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As Aventuras De Chicó
As Aventuras De Chicó
As Aventuras De Chicó
E-book241 páginas2 horas

As Aventuras De Chicó

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Sobre este e-book

Imagine um adolescente entediado que vive no universo dos games. Para sacudir esse garoto para a realidade dos incêndios que estão prestes a destruir sua casa, só uma aventura encantada. Calumbi é o dragão das lendas indígenas, que desperta debaixo do Morro do Camelo para convocar Chicó e seus amigos a salvar as serras da Chapada Diamantina. O livro infanto-juvenil As aventuras de Chicó – O Paredão Tapuya é um convite a encarar monstros gigantes, desvendar mistérios e desfazer a maldição que está desaparecendo as montanhas do sertão. Através desta trilha encantada, a autora Mô Moreira, que dá voz criativa à criança interior da pesquisadora-doutora Gislene Moreira, nos convida a mergulhar em narrativas ancestrais e imaginários místicos chapadeiros para discutir e apoiar a nova geração a enfrentar as mudanças climáticas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de jan. de 2024
As Aventuras De Chicó

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    As Aventuras De Chicó - Mô Moreira

    Copyright © 2024 by Gislene Moreira

    Todos os direitos reservados.

    Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

    Esta é uma obra de ficção. Embora inspirada na vida real, qualquer semelhança com nomes, pessoas ou fatos terá sido mera coincidência.

    capa: Gislene Moreira e Amanda Bignami

    ilustração de capa: Amanda Bignami

    revisão: Ananda Azevedo

    1ª edição.

    2

    3

    Índice

    Prefácio .................................................................................. 10

    Escalada ................................................................................ 14

    Guerreiro Asteca .................................................................... 16

    A chorona .............................................................................. 18

    Calumbi ................................................................................. 21

    Serpente de fogo .................................................................... 23

    Profecia .................................................................................. 25

    Desconectado ........................................................................ 30

    Medusa .................................................................................. 37

    Ouroboros .............................................................................. 39

    Incendiários ........................................................................... 41

    Janjão ..................................................................................... 44

    Nina ....................................................................................... 47

    Armadilhas ............................................................................ 50

    A trupe do circo ..................................................................... 56

    A gruta dos Guardiões ........................................................... 59

    4

    O Castelo Encantado ............................................................ 64

    Pai Inácio ............................................................................... 69

    Morcegos fantasmas .............................................................. 73

    A Grande Mãe........................................................................ 76

    Paredão Tapuya..................................................................... 82

    Jogo de cartas ........................................................................ 86

    Enrolado ................................................................................ 91

    Besouros ................................................................................ 93

    A Flor de Aragonita ............................................................... 95

    Buraco de minhoca ............................................................. 100

    A Carta do Sol ...................................................................... 104

    A tropa do bravo .................................................................. 109

    Sapitacas ............................................................................... 113

    Mar Caboclo ......................................................................... 119

    Mãe D’água ......................................................................... 120

    Abismos ............................................................................... 123

    Alienígenas?.......................................................................... 131

    Caminho das pedras ............................................................ 134

    Tremedeira .......................................................................... 137

    Despertar .............................................................................. 141

    A princesa Tapuya ............................................................... 143

    A grande batalha ................................................................. 147

    Jabuticabas .......................................................................... 149

    O diamante mágico ............................................................. 152

    Colo ...................................................................................... 156

    Encantamentos.................................................................... 160

    Game on .............................................................................. 163

    Rabiscos .............................................................................. 169

    As aventuras de Chicó

    Para Francisco e Luísa,

    Em honra e memória dos povos que honraram este chão, Pelos que ainda o pisarão.

    8

    Mô Moreira

    9

    As aventuras de Chicó

    Prefácio

    aqui

    Este livro é, antes de tudo, uma história de amor. Mas não desses açucarados e

    enjoativos. É amor de arrebatamento. Começou no dia em que meu coração

    pulou fora do peito.

    Foram quatro noites

    de trabalho de parto em casa. Na última, o médico assegurou

    que o menino nasceria sem falta. Só que as dores chegaram e nada do bebê. Desesperada, na piscina improvisada na sala, pedi para morrer. Na tentativa de me afogar em meio metro de água, Tonho me agarrou pelos cabelos:

    – Não faz isso, porque eu te amo!

    Inebriada dos hormônios da partolândia, contestei com a veemência da cientista que me incorporava:

    – O amor é uma construção social.

    Instantes depois, o amor rompeu tudo na forma de um menino lilás enforcado no cordão umbilical. Naquela hora, meu coração parou. A enfermeira, e anjo da guarda de plantão, pegou ele com toda ternura do mundo, diante dos meus olhos. Desamarrou os nós que o atavam e lhe soprou vida.

    Vi ali meu coração palpitar, batendo dentro do peito daquele troço miúdo, apartado de mim. Segurei em meus braços o milagre que chorava. Em gratidão, prometi que, a cada aniversário, retribuiria o presente celebrando os pequititicos mistérios da existência.

    10

    Mô Moreira

    Tempos depois, quando estava me acostumando a escrevinhar encantarias, o menino-milagre aprendeu a ler. Mas eu narrava histórias para gente grande, e ele reclamou. Queria ler-me. Logo ele, que me rabiscou os avessos...

    Decidi, então, solenizar nossos enredos de fantasias como forma de celebrar os 10 anos da dádiva de colocarmos nossas pedrinhas cotidianas para a construção de um amor sem prumo. Luísa botou o cimento. Rafael e Júlia ladrilharam. As crianças e amigos de Campos de São João, Lençóis e Seabra, Bocaina e Cabeceira do Utinga, e de todo canto desse Chapadão alicerçaram um querer bem que não cabe em mim. Transborda feito cachoeira.

    Seus sorrisos, sonhos e afetos se transformaram em meu Paredão Tapuya. A doçura, imaginação e alegria desses meninos e meninas são meu refúgio quando o bicho pega. E são muitos os bichos-papões à solta num tempo e território sob ataques perversos.

    Para nós, o colapso climático chegou como ameaça ao rico patrimônio biocultural que nossos ancestrais preservaram na Chapada Diamantina. O avanço da globalização verde tem despertado cobiças e conflitos, os quais acompanho de perto com o OCA – Observatório dos Conflitos Socioambientais. Nestes 10

    anos de trabalho diário com as comunidades atingidas, aprendi a ouvir a terra, as águas e o povo que grita.

    Essa é outra forma de ler este texto: - como metáfora da crise ecológica de nossos tempos, em que a natureza e vida chapadeira são protagonistas e fábula das maldições contemporâneas.

    Mas antes que a pesquisadora-chata assuma a escrita, é importante dizer que animais, fontes e montanhas, assim como as crianças são coautores dessa narrativa. Escrevi boa parte desses causos em meio a brincadeiras no mato e vivências da infância.

    11

    As aventuras de Chicó

    As histórias brotaram toda vez que fomos a um banho de rio, que segredamos um plano mirabolante, num beija-flor que nos acompanhou no embalo na rede ou suspeitamos de algum turista com cara de extraterrestre sentado ao nosso lado.

    Minha missão foi apenas desfrutar da magia e convivência e, nas madrugadas insones, espantar as preocupações e medos do futuro registrando a esperança dos pequenos que sonhavam ao meu lado.

    Desse mundo encantado, nasceu essa obra de quase-ficção. Não sei ao certo se vivi ou se sonhei cada uma dessas páginas. Se aconteceram de fato? Num sei! Só sei que foi assim... A única certeza é que a maior aventura de todas é o privilégio da maternagem e a honra da guiança de seres tão especiais.

    A força desses curumins é tão grande, que mal rabisquei o primeiro rascunho e o texto já saiu do papel e virou projeto de Educação Ambiental graças à Rede de Mulheres do Licuri. Junto com a Casa de Maria e ao Memorial Maria Emília Rodrigues Chagas, esta edição especial de lançamento se tornou realidade.

    Elas me desafiaram a testar a potência destas linhas como ponto de partida para uma trilha formativa para crianças de Campos São João/ Palmeiras/Bahia. A iniciativa me provoca a apostar no poder da imaginação e da contação de histórias como estratégia de aprendizagem, conexão e transformação da realidade em que vivo.

    Acho que não por acaso, as quebradeiras de coco batizaram estas linhas. Que você as receba com o sabor, a força e o poder dos licuris da Chapada. Que cada letra desta obra expresse a doçura, e a potência regenerativa, nutritiva e curativa dos coquinhos do sertão. Gratidão pela escolha e boa leitura!

    Vale do Cercado, 19 de março de 2024

    12

    Mô Moreira

    13

    As aventuras de Chicó

    14

    Mô Moreira

    Escalada

    O Chapadão é o lugar mais lindo do mundo, sussurrou a voz doce que acordou Chicó. Era só o vento no desfiladeiro. O alarme anunciou a alvorada às 6h da manhã, mas o sol o não apareceu para tingir o horizonte do dourado. Decepcionado, o menino observou a neblina densa que tapava tudo lá embaixo. Não se enxergava nada.

    Sem querer, derrubou uma pedra. Quando não escutou o som da queda estremeceu. A perna dormente de cãibras avisou - aquilo não era um sonho! Ainda estava pendurado a mais de 300 metros do chão. Cochilou numa fenda sem nenhum equipamento de segurança. Recapitulou a novela que o levou até ali. Se arrependimento matasse...

    Tentou farejar rastros de seus companheiros de aventura. Na imensidão daquelas serras, a pessoa vira um nada… Nem sinal de Lulinha, Janjão, muito menos Juba ou Rafa. Ninguém! Sua teimosia havia metido todos naquela enrascada. Precisava consertar o malfeito. Acariciou o amuleto que trazia no bolso.

    Engoliu a tremedeira e agarrou-se ao paredão da montanha que se erguia sobre a sua cabeça. Buscou forças onde nem sabia que tinha e subiu sua escada imaginária. Afinal, era filho do melhor escalador da Chapada!

    Mas você deve estar se perguntando sobre como um menino tão pequeno foi parar nessa aventura? Se eu te contar, você não vai acreditar. Pode ter certeza que não é conversa fiada de guia.

    Essa prosa tem muita energia positiva, meu irmão. Senta e aproveita, porque esse causo é bommm demaissss! Palavra de Joás!

    15

    As aventuras de Chicó

    Guerreiro Asteca

    Tudo começou no inverno, num dia frio desses que Chicó detestava. Até as serras enormes tinham se escondido detrás da espessa neblina e o sol preguiçoso só foi acordar depois do meio-dia. Apareceu junto com a ventania gelada que atravessou o vale revirando tudo. E pensar que, na hora que o vento soprou a copa da quaresmeira e cobriu o chão com um tapete de flores lilás, a única preocupação do garoto era com o sinal da internet...

    Era seu aniversário de 12 anos e não esperava por festas naquele fim de mundo. Mas a data era desejada porque, com essa idade, ele poderia realizar o sonho de estudar na DNA, a mais famosa e disputada escola de desenho e programação de games do mundo.

    Sem a autorização dos pais, o garoto se inscreveu no campeonato anual. Os finalistas teriam seus jogos lançados e agenciados pela maior companhia do planeta. Essa vaga tinha que ser dele!

    Mas o mau tempo não era o único que atrapalhava o sucesso do garoto. Seus pais, meio nerds e meio hippies, tentavam isolar o filho numa ilha de mato. Chicó nem tinha videogame. Inventava os próprios jogos em folhas de papel reciclado porque até o computador e o celular eram compartilhados, além de regrados. O

    sinal da internet desaparecia a cada chuvisco e quando dava o ar da graça, andava de jegue.

    Sua salvação era o vovô Buendía. Desde pequeno, quando Chicó foi visitar a família na Cidade do México, o velho engenheiro o inspirou a fazer das sucatas um parque de diversões. O abuelito introduziu o neto nas artes das gambiarras. Com tempo de sobra no meio do mato, o menino virou um prodígio. O aposentado mexicano tornou-se seu principal cúmplice virtual. No teste para a 16

    Mô Moreira

    DNA, pagou a inscrição, assinou a papelada e ainda encobriu os treinos escondidos nas madrugadas.

    Naquele dia de provas, o vovô inventou uma desculpa esfarrapada para tirar os adultos de casa. Enviou um presente de aniversário invocado, que precisou dos pais do garoto para liberação nos correios. Sem a marcação cerrada, Chicó pôde driblar a vigilância da vovó Leny, que ficou tomando conta dele e da irmã.

    Em homenagem à parceria de Dom Buendía, o menino entrou na competição com o avatar Guerreiro Asteca e botou pra quebrar. Mas a ventania teimava em atrapalhar seus planos e ele não conseguia descobrir o resultado das provas, nem saber sobre seu futuro na competição.

    17

    As aventuras de Chicó

    A chorona

    Sobrou pra Lulinha. Chicó descontou a frustração e a raiva na irmã caçula. Desde que ela nasceu, há seis anos, sobrou para o garoto a função de babá. Era uma menininha fofa, companheira e amorosa que o seguia feito carrapato e chorava por qualquer motivo.

    É certo que a pequena cresceu parceira de suas brincadeiras naquele fim de mundo, onde nem carteiro chegava. Quando ela ainda engatinhava, fazia o papel de minhoca alienígena. Estava aprendendo a andar, e já era um zumbi aterrorizante. Ela bem que se divertia com os games surreais. Só era frágil demais. Parecia que ia quebrar por qualquer coisa. Ao nascer, a primeira baforada de ar lhe feriu o pulmão com uma pneumonia. Caía a toda hora. Um chuvisco lhe dava crises de asma. Com todos os cuidados e resguardos, cresceu delicada e dengosa. Piorava porque estragava os jogos inserindo princesas e fadas nas batalhas.

    Sobrou pra ela a irritação naquele dia gelado em que tudo estava dando errado. Ele a expulsou de casa para o parquinho, de tão mal humorado que andava. A menina desapareceu por horas, tempo suficiente para que ele terminasse as provas. Mas bem no envio da última questão, Luli berrou tão alto que Chicó podia jurar que tinha sido picada de escorpião. Ia sobrar para ele. De novo!

    No susto, ele correu apressado e tropeçou em Pipoca, a cachorra molenga que só prestava para dormir detrás da porta. Encontrou a irmã no mirante e ensaiou uma nova bronca. Dessa vez, ela foi mais rápida:

    – Olha! Os guardiões trocaram de roupa!

    18

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