será possível.

    – Como assim?

    – Refazer estrutura do hangar é inexequível. O prédio não foi construído originalmente para isso. Foi feito para ser fábrica de maquinário pesado, envoltórios de reatores e blocos geradores. Usamos a estrutura da ponte rolante para suportar a bobina superior e essa estrutura ficou danificada sobremaneira com a explosão. Já ordenei a construção de outro hangar para a próxima nave, em local apropriado e feito especificamente a este propósito. Para isso precisarei de sua assistência.

    – E quando retomarmos o contato com a Hipérion?

    Faremos o quê?

    – Meu caríssimo Dr. Lreorod, entendo sua aflição e respeito sua dedicação a seus finados amigos, no entanto não será possível recolocar as bobinas de formação de campo no hangar, ainda que estivessem vivos. Destarte a melhor opção é trabalharmos no novo hangar e outra nave! Se, porventura, tiverem sobrevivido, aí poderemos fazer alguma coisa.

    O cientista desgosta do tom de escárnio na voz de Joshua e obtempera: – E quanto tempo levaria para construir esse hangar?

    – Dispomos de todos os meios e recursos, depende de o quanto o senhor e sua equipe estão dispostos a colaborar comigo. Com empenho e dedicação, talvez um ano.

    Isso o aflige: – A Hipérion não conseguirá subsistir por um ano! – Afirma agoniado.

    – Bom, meu caro Dr. Lreorod, se encontrarem formas de otimizar o processo de construção, pode contar comigo para o que precisar, só não fique a desperdiçar tempo vasculhando as instalações antigas ou a ter chiliques nem ameaçar suicidar–se. Morto o senhor não ajudará a ninguém, muito menos a seus amigos.

    O cientista se enrubesce de raiva: Chiliques? Pensa.

    Que ousadia! Entretanto, antes que possa responder o que quer que seja a ligação é encerrada.

    – Então? – Demanda Lílian.

    – Ele quer que dancemos a música dele. – Responde entre os dentes furibundo.

    – E o que faremos? – Insiste a moça.

    – Aulas de dança! – Conclui cabisbaixo – Entregando o telefone a Francis.

    Este, rispidamente diz: – Se o senhor e sua equipe tiverem a bondade de me acompanhar. Há muito trabalho demandando a atenção dos senhores.

    – Para onde irá nos levar? – Pergunta Allan.

    – Passou da hora de voltarem ao trabalho! A mente ociosa é oficina do diabo! Irão à outra instalação fabril, foi reservado um escritório lá para trabalharem no projeto do novo hangar.

    – Novo hangar? – Pergunta Allan confuso.

    – Sim. A reconstrução do anterior foi descartada. Irão projetar e ajudar a construir outro hangar para outra nave

    transdimensional, mais adequada a cumprir as missões tanto científicas quanto militares, de defesa deste mundo.

    – Mas... e quanto a Hipérion? – Questiona René com os olhos angustiados.

    Francis se surpreende com a pergunta: – Como assim?

    Ela foi destruída.

    – Não foi! Estão vivos, e precisam urgentemente ser resgatados! – Afirma em tom de súplica.

    O gerente se mostra insensível: – Olha, nada sei a respeito. Devo levá-los ao seu novo local de trabalho, portanto me acompanhem, por favor!

    René olha para o cientista. Lreorod acena levemente com a cabeça consentindo.

    – E quanto ao almoço? – Questiona Ben.

    – Não se preocupem com isso: Há refeitório lá. Serão bem servidos. – Responde Francis sob o umbral da porta aberta esperando, com visível enfado, a passagem dos demais.

    Todos seguem em fila indiana, o último dela é Percival.

    – Cadê o "micreiro" de vocês?

    Percival o responde de forma a repreender o visível desprezo e falta de respeito: – O senhor Gustavo está ocupado. Trabalhando. Fazendo algo muito mais útil neste momento que você.

    Francis esboça um sorriso debochado: – Certo...

    Tomara que não esteja a invadir os servidores do antigo hangar.

    Entretanto o técnico não morde a isca e retruca embusteiro: – Há coisas melhores a se fazer por aqui!

    – Estamos indo para o campo de trabalho de nossa prisão... – Comenta Allan baixinho com Ben.

    – É, parece que sim. Por enquanto ainda sem grilhões presos aos pés. – Retruca desanimado.

    Dois veículos aguardavam o grupo e o leva a outra instalação ao sul da ilha, relativamente próximo à usina geotérmica e dos campos de testes de armas. A instalação é destinada ao desenvolvimento de armas. Walter, Jéssica e Lreorod trabalharam em parte aqui, no desenvolvimento dos canhões supraluminares.

    À noite, de volta ao hotel, Gus os informou que o desmonte prossegue, agora, inclusive, das máquinas nos níveis inferiores, no entanto lá o ritmo é mais lento. Os canais subespaciais conservam-se mudos, como previra Lreorod.

    Felizmente Gus conseguiu restabelecer, com o auxílio dos computadores, os GEATECs RSS em sincronismo com as duas balizas, a primeira em Héstia e a segunda no jato cósmico da galáxia M87. Por sorte não se autodestruíram como deviam ter feito. E isso foi muito estranho! Gus baixou a cópia de sua programação e viu que estava alterada, as diretrizes originais foram sobrescritas. Entretanto, por quem?

    Com que propósito?

    A equipe da Julko estaria sabotando ou alterando os programas originais para atender aos desígnios de seu chefe?

    É realmente muito estranho.

    Todos concordaram ser melhor Gus ir junto deles, amanhã, para o trabalho. De lá é possível acessar as redes corporativas da ilha, inclusive do hangar e, estando juntos, fica mais fácil se apoiarem em caso de necessidade.

    O técnico também informou que, realmente, Julko está fora da ilha, foi para a Europa, todavia não logrou descobrir o motivo da viagem.

    E por dias e dias seguidos os trabalhos prosseguiram enquanto os canais subespaciais permaneceram mudos.

    ***

    Passaram–se nove dias desde o dia da vitória sobre o Arcanjo quando Julko regressa à ilha; nada de sinais da Hipérion ou quaisquer tentativas de comunicação pelos canais subespaciais. Podem ter–se perdido para sempre.

    A primeira providência do executivo foi visitar a equipe em seu novo ambiente de trabalho. E chegou lá muito nervoso: – Por que estão insistindo em tentar contato com a Hipérion?

    – Como assim, Sr. Julko? – Interpela Allan pondo-se diante do empresário.

    Ele continua enfurecido: – Saia de minha frente! Dr.

    Lreorod, por que perdem seu precioso tempo com isso?

    – Não iremos abandonar nossos amigos! – Responde intimorato.

    Julko ergue o dedo em riste para o cientista: – Acaso tiveram qualquer notícia deles? Receberam algum sinal?

    Ele acena ligeiramente a cabeça negativamente e diz:

    – Não.

    O empresário faz um brusco movimento em diagonal com o braço com a mão estendida e dedos juntos: – Então basta disso! – Ergue o braço novamente à meia altura, com o indicador em riste apontando-o para o chão – Preciso que comecem a se concentrar no projeto da nova nave. A Hipérion foi destruída! Inculquem isso de vez! É uma grande perda, uma lástima inimaginável, perdemos pessoas queridas e de escol, contudo basta! Elas precisam descansar em paz!

    O executivo olha diretamente para uma câmera de vigilância próxima, na sala, e acena com a cabeça, neste momento os canais de comunicação subespacial, atentamente acompanhados tanto por Gustavo quanto pelo pessoal no laboratório, através de um telão, são desligados.

    – Não! – Grita René.

    – Sim! – Responde Joshua enérgico. – Subestimam demais minha equipe. Vocês estão sob vigilância, então se concentrem em seu trabalho! Não quero que continuem perdendo meu precioso tempo. Começamos a terraplanagem e escavação para a construção do novo hangar. Quero os planos para nave e instalação e os quero para o quanto antes!

    – Não vamos trabalhar para você! – Reclama Allan.

    O empresário com ar de enfastiado retruca: – Façam como preferirem. Todavia se, realmente, seus amigos da Hipérion estiverem vivos, será impossível resgatá-los sem outro hangar e outra nave, caso esteja inoperante. Pensem nisso.

    E se retira abruptamente.

    – E agora, Dr. Lreorod? – Pergunta Ben.

    A resposta é aguardada com aflição por René.

    O cientista respira fundo, sopesando a situação: –

    Teremos de agir como ele quer. Vamos cuidar dos planos do hangar e nave como deseja. Recomeçaremos a estrutura de alerta e suporte às operações subespaciais. Conversarei com ele. De qualquer modo devemos estar prevenidos para, eventualmente, a chegada de outra nave do arcanjo.

    – Desistiremos da Hipérion? – Indaga Lílian.

    – Se entrarem em contato, veremos o que fazer. – Diz desesperançado.

    – E como entrarão em contato sem os canais subespaciais? – Insiste a jovem.

    O cientista deposita suavemente a mão sobre seu ombro e olhando profundamente em seus olhos diz: – Darão um jeito. Tenho certeza. Jéssica está lá.

    – Como conseguiram desligar os canais subespaciais? –

    Questiona Allan.

    Percival responde: – Provavelmente desligaram a rede de dados do Hangar. E, infelizmente, se fizeram isso, ficaremos sem acesso a eles, independentemente de estarem funcionando.

    A equipe, então, passou a se dedicar ao projeto da nova base, da Fênix, como a batizou Joshua. Nave com cento e quarenta metros de diâmetro total, comportando área habitável com três ou quatro andares e cinquenta metros de diâmetro. A ideia do magnata é dispor desta grande nave para fazer explorações detalhadas, com maiores capacidades e recursos aprimorados, apta a transportar equipe de

    Image 6

    pesquisa, além de dispor de armamento e sistemas mais poderosos e avançados.

    O Futuro hangar, sendo atualmente escavado no subsolo, é um

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