COQE Autoritarismo
De Vilma Rosa
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COQE Autoritarismo - Vilma Rosa
VILMA ROSA
AUTORITARISMO
Brasil • 2020
Título – Autoritarismo
Copyright © Editora Lafonte Ltda. 2020
ISBN 978-5870-018-0
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida por quaisquer meios
existentes sem autorização por escrito dos editores e detentores dos direitos.
Direção Editorial: Ethel Santaella
Organização e Revisão: Ciro Mioranza
Diagramação: Demetrios Cardozo
Imagem de capa: Art Furnace / Shutterstock
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Índice
Introdução
Auctoritas ou o conceito de autoridade
O Autoritarismo
1. O indivíduo autoritário
A personalidade autoritária
O brasileiro autoritário
2. O pensamento autoritário
As bases do pensamento autoritário
Do pensamento autoritário às práticas autoritárias
Massacre da Noruega
Manifestação Unite the Right
300 do Brasil
Uma análise dos três eventos
3. O Estado autoritário
Os tipos de Estados Autoritários
As experiências brasileiras com o autoritarismo
Era Vargas
Ditadura Militar
O retrocesso das democracias
Conclusão
Sobre o autor
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Introdução
O autoritarismo é um tema que tem ocupado cada vez mais espaço no debate político da atualidade. Na transição dos séculos XX e XXI, com a derrocada de governos ditatoriais e o fortalecimento das instituições democráticas no Brasil e no mundo, acreditava-se que o autoritarismo fosse uma questão já superada. Nos últimos tempos, no entanto, com a emergência de governos, grupos e líderes políticos, cujos discursos e práticas vieram carregados de posicionamentos autoritários, a temática do autoritarismo tem sido retomada com muita intensidade por parte das pessoas, provocando debates acalorados e trazendo muitas dúvidas acerca de seu significado. Seja no campo político, nas instituições ou no pensamento das pessoas, o autoritarismo ressurge como uma sombra assustadora. Afinal o que é o autoritarismo? Que ameaças à sociedade ele representa? Como se manifesta?
Para chegarmos às respostas para estas e muitas outras questões que surgirão ao longo da nossa jornada, é importante dizer que o autoritarismo é um conceito muito complexo e de difícil definição. Não há consenso no universo das ciências sociais para seu significado. Por esse motivo nossa caminhada deverá passar, obrigatoriamente, por uma abordagem multidisciplinar do tema. Será com o auxílio da gramática, da psicologia, da sociologia, da política e da história, que buscaremos os fundamentos para nossa análise. Com base no confronto dessas diferentes perspectivas científicas, construiremos, juntos, uma abordagem possível para a definição do termo. Abordagem essa que não tem a pretensão de encerrar o tema, mas de tentar trazer alguma luz sobre esse importante debate para os dias atuais.
Auctoritas ou o conceito de autoridade
Segundo o dicionário, o termo autoritarismo é formado pelas palavras autoritário
mais o sufixo -ismo
e significa a qualidade do que é autoritário ou um conjunto de princípios ou procedimentos autoritários. Autoritário, por sua vez, deriva do latim e é formado pela junção da palavra "auctoritas mais o sufixo
-arius". Significa algo relativo à autoridade, que se impõe por força da autoridade. Nesse ponto observamos que, para além de uma análise morfológica da palavra autoritarismo, para que possamos mergulhar no seu conceito propriamente dito, é necessário que analisemos antes a ideia de autoridade.
Autoridade é, segundo o dicionário, o direito que uma pessoa ou entidade tem, legitimada de alguma forma, de se fazer obedecer diante de outras pessoas ou outras entidades. A autoridade seria então o direito de comandar, enquanto o poder seria a força por meio da qual se pode obrigar alguém a obedecer. Um depende do outro. Em outras palavras, autoridade pode ser entendida como a expressão do poder de um (ou a minoria) sobre os outros (ou a maioria).
Podemos afirmar, por consequência, que não existiria hierarquia, se não houvesse a figura da autoridade. Praticamente todas as relações de poder são, em maior ou menor medida, relações de autoridade, desde as formas mais simples às mais complexas. Por exemplo, numa família, os pais são autoridade diante dos filhos. Numa empresa, o patrão é a autoridade diante de seus funcionários. Numa prefeitura, o prefeito é autoridade diante dos outros funcionários públicos que, por sua vez, são autoridades diante do resto da população. Ou seja, a figura da autoridade é fundamental para a organização de uma estrutura hierárquica que, por sua vez, é a base da organização social contemporânea.
Agora, o que legitima a autoridade, ou melhor, o que faz com que a autoridade seja reconhecida perante a sociedade como sendo legítima, aceitável, não necessariamente passa por um ordenamento oficial. No caso do prefeito, por exemplo, o que o legitima como sendo a autoridade máxima do município é o processo eleitoral. Ele, no caso, passou por um ordenamento oficial, legal, juridicamente comprovado. No entanto há casos em que a ascensão da autoridade está vinculada a um processo extraoficial, culturalmente construído. Por exemplo, uma benzedeira numa comunidade é uma autoridade no universo da medicina popular. Tudo o que ela faz é aceito e tudo o que ela ordena é cumprido pelas pessoas que a procuram. O que legitima seu poder de convencimento diante de sua comunidade é dado pelos saberes e fazeres que ela adquiriu de seus antepassados, transmitidos de geração em geração. Ou seja, ela não foi legalmente ordenada, como o prefeito, mas recebeu o status de autoridade com base no seu conhecimento