Um Panorama sobre a Implementação do Ensino de Música no Instituto Federal Baiano: Diversidade e Riqueza Cultural em Diferentes Campi

De Moisés Silva Mendes, Quedma Rocha Cristal e Décio Pereira Silva Júnior

A publicação Um panorama sobre a implementação do ensino de música no Instituto Federal Baiano: diversidade e riqueza cultural em diferentes campi, apresenta sete diferentes relatos sobre a experiência de educadores musicais, que têm desenvolvido atividades de ensino, prática e criação em música nos campi do Instituto Federal Baiano. A coletânea descreve experiências como a de Alagoinhas, que destaca a relação entre o gosto musical dos discentes e a riqueza cultural, oriunda do repertório musical. Menciona a criação e o desenvolvimento de cursos de formação em música utilizando o canto coral, prática de conjunto instrumental e a flauta doce no campus Bom Jesus da Lapa. Traz a riqueza de um memorial afetivo, composto por duas experiências ocorridas em bandas de música em instituições de ensino. Uma relatando experiência pelo ângulo do discente e outra pela visão do docente, mencionando a descrição do processo de iniciação do projeto de banda no campus Catu, mostrando os resultados no âmbito cognitivo, musical, afetivo, psicológico e social, alcançados pelos participantes do projeto. Também se encontra discussões sobre o papel limitador dos corpos – imposto pelo tradicional modelo da escola formal, ainda em voga –, bem como, inquietações sobre como, as possibilidades do desenvolvimento de uma educação através do sensível poderiam vir a contribuir para a emancipação do corpo pelas práticas da música e da dança. De Senhor do Bonfim foram descritos os processos de ensino de música por meio do ensino coletivo de percussão, desenvolvidos em Curso Formação Inicial e Continuada de música. As contribuições do campus Serrinha revelaram a relevância do desenvolvimento de formações musicais para docentes de outras áreas do ensino e da comunidade externa. De Teixeira de Freitas foram mencionadas a importância dos processos de formação e práticas musicais relacionadas ao ensino escolar com a música afro-indígena. Citam-se possibilidades de aprendizagem por meio da utilização de sonoridades da floresta e de espaços quilombolas, ambas adaptadas ao espaço da sala de aula. Assim, esta coletânea é uma fonte para o conhecimento do ensino de música no IF Baiano e a ampliação da oferta do ensino para a comunidade externa.

• Idioma: Português
• Editora: Editora Appris
• Data de lançamento: 8 de mai. de 2024
• ISBN: 9786525036366

Pré-visualização do livro

INTRODUÇÃO

Este e-book tem por objetivo expor um panorama sobre a implementação do ensino de música no Instituto Federal Baiano (em diante, IF Baiano). Compõem a obra relatos de experiências de atividades de ensino e prática musical, em sete campi, entre os quais estão Alagoinhas, Bom Jesus da Lapa, Catu, Itaberaba, Senhor do Bonfim, Serrinha e Teixeira de Freitas. A publicação é um registro inicial, resultante da atuação de educadores musicais que ingressaram no IF Baiano, no ano de 2018, por meio de um certame realizado pela instituição, em 2017. Assim, a obra é formada por textos independentes, que são relatos desenvolvidos individual, em outros casos, coletivamente, tendo por autoria o(a) professor(a) de música dos campi listados, docentes de outras instituições e discentes do IF Baiano. O leitor perceberá a diversidade das práticas musicais aqui registradas, algo que se justifica, por conta da formação de cada educador musical ou pelas especificidades de cada campus.

A ideia da coletânea surgiu da necessidade de divulgar as atividades que tais educadores vêm desenvolvendo, de forma individual, em cada unidade, apesar de atuarem numa mesma instituição. É importante ressaltar que, até o momento, o IF Baiano não dispõe de uma política educacional norteadora para o desenvolvimento do ensino de música na instituição, porém a abertura de concurso e a efetivação dos docentes de música pode ser interpretada como uma tentativa de implementação de atividades musicais nas áreas de ensino do Instituto, ou mesmo a ampliação da oferta de atividades artístico-culturais na instituição.

Apesar dos docentes de música do IF Baiano estarem atuando numa instituição de ensino com características eminentemente agrárias, em todos os relatos é possível perceber que tais professores têm encontrado apoio do corpo diretivo dos campi onde atuam, sobretudo, após o alcance e demonstração de resultados das suas práticas pedagógico-musicais, por meio da criação de grupos musicais, realização de apresentações musicais em eventos internos e externos, desenvolvimento de projetos culturais educacionais, entre outros. Entende-se que os resultados dessas práticas impactam nos processos educacionais e formativos realizados na instituição, ampliando o escopo de uma formação mais humana e social, balizada nas políticas educacionais do IF Baiano.

É importante ressaltar que o grupo dos professores de música vem se articulando e dialogando continuamente sobre possibilidades de melhoria das suas condições de trabalho, além de discutirem questões como a participação em eventos acadêmicos, criação e oferta de cursos livres de música, possibilidades de inserção da música como disciplina obrigatória nos PPC dos campi em que atuam, entre outras. Um dos resultados desse processo foi a criação do grupo de pesquisa, intitulado Núcleo de Pesquisa em Música e Educação (NUPEME/IF Baiano), registrado no CNPQ, que tem funcionado ativamente desde o primeiro semestre de 2021. Tal iniciativa tem proporcionado reflexões sobre autores, fundamentos da educação musical contemporânea, prática docente do professor de música nas instituições de ensino técnico, entre outros conteúdos.

Sobre a disposição dos textos desta coletânea, o critério utilizado foi a classificação por ordem alfabética. Do campus Alagoinhas, o professor Amós Oliveira contribuiu com o artigo que tem como objetivo discutir a prática pedagógica que buscou estabelecer pontes entre o planejamento de ensino e o gosto e vivências musicais estudantis de jovens no ensino médio. Sob a ótica de Luckesi (2008) e Hoffman (2014), foram desenvolvidas reflexões sobre a importância da prática docente reflexiva no ensino de música, com o intuito de compreender a complexidade que há entre educação musical, processos avaliativos, jovens e ensino médio. No percurso, apresentou-se a construção do plano de ensino a partir de um questionário diagnóstico de gostos musicais dos estudantes.

As atividades que ocorreram ao longo do período letivo, bem como os seus processos avaliativos, foram aliadas a reflexões de Swanwick (2003), Braga e Tourinho (2013) e França (2007). Como resultado, foi possível expor alguns dos desafios relacionados à educação musical na escola regular, os quais estão atrelados à relação entre o ensino e a realidade de vida do educando, além de realizar aproximações sobre o gosto musical com o currículo, com a finalidade de fazer com que o estudante se reconhecesse no espaço escolar, entendendo que os seus gostos também representam algum tipo de fazer musical profundo, complexo em suas diversas dimensões – sejam essas estéticas, sociais, culturais.

Sobre o trabalho desenvolvido no campus Bom Jesus da Lapa, capitaneado pelo professor Moisés Mendes, foi descrito o processo de criação e desenvolvimento de três cursos de formação inicial e continuada, entre os quais estão Curso de canto coral, Curso de flauta doce avançado e Curso de prática de conjunto instrumental e formação musical. Tais atividades têm proporcionado o desenvolvimento do ensino e da prática musical, ampliando a integração da comunidade do campus e também o aumento da oferta de atividades de extensão do IF Baiano com as comunidades lapense e circunvizinhas.

Essa produção também menciona informações sobre o contexto cultural de Bom Jesus da Lapa, informando a atuação de artistas locais. A exemplo, Paulo Araújo, compositor, cantor e músico executante, que possui produção musical relevante na região, difundida nacionalmente, com canções que integram a trilha sonora de novelas televisivas entre outras atuações. Também foram mencionados o processo de desenvolvimento do ensino dos cursos FIC de música, bem como os resultados alcançados, como a descrição de apresentações internas e externas, realizadas pelo coral Encanto baiano e o grupo de prática de conjunto instrumental.

Do campus Catu e de autoria do professor Fernando Martins, integra essa coletânea um capítulo que perfaz um memorial afetivo, composto por duas experiências ocorridas em momentos temporais diferentes, entretanto ambas em bandas de música em instituições de ensino. Uma das experiências é um relato do professor mencionado, quando era aluno, no período da sua adolescência, e integrava como músico a banda da escola, no período do ensino médio, pelos idos dos anos 1990.

A segunda, enquanto professor de música licenciado, Martins descreveu o processo de iniciação do projeto de banda no Campus Catu do IF Baiano, semelhantemente ao que ele havia estudado, porém sem prévias atividades musicais e com todos os desafios pertinentes ao período de concepção de um grupo musical. O autor informa os aspectos em comum entre as situações vividas, mencionando que, além do fato de ambas terem acontecido em bandas de música, percebeu-se que as atividades musicais experimentadas naquele locus são significativas e propícias ao desenvolvimento dos diversos campos de formação dos participantes, a saber: o cognitivo, o musical, o afetivo, o psicológico e o social.

Do campus Itaberaba, integra essa coletânea um capítulo que tem por autoria a professora Tícia Viviani (docente do IF Baiano), contando com a coautoria de Alberto Baratinga (UNEB), Rita Macedo (discente do IF Baiano) e Fernanda Machado (discente do IF Baiano). Com o objetivo de realizar uma discussão sobre a prática da arte-educação enquanto instrumento de sensibilização e motivação para a cidadania, o artigo do campus Itaberaba pretendeu buscar a compreensão sobre corpo/mente como unidade no processo de construção do conhecimento.

Para tanto, foram discutidos o papel limitador dos corpos – imposto pelo tradicional modelo da escola formal, ainda em voga – e também como o desenvolvimento de uma educação através do sensível poderia vir a contribuir para o corpo emancipado pelas práticas da música e da dança. Os autores destacam que a arte é capaz, em seu sentido mais amplo, de transformar e de dar sentidos à existência humana. Por ela, os jovens podem conquistar uma ampliação do seu repertório de conhecimentos e significados. Por meio dela, pode-se empreender a aventura do conhecimento para além do quadrado das salas de aula. E, para além disso, foram utilizados processos criativos em arte, que consideraram o empreender, com o intuito de propor mudanças no mundo.

O artigo do campus Senhor do Bonfim tem como autor o professor Décio Pereira Júnior, que contribuiu descrevendo o processo de ensino de música por meio do ensino coletivo de violão. Tal processo foi desenvolvido por meio do curso de formação inicial e continuada de música. Entre os objetivos do capítulo foram apresentados autores que referenciam o ensino coletivo de instrumentos musicais, bem como pretendeu-se responder à questão: Como promover o ensino de música com violão à comunidade do território de Senhor do Bonfim, envolvendo a prática instrumental coletiva de violão, além de outras atividades musicais básicas?. Foram mencionados resultados significativos quanto às competências educacionais desejadas após a aplicação do plano de curso, que levou em consideração as vivências dos educandos, as orientações norteadoras presentes nos documentos oficiais e a realização de variadas atividades musicais.

O campus Serrinha contribuiu apresentando um capítulo, de autoria do professor Eudes Cunha, em coautoria com Alícia Gomes e Ruan Oliveira. Nesse paper são descritas experiências de formação docente em música, a partir de um curso de extensão ofertado no IF Baiano. Tal curso teve o objetivo de proporcionar formação musical para professores que atuam em escolas públicas e para estudantes de cursos das diversas licenciaturas no território do sisal, com finalidade de contribuir para a inserção dos conteúdos de música em escolas da educação básica. O programa teve a duração de um semestre, totalizou cinquenta horas e foi estruturado em dois módulos: (I) Processos e práticas de musicalização e (II) Aprendizagem de instrumento musical – flauta doce. As experiências formativas em educação musical foram conduzidas por meio de vivências musicais, leituras, debates e aprendizagem da flauta doce.

Entre os resultados, se verificou que a formação proporcionou conhecimentos sobre metodologias ativas de ensino de música e estimulou a elaboração de atividades pedagógicas voltadas para as práticas de apreciação, execução e criação em música. Observou-se também que os doze cursistas realizaram leituras e reflexões sobre a música nos diversos contextos socioculturais, sugerindo que poderão utilizar esses conhecimentos em suas práticas de ensino.

No artigo oriundo do campus Teixeira de Freitas, escrito pela professora Quedma Rocha Cristal e pelo docente Bougleux da Silva Carmo, são mencionadas informações sobre a importância dos processos de formação e práticas musicais relacionadas ao ensino escolar com a música afro-indígena. Mencionam-se possibilidades de aprendizagem por meio da utilização de sonoridades da floresta e de espaços quilombolas, que foram adaptadas ao espaço da sala de aula. Assim, segundo os autores, argumenta-se quanto à produção e valorização da memória social na materialidade dos sons e ritmos não eurocentrados ou produzidos por diferentes tradições. Esse estudo fundamenta-se nos estudos pós-coloniais de Mignolo (1995); Oliveira (2002); Santos e Meneses (2009) e decoloniais Castro-Gómez e Grosfoguel (2007); Quijano (1995), para compreensão das modulações e formas outras de abordagem do som para além das estéticas ocidentalizadas.

Como resultado, discute-se a apropriação das diferentes referências semiótico-musicais oriundas das manifestações sonoras, imagéticas, folclóricas e religiosas da cultura afro-indígena pelos compositores brasileiros tais como Heitor Villa-Lobos, Camargo Guarnieri, Guerra Peixe, Cláudio Santoro, dentre outros, como referência de subversão da tradição musical moderna. Assim, aponta-se para a atitude descolonizadora em relação à cultura chamada popular, folclórica, de terreiro, – afro-religiosidade – de comunidades indígenas e quilombolas.

Assim, esse e-book é um meio relevante para a divulgação da importância da inserção e o desenvolvimento do ensino de música nos campi do IF Baiano, fator que vem contribuindo para uma formação mais humana e cidadã dos discentes, além da ampliação dos laços afetivos entre membros da comunidade interna e externa da instituição. Dessa forma, as atividades de ensino e prática musicais têm contribuído, e podem contribuir ainda mais, para a melhoria de diversos aspectos relacionados ao bem-estar e aprendizado dos discentes, docentes e servidores, sobretudo no que tange à melhoria da saúde mental, pois a música é uma ferramenta relevante no aprendizado cognitivo, emocional e perceptivo. Sobre o impacto acadêmico, é importante ressaltar que essa obra representa o registro, primário e inédito, da produção de conhecimentos musicais, desenvolvidos e apoiados pelas políticas institucionais do IF Baiano, descrevendo aspectos sobre a ampliação das relações entre a comunidade interna e externa, de forma a destacar as