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Espiritismo E Autoritarismo
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E-book401 páginas5 horas

Espiritismo E Autoritarismo

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Sobre este e-book

Atualmente, muito médiuns resolveram se posicionar politicamente, depois de muitos anos de silêncio. Será que o Brasil estava muito bom antes das últimas décadas? Posicionaram-se demonizando bandeiras civilizatórias como justiça social, direitos humanos, combate a fome e à pobreza, como sendo armas ideológicas de “manipulação das massas”, silenciando a efetividade dessas propostas nos governos que eles atacaram. No lugar disso, apoiaram os lemas de “lei, ordem e progresso”, ignorando que por trás deles se ocultava a serpente do fascismo. Fizeram isso por ignorância ou convicção? Que cada um responda por si. O fato é que eles ajudaram a chocar o ovo da serpente fascista na história recente do Brasil. Este livro faz uma análise das produções desses médiuns, analisando seus argumentos e contra-argumentando. Em muitos momentos foi triste e repugnante, como no momento em que colocam o fato de ser torturado como uma manipulação vitimista para despertar comiseração e apoio de seguidores. Por essa e outras razões devemos passar a história recente do Brasil a limpo, assim como aqueles que apoiaram o que há de mais sórdido na história planetária. Devemos trabalhar para que os valores civilizatórios sejam efetivados e garantidos e que as verdadeiras armas de manipulação das massas sejam desconstruídas com argumentos sólidos e racionais.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de set. de 2023
Espiritismo E Autoritarismo

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    Espiritismo E Autoritarismo - Edomberto Freitas Alves Rodrigues

    Espiritismo e autoritarismo

    Como médiuns apoiaram o fascismo no Brasil

    Edomberto Freitas Alves Rodrigues

    Edição independente (Clube de autores)

    O autor

    Edomberto Freitas Alves Rodrigues. Formado em História pela UFMG e Filosofia pela PUC-MG. Professor de história em BH e Betim. Pesquisador de espiritualidade e filosofia. Escreveu a coleção Religare e outros livros espiritualistas. Agora ele traz uma obra refletindo sobre a relção entre política e religião, mas quando essa relação degrada para políticas perversas como o fascismo.

    Sumário

    Introdução

    Parte I

    Espiritismo e  política

    Fé no autoritarismo

    O medo do comunismo

    Parte II

    O contexto histórico

    Os governos progressistas

    A perseguição aos  governos progressistas

    Bolsonaro é fascista?

    Bolsonaro no poder

    Eleição de 2022  e a tentativa de golpe

    Parte III

    A adesão ao fascismo

    José Alencastro

    Robson Pinheiro

    Agnaldo Paviani

    Divaldo Franco

    Conclusão

    Bibliografia

    Introdução

    Atualmente, muitos médiuns resolveram se posicionar politicamente, depois de muito tempo de silêncio. Será que o Brasil estava muito bom antes das últimas décadas? Posicionaram-se demonizando bandeiras civilizatórias como justiça social, direitos humanos, combate a fome e à pobreza, como sendo armas ideológicas de manipulação das massas, silenciando a efetividade dessas propostas nos governos que eles atacaram. No lugar disso, apoiaram os lemas de lei, ordem e progresso, ignorando que por trás deles se ocultava a serpente do fascismo. Fizeram isso por ignorância ou convicção? Que cada um responda por si. O fato é que eles ajudaram a chocar o ovo da serpente fascista na história recente do Brasil. Ao fazer tal posicionamento, como muito bem disse alguns críticos, eles entraram em um dilema: ou eles são médiuns ignorantes, portanto manipulados pelas trevas, ou eles são convictamente fascistas, e estavam mascarando uma falsa retidão o tempo todo. As duas possibilidades não favorecem esses médiuns.

    A questão de aderir ao fascismo por convicção versus por ignorância é um dilema ético e político complexo que levanta preocupações profundas sobre a natureza da escolha humana e as consequências de nossas ações. Ambos os caminhos têm implicações significativas e preocupantes, mas é importante analisá-los separadamente para entender melhor suas nuances.

    Aderir ao fascismo por convicção envolve uma escolha consciente e deliberada de abraçar uma ideologia que promove valores autoritários, nacionalistas e muitas vezes discriminatórios. Isso significa que a pessoa está ciente das ideias e princípios do fascismo e escolhe aderir a eles voluntariamente. Nesse caso, a responsabilidade moral recai diretamente sobre o indivíduo, que opta por endossar uma ideologia que frequentemente resulta em opressão, violência e restrição das liberdades individuais. A adesão consciente ao fascismo reflete a adesão a ideias que negam a igualdade, a justiça e a diversidade, o que pode ser considerado moralmente repreensível.

    Por outro lado, aderir ao fascismo por ignorância pode ser igualmente prejudicial, mas a responsabilidade moral pode ser menos direta. A ignorância em relação ao fascismo pode resultar de uma falta de acesso à informação, doutrinação desde cedo, ou mesmo desinformação deliberada. Em tais casos, as pessoas podem aderir ao fascismo sem compreender plenamente suas implicações e consequências, o que torna a situação mais complexa. Embora a responsabilidade moral ainda recaia sobre o indivíduo, essa pessoa pode ser vista como uma vítima da manipulação ideológica ou da falta de educação. No entanto, isso não isenta a sociedade de responsabilidade por não fornecer educação adequada ou combater ativamente a disseminação de ideologias perigosas.

    A escolha entre aderir ao fascismo por convicção ou ignorância é uma escolha que coloca em risco a estabilidade das sociedades e a coexistência pacífica das pessoas. Ambas as abordagens são preocupantes, pois o fascismo historicamente demonstrou ser prejudicial para a humanidade. No entanto, abordar o problema da adesão ao fascismo requer uma abordagem multifacetada, que inclui educação, diálogo, conscientização e medidas preventivas para evitar que as pessoas sejam atraídas por essa ideologia.

    Em última análise, não importa se alguém adere ao fascismo por convicção ou ignorância, a sociedade deve se esforçar para combater essa ideologia e proteger os valores fundamentais da democracia, da igualdade e dos direitos humanos. A prevenção e a educação desempenham um papel crucial nesse esforço, com o objetivo de garantir que as futuras gerações estejam armadas com o conhecimento e a compreensão necessários para rejeitar ideologias extremistas e promover sociedades mais justas e inclusivas.

    Esse livro faz uma análise das produções dos médiuns fascistas, analisando seus argumentos e contra-argumentando. Em muitos momentos foi triste e repugnante, como no momento em que colocam o fato de ser torturado como uma manipulação vitimista para despertar comiseração e apoio de seguidores. Por essa e outras razões devemos passar a história recente do Brasil a limpo, assim como aqueles que apoiaram o que há de mais sórdido na história planetária. Devemos trabalhar para que os valores civilizatórios sejam efetivados e garantidos e que as verdadeiras armas de manipulação das massas sejam desconstruídas com argumentos sólidos e racionais.

    Dividi esta obra em três partes. Na primeira, faço uma análise da relação entre doutrina espírita e política, que, para muitos, nunca deveria existir explicitamente. Temos uma psicografia de Waldo Vieira do espírito André Luiz, condenando a adesão pública de espíritas a determinados políticos. Como o homem é um animal político, parafraseando Aristóteles, podemos dizer que não dá para dissociar o homem político do homem religioso. O que se pode fazer é apenas silenciar a manifestação dos seus pensamentos, mas o fato é que eles estarão ali, influenciando seus valores, sua conduta, sua vida. Nessa parte, analisamos como, quando houve adesão explícita, muitas vezes isso se fez por um apoio ao autoritarismo da ditadura militar e ao fascismo.

    Na segunda parte, analisamos o contexto histórico em que se deu a adesão perversa ao fascismo. Veremos, nesta parte, como a imprensa demonizou a esquerda no Brasil, criando as narrativas ideais para os médiuns fascistas psicografarem seus livros. Se o leitor assim desejar, ele poderá partir logo para a parte III, na qual analiso especificamente alguns dos médiuns que adotaram o fascismo em suas obras e falas.

    Finalmente, na última parte III, analisamos as obras e as ideias de alguns médiuns. Foram muitos que percorreram esse caminho, mas aqui me ative a alguns que eu acompanhava antes de se posicionarem politicamente. Falo sobre minha perplexidade com alguns, já com outros, bem que eu já poderia imaginar, por trazerem em suas narrativas e psicografias traços de uma lida com os espíritos que pautava pela pedagogia da violência.

    Acho muito difícil que esta obra alcance os espíritas radicais, provavelmente serão refratários e taxarão essa obra de inspirada pelas trevas, no entanto, acredito que esse mesmo rótulo se aplica a eles. Contudo, podemos analisar pelos argumentos e valores que se escondem por trás das narrativas. Se esses valores forem perversos, a inspiração só pode ser perversa. Um argumento muito utilizado por eles é que valores positivos de direitos humanos e justiça social podem ser usados para mascarar um luta de poder pelo poder, mas eles não analisam se a efetividade dessas propostas pelos governantes que defendem esses valores não inviabilizaria o argumento deles. A hipocrisia se define por um não cumprimento de promessas, mas e se as promessas foram cumpridas na medida do possível? Ainda seria demagogia?

    Esta obra, por outro lado, se destina aos espíritas progressistas, que acreditam que é possível se posicionar a favor de governos que se aliem com a justiça social, igualdade social e direitos humanos, e recusem qualquer outra forma de governo que queira relativizar esses valores. Acredito que essa obra é uma contribuição humilde para repensarmos os rumos que o Brasil tomará no futuro: de ser um legítimo representante dos valores humanistas, ou de ser um fantoche do fascismo.

    Parte I

    Espiritismo e

    política

    1

    Fé no autoritarismo

    Arelação entre religião e política tem sido objeto de debate e controvérsia ao longo da história, com argumentos a favor e contra a participação ativa de líderes religiosos e instituições religiosas na esfera política. Uma indicação frequentemente apontada é a necessidade de que a religião não se envolva diretamente na política e que os religiosos devam estar isentos dessa influência. Essa perspectiva é fundamentada em princípios de secularismo, separação entre igreja e estado e na busca pela justiça e igualdade em sociedades pluralistas.

    A noção de que a religião não deve se envolver com política é muitas vezes baseada em princípios fundamentais do secularismo, que preconizam a separação entre assuntos religiosos e governamentais. O secularismo busca garantir que as decisões políticas sejam tomadas com base na razão, na justiça e na igualdade, em vez de serem influenciadas por crenças religiosas específicas. Isso é essencial em sociedades democráticas e pluralistas, onde uma ampla variedade de crenças religiosas e não religiosas coexistem.

    Além disso, a mistura entre religião e política pode criar divisões e conflitos desnecessários. Quando líderes religiosos ou instituições religiosas tentam impor suas crenças sobre questões políticas, isso pode gerar tensões e exclusões, uma vez que nem todos compartilham as mesmas convicções religiosas. A política deve ser um espaço inclusivo, onde diferentes pontos de vista são considerados e respeitados.

    Outro ponto importante a considerar é a necessidade de proteger a liberdade religiosa e a autonomia das instituições religiosas. Quando a religião se envolve demais na política, há o risco de que as crenças e práticas religiosas sejam instrumentalizadas para fins políticos, comprometendo a pureza das motivações religiosas e criando desconfiança. A isenção dos religiosos da política ajuda a proteger a integridade das crenças religiosas e a evitar o uso indevido da religião para ganhos políticos.

    No entanto, é importante ressaltar que a indicação de que a religião não deve se envolver com política não implica que os religiosos não possam ter voz ou participar da vida pública. Eles têm o direito e a responsabilidade de contribuir para o debate público, trazendo perspectivas éticas e morais para questões políticas. Porém, essa participação deve ocorrer em conformidade com os princípios democráticos, respeitando a diversidade de opiniões e evitando a imposição de crenças religiosas sobre a sociedade como um todo.

    Portanto, a indicação de que a religião não deve se envolver diretamente na política e que os religiosos devem estar isentos dessa influência é fundamentada em princípios de secularismo, separação entre igreja e estado e na busca por sociedades justas e inclusivas. Isso não significa que os religiosos não tenham o direito de participar da vida pública, mas sim que essa participação deve ser feita com respeito à diversidade de opiniões e dentro dos limites da democracia e do Estado de direito. Essa abordagem ajuda a promover sociedades mais harmoniosas e democráticas, onde todos os cidadãos têm a oportunidade de contribuir para o bem comum.

    Por outro lado, Gandhi e Martin Luther King Jr. são figuras icônicas da história que demonstraram de maneira notável como a religião pode ser integrada à política de maneira não dissociada. Embora suas respectivas lutas tenham se desenrolado em contextos diferentes e envolvido desafios únicos, ambos compartilharam uma abordagem marcante que foi fortemente influenciada por suas crenças religiosas e morais.

    Gandhi, um líder indiano que buscava a independência da Índia do domínio colonial britânico, era um hindu devoto. Sua fé estava enraizada no princípio de ahimsa ou não violência, um conceito fundamental do hinduísmo. Gandhi acreditava que a não violência era a maneira mais poderosa e moral de resistir à injustiça e à opressão. Ele desenvolveu a filosofia de Satyagraha, que enfatizava a resistência pacífica e a busca da verdade. Assim, ele não apenas pregava a não violência, mas também a praticava em suas campanhas e movimentos.

    Por sua vez, Martin Luther King Jr., um pastor batista afro-americano, liderou o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos. King fundiu suas crenças religiosas cristãs com os princípios de justiça e igualdade. Ele estava profundamente inspirado pela mensagem de amor e não resistência ao mal de Jesus Cristo. Isso se refletia em seus discursos e escritos, que frequentemente faziam referência à Bíblia e à ética cristã. King acreditava que a não violência era o caminho certo para lutar contra a segregação racial e alcançar a igualdade de direitos para os afro-americanos.

    Ambos os líderes eram vistos como figuras morais e inspiradoras em suas respectivas comunidades e além delas. Sua fé religiosa não apenas os impulsionou, mas também atraiu seguidores que compartilhavam de sua visão de justiça e igualdade. Eles buscaram unir pessoas de todas as crenças religiosas e origens em suas lutas, promovendo a ideia de que a dignidade humana e a justiça transcendem barreiras religiosas e culturais.

    Em suma, Gandhi e Martin Luther King Jr. demonstraram como a religião pode ser um motivador poderoso na política quando incorporada de maneira ética e pacífica. Suas crenças religiosas não apenas moldaram suas estratégias de resistência, mas também inspiraram movimentos e gerações de pessoas em busca de justiça social e igualdade de direitos.

    Durante muito tempo, desde que eu conheci a doutrina espírita em 1996, ouvia dizer que o melhor para a doutrina espírita era que os espíritas não entrassem em questões políticas, pois isso seria o início do fim. A política seria algo a não ser debatido, considerado, e sem posicionamentos. Muitos citavam as orientações de André Luiz no livro A Conduta espírita[1], que transcrevo a seguir:

    Situar em posição clara e definida as aspirações sociais e os ideais espíritas cristãos, sem confundir os interesses de César com os deveres para com o Senhor. Só o Espírito possui eternidade.

    Distanciar-se do partidarismo extremado. Paixão em campo, sombra em torno.

    Em nenhuma oportunidade, transformar a tribuna espírita em palanque de propaganda política, nem mesmo com sutilezas comovedoras em nome da caridade. O despistamento favorece a dominação do mal.

    Cumprir os deveres de cidadão e eleitor, escolhendo os candidatos aos postos eletivos, segundo os ditames da própria consciência, sem, contudo, enlear-se nas malhas do fanatismo de grei. O discernimento é caminho para o acerto.

    Repelir acordos políticos que, com o empenho da consciência individual, pretextem defender os princípios doutrinários ou aliciar prestígio social para a Doutrina, em troca de votos ou solidariedade a partidos e candidatos. O Espiritismo não pactua com interesses puramente terrenos.

    Não comerciar com o voto dos companheiros de Ideal, sobre quem a sua palavra ou cooperação possam exercer alguma influência. A fé nunca será produto para o mercado humano.

    Por nenhum pretexto, condenar aqueles que se acham investidos com responsabilidades administrativas de interesse público, mas sim orar em favor deles, a fim de que se desincumbam satisfatoriamente dos compromissos assumidos. Para que o bem se faça, é preciso que o auxílio da prece se contraponha ao látego da crítica.

    Impedir palestras e discussões de ordem política nas sedes das instituições doutrinárias, não olvidando que o serviço de evangelização é tarefa essencial. A rigor, não há representantes oficiais do Espiritismo em setor algum da política humana.

    Jesus asseverou: Nenhum servo pode servir a dois senhores![2].

    Esses são os conselhos de André Luiz. Com base neles, diziam então, que o melhor é que o espírita e os centros não fizessem declarações políticas explícitas, sob pena de ter as sombras espreitando para fazer cair todos nas paixões desenfreadas. No entanto, o próprio Chico Xavier não seguiu esses conselhos, e não só psicografou, mas também fez declarações explícitas sobre política. Declarações lastimáveis para o âmbito dos Direitos Humanos e para a democracia, como veremos.

    Vamos ver como isso se deu. No livro Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho[3], Chico psicografa Humberto de Campos:

    Nesta época de confusão e amargura, quando, com as mais justas razões, se tem, por toda parte, a triste organização do homem econômico da filosofia marxista, que vem destruir todo o patrimônio de tradições dos que lutaram e sofreram no pretérito da Humanidade, as medidas de repressão e de segurança devem ser tomadas a bem das coletividades e das instituições, a fim de que uma onda inconsciente de destruição e morticínio não elimine o altar de esperanças da pátria. Que o capitalismo, visando à própria tranquilidade coletiva, seja chamado pelas administrações ao debate, a incentivar com os seus largos recursos a campanha do livro, do saneamento e do trabalho, em favor da concórdia universal.

    O texto inicia criticando a filosofia marxista sem oferecer fundamentação específica para essa crítica, deixando-a vaga e sem evidências concretas. A afirmação de que a filosofia marxista destrói tradições e valores precisa ser sustentada com exemplos ou argumentos sólidos para que seja convincente.

    Em seguida, o autor argumenta que medidas de repressão e segurança são necessárias para evitar uma suposta onda inconsciente de destruição e morticínio. No entanto, o texto não esclarece que tipo de medidas seriam essas, levantando questões sobre sua compatibilidade com princípios democráticos e de direitos humanos. A relação entre essa chamada à repressão e a crítica à filosofia marxista também não fica clara.

    Além disso, o autor faz um apelo ao capitalismo, sugerindo que ele deve ser chamado pelas administrações para apoiar a campanha do livro, do saneamento e do trabalho em prol da concórdia universal. Isso parece contradizer a crítica anterior à filosofia marxista, uma vez que o marxismo muitas vezes critica o capitalismo. A ideia de chamar o capitalismo para apoiar o bem-estar social levanta a questão de se isso está sendo proposto em função do interesse próprio do capitalismo, em vez de uma preocupação genuína com a concórdia universal.

    Um problema fundamental no texto é a falta de fundamentação sólida. Não são fornecidos dados concretos ou exemplos para respaldar as críticas e propostas apresentadas. Além disso, a linguagem vaga e emotiva do texto sugere uma tentativa de manipular a emoção do leitor, em vez de apresentar um argumento baseado na lógica e na evidência.

    Então, o texto apresenta uma série de afirmações e propostas que carecem de uma base sólida e podem conter contradições e sofismas. Ele aborda questões complexas de filosofia política e economia de maneira simplista e emotiva, o que torna difícil a compreensão e a avaliação adequadas dos argumentos apresentados.

    No entanto, temos um claro posicionamento contra o socialismo marxista e a favor do capitalismo. O que se diz desse último oculta todo o mal que esse sistema tem feito para a humanidade e para a natureza. O capitalismo, por visar o lucro, procura incentivar um consumismo irresponsável e destruidor da natureza. Não importa se tudo será destruído, contanto que alguns poucos ganhem rios de dinheiro, enquanto vão assistindo o planeta se tornar cada vez mais inabitável para a vida. No tempo que Chico psicografou, o aquecimento global não estava em pauta. Então, Humberto de Campos fala sob a ótica de seu tempo. No entanto, esperamos sempre que os espíritos falem além do seu tempo, uma vez que falam de uma perspectiva privilegiada.

    Por outro lado, Marx já havia denunciado a exploração do trabalhador pelo capitalismo. A sociedade capitalista está embasada na exploração e na ampliação da desigualdade social, onde o trabalhador garante a riqueza e o luxo de poucos capitalistas. Não importa o quanto o capitalismo tenha produzido miséria, fome, guerras e morte no mundo todo, para Humberto de Campos, será ele que trará a concórdia e a tranquilidade coletiva. Se olharmos para os fatos, nada mais falacioso do que isso.

    No entanto, podemos entender o receio do referido autor do livro acima citado com o socialismo. Não podemos negar que a Revolução Socialista de 1917, na Rússia, foi feita através de muita violência, e deu margem para surgir o autoritarismo da extrema esquerda. Infelizmente, a violência que o capitalismo produz não fica clara para nós, de que ele seja o seu autor. O Isentamos por desconhecimento e falta de formação intelectual. Acreditamos que vivemos no melhor dos mundos possíveis, e que o capitalismo é inocente, ou pior, inofensivo e meritocrático, portanto, justo e desejável.

    Humberto de Campos acerta quando diz que devemos chamá-lo para o debate. Mas, o debate não é desejado pelos donos do poder, que ocultam a perversidade capitalista através dos mecanismos da imprensa, que está nas mãos dos financistas que formam a opinião pública. Então, o debate, que levaria as pessoas a pensarem sobre as vantagens e desvantagens do capitalismo, assim como a procurar formas alternativas para esse sistema, que seja mais justo e menos perverso, não é considerado. A grande massa acrítica que se forma sempre legitimará a exploração a que está submetida, por que é levada a acreditar que sua condição miserável é culpa delas mesmas, que seriam incompetentes e preguiçosas.

    Assim, Humberto de Campos chega ao ponto mais triste de suas considerações ao dizer as medidas de repressão e de segurança devem ser tomadas a bem das coletividades e das instituições. Como seria isso? Para impedir que o marxismo leve os homens ao questionamento e à crítica do capitalismo, medidas de repressão devem ser tomadas? Infelizmente, foi isso que aconteceu no Brasil com a Ditadura Militar. Para Humberto de Campos, a violência se justifica, quando está em jogo a violência marxista. Deveria se opor então, a violência dos militares contra a violência dos marxistas, uma é legitimada, a outra, deslegitimada. Os fins justificariam os meios, mesmo que os meios sejam desumanos e anticristãos.

    E o médium Chico psicografava exatamente como pensava. No programa Pinga Fogo, exibido em 1971[4], Chico responde à pergunta sobre o que os benfeitores pensavam do momento atual do Brasil, seja no terreno político, seja no social:

    RESPOSTA DE CHICO: (...) vamos respondendo com muito respeito, segundo o que temos ouvido dos nossos benfeitores espirituais (...) sem qualquer expressão eufemística, declaremos que a posição atual do Brasil é das mais dignas e das mais encorajadoras para nós, porque a nossa democracia está guardada por forças que nos defendem contra a intromissão de quaisquer ideologias vinculadas à desagregação. Precisamos qualificar a posição atual daqueles que atualmente nos governam, que vigiam sobre os nossos destinos. A oração e a vigilância protagonizadas por nosso senhor Jesus cristo se estampa com muita clareza em nosso governo atual. (...) Vamos dizer com os nossos benfeitores espirituais, que devemos orar muito e pedir muito a Deus, e unir os nossos pensamentos para que a união seja levada dentro das nossas forças armadas. Para que nós tenhamos o direito de olhar, isto é, discursar, permutar livremente os nossos pontos de vista, dar os nossos pareceres, emitir as nossas opiniões em matéria de vivência particular e coletiva. Portanto, com todo o respeito e sem nenhuma ideia de bajulação, falo pessoalmente de minhas pequeninas confabulações, qual os espíritos amigos, e profundamente amigos do Brasil, que estão em nosso senhor Jesus Cristo, de que nós devemos pedir para que tenhamos a custódia das forças armadas, até que possamos encontrar um caminho em que elas continuem nos auxiliando como sempre, para que nós não venhamos a descambar para qualquer desfiladeiro de desordem. Nós não podemos ignorar, muitas vezes, abramos um parêntesis, muitas vezes, muitos de nós acreditamos que as forças armadas devem apenas funcionar nas ocasiões de beligerância, nessas ocasiões de guerra. Diante todo mundo se viu, na verdade, que espiritualmente nós estamos em grande conflito. Nós estamos em grande conflito com ideias que, trazidas ao nosso meio pelas comunicações de massa, pelas imposições do nosso tempo, em que o problema de massas tem de ser considerado. Nós precisamos resguardar o nosso coração para que essas ideias não se infiltrem em nossa vida pública, em nossa vida coletiva. Para que não venhamos a perder o dom da liberdade e em Jesus Cristo. Nós sabemos que a persuasão química, a própria chamada felicidade química, podem ser trazidas ao nosso povo através de governos que possamos aceitar com vigilância. Essas ocorrências eliminariam de nossa vida a nossa possibilidade de viver como povo livre. Essas ocorrências terminariam com a nossa resistência psicológica e acabaríamos num povo, talvez, fantoche. Vamos agradecer a situação atual do Brasil, porque o Brasil desfruta de ordem, o Brasil está sob o império da lei e se a Terra está equilibrada no canto cósmico é porque a Terra obedece a leis. Se o homem está agora deslanchando para outros mundos, através do nosso satélite, não foi desordenadamente que nossos grandes astronautas conseguiram semelhante realização. Eles atenderam a leis, obedeceram à lei. Os foguetes da astronáutica obedecem a leis, nós estamos sob o império da lei, e devemos ser gratos a todos e cooperar para que não venhamos a perder a ordem, porque a ordem é como a luz do sol. De recebermos tanto a luz do sol, nós muitas vezes nos esquecemos de agradecer este dom da providência divina. Muitas vezes só compreendemos a ordem, quando a desordem aparece. Nós, como brasileiros, não devemos proceder em modo de sensatez, reverenciemos aqueles que estão guardando o sentido da ordem em nosso país e fazendo com que cada um de nós possa desfrutar deste benefício da ordem em nossa vida particular, em nossos lares, filhos, grupos sociais, em nossas empresas de trabalho. Dentro da verdade que estamos disputando, porque só não estamos respeitando uma espécie de liberdade: aquela liberdade de prejudicar a comunidade. Nós estamos no tempo das massas, e não devemos prejudicar a ninguém, muito menos a coletividade.

    Essa fala do Chico em questão apresenta uma série de contradições e falácias em sua argumentação. Começa elogiando a situação atual do Brasil, destacando a proteção da democracia e a influência de benfeitores espirituais. No entanto, logo em seguida, o médium menciona a necessidade de manter as forças armadas na custódia, o que mostra apreço pela ditadura e falta de confiança nas instituições democráticas.

    Há também uma falácia na relação proposta entre as forças armadas e a democracia. Chico sugere que as forças armadas devem controlar a democracia para preservá-la, o que vai contra o princípio democrático fundamental de submissão das forças armadas ao poder civil.

    Além disso, a fala contém generalizações apressadas, como afirmar que o Brasil desfruta de ordem e está sob o império da lei, sem fornecer evidências ou exemplos que respaldem essas declarações. Isso simplifica demais a realidade complexa do país, ignorando possíveis exceções e problemas reais.

    Chico também introduz um paradoxo ao falar sobre liberdade. Enquanto defende a ordem, ele associa a liberdade à ideia de não prejudicar a comunidade, o que levanta questões sobre o quanto a liberdade individual é valorizada quando sujeita a restrições tão amplas em nome da ordem.

    Além disso, Chico faz uso de uma argumentação emocional e religiosa, apelando à figura de Jesus Cristo e fazendo apelos à gratidão e reverência. Isso pode ser interpretado como uma tentativa de influenciar emocionalmente o ouvinte em vez de apresentar argumentos racionais e lógicos.

    Portanto, a fala carece de uma base lógica sólida, apresentando contradições, falácias e paradoxos. Mistura elementos religiosos com políticos de maneira complexa e não fornece uma análise coerente das questões políticas e sociais que aborda.

    Assim, a resposta do Chico é paradoxal. Ele fala em garantir a nossa liberdade, mas estava em uma ditadura. Fala que a nossa democracia estava salva, mas vivia em um regime autoritário, que perseguia todos os críticos do sistema, ou meramente classificado como suspeitos e perigosos, por serem contra a ditadura. Chico também transparece o medo de uma ditadura comunista, assim como Humberto de Campos. Para o problema da ditadura comunista, o remédio desejável para ele seria a ditadura militar. No entanto, porque uma ditadura seria preferível à outra? A lei que o Chico defende como

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