Poema É Isto

De Danilo Augusto De Athayde Fraga

O Danilo poeta incorpora, nas linhas desse ensaio o escritor de prosa que não admite reduções do movimento de seu lápis pelos grilhões academicistas, apesar de acadêmico ele mesmo, doutorando em Literatura pela Universidade do Porto. Singelo na extensão, mas gigante no horizonte das ideias que sugere ao leitor, Poema é Isto encarta um irrecusável convite à poesia. Não me recordo quem certa vez disse que a genialidade está em perceber o óbvio, mas em Poema é Isto o “óbvio” aparentemente esquecido é trazido às luzes, redesenhando a poesia enquanto poesia, não mais como conceito abstrato ou simulacro de racionalidade. O autor sugere, aliás, que “[...] o poema não abandonará a sua relação com a música, ele precisa desdobrar-se no tempo. Momento após momento o tempo se ordena e se concretiza no poema e assim o experimentamos como verdade tangível da existência”; e o faz aludindo ao inesquecível poema de Leopoldo Lugones: “El jardín, con sus íntimos retiros/ Daria a tu alado ensueño fácil jaula”. Logo se vê que os “íntimos retiros” da poesia foram fotografados e transladados nas palavras que compõem o Poema é Isto. Na coda poética que sucede ao ensaio, o autor ousa questionar “quem inventará a matemática de uma alma? e, depois, onde escrevê-la?”. Assumo o risco de presumir que essa matemática só poderá ser escrita em poesia, mas sem números nem conceitos, apenas palavras, imagens, sons e sentimentos. Fica o convite à leitura desse livro promissor e real - impossivelmente real (como diria Pessoa) -, a feliz criatura desse grande poeta e mais afiado leitor de Walt Whitman que já conheci. (Pedro Carvalho) Há o persistente problema de se pensar por palavras, usar as palavras para representar as coisas do mundo e ao mesmo tempo fazer poemas. Por que no poema a palavra se difere ou deveria diferir? Qual a relação dos poemas com as palavras e destas com o mundo? Ao contemplar essas velhas questões, fui empurrado de volta às intuições da minha infância.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 18 de jan. de 2024

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poema é isto

Uma versão anterior deste ensaio foi publicada ao fim de Zumbi, lançado pela Coisa Edições, em 2014.

Quando criança, acreditava existirem certas conjunções de palavras que fariam as pessoas agirem conforme minha vontade, se apaixonarem ou esquecerem quem eram ou mesmo desencadeariam processos vitais nelas, como o sono e a morte. Acreditava em feitiços e encantamentos, mas algo me dizia que, provavelmente, cada indivíduo requeresse uma combinação singular de palavras desconhecidas, um enigma intricado, senão infinito. Essas poderiam ser palavras remanescentes de uma era arcaica ou palavras inexistentes em toda língua, a não ser no âmago íntimo da natureza e do espírito. Encadeações de fonemas como voltas nas combinações de um cadeado. Cada verso, uma nova volta cega nas infindáveis camadas da maquinaria cósmica. Tinha consciência de jamais poder ter uso delas, mas não abandonava uma esperança vaga de testemunhar algo acontecer à minha frente por uma dessas coincidências absurdas que me fizesse esbarrar com o segredo do universo ao pronunciar, sem querer, alguma dessas sentenças misteriosas.

Nutria a crença na natureza intrínseca das coisas e na sua correspondência direta, embora sempre errada, com aquilo que conjurava em