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Ensino, música e interdisciplinaridade
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Ensino, música e interdisciplinaridade
E-book443 páginas5 horas

Ensino, música e interdisciplinaridade

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Sobre este e-book

A 4ª edição revisada e ampliada da presente coletânea pretende atender às solicitações de mestrandos e doutorandos da área que ainda referendam em suas pesquisas alguns dos artigos que aqui se encontram.
Os textos de maior interesse da comunidade acadêmica foram revisados por seus autores e seguirão por sua inteira responsabilidade. Também foram incluídos novos artigos inter-relacionando o ensino, a música e a interdisciplinaridade, foco desta publicação. A Apresentação exposta na primeira edição foi conservada, contemplando apenas os capítulos que ainda integram a presente edição.
Esta edição contou com um novo conselho editorial, mas não poderíamos deixar de referendar e agradecer a fala dos membros do Conselho Editorial que avaliaram a 1ª edição com maestria e responsabilidade, a saber: Prof. Dr. Saloméa Gandelman da UNIRIO, Prof. Dr. Luciane Cardassi do Instituto Banff, Canadá e Prof. Dr. Marisa Fonterrada do IA-UNESP-SP, pesquisadoras ativas da área musical.
O texto do Prof. Dr. Leonardo Kaminski, fundamental para os futuros cameristas, traça algumas estratégias para o enfrentamento do estresse e da ansiedade na performance de seus integrantes.
O artigo está embasado em significativos pesquisadores da atualidade que estão trabalhando nesta temática. O texto resume parte de sua tese de doutorado, ricamente orientada pela Prof. Dr. Sonia Ray, daí a cumplicidade na autoria.
O texto da Prof. Dr. Neide Esperidião traz para esta coletânea a satisfação de poder contar com seu profundo conhecimento na educação musical e a extrema vinculação que esta área detém com os princípios pedagógicos presentes na Educação propriamente dita e com as demais áreas de conhecimento. Não sem razão a realização do seu Doutorado junto a Faculdade de Educação da USP-SP, o que complementou eficazmente seus conhecimentos enquanto professora e gestora musical.
O texto da Prof. Shirlei E. Tudissaki marca sua competência e discernimento nas pesquisas direcionadas a analisar e discutir a relação deficiência visual e música, estendendo-se não só em nossa país, mas também fora dele.
Esperamos com essa nova edição alcançar ainda mais os futuros pesquisadores e docentes musicais em suas investigações rotineiras, o que de maneira satisfatória enriquecerá cada vez mais o cenário musical brasileiro.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de mai. de 2019
ISBN9788594850720
Ensino, música e interdisciplinaridade

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    Ensino, música e interdisciplinaridade - Sonia Regina Albano de Lima

    Sumário

    CAPA

    PREFÁCIO

    APRESENTAÇÃO DA 1ª EDIÇÃO

    MÚSICA, CULTURA E EDUCAÇÃO: REFLEXÕES EM TRÊS MOVIMENTOS

    Neide Esperidião

    O MÚSICO PROFESSOR – PERCURSO HISTÓRICO DA FORMAÇÃO EM MÚSICA

    Vera Lúcia Gomes Jardim

    MÚSICA E TRANSDISCIPLINARIDADE: UM CAMINHO DE INTERIORIZAÇÃO

    Enny Parejo

    OS CURSOS DE FORMAÇÃO DE DOCENTE E A INTRINCADA RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO

    Sonia Regina Albano de Lima

    MUSICOGRAFIA BRAILLE: UM RECURSO PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM MUSICAL DE ALUNOS CEGOS

    Shirlei Escobar Tudissaki

    PERFORMANCE NA MÚSICA POPULAR: UMA QUESTÃO INTERDISCIPLINAR

    Liliana Harb Bollos

    O CONCEITO E O COMPORTAMENTO: REFLEXÕES SOBRE O FOLCLORE

    Niomar de Souza Pereira

    CIÊNCIA E PERFORMANCE MUSICAL: RELATOS DE EXPERIÊNCIAS E APLICAÇÕES PEDAGÓGICAS

    Sonia Ray

    ESTRATÉGIAS PARA O ENFRENTAMENTO DO ESTRESSE E DA ANSIEDADE NA PERFORMANCE EM MÚSICA DE CÂMARA

    Leonardo Casarin Kaminski

    Sonia Ray

    PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO E ENSINO DE MÚSICA: CONTRIBUIÇÕES DE VYGOTSKY

    Marisa Irene Siqueira Castanho

    QUAL MÉTODO USAR? PRESSUPOSTOS TEÓRICOS, DELINEAMENTO E ESTRUTURAÇÃO DO MÉTODO QUANTITATIVO

    Hugo Cogo Moreira

    Sonia Regina Albano de Lima

    organizadora

    ENSINO, MÚSICA & INTERDISCIPLINARIDADE

    São Paulo | Brasil

    1ª Edição Impressa: Outubro de 2015

    1ª Edição Ebook: Abril 2019

    Big Time Editora Ltda.

    Rua Planta da Sorte, 68 – Itaquera

    São Paulo – SP – CEP 08235-010

    Fones: (11) 2286-0088 | (11) 2053-2578

    Email: editorial@bigtimeeditora.com.br

    Site: bigtimeeditora.com.br

    Blog: bigtimeeditora.blogspot.com

    Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos do Código Penal), com pena de prisão e multa, busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).

    Conselho Editorial:

    Ana Maria Haddad Baptista (Doutora em Comunicação e Semiótica/PUC-SP)

    Catarina Justus Fischer (Doutora em História da Ciência/PUC-SP)

    Lucia Santaella (Doutora em Teoria Literária/PUC-SP)

    Marcela Millana (Doutora em Educação/Universidade de Roma III/Itália)

    Márcia Fusaro (Doutora em Comunicação e Semiótica/PUC-SP)

    Vanessa Beatriz Bortulucce (Doutora em História Social/UNICAMP)

    Ubiratan D’Ambrosio (Doutor em Matemática/USP)

    Ficha Catalográfica

    LIMA, Sonia Regina Albano de (Organizadora). Ensino, Música & Interdisciplinaridade. 248 pp. – São Paulo: BT Acadêmica, 2019.

    ISBN 978-85-9485-072-0 | 1. Educação. 2. Educação musical. 3. Música e Interdisciplinaridade. 4. Musicografia Braille. I. Título.

    Produção Editorial

    Editor Coordenador: Antonio Marcos Cavalheiro

    Capa: Franco Jr. Leonel

    Diagramação: Marcello Mendonça Cavalheiro

    Os artigos aqui incluídos são de inteira responsabilidade dos autores, revisados e autorizados por eles.

    PREFÁCIO

    A 4ª edição revisada e ampliada da presente coletânea pretende atender às solicitações de mestrandos e doutorandos da área que ainda referendam em suas pesquisas alguns dos artigos que aqui se encontram.

    Os textos de maior interesse da comunidade acadêmica foram revisados por seus autores e seguirão por sua inteira responsabilidade. Também foram incluídos novos artigos inter-relacionando o ensino, a música e a interdisciplinaridade, foco desta publicação. A Apresentação exposta na primeira edição foi conservada, contemplando apenas os capítulos que ainda integram a presente edição.

    Esta edição contou com um novo conselho editorial, mas não poderíamos deixar de referendar e agradecer a fala dos membros do Conselho Editorial que avaliaram a 1ª edição com maestria e responsabilidade, a saber: Prof. Dr. Saloméa Gandelman da UNIRIO, Prof. Dr. Luciane Cardassi do Instituto Banff, Canadá e Prof. Dr. Marisa Fonterrada do IA-UNESP-SP, pesquisadoras ativas da área musical.

    O texto do Prof. Dr. Leonardo Kaminski, fundamental para os futuros cameristas, traça algumas estratégias para o enfrentamento do estresse e da ansiedade na performance de seus integrantes.

    O artigo está embasado em significativos pesquisadores da atualidade que estão trabalhando nesta temática. O texto resume parte de sua tese de doutorado, ricamente orientada pela Prof. Dr. Sonia Ray, daí a cumplicidade na autoria.

    O texto da Prof. Dr. Neide Esperidião traz para esta coletânea a satisfação de poder contar com seu profundo conhecimento na educação musical e a extrema vinculação que esta área detém com os princípios pedagógicos presentes na Educação propriamente dita e com as demais áreas de conhecimento. Não sem razão a realização do seu Doutorado junto a Faculdade de Educação da USP-SP, o que complementou eficazmente seus conhecimentos enquanto professora e gestora musical.

    O texto da Prof. Shirlei E. Tudissaki marca sua competência e discernimento nas pesquisas direcionadas a analisar e discutir a relação deficiência visual e música, estendendo-se não só em nossa país, mas também fora dele.

    Esperamos com essa nova edição alcançar ainda mais os futuros pesquisadores e docentes musicais em suas investigações rotineiras, o que de maneira satisfatória enriquecerá cada vez mais o cenário musical brasileiro.

    Sonia Regina Albano de Lima

    4ª edição – 2019

    APRESENTAÇÃO DA 1ª EDIÇÃO

    Embasada em uma atitude interdisciplinar, discuto nesta publicação, a importância de um professor em uma sociedade que se remodela diuturnamente e convive com um indivíduo inconformado diante da impossibilidade de viver harmoniosamente em um mundo que ele mesmo ajudou a construir. Os paradoxos são tantos que falar do professor e de sua formação sob um contexto iminentemente epistemológico parece totalmente despropositado.

    Novos objetivos que transcendem o espectro cognitivo atual são necessários. Não basta para a educação contemporânea buscar sentidos intelectuais nos processos de ensino/aprendizagem; outros valores se impõem e apontam a iminência de se pensar uma educação capaz de congregar o indivíduo à sociedade, à natureza, ao universo e à sua própria essência.

    Essa perspectiva interdisciplinar, como nos ensina Ivani Fazenda, exige um professor capaz de rever suas práticas, redescobrir seus talentos e agregar os saberes científicos adquiridos às exigências socioculturais e econômicas da atualidade. Essa realidade nunca esteve tão manifesta. A fragmentação entre o saber, o ser e o fazer precisa ser debelada em prol do surgimento de um ser humano capaz de viver com integridade no universo.

    Novos valores são impostos ao indivíduo e a educação deve compreendê-los para não se tornar retrógrada. Conceitos já cristalizados transmutam-se diante dos avanços socioculturais; disciplinas estanques transcendem o seu espaço cognitivo com o intuito de melhor compreender a sua função na sociedade; o terceiro incluído presente nos ensinamentos de Basarab Nicolescu se faz presente na roda dos opostos; a escola busca uma formação voltada para a paz, para a ética e para a cidadania. Diante desse quadro surge a indagação – Que professor e qual formação serão necessários para a nossa sociedade? Não foi outra a minha intenção e foi a partir dela que escolhi os textos que se seguem, cada um com objetivo específico. A publicação não contemplou apenas o ensino de música, ao contrário, nessa coletânea busquei autores ligados às outras áreas de conhecimento que sabiam da importância das artes na formação do ser humano.

    O texto de Vera Jardim descreve o percurso histórico da formação em música, deixando transparecer os malefícios obtidos com o isolamento da área e a falta de diálogo dos nossos professores com a pedagogia e o sistema educacional. A partir desse texto podemos estimar a importância de uma parceria epistemológica entre as diversas áreas de conhecimento. Nesse sentido, bem pontual a fala de Ivani Fazenda – é na compreensão da nossa história de vida que o nosso presente pode ser reformulado.

    O texto de Enny Parejo traz a transdisciplinaridade como uma nova proposta de ensino musical, capaz de auxiliar o indivíduo no entendimento e na descoberta de sua interioridade. Essa lógica ternária põe fim à lógica binária – pautada em pressupostos antagônicos e opositores.

    O meu texto discute a relação professor/aluno nos processos de ensino/aprendizagem e o significado do professor na sociedade atual.

    O texto da pesquisadora Sonia Ray traz para a performance musical a importância da pesquisa, tanto para o desenvolvimento técnico como para o reconhecimento acadêmico do fazer artístico como área de conhecimento. A partir de situações vivenciadas na prática instrumental, a autora apresenta soluções advindas da pesquisa científica, o que faz pensar que outro não é o caminho do ensino musical senão integrar teoria, prática e pesquisa, ainda que sua ação seja o fazer musical.

    Liliana Bollos recorre à interdisciplinaridade para discutir a performance na música popular. No texto fica evidente o quão frágil é a divisão que se estabeleceu entre música popular e música erudita e a importância de o músico interagir com outras áreas de conhecimento, entre elas: a educação, o jornalismo cultural, a produção musical, a comunicação entre as mídias, a educação musical e a própria performance.

    Niomar de Souza Pereira, professora e pesquisadora do folclore, discute a ampliação do conceito do folclore em função da mudança de comportamentos da sociedade. Neste texto fica evidente que comportamento atualiza conceitos de folclore e amplia o seu campo de ação e é no ensino que a autora ressalta a relevância epistemológica do processo cognitivo do folclore para sua utilização prática. Um ponto importante é que a concepção teórica defendida pela autora encontrou eco nos testemunhos de alunos coletados em sala de aula, o que demonstra a importância de utilizarmos a prática docente na formação e reformulação de conceitos.

    A psicóloga Marisa Irene S. Castanho, por sua vez, apresenta um texto científico de natureza interdisciplinar que referendou duas dissertações de mestrado oriundas do IA-UNESP. Essa produção revela a importância de adotarmos uma visão interdisciplinar na educação musical, pois, com essa perspectiva o ensino musical distancia-se das visões pragmáticas da música aplicada como mera coadjuvante de outras disciplinas no espaço educacional e da consideração da música como elitista.

    Finalizando, não poderíamos deixar de abordar a importância dos métodos quantitativos nas pesquisas na área de Artes. Apesar de a pesquisa qualitativa configurar-se mais conveniente e coerente no estudo das artes, o uso de métodos quantitativos se insurge devido a crescente interdisciplinaridade das pesquisas na área de música com as demais áreas de pesquisa. Para tanto, os pesquisadores devem adquirir criatividade para responder perguntas, recorrendo a um instrumental metodológico não muito comum e típico da área. Nesse intento, o musicista Hugo Cogo, doutorando do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) descreve os passos iniciais para a utilização desses métodos quantitativos.

    Espero com esse roteiro ter delineado uma sinopse do que os leitores poderão obter na leitura dessa coletânea.

    Sonia Regina Albano de Lima

    Ano de 2015

    1ª Edição

    MÚSICA, CULTURA E EDUCAÇÃO: REFLEXÕES EM TRÊS MOVIMENTOS

    Neide Esperidião

    ¹

    PRIMEIRO MOVIMENTO

    Nas últimas décadas, presenciamos uma aproximação entre diferentes Ciências e a Música, buscando-se estabelecer conexões entre o fenômeno musical e suas articulações com os novos campos do saber. Estudiosos das Ciências como a Antropologia, a Semiótica, a Neurociência, a Psicologia, a Psicanálise, a Musicoterapia, a História, os Estudos Culturais, as Ciências da Comunicação, da Informação, da Educação e da Música, debruçam-se sobre os aspectos discursivos, cognitivos, artísticos, psíquicos, terapêuticos, linguísticos, históricos, sociais, culturais que a música sugere, enquanto objeto de estudo. Compreender a música na contemporaneidade requer o estudo de suas múltiplas possibilidades e de seus desdobramentos articulados aos diversos campos, especialmente os da arte e da cultura.

    A variedade de perspectivas de análise e as discussões que apontam para as transformações pelas quais as sociedades atuais estão passando, sejam elas, efeitos atinentes à globalização, redução das distâncias espaço-temporais mediadas pelas mídias e instrumentais tecnológicos, discurso da diversidade e inclusão das diferenças, exigem um repensar da música integrada aos princípios educacionais. Dentre os estudos focando efetivamente esta temática, encontramos trabalhos que se referenciam nas discussões teórico-práticas da música e nas propostas metodológicas de seu ensino.

    Também é preciso considerar o crescente número de pesquisas musicais sob o viés sociocultural. Ao final do século XX, a produção dessas pesquisas foi realizada principalmente por etnomusicólogos, antropólogos e musicólogos que, a partir de seus trabalhos de campo em diferentes grupos culturais, buscaram chamar a atenção dos educadores musicais para a necessidade de mudanças nas concepções e práticas do ensino da música nos contextos escolares. Os desvelamentos dessas práticas contribuíram substancialmente para direcionar novos olhares desses educadores nestas questões e para a busca de diferentes abordagens da práxis da educação musical (ARROYO, 2002).

    De acordo com o filósofo e músico canadense David Elliot (1995) em seu livro Music Matters, a música é uma prática humana multiforme e diversificada que está imersa em um contexto histórico, político, social e cultural. Nesse aspecto, as obras musicais são construtos derivados do reflexo das características culturais e do momento histórico e social dessas práticas. Para este autor, fazer música é, essencialmente, uma questão de saber construir padrões e estruturas sonoro-musicais, nas quais se articulam tradições e inovações pessoais, modelos musicais estabelecidos pelo grupo e modos particulares de criação e invenção (ELLIOT, 1995, p. 296).

    Fonterrada (2005) considera que a educação musical decorre de hábitos, valores, condutas e visões de mundo da sociedade em cada época e defende a ideia de que a música é uma parte necessária e não periférica, da cultura humana, merecendo ocupar um lugar de destaque no cenário educacional. Aponta ainda, para os efeitos que a indústria cultural produz, valorizando-se os aspectos de lazer e entretenimento que a música oferece, em detrimento de sua importância na educação e no desenvolvimento humano. Neste sentido, observamos que as músicas produzidas pela grande indústria fonográfica da chamada cultura de massa, embora amplamente consumidas, não se sustentam por muito tempo nos canais de veiculação. Devido ao seu caráter de entretenimento rápido e de lazer, essas músicas possuem um prazo de validade muito curto e, por sua vez, são passageiras na memória das pessoas e na cultura.

    Sekeff (2007), ao discutir sobre as finalidades, funções, usos e recursos da música nas sociedades, argumenta que:

    [...] a música é repertoriada em um contexto social, cultural e ideológico; é igualmente definida por um tempo e uma época (nem sempre cronológicos, mas também tempo e época de antecipações); é fundamentada por teorias, princípios e leis que garantem a sua identidade (gênero, estilo, forma), e é sustentada por uma sintaxe de semântica autônoma que responde por sua legitimidade (SEKEFF, 2007, p. 20).

    Ao discorrer sobre esses aspectos preliminares, compreendo que a música pode ser entendida como um fenômeno diversificado produzido pela humanidade da cultura da qual toma parte e, que o seu estudo, assinalado pela temporalidade e transitoriedade pode, por sua vez, ajudar-nos a compreender as culturas do mundo em sua diversidade. Acredito ser importante subsidiar o olhar do profissional da educação musical nessas concepções, de forma que, por meio da escuta e da apreciação de diferentes produções musicais, as quais, muitas vezes coexistem no mesmo espaço temporal e geográfico, os percursos musicais fomentarão uma busca de conhecimento do outro – próximo ou distante e, consequentemente, uma compreensão de si mesmo e de sua cultura.

    Por essas razões, considero fundamental a necessidade de se estabelecer um diálogo entre música e cultura, entre história social e produção musical, entre cultura, música e educação musical, fundamentado em aportes teóricos desses campos e suas interfaces, objeto de estudo e de reflexões deste texto. A ideia de refazermos o percurso das concepções sobre cultura e música em diferentes épocas e contextos históricos reside em apontarmos alguns dos aspectos que ocasionaram transformações na educação musical brasileira.

    Na tentativa de entremear laços entre as concepções de cultura e de música, deve-se considerar que a música pertence ao campo das artes, e este, por sua vez, está inserido na cultura de um grupo social, de um povo ou de uma sociedade. Para Bourdieu (2007), a concepção de campo científico é caracterizada, além de outros fatores, pelas definições dos objetos em questão e dos interesses específicos envolvidos, os quais são irredutíveis aos objetos em jogo e aos interesses específicos de outros campos. Sendo assim, um campo científico é determinado pelas especificidades dos seus objetos, pela natureza dos conhecimentos e saberes pertinentes e pelas possíveis articulações com outros campos, em procedimentos de estudos e pesquisas, constituindo seu próprio referencial teórico-prático.

    Ao buscarmos compreender a Educação como um fenômeno complexo, cujo objeto de estudo é múltiplo e exige uma leitura pluralista, apoiada em aportes teóricos de várias ciências, pode-se inferir que a Educação Musical também é um campo complexo, ao se examinar as várias dimensões da música, a multiplicidade de culturas, suas diversidades singulares e seus múltiplos espaços.

    A realidade é multifacetada e, sendo assim, delimitar o campo cultural, educacional e o musical torna-se uma tarefa tão complexa quanto instigante, pois não se pode abarcar a realidade em toda a sua totalidade. Todavia, o desafio de se estabelecer laços entre essas concepções, enredando-se na trama de alguns aspectos histórico-culturais, promove as discussões preliminares neste primeiro movimento.

    A palavra música tem origem na palavra grega mousiké, com a qual se denominavam as musas – as nove filhas de Cronos e Zeus responsáveis pelas artes. Na antiguidade grega acreditava-se que a música formava o caráter e a cidadania do homem grego e seu exercício contribuía para o desenvolvimento ético e a integração do jovem na sociedade. A significação atribuída ao termo música referia-se, portanto, a dois aspectos: o primeiro, compreende-a como arte representativa das harmonias celestiais; o segundo, como prática profissional e atividade pedagógica relacionada à literatura e à poesia, com a finalidade de moldar o caráter e o espírito do jovem grego – éthos –, sendo-lhe conferida um papel predominante no sistema educacional e político da Grécia da Antiguidade Clássica, cuja responsabilidade da educação musical competia ao Estado. Portanto, entre os gregos, a música é vista sob duas formas: uma que a concebe como regida por leis matemáticas universais e outra que acredita que seu poder emana da relação estreita entre ela e os sentimentos – éthos (Fonterrada, 2005, p. 20). Essas formas podem ser sintetizadas em dois tipos de música: a música da razão e a música dos sentimentos, simbolizadas pelos instrumentos gregos o aulos e a lira, respectivamente. Fonterrada afirma que no decorrer da história da música ocidental, estas duas tendências continuaram a coexistir determinando também, o modo de conceber a música nas diferentes épocas. A lira, instrumento de Apolo, induz à serena contemplação do universo; o aulos, um sopro com palhetas, é o instrumento de Dionísio, da exaltação e da tragédia (2005, p. 21). É interessante salientar que ambas as tendências, embora venham de direções opostas, permanecem no tempo da história da música, com alternância de predominâncias no curso dos movimentos histórico-musicais.

    Sonia Regina Albano de Lima (2007), em seu artigo Música e Cosmologia retrata, sob uma perspectiva interdisciplinar, um panorama das relações da música com as demais áreas do conhecimento no mundo grego. Ela nos revela que: "Além de se constituir em um componente essencial para a educação, ela [a música] também se consagrou como uma força obscura, conectada com as potências do bem e do mal, capaz de curar enfermidades, elevar o homem até a divindade, ou precipitá-lo para as forças do mal (LIMA, 2007, p. 10).

    Contudo, como nos informa a história da educação, a principal meta da educação grega, por meio da música, residia na formação do caráter moral do homem grego, revelado nas diversas correspondências entre as escalas musicais gregas, os ritmos e os traços de caráter. Tal doutrina, denominada doutrina do ethos² influenciou fortemente a cultura helênica, transferindo-se posteriormente para o pensamento ocidental cristão da Idade Média.

    Traçando-se um paralelo com as raízes da palavra cultura, reportamo-nos a Raymon Williams (2007), em sua obra Palavras-chave. O autor considera a palavra cultura, uma das mais complexas devido ao seu desenvolvimento histórico em diversas línguas europeias e ainda, porque passou a ser usada para se referir a conceitos importantes em diversas disciplinas intelectuais distintas e em diversos sistemas de pensamento distintos e incompatíveis (2007, p. 117). Segundo este autor, cultura deriva do conceito de natureza e tem sua origem na palavra colere, a qual possuía uma gama de significações: habitar, proteger, cultivar e honrar com veneração. Esses significados tiveram outros desdobramentos: habitar desenvolveu-se do latim colonus, [colônia], honrar com veneração desenvolveu-se de cultus [culto] e cultura de lavoura, cultivo agrícola, ou cuidado com algo, incluindo-se nessa direção, a metaforização do cultivo do desenvolvimento humano.

    Williams (2007) distingue três sentidos do significado de cultura em uso: o primeiro, com base no trabalho rural, descreve algo como civilidade; o segundo, como civilização, designando um processo de desenvolvimento intelectual, espiritual e estético, a partir do século XVIII ou ainda, em oposição, indicando um modo particular de vida, a partir do idealismo alemão e evoluindo, posteriormente, para seu uso plural; e o terceiro, envolvendo as produções e meios materiais de atividades artísticas e intelectuais, incluindo-se a filosofia, o saber acadêmico, a história, a estética, as obras de arte, entre outros.

    Eagleton (2005) corrobora o pensamento de Williams e acrescenta a visão de que, em suas raízes, a palavra cultura já abarcava uma dupla oposição – natureza e cultura –, o que é natural e o que é transformado pelo homem. Essa característica de ambiguidade passou a ser inerente à própria palavra, permeando posteriores embates teóricos e questões filosóficas fundamentais:

    Neste único termo, entram indistintamente em foco questões de liberdade e determinismo, o fazer e o sofrer, mudança e identidade, o dado e o criado. Se cultura significa cultivo, um cuidar, que é ativo daquilo que cresce naturalmente, o termo sugere uma dialética entre o artificial e o natural, entre o que fazemos ao mundo e o que o mundo nos faz. É uma noção realista, no sentido epistemológico, já que implica a existência de uma natureza ou matéria-prima além de nós; mas tem também uma dimensão construtivista, já que essa matéria-prima precisa ser elaborada numa forma humanamente significativa. Assim, trata-se menos de uma questão de desconstruir a oposição entre cultura e natureza do que de reconhecer que o termo cultura já é tal desconstrução (EAGLETON, 2005, p. 11).

    Analogamente, a palavra música possui também sentido duplo desde as suas origens: ora é referenciada como uma ciência, como um saber teórico da arte dos sons; ora se refere ao saber prático, ao fazer e produzir música, ao seu poder de comunicação, considerada uma linguagem. Ainda hoje encontramos essa ambiguidade, entre profissionais do meio musical erudito e do popular da música ocidental: os primeiros são os teóricos, especialistas, dominam a escrita da música e a técnica instrumental e, os segundos, são os práticos, os que tocam de ouvido e improvisam. Keith Swanwick, primeiro professor titular de educação musical da Europa, revela-nos que o significado e o valor da música nunca podem ser intrínsecos e universais, mas estão ligados ao que é socialmente situado e culturalmente mediado (SWANWICK, 2003, p. 39).

    SEGUNDO MOVIMENTO

    Um dos aspectos abordados em Eagleton (2005) refere-se ao modo de o Estado buscar incutir em seus cidadãos, modelos de comportamentos, pensamentos e ideias para garantir uma vida harmônica em sociedade, utilizando-se para isso da cultura. A cultura, ou o Estado, são uma espécie de utopia prematura, abolindo a luta em um nível imaginário a fim de não precisar resolvê-la em um nível político (EAGLETON, 2005, p. 17). No exemplo da cultura grega da antiguidade, a prática da música serviu como instrumento do Estado para moldar o caráter dos jovens e a temperança do espírito. Nesse caso, a música, enquanto componente cultural serviu aos interesses do Estado: [...] são os interesses políticos que, geralmente, governam os culturais, e ao fazer isso definem uma versão particular de humanidade (Ib. p. 18). Em outra parte, o autor acrescenta: a palavra cultura, que se supõe designar um tipo de sociedade, é de fato, uma forma normativa de imaginar essa sociedade (Ib. p. 41).

    Lembrando o que nos diz Williams (2007, p. 123) em relação à concepção de cultura, a complexidade, vale dizer, não está, afinal, na palavra, mas nos problemas que as variações de uso indicam de maneira significativa, as concepções de educação musical foram determinadas por suas diferentes funções na sociedade brasileira.

    Nessa perspectiva, ao analisar a história da Educação no Brasil, observa-se que a escolarização foi pensada em grande parte, em termos hegemônicos, com forte influência da cultura eurocêntrica. Por sua vez, a história da Educação Musical brasileira, também foi marcadamente europeizada. No Brasil, a herança musical grega permeou os primórdios da colonização, por meio do ensino dos primeiros professores de música – os jesuítas que aqui chegaram. Estes souberam aproveitar a aptidão musical natural dos indígenas em seus trabalhos de catequese. A música presente na celebração das missas atraiu a atenção dos índios, cuja facilidade para aprender os cânticos surpreendeu os próprios missionários. Instalaram-se, então, em muitas aldeias escolas de cantar e tanger, nas quais os índios aprendiam canto, cravo, viola e órgão para as rezas e benditos (KIEFER, 1997, p. 17).

    Assim, durante o período colonial, os interesses políticos da Metrópole em instituir um modo de conduta normativo e subjugado, aliado aos interesses religiosos de catequese, produziram um tipo de educação musical que atendia, ao mesmo tempo, a conveniência da elite portuguesa e os interesses da Companhia de Jesus.

    A influência europeia na educação musical brasileira afetou profundamente os conservatórios – primeiras escolas de música que surgiram durante os períodos imperial e republicano. Sabe-se que nessas escolas, o ensino musical estava intrinsecamente vinculado ao aprendizado de um instrumento, sob uma perspectiva técnica, mecânica, virtuosística, tradicional e elitista. Por sua vez, a maioria dos professores desses conservatórios recebeu uma formação musical nos moldes tradicionais e foram músicos instrumentistas ou cantores sem formação pedagógica direcionada às escolas, priorizando o ensino de um instrumento musical ou do canto.

    Durante a primeira metade do século XX, tais tendências praticamente dominaram os cursos de formação de professores de música em nosso país, determinando as práticas pedagógicas desses professores nas escolas brasileiras de Educação Básica. Entre algumas iniciativas deste período de educação musical nas escolas, destaca-se o Projeto Nacional de Canto Orfeônico idealizado por Villa Lobos, que foi implantado na era Vargas, claramente delineado a partir dos princípios de disciplina, civismo e educação artística. Souza (1999) discute exaustivamente essa questão em seus estudos sobre a educação musical institucionalizada desse período, demonstrando que existiram relações e implicações diretas entre o ensino musical e a política nacional.

    Pelo Decreto nº 9. 993, de 26 de novembro de 1942, foi criado o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico – C.N.C.O., sob a jurisdição do Ministério da Educação e Saúde. A função do era exclusivamente a formação de professores de música para o ensino do Canto Orfeônico nas escolas do país, passando a incorporar os Cursos de Formação de Professores de Canto Orfeônico, subdivididos em 3 modalidades: Curso de Especialização (seriado), Curso de Emergência e Curso de Férias. Nos estudos e pesquisas de Jusamara Souza sobre esse período, a autora argumenta que:

    [...] os resultados mostraram que a política educacional autoritária de Vargas e o projeto

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