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Virgindade Inútil e Anti-Higiênica
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Virgindade Inútil e Anti-Higiênica
E-book260 páginas3 horas

Virgindade Inútil e Anti-Higiênica

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Sobre este e-book

Segundo volume da Coleção Precursoras: Resgate de obras de autoras do século XIX e início do século XX.

Este volume contém um ensaio da pesquisadora Imaculada Nascimento sobre a vida e obra da Ercilia e as duas obras da precursora:

1. O ensaio "Virgindade Anti-Higiênica: Preconceitos e Convenções hipócritas", de 1924;
2. A novela "Virgindade Inútil – Novela de uma Revoltada", de 1927.

Nessas duas obras, a escritora se coloca no lugar de fala de uma mulher que, ao vivenciar a situação de opressão vigente, percebe, observa e critica uma cultura que objetifica, aprisiona e exclui as mulheres.

O ensaio Virgindade Anti-Higiênica defende uma tese político-social: a igualdade de condições para homens e mulheres, enfatizando a educação de qualidade como fator primordial para que a mulher possa reivindicar a liberdade sexual e profissional. Um ensaio que teve como diferencial três características: a linguagem radicalmente coloquial – um discurso virulento em defesa dos direitos da mulher; um título surpreendente – Virgindade Anti-Higiênica – Preconceitos e convenções hipócritas, que causou impacto, tanto para a sociedade quanto para muitos escritores que compunham a elite intelectual de então; e as reivindicações que detalhavam algumas especificidades até então não mencionadas, tão claramente, pelas outras escritoras, tais como a moral sexual igualitária para as mulheres e a opção de relacionamento homossexual como parte da liberdade sexual.

A novela Virgindade Inútil, trata-se de um romance utópico, com forte crítica social por meio de imagens positivas de uma sociedade melhor, de acordo com a defesa ideológica pelas mulheres. Sua forma singular, principalmente na divisão das partes iniciais, talvez tenha sido inspirada na própria estrutura do ensaio. É iniciado com o título OBSERVAÇÃO, no qual a própria Nogueira Cobra desenvolve a temática, como se fosse apresentação de uma tese; em seguida, no subtítulo INTROITO, a voz já é da narradora, que demarca o espaço da narrativa. Iniciam-se, então, os 20 pequenos capítulos sem títulos, apenas numerados. A partir dos capítulos, o relato da vida de Cláudia vai se desenrolando no cenário e nos ethos das duas grandes cidades em que ela se firmou inicialmente, após haver saído do interior. Os hábitos, os costumes fundamentais no âmbito do comportamento e da cultura, característicos, principalmente, de São Paulo e Rio de Janeiro, constituem uma narradora (re)construída pelo imaginário, a partir da montagem dessas peças na narrativa e relato de vida da protagonista, que dirige sua crítica irônica e sarcástica às instituições governamentais, às autoridades públicas, à instituição familiar, à burguesia que, para conseguir e manter privilégios, submete-se e submete ao controle as classes inferiores.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de mar. de 2024
ISBN9786581177133
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    Pré-visualização do livro

    Virgindade Inútil e Anti-Higiênica - Ercilia Nogueira Cobra

    APRESENTAÇÃO

    PRECURSORAS E INSURGENTES!

    Como historiadora feminista, inquieta-me a maneira pela qual determinadas dimensões do passado são totalmente esquecidas (...).

    Margareth Rago, Feminizar é preciso –

    por uma cultura filógina

    Quando decidi fundar a Editora Luas, em 2015, me vi imersa em um movimento coletivo que ansiava por expressões, manifestações intelectuais e artísticas de mulheres, junto com os diversos movimentos políticos e sociais sob as perspectivas feministas. A partir disso, fui compreendendo que publicar autoras contemporâneas era urgente, diante de toda a história de exclusão que carregamos, e consequentemente das dificuldades que permanecem, sem perder de vista o nosso passado. Isso porque, apesar de trabalhos incríveis de resgate de obras antigas realizados por algumas editoras, principalmente a Zahidé Muzart com a Editora Mulheres, muitas autoras e seus livros continuam esquecidos e não acessíveis porque não tiveram reedição. Se hoje, nós, mulheres contemporâneas, temos alguns direitos alcançados em relação à educação, por exemplo, como aprender a ler e a escrever, estudar, entrar numa universidade, pesquisar em diversas áreas e outras possibilidades, ainda que vivenciando tudo isso em constante contraste com muitos privilégios dos homens, é devido ao pensamento libertário, ao movimento ativo, individual e/ou coletivo, de mulheres que nos antecederam. Desde o início, então, sabia da importância de resgatar os livros dessas autoras PRECURSORAS, que, já pelo ato em si de escrever em épocas nas quais isso era proibido, malvisto, ridicularizado, podem ser denominadas de insurgentes. E por que resgatar? Simplesmente porque muitos desses livros não foram reeditados, perderam-se no decorrer do tempo, praticamente sendo enterrados junto com as respectivas autoras quando de seu falecimento.

    No universo editorial, esse contexto generalizado de exclusão e invisibilidade das mulheres não foi diferente, e a mudança vem sendo gradativa, mas dificuldades para as escritoras persistem. Historicamente, nós tivemos menos oportunidades de escrever livros, de tê-los publicados, de serem lidos, de serem considerados bons e universais pela crítica literária, a princípio totalmente masculina-hétero-branca, e ainda segue assim majoritariamente; tivemos menos oportunidades de decidir nos processos de produção de livros: mesmo com muitas de nós trabalhando na cadeia produtiva, quase nunca atuávamos como editoras, diretoras, ocupando o lugar de quem decidiria quais livros seriam publicados.

    Por tudo isso, a Editora Luas publica só escritoras, e, com curadoria especial das professoras e pesquisadoras Constância Lima Duarte (UFMG) e Maria do Rosário A. Pereira (CEFET/MG), a Coleção PRECURSORAS traz livros reeditados de autoras do século XIX e início do século XX, com estudos e notas de pesquisadoras brasileiras contemporâneas, diante da importância histórica desses textos, tanto para a história do livro e da literatura no Brasil, quanto para a história das mulheres. Reconstruindo a nossa história, sob a perspectiva delas, conseguiremos honrar as nossas ancestrais, reconhecendo que sem elas não teríamos alguns direitos e liberdades que temos hoje, além de termos a oportunidade incrível de dialogarmos com elas sob o enfoque de pesquisas contemporâneas, observando mudanças efetivas e desafios ainda atuais.

    Desejo um bom encontro com estas autoras, as nossas PRECURSORAS!

    Cecília Castro – Fundadora e Diretora Editorial da Editora Luas

    Ercilia Nogueira Cobra

    (1891 - ?)

    CORPOS INDÓCEIS, MENTES LIVRES

    A obra de Ercilia Nogueira Cobra

    Imaculada Nascimento

    Era uma vez uma mulher que via um futuro grandioso para cada homem que a tocava. Um dia ela se tocou.Alice Ruiz

    Algumas mulheres são como pássaros que se livram de um alçapão, sem se preocupar com o pouso, nem com o porto. Elas se alimentam no maravilhoso espanto dos saberes, visando compartilhar com as outras mulheres seu bater de asas e disseminar o conhecimento, a fim de que todas tenham consciência de sua capacidade, habilidades e direitos, em geral tolhidos, infelizmente, ainda na contemporaneidade. Apesar dos avanços significativos, há ainda infinitas denúncias e notícias de crescente aumento de violência contra a mulher, feminicídio, manutenção do sistema injusto de remuneração, entre outras, o que justifica dar relevância àquelas que, com enorme esforço individual (ou coletivo), inconformadas com sua condição, se rebelaram contra o sistema vigente.

    Este é o caso de Ercilia Nogueira Cobra, professora, romancista, ensaísta, nascida em Mococa (SP) em 01 de outubro de 1891 em berço aristocrático, em uma família de muitas posses, para a qual se tornaria uma maldição. Ercilia teve acesso a uma educação privilegiada em sua época. Seus avós maternos eram donos de milhões de pés de café, motivo pelo qual seu pai, Amador Brandão Nogueira Cobra, teria se casado com sua mãe, D. Jesuína.¹

    Embora não se declarasse feminista, suas ações e seus textos apontam para uma escritora com essa característica, o que se poderá comprovar pelas leituras do ensaio Virgindade

    Anti-Higiênica – Preconceitos e convenções hipócritas (1924) e do romance Virgindade Inútil – Novela de uma revoltada (1927),² bem como pela sua história de vida. A escritora se coloca no lugar de fala de uma mulher que, ao vivenciar a situação de opressão vigente, percebe, observa e critica uma cultura que objetifica, aprisiona e exclui as mulheres.

    A mulher representada por Italo Calvino, em Cidades Invisíveis, no espaço discursivo de Zobeida, a cidade branca, construída para aprisionar a mulher sonhada pelos homens, é uma mulher real no sentido de que ela é ao mesmo tempo ausente e cativa. Na práxis, essa foi (e, parcialmente, continua sendo neste século) a mulher do início do século XX quando Nogueira Cobra reinventa um discurso solitário para inscrever, não a presença, mas a ausência da mulher enquanto sujeito e, também, cimento da cidade onde os homens se querem únicos engenheiros. Para ela, a mulher deve ocupar seu lugar de força impulsora da cultura e da história, e não apenas a mulher configurada pelas relações de poder constituída a partir dos efeitos de sentido da linguagem e representação masculina.

    As reflexões a respeito do feminismo e das inúmeras variantes da condição da mulher ao longo do tempo nos remetem à compreensão sobre como, num espaço e tempo determinados, se configuraram as relações de poder por intermédio das relações de gênero. Muito do que se pensa a respeito da mulher, caracteriza--se como uma representação que a torna um sujeito passivo e dócil, quando não inoperante; essa questão nada mais é que uma estratégia discursiva que fixa, para ela, um status menor. Ao longo do tempo, também, é preciso lembrar que as relações entre os gêneros tiveram – e ainda persistem – contornos ásperos, rudes, que comportam o simbolismo que inscreve, sobre o corpo feminino, os signos da própria desigualdade e suas consequências com resultados indeléveis, muitas vezes.

    Nesse sentido, embora o termo feminismo ou feminista tenha adquirido conotações mais teóricas na contemporaneidade, as reivindicações iniciais das mulheres, que se empenharam nessa causa, se basearam em premissas fundamentais, destacando-se a educação feminina, o sufrágio feminino, a sexualidade, a maternidade, a interseção entre o público e o privado, entre o individual e o social. A partir da opressão histórica sobre as mulheres, a voz de Ercilia Nogueira Cobra junta-se a outras vozes tais como Nísia Floresta (1810-1885), precursora na defesa da educação e emancipação da mulher; Maria Firmina dos Reis (1825-1917), professora e primeira romancista brasileira a enfocar em sua obra a escravidão de modo diferenciado dos autores do período romântico, bem como as relações de dominação patriarcal a partir da perspectiva da mulher; é notável sua audácia ao abrir uma escola gratuita para ambos os sexos, o que causou escândalo na sociedade local (Maranhão).

    A partir da segunda metade do século XIX, o movimento foi tomando corpo e efervescência por meio da imprensa feminista, da escrita literária, ensaios e textos jornalísticos com reflexões acerca da educação, dos deveres e direitos das mulheres. Entre muitas, que também se destacaram por atuar intensamente nesse meio de comunicação como estratégia de conscientização feminina, podemos citar: Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), romancista, cronista, ensaísta; Maria Sabina (1898-1991), escritora e jornalista; Francisca Senhorinha da Motta Diniz (?-1910)(data de nascimento desconhecida), professora, escritora, editora do jornal O Sexo Feminino; Josefina Álvares de Azevedo (1851-1913), escritora, jornalista e redatora do jornal A Família; Presciliana Duarte de Almeida (1867-1944), redatora de um jornal manuscrito, O Colibri, fundou e dirigiu, também, a revista A Mensageira, cujo objetivo era incentivar a participação da mulher no espaço público.

    Na interseção dessas questões, a obra de Ercilia Nogueira Cobra – pouquíssimas vezes revisitada – merece ser lembrada com o intuito de estabelecer seu relevante lugar no cenário de escritoras brasileiras, principalmente quanto ao quesito educação igualitária para as mulheres, o que lhes proporcionaria conscientização de seus direitos e obrigações.

    Até o momento, tem-se notícia apenas de suas duas publicações:³ um ensaio, Virgindade Anti-Higiênica – Preconceitos e convenções hipócritas (1924), e um romance, Virgindade Inútil – Novela de uma revoltada (1927).⁴ Em 1932, o ensaio e o romance foram reeditados em um só volume no Brasil e em Paris com o título Virgindade Inútil e Anti-Higiênica Novela libelística contra a sensualidade egoísta dos homens. Um exemplar foi localizado num sebo, no Rio de Janeiro, na seção de sexologia, em 1980, de acordo com a Biografia de uma revoltada Ercilia Nogueira Cobra, de Maria Lúcia de Barros Mott (1986, p.95).

    Queremos o nosso 13 de maio – O ensaio Virgindade Anti-Higiênica

    Publicado, pela primeira vez, por Monteiro Lobato, um dos grandes revolucionários da cultura brasileira da primeira metade do séc. XX, a edição foi censurada e apreendida pela polícia durante o governo do então presidente Arthur Bernardes (1922-1926), entre muitos outros livros sob suspeita de difundir ideias subversivas à moral e aos bons costumes. Segundo a autora: O meu livro foi simplesmente acoimado de pornográfico e apreendido. Não se disse por que ele era pornográfico. [...] Sou pornográfica. Sou pornográfica porque trato de mostrar qual é o papel representado há dois mil anos pela mulher. (VA, Nota da 2ª edição, p. 58). Enfim, sua luta contra a censura instaurada obrigou-a a ter que publicar por conta própria o romance (1927), bem como as reedições dos dois livros.

    O ensaio Virgindade Anti-Higiênica defende uma tese político--social: a igualdade de condições para homens e mulheres, enfatizando a educação de qualidade como fator primordial para que a mulher possa reivindicar a liberdade sexual e profissional; o romance expressa a mesma preocupação. O gênero ensaio não era exatamente uma novidade, em se tratando de escrita de autoria feminina, porém foi uma estratégia de escrita muito em voga no início do Movimento Modernista, tendo sido apropriada principalmente pelos escritores:

    É característico dessa geração o fato de toda ela tender para o ensaio. Desde a crítica polêmica [...] até o longo ensaio histórico e sociológico, que incorporou o momento ao pensamento nacional, – é grande a tendência para análise. Todos esquadrinham, tentam sínteses, procuram explicações. (CANDIDO, 2006, p. 130)

    Seguindo, então, essa tendência, tanto Nogueira Cobra quanto várias escritoras publicaram ensaios,⁵ o que se configura como mais uma estratégia de divulgação das reivindicações femininas.

    Nogueira Cobra faz surgir, em nossas letras, um ensaio que teve como diferencial três características: a linguagem radicalmente coloquial – um discurso virulento em defesa dos direitos da mulher; um título surpreendente – Virgindade

    Anti-Higiênica Preconceitos e convenções hipócritas, que causou impacto, tanto para a sociedade quanto para muitos escritores que compunham a elite intelectual de então; e as reivindicações que detalhavam algumas especificidades até então não mencionadas, tão claramente, pelas outras escritoras, tais como a moral sexual igualitária para as mulheres e a opção de relacionamento lésbico como parte da liberdade sexual. Essa questão da lesbianidade foi extremamente transgressora para um período, no Brasil, em que a atenção dos médicos, educadores, juristas e instituições como o Exército, a Igreja, a Escola, prescreviam a normatização da sexualidade, coibindo todo e qualquer comportamento desviante da cópula perfeita e saudável, isto é, somente com o marido após o casamento.

    Constância Lima Duarte, em artigo intitulado Feminismo e literatura no Brasil (2003),⁶ aborda os momentos-ondas feministas que teriam tido maior visibilidade no país, considerando a existência de, pelo menos, quatro décadas importantes: 1830, 1870, 1920 e 1970. Em relação à terceira onda – que Duarte intitula Rumo à cidadania –, a movimentação das mulheres é muito maior que nos períodos anteriores; elas clamam alto pelo direito ao voto, ao curso superior e à ampliação do campo de trabalho, pois queriam não apenas ser professoras, mas também trabalhar no comércio, nas repartições, nos hospitais, nas indústrias (2003, p. 161). Nesse período – o da terceira onda –, Duarte identifica Ercilia Nogueira Cobra que, ao lançar seu primeiro livro, dava início a uma obra polêmica que pretendia discutir a exploração sexual e trabalhista da mulher, e provocou intenso debate e muita crítica entre os contemporâneos (2003, p. 161).

    Claro, um título como Virgindade Anti-Higiênica, naquela época, causou grande desconforto em sua recepção, reafirmado a partir de intrigante introdução:

    O meu livro foi escrito com o único fito de mostrar o quanto é errada a educação que se vem ministrando à mulher. As milhares de infelizes que de Norte a Sul do país vendem o corpo para comer, foram levadas a este extremo pela própria imprevidência dos pais, que jamais pensam no futuro das filhas.

    O meu livro foi escrito por piedade das escravas brancas.

    O meu livro foi escrito pela indignação que me sufoca quando passo por estes antros espalhados pelas cidades onde as infelizes do meu sexo servem de pasto à concupiscência bestial do homem.

    O meu livro foi escrito pelo horror que me causa ver as criancinhas enjeitadas pelas pobres mães que não têm coragem de enfrentar a sociedade bárbara que as querendo fazer santas, fá-las prostitutas. (VA, Ao público, p. 56)

    O tom militante, que perpassa o excerto, justifica-se pelo sentimento que dominava, não só a ela, mas a grande parte das mulheres que se sentiam no dever de conscientizar as outras. Quanta indignação deve ter sentido a sociedade de então, ao se deparar com trechos tais como:

    A mulher não pensa com a vagina nem com o útero.

    Com estes órgãos ela sente sensações agradabilíssimas, é verdade. Com estes órgãos, quando os faz funcionar, ela goza os prazeres únicos que dão forças ao indivíduo para suportar as tristezas da vida. Por meio destes órgãos ela desfalece de prazer, mas justamente porque são sede de sensações físicas, sobre eles não pode pesar lei nenhuma alheia à lei da natureza. (VA, Cap. V, p.74)

    Enfim, em decorrência das duas publicações – do ensaio (e reedições, apesar de proibido) e, após três anos, do romance –, Nogueira Cobra foi presa e torturada várias vezes durante o Estado Novo, no Rio de Janeiro, no Paraná e no Rio Grande do Sul. Segundo depoimento de parentes:

    Porque o DIP (sic) pegava não soltava mais. Ela estava desesperada. Uma vez ela tentou se matar [...] ela foi interrogada durante a noite, sempre nua, sempre muito maltratada; porque o interrogatório dela sempre girava em torno de sexo, ninguém interrogava a opinião política dela [...] só queriam saber o que ela pensava dos homens, os homens estavam muito machucados com a opinião dela [...] ela era uma ameaça tremenda [...] se ela levantasse as mulheres naquela época [...] iam derrubar o regime. (Trecho de depoimento. In: MOTT, 1986, p. 99)

    O temor, em relação à disseminação dessas ideias, não começava pela participação das mulheres diretamente no regime político; a questão era muito mais profunda e começava pela influência

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