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Jugo Desigual
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E-book487 páginas5 horas

Jugo Desigual

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Sobre este e-book

Neste livro, intitulado Jugo Desigual, a doutora Jackalyne conta a história do seu retorno da Europa, onde teve formação primorosa em medicina, especializando-se em psicanálise com o doutor Freud, com quem também se tratou de traumas da juventude. Ao desembarcar do trem é sequestrada por um bando de assaltantes, que a fazem refém, e é resgatada por um foragido da justiça que a toma como parceira. Inicialmente somente ele foge, mas ela adere ao sistema de vida marginal, fugindo do noivo. O resgate para a família se dá após um ano de sua chegada, mas infelizmente essa também se encontra na situação de sequestro. Todavia, isso é tema do próximo livro, Vítimas da Paixão.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de dez. de 2023
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    Jugo Desigual - Euclyd's January

    Euclyd’S January

    Não vos prendais a...

    JUGO DESIGUAL

    Que comunhão há entre luz e treva? 1

    1 Referência bíblica em 2Co 6:14

    Revisão:

    Supervisão:

    Milton Arcoverde

    Marcos Maciel Mairins

    Simone Barbosa

    Francinaldo de Silvana

    Capa:

    Heliton Filgueira

    Editoração e diagramação:

    [criador de imagens]

    Euclides S. Januario

    January, Euclyd’S

    JUGO DESIGUAL – dramática incursão de uma médica com formação europeia na plaga do oeste americano sem lei e sem ordem. Citação de Freud em fundamento psicanalítico.

    Subtítulo: Que comunhão há entre luz e treva?

    Série: Jack & Alyne Tomo II

    ISBN - 978-65-00-74875-8

    Ficção norte americana, título

    22 – 122378

    CDD-810

    Todos os direitos reservados.

    Nenhuma parte desta publicação será reproduzida, arquivada ou transmitida por qualquer meio, sem prévia autorização do autor.

    2

    O ‘Caçador de Recompensas’ deixa herança vultosa para a filha bastarda e a orientação para se aprimorar nos estudos de nível superior na cidade grande.

    Passados dez anos de estudos na Europa, onde viveu em sociedade e conviveu com expoentes do meio científico, a moça retorna à cidadela de sua origem para desempenhar a profissão de medicina; mas tem o desprazer de conviver com a pior classe de indivíduos, envolvidos em crimes.

    Ela sofre sequestro de uma quadrilha e é resgatado por outro criminoso, com o qual estabelece o jugo desigual. Surpreendentemente a doutora se adapta a essa convivência e só reencontra a família após um ano de seu retorno à terra natal.

    Contém cenas fortes:

    - estupro, sexo explícito, abuso de vulnerável.

    - lutas corporais, golpes baixos.

    - tiroteios seguido de morte, matricídio

    - assalto, sequestro, resgate de refém

    - genocídio populacional de jovens

    - fugas e desacato às autoridades.

    Recomendado para maiores de 21 anos

    3

    Personagens.

    Jackaline (Europa) – protagonista/narradora Johnny – protagonista/comentários

    Junior – amigo homo afetivo

    Jack – pai pistoleiro

    Aline – mãe

    Olivier – xerife desarmamentista

    David – auxiliar do xerife

    Rudy – avô

    Rose – avó

    Joseph – noivo de Jackaline

    Lucy – irmã de Johnny

    América (Flor de Liz) – esposa indígena África (Florisbela) – esposa negra

    Lady – sogra

    Enoque – patrão cafetão

    Donald – pistoleiro desalmado

    Lucky – Gigolô

    Joey – assaltante de bancos

    August – fazendeiro

    May – Esposa de seu August

    June – Filha de seu August

    July – Filho de seu August

    James – Sócio de seu August

    Jonas – noivo de June

    Águia Ligeira – índio traidor

    Capitão – oficial estuprador

    Delegado – Cafetão e aliciador

    4

    O título deste romance faz referência a uma passagem bíblica (2Co 6:14-18) em que o apóstolo adverte sobre os riscos do relacionamento antagônico.

    Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?

    E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos?

    Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.

    Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; E não toqueis nada imundo, E eu vos receberei;

    E eu serei para vós Pai, E vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso.

    Isso foi dito, pelo apóstolo Paulo aos fiéis, mas pode ser aplicado em qualquer vertente das relações humanas. Na vida conjugal e amorosa é premente, pois a convivência constante de uma família exige unidade de pensamento, ações e interesses profissionais...

    5

    Sumário

    I – ASSALTO AO TREM PAGADOR ............................................................................................... 7

    II – O SEQUESTRO........................................................................................................................ 15

    III – O RESGATE ............................................................................................................................ 23

    IV – MONTANHA, ABRIGO SEGURO ......................................................................................... 33

    V – A MONTANHA DO AMOR ...................................................................................................... 41

    VI – FUGA DA MONTANHA ......................................................................................................... 49

    VII – O RATO DO DESERTO ........................................................................................................ 59

    VIII – TRATAMENTO CIENTÍFICO ............................................................................................ 68

    IX – TRATAMENTO ALTERNATIVO ........................................................................................... 77

    X – A FAMÍLIA CALENDÁRIO .................................................................................................... 86

    XI – DESTINO TRÁGICO ............................................................................................................. 94

    XII – JULGAMENTO ................................................................................................................... 101

    XIII – VIDA SELVAGEM ............................................................................................................. 107

    XIV – NOVO JULGAMENTO ..................................................................................................... 114

    XV – DE VOLTA AO LAR ............................................................................................................ 123

    XVI – INICIAÇÃO SEXUAL ....................................................................................................... 132

    XVII – TERRITÓRIO INDÍGENA .............................................................................................. 142

    XVIII – LUA DE FEL ................................................................................................................... 150

    XIX – ATO DE TRAIÇÃO ............................................................................................................ 158

    XX – FUGA DA CIDADE ............................................................................................................. 168

    XXI – PRISÃO DE UM INOCENTE ........................................................................................... 176

    XXII – CURA SURPREENDENTE .............................................................................................. 184

    XXIII – LUA DE MEL .................................................................................................................. 191

    XXIV – PRINCESINHA............................................................................................................... 198

    XXV – O ESTUPRO ..................................................................................................................... 204

    XXVI – A TRAIÇÃO ..................................................................................................................... 212

    XXVII – REVELAÇÕES .............................................................................................................. 226

    XXVIII – CONFISSÃO ................................................................................................................ 237

    XXIX – ARREPENDIMENTO ..................................................................................................... 245

    XXX – DIREITO E DEVER......................................................................................................... 254

    XXXI – ESPERANÇA PERDIDA ................................................................................................ 266

    XXXII – CURA PELO INSIGHT ................................................................................................. 276

    APÊNDICE.................................................................................................................................... 285

    6

    I – ASSALTO AO TREM PAGADOR

    Eu narrarei esta história até onde possa compreender, cooperando comigo ‘the wanted2 Johnny’. Sou a doutora Jackaline, PhD em medicina, voltando da Inglaterra para a terra natal, onde pretendo exercer a profissão com esmero.

    Especializei-me em neuropsiquiatria, para entender a vida interior de meu irmãozinho, hoje com dez anos, portador de síndrome neurológica congênita.

    Portanto, aqui estou eu, a filha de Jack e Aline, na estação de trem, esperando que venha alguém da família para recepcionar a

    ‘ilustre doutora’.

    Os avôs, Rudy e Rose, teriam muita atenção nessa tarefa e não demorariam em chegar. A minha mãe também não é de atrasar; porém o noivo, displicente, focado nos acertos agropecuários e exímio observador das oportunidades de negócio, ter-se-ia distraído no caminho.

    Meu pressentimento logo se confirma: eu deduzi que os genitores estariam preparando a recepção em casa e Joseph viria na companhia inseparável de seus guarda-costas para me conduzirem ao lar em segurança.

    Embora queira demonstrar indiferença ao que acontece em derredor, não posso deixar de observar o movimento das pessoas: gente a desembarcar e outros que aguardam. Eu sou o centro das atenções, de homens que me espreitam lisonjeiros e das mulheres enciumadas.

    Todavia, estou acostumada com isso, desde a Europa, com seus galanteadores, até a entrada no Novo Mundo, com os atrevidos descorteses.

    Por fim, esvazia-se a Estação, ficando apenas dois guardas na 2 Expressão em inglês, que pode significar: desejado, querido ou procurado, conforme o contexto.

    7

    porta de entrada do gabinete, acobertando a entrega de valores.

    Observo o entrar e sair dalgumas pessoas que transportam sacolas e malas; vejo um velhinho sentado noutra extremidade.

    Este me observa por baixo da aba do sombreiro e flagro o olhar capcioso que evita meu rosto e mira a parte baixa. Eu vou ao seu encontro para ofertar uma moeda.

    - A cobiça dos marmanjos é compreensiva, mas deste eu não posso aceitar – é o meu pensamento.

    A minha intenção é faze-lo levantar a vista e me encarar, desmotivando a concupiscência dos olhos e o colocando no devido lugar... mas, surpreende a sua feição jovial por traz da barba emaranhada. Olhinhos apertado encaram-me com languidez e curiosidade. Ele observa a moeda com estranheza e não demonstra interesse.

    "É libra esterlina, dinheiro inglês, que pode trocar por dólar –, eu digo em atenção à sua curiosidade em observar a oferta. –

    Você é tão jovem, não devia estar assim.... Você conhece o meu noivo, Joseph? – Ele fica espantado. – Procure-o, que pode lhe arranjar emprego na fazenda....

    - Moça, vá embora! pode haver tiroteio, bala perdida, sabe? –

    Ele fala e me afasto para observar as imediações.

    À distância vejo alguns cavaleiros, escondendo-se atrás de suas montarias. Acho suspeito. Nesse momento, um rapaz me aborda, fala gracejos e procuro ignora-lo; ele pega meu braço e me desvencilho. Inicia-se refrega e um dos soldados vem em meu socorro, repelindo o homem com a coronha do rifle. O

    intruso se afasta e o guarda volta ao seu posto, feliz por ter-me protegido, e eu esboço sorriso de gratidão.

    Porém, não vendo o companheiro no posto, o soldado corre à sua procura. Entra pela porta e não sai.

    Observo que os carregadores também entram e não saem, o garoto da moeda desaparece e os cavaleiros abandonam seus 8

    cavalos. De súbito me encontro só na plataforma. Em atenção à advertência recebida para ir embora, eu caminho apressada e desorientada, quando surge a charrete dirigida por meu noivo e acompanhada por dois cavaleiros. Joseph desce eufórico e vem me cumprimentar com afagos.

    - Amor, vamos embora – eu peço –, que está acontecendo assalto.... – Joseph, sempre confiante, não se abala.

    - Vamos, então, à delegacia na cidade, fazer denúncia... – ele fala sem receios, olhando em derredor. – Rapazes, perigo à vista, fiquem atentos –, ordena aos capangas para me tranquilizar, pois eles são treinados.

    - Estou cansada da viagem de trem e quero encontrar minha mãe. Por favor, vamos pra casa. – Joseph obedece e seguimos de mãos dadas, ele olhando para trás a procura de sinais ameaçadores.

    - O xerife, seu pai, não vai aceitar a nossa atitude. Ele considera mais importante a segurança do que a pressa.

    - Não o chame assim. Meu pai existe em memória. Falar em família, quem está a minha espera em casa?

    - Todo mundo. Estamos ansiosos para ouvir suas histórias, da viagem, da vida na capital dos europeus e também dos estudos.

    Temos planos para aproveitar seus conhecimentos em medicina.

    Ah, seu irmão, o meu cunhado, está à porta, esperando para vê-la. Sabia que ele lê todas as suas cartas? Até mesmo as endereçadas a mim...

    O meu noivo chicoteia o cavalo, apressando o galope para me sossegar. Eu, de fato, estou ansiosa para sair da zona de conflito, premeditando o perigo advertido pelo pedinte.

    - Eu deixei a bagagem no armazém para você mandar buscar depois. Eu trouxe muita coisa, pois a medicina que irei praticar é instrumentalizada. Há equipamento que não se encontra por aqui.

    9

    - Isso está de acordo com o que combinamos, pois a sua especialidade médica não tem demanda nesse fim de mundo.

    Psicanálise, que tolice é essa?

    - É a tendência médica, pois muitas pacientes que não tiveram bons prognósticos no tratamento convencional, encontraram solução com a abordagem analítica.

    - O médico não deve perder tempo com o paciente; apenas faz a consulta e manda ele se tratar em casa. No caso de cirurgia, o tratamento é ‘in loco’, mas a recuperação não precisa do médico. Para isso existem os assistentes.

    - Eu sei da sua opinião, sempre com vistas ao ganho de dinheiro. Mas, saiba que me beneficiei desse tratamento, em minhas crises de histeria.

    - As mulheres aqui não têm tempo de apresentar sintoma da histeria. Elas são ocupadas em cuidar da casa, marido e filhos. E

    não tente me convencer com a história da sociedade vitoriana. –

    Eu apenas sorrio. – Sabe o que você vai fazer aqui? Eu não quis falar sobre isso em carta, mas é previsível que fará muitos partos. Acho que diminuirá a mortandade das mães e não perderemos tantas crianças.

    - Ah, eu previ e trouxe até cama apropriada. O doutor Freud lamentou que profissional de minha competência esteja restrita a isso.

    - Freud, sempre Freud. Qual é mesmo a idade dele? Quarenta e quatro anos? Se ele aparecer por essas bandas, eu boto os cachorros em cima dele. – Joseph aponta seus capangas e eu rio de sua ciumeira.

    - Você não esteja a fazer insinuações com meu mestre. Uma atitude terapêutica preconizada por ele é não retribuir os sentimentos do paciente. Este pode até se apaixonar pelo médico, mas esse não pode corresponder. Ao contar ao médico sentimentos mal resolvidos, estou fazendo transferência, o que é 10

    desejável. Se, por outro lado, ele fizer contratransferência vai piorar a minha doença. – E coloco lenha na fogueira: – eu posso até me apaixonar pelo médico, mas ele jamais deve corresponder.

    - Espero que ele não venha nos visitar. – Joseph fala afobado e muda de assunto. – Olhe essa é a entrada da fazenda que eu comprei. Fica perto da cidade grande, para o caso de você querer trabalhar ali. Acho que a clientela é mais promissora. A casa é boa e a área de cultivo é fértil.

    - Esta não é a fazenda onde nos conhecemos, numa festa da juventude? – Ele confirma com um sorriso. – Você não me falou dessa aquisição. Eu estou disposta para trabalhar em minha cidadezinha. Acho que o povo fará peregrinação para me consultar, onde eu estiver.

    - Neste caso, nem a fazenda dos meus pais lhe servirá. Você terá de residir no sítio de seus avós, que está mais perto.... – Ele faz careta de desagrado. – Ocasionalmente talvez possa visitar seu marido, murmura entre dentes.

    - Não vejo a hora de chegar lá, abraçar todo mundo, ouvir os versos de meu irmãozinho e me jogar na minha cama. Este é o meu maior desejo, pois minha mãe disse em carta que my bedroom is really nice3.

    - Na cama eu posso lhe fazer uma massagem confortante?

    - Ah, você sabe fazer, esteve treinando?

    - Tem coisas que não precisa treinamento... – Joseph coloca a mão em meu joelho e a retiro cortesmente, olhando sua aliança.

    - Vejo que você leva a sério o nosso noivado. Aquilo não foi brincadeira de jovens? – Ele também observa a minha mão com aliança.

    3 O meu quarto é muito agradável

    11

    - Seguramente foi brincadeira feita por jovens entusiastas, mas podemos renovar os votos. Veja aqui a entrada da fazenda dos meus pais, equidistante da cidade grande e da sua cidade. Será também um bom lugar de pouso para nós.

    - Depois teremos tempo de passear por todos esses lugares, mas agora tem gente me esperando em minha casa. Seu irmão caçula veio da capital para nos visitar?

    - Sim, ele pretende fazer os mesmos estudos que você....

    - Até imagino quantas perguntas me fará o cunhado. Seus pais podem preparar os bolsos, pois têm um filho inglês.

    - Ah, eles são entusiastas. Você tem dado bons exemplos.

    - Quem mais me espera, que não seja de minha casa? Há alguém da cidade? – Eu tenho receio de encontrar o ajudante de xerife, com quem namorei na juventude e que me assediou por ocasião do noivado.

    - Há algumas senhoras que costumam visitar dona Aline, com seus maridos. Quando eu saí, o xerife esperava a visita do prefeito e seus pares. Ninguém mais, mas na cidade há grande expectativa.

    - Eu pensei que o ajudante do xerife fizesse parte da tua guarda.

    – A lembrança dele é temerosa.

    - Ah, David está no lugar do xerife; seu padrasto não abre mão da proteção dele, e a mim serve em outro posto.

    - Se não é mais seu ‘anjo da guarda’, o que seria?

    - Digamos que seja um homem de confiança... desses que me defendem em qualquer situação. Mas, por que estamos falando dele? – Eu bem que gostaria que ele estivesse longe de minha casa, casado e feliz... o doutor Freud diz que o temor do encontro reflete o desejo de encontrar.

    - Eu me interesso pelas tuas amizades e não acho que essa seja apropriada. Parece que o rapaz se dedica inteiramente, nem tem 12

    tempo para a família. – Joseph se cala e me deixa bisonha, pois nem minha mãe sabe da vida afetiva dele.

    Avistamos o acesso ao sítio de meus avós, quando se ouve tropel de cavalos. Joseph pede que os rapazes fiquem precavidos. Diversos cavaleiros cercam a charrete. Quatro deles avançam e bloqueiam a passagem, outros ficam na retaguarda.

    Joseph ordena seus capangas que afastem os meliantes e os vê alvejados por balas de todas as direções.

    Ele tenta reagir, mas é agredido por coronhada de rifle. Eu lhe seguro no colo para não cair da carruagem e o vejo desacordado; verifico sangramento na altura da orelha. Tento averiguar seu pulso e outros sinais de vida, mas sou arrancada do veículo e lançada sobre um cavalo. Eu me debato e o cavaleiro agarra minhas coxas para evitar que caia; então ouço um berro:

    - Não o mate, imbecil! Ele trará dinheiro para resgatar a doutora. – Isso alimenta minha esperança, pois entendo que Joseph está vivo. O outro argumenta:

    - Eu queria tirar o anel, cortando o dedo. – O cavalo em que eu estou escanchada parte e fica a incógnita do que possa ter acontecido com a integridade do meu noivo.

    Estamos em disparada e eu passo maus bocados: sufocada pela pressão da mão do homem em meus quadris, eu sinto vertigens tendo as costelas premidas sobre o lombo do cavalo. Tudo o que vejo é a bota do cavaleiro e as patas do cavalo a galope. Vêm as náuseas e me ponho a vomitar. O homem breca o cavalo e fica bravo, jogando-me no chão. Eu não consigo me equilibrar e corro trôpega. Outros me cercam, enquanto o sujeito despeja água na bota. Cabelos em desalinho, eu não consigo ver nada.

    - Deixem a vadia e vamos embora. – Alguém grita. Nunca um acinte me soou tão bem. Mas outro retruca:

    - Eu já disse que precisamos dela para a nossa proteção.

    13

    - Ela é de valor, pois é doutora e tem um noivo rico. Allan, monte-a no cavalo de Boy. Vamos, rápido! não temos tempo a perder.

    Alguém me joga em um cavalo e seguimos em disparada.

    Sentada no colo do cavaleiro, eu seguro a crina do animal. Isso é desconfortável, mas bem melhor que escanchada no seu lombo. Apesar de ser eximia amazona, somente entro no ritmo de cavalgadura quando o homem segura minha cintura com uma mão.

    Nosso cavalo fica retardatário, mas o cavaleiro se mantém no encalço. Transcorrido muito tempo de cavalgada, todos apeiam num bosque encorpado, menos o meu brioso, que prime meus quadris contra si.

    - Vamos logo fazer a partilha. Cada um pegue a sua bolsa.

    - Vejam, Boy já tem a sua parte. O dinheiro dele pode ser dividido entre nós. – O rapaz me larga e se junta aos demais.

    Todos riem às gargalhadas, deixando-o acanhado.

    - Nada sobe mais rápido que pau de adolescente –, alguns apontam a as calças meladas e o aborrecem.

    - ...e persistente: como se mantém duro depois de gozar?

    - Eu nem consigo me imaginar gozando enquanto cavalgo.

    Eu tento me fastar no cavalo, mas sou detida e lançada ao chão.

    Aturdida, rolo pelo chão. Levanto e corro sem rumo, tropeço e caio. Os homens gargalham e um deles vem me levantar e abraça por trás, querendo imitar o boy.

    - Solte-a. Ela garantirá a nossa fuga. Não tenha medo, doutora, que não vamos machucá-la. Você ficará livre amanhã, quando vierem lhe resgatar ou, se desistirem da perseguição e nos deixarem prosseguir na fuga.

    - Chefe, quanto vamos cobrar pelo resgate? Ela vale uma nota.

    – Alguém faz a sugestão.

    14

    - A negociação de resgate é complicada e não devemos arriscar nossas posses. Não podemos perder tempo. Afinal, já temos muito dinheiro.

    - Jonas, você será o primeiro a montar guarda no sopé do monte. E o boy fará vigilância à refém – O chefe sorrir.

    II – O SEQUESTRO

    Eu estou em polvorosa, mas procuro não demonstrar. Penso no meu noivo, ferido na cabeça e talvez sem um dedo e temo que não tenha condição de vir me resgatar. Observo em derredor, buscando rota de fuga e sinto medo ao ver a mata fechada. A minha roupa não favorece.

    Escurece e me sinto angustiada ante a possibilidade de passar a noite com esses homens rudes, mormente agora que viram um garoto tirar proveito. Entrego-me à oração e procuro afastar da mente todo pensamento negativo. A minha mãe tem costume de orar e não vejo resultado, mas no momento eu não tenho outro recurso.

    Depois da partilha do assalto, eles preparam fogo para assar carne. Mantenho-me agachada, recostada numa rocha, tentando apresentar péssima aparência. O rapaz que me conduziu vem oferecer comida e rejeito.

    - A noite será longa e ninguém virá em seu socorro antes do amanhecer. – Ele me olha com meiguice, talvez lembrando a cavalgada.

    - Eu não quero nada de vocês –, para não dar ousadia. Vejo seus olhos escuros, pele sardenta, rosto de adolescente e ele me olha com ardor.

    O homem designado para fazer sentinela no sopé parte a cavalo mastigando a carne. O rapaz que ofereceu comida puxa meu braço, eu resisto em acompanha-lo e tenho o braço torcido, grito 15

    e sou lançada ao chão.

    - Ei, garoto, saiba conversar com mulher. Parece que ela não gostou de você ter-se aproveitado....

    - Talvez ela prefira um homem - Outro se aproxima e o empurra, ao que do chão o rapaz saca o revólver.

    - Epa, nada de tiros aqui. Se vocês quiserem deitar com a moça, disputem no muque.

    - Eu também quero, chefe. Na estação ela me rejeitou e agora posso tirar à forra – os dois homens se defrontam.

    - Então eu mesmo escolho. Você será o terceiro e vai dormir com ela. Joe, você tem dez minutos e depois Alfred terá vinte.

    Boy já fez a parte dele.

    "Não se afobem. Como se diz, ‘lavou tá novo’. Depois, vocês dois vão se alternar na guarda no sopé do monte. – Outros se voluntariam e o chefe se mostra zangado:

    "A moça precisa dormir, para estar descansada quando for resgatada, e vocês também necessitam para poder fugirem.

    Ademais, todos têm dinheiro e podem ter mulheres no bordel. –

    Eu corro para ele, suplicante, mas o homem refuta: – Não, eu não! – O sujeito se esquiva, talvez pensando que eu lhe escolha.

    - Por favor, não permita que eles abusem de mim. Eu sou médica e vocês podem precisar algum dia de meus cuidados. O

    meu noivo ficará grato....

    - Doutora, eu não posso negar o que meus rapazes precisam. Se divirta também, que seu noivo perdoará, se ele tiver amor... – eu seguro seu braço, ao que ele o recolhe, com trejeitos.

    - Por favor, eu suplico. Eu posso engravidar.

    - Ora, você tem outros recursos, como todo mundo. – Eu cuspo no rosto dele, esperando que revide para mudar o foco. Mas ele ri e com o braço ordena a um homem para me levar. – Não a maltratem, saibam negociar.

    16

    - Isso vai lhes custar caro. O meu noivo não perdoará.

    - Espero que ele cuide bem do filho de meus rapazes. Será que um filho pode ter mais de um pai? O que a sua ciência diz sobre isso, doutora? – Esse é o chefe da gangue, o último dos sequestradores a morrer.

    O tal Joe pega meu braço, conduz-me para trás de um rochedo.

    Eu resisto, peço socorro aos berros e apenas ouço gargalhadas.

    Lembro-me que meu pai me salvara em situação semelhante e murmuro:

    - Paizinho, socorra-me. – O sujeito me conduz a uma clareira, suspende e joga ao chão. – Não faça isso, não maltrate. – Eu sempre temi hematomas. Ele sentencia:

    - Tire a roupa, que não lhe machuco. – Abaixo a calcinha, ele arrebata de minha mão e a põe na cabeça. – Vire se não quer engravidar. – Ele solta a cartucheira, baixa as calças e manipula o membro, alarmando-me.

    - Ai ai ai, não me aperte –, eu me viro de bruços e espero com angústia ser violentada, mas nada acontece.

    Ouço barulhos de luta às costas e penso que outro veio reclamar pelo tempo gasto. Ao me voltar, vejo o homem debatendo para se livrar de outro que o agride pelas costas. Vejo o reflexo de uma lâmina e os dois caem ao chão.

    Forma-se uma poça de sangue sob a cabeça do meu agressor e olhando o outro, vejo sua cabeleira refletida à luz do luar: dourada, parecendo juba de leão. Assusto-me quando percebo o corpo dele com formato de um felino. Ao se levantar, diviso um pequeno homem e pergunto:

    - Quem é você? – Eu não lembro de tê-lo visto entre os outros bandidos. Ele me entrega uma moeda, a mesma que eu havia feito doação. – Ah, é o garoto da estação.

    - Tome sua calcinha. Não a tire para ninguém. – Ele retira da cabeça do estuprador e ma entrega.

    17

    - Você chegou em boa hora. Eu sou grata e asseguro a oferta que lhe fiz. O meu noivo lhe recompensará e aquele emprego será garantido por mim. – Eu falo sussurrando e de costas me visto. Quando me viro, estou só. Ninguém há comigo, além do morto. – Garoto, rapaz, moço! – Eu chamo em voz baixa e não obtenho resposta. Inquieto-me, pois, a morte do bandido poderá me complicar.

    Lembro-me do clamor que fiz ao meu pai e penso que fui atendida. Olho em volta, ando de um lado para outro sem propósito; desejo me embrenhar na mata, mas me falta coragem. Ouço passos e me animo, mas logo vem à decepção, quando percebo a aproximação de outro bandoleiro. Ele murmura o nome do comparsa e vendo apenas a mim, adianta-se e tropeça no corpo do morto. Agacha-se e vê seu pescoço cortado.

    - O que você fez com ele? – Avança em minha direção. – Você o matou? – Eu nego, meneando a cabeça.

    Ele corre para avisar os parceiros e em pouco estou rodeada de homens, furiosos, inquirindo sobre o que aconteceu. O chefe chega por último e vem rangendo os dentes em minha direção.

    - Você o matou? – O chefe pergunta, sacudindo-me. Eu nada falo, traumatizada, e ele se enfurece

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