República Democrática do Pensamento Único: O papel da imprensa, o Estado controlador e a liberdade de pensamento no Brasil
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República Democrática do Pensamento Único - Ianker Zimmer
REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO PENSAMENTO ÚNICO
O PAPEL DA IMPRENSA, O ESTADO CONTROLADOR
E A LIBERDADE DE PENSAMENTO NO BRASIL
© Almedina, 2021
Autor: Ianker Zimmer
Diretor Almedina Brasil: Rodrigo Mentz
Editor de Ciências Sociais E Humanas: Marco Pace
Revisão: André P. Souza
Diagramação: Almedina
Design De Capa: Roberta Bassanetto
ISBN: 9786586618785
Dezembro, 2021
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Zimmer, Ianker
República democrática do pensamento único :
o papel da imprensa, o Estado controlador e a
liberdade de pensamento no Brasil / Ianker Zimmer. São Paulo : Edições 70, 2021.
ISBN 978-65-86618-78-5
1. Ciências políticas 2. Democracia - Brasil
3. Jornalismo 4. Liberalismo – História
5. Libertarianismo 6. O Estado 7. Pensamento I. Título.
21-86297 CDD-320
Índices para catálogo sistemático:
1. Ciências políticas 320
Maria Alice Ferreira – Bibliotecária – CRB-8/7964
Este livro segue as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro, protegido por copyright, pode ser reproduzida, armazenada ou transmitida de alguma forma ou por algum meio, seja eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópia, gravação ou qualquer sistema de armazenagem de informações, sem a permissão expressa e por escrito da editora.
Editora: Almedina Brasil
Rua José Maria Lisboa, 860, Conj. 131 e 132, Jardim Paulista | 01423-001 São Paulo | Brasil
editora@almedina.com.br
www.almedina.com.br
Quando os justos governam, alegra-se o povo; mas quando o ímpio domina, o povo geme.
Provérbios 29:2
À minha mãe Marli T. A. Zimmer (in memoriam), à minha doce e amada esposa, Bruna Zimmer, e aos meus irmãos Cheila e Leonardo Zimmer.
AO LEITOR
Este livro surge no ensejo de estimular o leitor a refletir sobre nossas questões sociais e políticas no Brasil atual. Se em A Filosofia do Fracasso: Ensaios Antirrevolucionários (2020) partimos de uma perspectiva positiva para o governo Bolsonaro, agora, passados dois anos a partir do início do processo de escrita dos textos deste volume, apertei a pena no papel e adotei uma postura mais crítica. Como vamos ver, ou ler, nas próximas páginas, o bom conservador-liberal tem no ceticismo um de seus pilares. E esta é, justamente, uma das principais admoestações que faço à nova direita que surgiu após 2013. O senso crítico, parece-me, foi engolido pelo fanatismo.
A esquerda, por sua vez, não deixa de ser quem sempre foi, sobretudo parte da mídia brasileira, que é tendenciosa e viciada. Se, de um lado, nossa imprensa foi – e, se tratando de imprensa tradicional, ainda é – dominada por marxistas nas últimas décadas, que das redações obtinham e/ou obtém o controle quase que absoluto das narrativas ideológicas e políticas – e este tema será aprofundado no rico posfácio escrito pelo professor e ex-ministro da Educação, Ricardo Vélez-Rodríguez –, de outro, com a eclosão das redes sociais, os movimentos de direita ganharam voz, esta amplificada pelo fenômeno bolsonarista. É nesse sentido que nos primeiros capítulos deste breve livro abordo aspectos importantes do fazer jornalístico e seus gêneros e subgêneros. Em meio à guerra político-ideológica travada em nossa terra, observamos que os próprios profissionais da imprensa não fazem distinção entre os gêneros. O que esperar, então, dos aventureiros da internet que produzem conteúdo e obtiveram uma notoriedade significativa atualmente nas redes?
A segunda parte do livro é composta por uma crítica ao estado burocrático brasileiro e suas amarras. Como bem disse George Washington, o estado é, na melhor das hipóteses, um empregado petulante e, na pior das hipóteses, um senhor tirânico
. E em alguns textos isso ficará explícito ou até implícito. Outrossim, critico a nova direita, que em muitos aspectos, infelizmente, não difere da militância de esquerda – a começar pela agressividade de muitos e pela ausência de liberdade de pensamento. Livre pensamento, aliás, que considero eixo-central desta parte do livro, que finda com conselhos e exortações, garimpadas de grandes pensadores da História, a nossos governantes no Brasil, que como vamos ler, exercem suas funções com zombaria. Mas esse é o Brasil.
Nada é mais maravilhoso do que a arte de ser livre, mas nada é mais difícil de aprender do que a liberdade.
(Alexis dee Tocqueville)
Tenham uma boa leitura!
Novo Hamburgo, 20 de setembro de 2021.
Ianker Zimmer
APRESENTAÇÃO
Ao redigir um texto de contracapa para o primeiro livro de Ianker Zimmer, A Filosofia do Fracasso: Ensaios Revolucionários, ressaltei na produção do autor, cujos artigos tenho tido a honra de editar para publicação pelo Instituto Liberal, o cuidado com a necessidade de não perder o aprofundamento na precisão conceitual, ancorando-se na sabedoria da experiência histórica e das melhores mentes do passado para denunciar os utopistas vazios do presente. Ao mesmo tempo, enalteci sua postura de soldado sincero e dedicado do Jornalismo, vítima constante da ação, ora sub-reptícia, ora insuportavelmente explícita, de inteligências corrompidas pelas armadilhas ideológicas de nosso tempo.
Nesta obra, comprazo-me em assegurar que Ianker segue sem se afastar dessas virtudes. Suas preocupações temáticas, aqui particularmente sistematizadas e distribuídas em duas grandes partes bem definidas, permanecem também essencialmente as mesmas: o fazer jornalístico, a natureza e a missão da imprensa como pilar da sociedade livre, e o diagnóstico de sua perversão pelos agentes do patrulhamento ideológico, de um lado; de outro, a intimidade do socialismo e de suas inconsistências, em contraste com os imperativos do mundo real. O jornalista demonstra toda a sua versatilidade ao mesclar reflexões teóricas pessoais, o recurso às melhores bibliografias e entrevistas com amigos e parceiros em sua jornada de devoção ao conhecimento, de modo a fundamentar, com a maior riqueza possível, as questões essenciais de que está tratando.
A primeira parte, Jornalismo, conceitos e marxismo
, dá conta do universo jornalístico, suas especificidades e sua utilização como arena de batalha pelas ideias por parte da esquerda contemporânea. O impacto dos novos tempos e dos avanços tecnológicos no Jornalismo, a diversidade de gêneros jornalísticos, a problemática da opinião e seu lugar em relação à notícia, são alguns dos temas que Ianker destrincha ao começo desta seção, sem deixar de fazer a devida contextualização histórica e descortinar o desenvolvimento desse campo tão importante para o enraizamento de uma cultura de liberdade. Em busca de uma ilustração com um dos melhores profissionais, inclui-se aqui uma entrevista com o grande fotojornalista de Harvard Greg Marinovich, em rico diálogo que permite refletir sobre a questão ética na profissão. Esta parte inicial se encerra com uma série de entrevistas em que o autor procura diagnosticar, a partir de diferentes pontos de vista, a real dimensão da presença da esquerda na imprensa, diante das fábricas de militantes socialistas ou submarxistas em que, em boa medida, se converteram as universidades.
É o socialismo o protagonista da segunda parte, a mais extensa do livro, mas associado a uma complementação relevante, definidora da cultura política brasileira, de raiz patrimonialista: o Estado controlador e burocrático, cujas teias providencialistas são sempre reivindicadas, não importam os riscos a que se exponha a liberdade individual para a obtenção de suas falsas prodigalidades. Essa parte está repleta de ocasiões em que Ianker dá vazão ao seu talento para estabelecer um diálogo entre os grandes autores e os dramas vivenciados em nossa realidade, em honesta tentativa de compreender a natureza de nossos problemas e apontar soluções.
Entre essas soluções, está o pensamento liberal de Adam Smith, empregado para criticar a aposta, que deixa impressão de quase onipresença em nosso meio, no intervencionismo do Estado nos menores detalhes como geradora de prejuízos de proporções imprevisíveis. O intervencionismo, o burocratismo, o excesso regulamentador, coloridos
ou não pela retórica sedutora do socialismo e das diversas vertentes da esquerda, sempre se apoiam em percepções perigosamente simplistas da realidade. Os dardos de Ianker se voltam contra esse reducionismo, apreciando a complexidade do real também através de dados factuais, como os que organiza acerca dos entraves burocráticos impostos pelo Estado brasileiro.
Evocando simbolicamente a independência do Brasil para exortar os brasileiros ao espírito da liberdade, Ianker também faz uso de analogias mais corriqueiras, mais próximas à maioria dos leitores, como a imagem da governança de um condomínio representando o país, para sustentar a efetividade prática de medidas que constam dos apelos liberais há tempos, como as políticas de privatização.
Outra preocupação que tem sido constante nas análises de Ianker e se reproduz nesta obra é a capacidade de transformação humana; através das figuras de Dostoiévski, George Orwell e Paulo Francis, ele se dedica a elucidar a possibilidade de superação da cegueira socialista, donde provieram grandes mentes que em muito contribuíram para confrontar os engodos vermelhos. Igualmente, Ianker volta sua atenção para os marcos inaugurais do liberalismo, no pensamento de John Locke, para desaguar em uma apreciação da alternativa parlamentarista.
As falácias do lulopetismo e os malabarismos do ativismo judicial se chocam, em sua abordagem, com a exortação ao pensamento, à autonomia, ao apreço pela verdade, que ele colherá em G. K. Chesterton – um autor que sequer é liberal, mas, com a atitude de se aproveitar de suas lições, mesmo manifestando discordâncias, Ianker apenas dá exemplo, na prática, da nobre proposição que está sustentando.
No ensaio Do Panfletarismo de Maiacovski na URSS à Prostituição do Gênero Opinativo no Brasil: uma Reflexão Sobre a Verdadeira Liberdade
, os dois temas centrais de Ianker se cruzam de forma mais evidente, com o emprego da ferramenta histórica e da analogia para denunciar, com o qualificativo mais justo possível, ainda que duro – prostituição
–, o que tem sido feito pelos formadores de opinião e comunicadores no Brasil.
Max Weber, Karl Marx, Edmund Burke, Lênin, Trotsky, Roger Scruton e até o orador ateniense Isócrates, entre outros autores, empregados para iluminar os nobres acertos e oferecer as balizas para a edificação dos melhores futuros, ou para dar voz e definição aos erros e males que se quer combater, desfilam pelas páginas de Ianker Zimmer em seu República Democrática do Pensamento Único: o Papel da Imprensa, o Estado Controlador e a Liberdade de Pensamento no Brasil. Convidamos os leitores a dar o merecido voto de confiança ao mapa construído por Ianker em seu trabalho para dispô-los em colisão e, desse fecundo entrechoque, fazer refulgirem a liberdade e a dignidade do indivíduo como valores fundamentais à vida que vale a pena ser vivida, por oposição ao obscurantismo assassino dos que prometem um novo amanhã, mas o alicerçam sobre o castelo de areia da mentira.
Lucas Berlanza
19 de maio de 2020.
Rio de Janeiro (RJ)
SUMÁRIO
PARTE I
JORNALISMO, CONCEITOS E MARXISMO
1. O Novo no Jornalismo no Brasil e o Papel do Jornalista
2. Um Estudo Sobre os Gêneros Jornalísticos
3. Breve Histórico do Jornalismo Brasileiro e os Conflitos entre Receptor e Imprensa
4. O Fazer Jornalístico, a Militância e a Mordaça
5. Algumas Falácias sobre o Jornalismo
6. Entrevista com o Vencedor do Pulitzer 1991 e Professor em Harvard Greg Marinovich
PARTE II
O ESTADO BUROCRÁTICO E CONTROLADOR E A LIBERDADE DE PENSAMENTO
1. Adam Smith, o Casaco de Lã e a Burocracia no Brasil
2. Independência e Liberdade
3. A Privatização dos Correios e a Estatização Aplicada ao seu Condomínio
4. Dostoiévski, Orwell e Francis: da Revolução à Decepção com o Socialismo
5. John Locke, o Estado Moderno e o Parlamentarismo no Brasil
6. Sobre Suspeições, Lulopetismo e a Suprema Corte
7. G. K. Chesterton e a Simples, porém Complexa, Arte de Pensar
8. Francis, Flaubert, Schopenhauer e a Arte de Escrever
9. Max Weber: a Força de Trabalho e Salário, o Risco do Empregador e a Pandemia no Brasil
10. Do Panfletarismo de Maiacovski na URSS à Prostituição do Gênero Opinativo no Brasil: Uma Reflexão Sobre a Verdadeira Liberdade
11. Feliz Aniversário
, Karl Marx!
12. De Kuleshov e Oratórias de Lênin e Trotski aos Discursos nos Chãos de Fábrica do ABC: Como o Lulopetismo Passou a Perna
no Brasil
13. A Hora do Pesadelo: o Lulopetismo Quer Voltar
14. Conselhos de Isócrates a Nicolés, Rei do Chipre: o que Nossos Governantes Podem Aprender
15. Scruton, a Ordem do Conservadorismo e as Falácias Reacionárias e Revolucionárias
16. Montaigne, Flaubert e Lewis: a Vida Intelectual e o Valor do Livre Pensamento
17. Erasmo de Roterdã e o Bom Governante
18. Erasmo de Roterdã e o Bom Governante (Parte II)
19. Erasmo de Roterdã e o Bom Governante (parte III)
20. Erasmo de Roterdã e o Bom Governante (final)
21. O Anti-maquiavelismo de Frederico da Prússia
22. Henry Kissinger e a Nova Ordem Mundial
23. Miguel de Cervantes e os Conselhos Políticos de Dom Quixote
24. O Brasil e a República Democrática
do Pensamento Único
Posfácio
Imprensa, Socialismo e Liberdade
O Brasil: devemos superar o cientificismo, mediante a crítica cultural
Referências
PARTE I
JORNALISMO, CONCEITOS
E MARXISMO
1.
O NOVO NO JORNALISMO NO
BRASIL E O PAPEL DO JORNALISTA
Em meu primeiro livro A Filosofia do Fracasso – Ensaios Antirrevolucionários, escrevi um pequeno ensaio sobre o papel do jornalista dentro do contexto do novo jornalismo. Leiamos:
Devido aos avanços na tecnologia, com a propagação da internet e suas facilidades móveis cada vez mais difundidas no dia a dia das comunidades, muitos veículos de comunicação passaram a atuar multiplataforma, com os jornais não mais sendo reféns da versão impressa, se deslocando para o mundo digital. Você conhece algum jornal importante que não tenha um site oficial com conteúdo? Dentro da nova esfera virtual, as mídias sociais, por exemplo, assumiram um papel de protagonismo no jornalismo atual, servindo como plataformas de difusão de notícias para os veículos de comunicação, que disponibilizam nas redes seus conteúdos previamente publicados em seus sites. Assim, há o tão falado
clique" e o redirecionamento ao site, que também oferece outros hiperlinks com mais conteúdos.
Ao longo dos tempos, o jornalismo passa por transformações, inovações, evoluções. Um exemplo clássico disso foi o surgimento da televisão no Brasil, nos anos 1950, com Assis Chateaubriand colocando em risco o rádio, em sua plena era de ouro
. Contudo, o