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Ecos Da Realidade: Os Vermes De Sangue
Ecos Da Realidade: Os Vermes De Sangue
Ecos Da Realidade: Os Vermes De Sangue
E-book806 páginas5 horas

Ecos Da Realidade: Os Vermes De Sangue

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Sobre este e-book

Após um ano, preso em outra dimensão pela personificação da própria realidade, Henry acorda em seu quarto e nota que o seu mundo está caminhando no linear do fim. Para sua sobrevivência e a dos outros integrantes da base UF, deverão contar com a lógica e a habilidade em situações de perigo e, para lidar com as mazelas que a infecção dos vermes de sangue trouxeram... Apenas o tempo dirá. Será que Henry conseguirá salvar aqueles que ama?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de mai. de 2024
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    Ecos Da Realidade - Luiz Roberto Guimarães Campos

    "Vou lhe dizer uma coisa, meu amigo. O fim da esperança é o prelúdio da morte! Em tempos onde o respeito e a moralidade são jogados para a sarjeta, torna-se um desafio encontrar a tal esperança.

    Mas ela está lá, além do desprezo e do desespero e, ao passar pelo vale da morte, encontraremos seu caloroso brilho ou sucumbiremos aos nossos desejos mais primitivos e ferozes.

    O fim do mundo é cruel… Resta apenas sabermos se temos o que é preciso para sobreviver."

    — Donavan Rodrigues de Aquino.

    2

    SUMÁRIO

    I - MINHA ANTIGA VIDA................................................................................. 6

    II - UM SONHO SEM EXPLICAÇÃO............................................................ 14

    III - ESTÁ MUITO SILENCIOSO LÁ FORA................................................ 23

    IV - MINHA VOLTA TURBULENTA PARA A UNIVERSIDADE............. 33

    V - UM NOVO MUNDO….................................................................................44

    VI - EXPLODI ACIDENTALMENTE A ENTRADA DE UM SHOPPING61

    VII - NÃO SÃO OS VERMES QUE ESTÃO NOS OBSERVANDO............70

    VIII - DONAVAN ME DÁ UMA MISSÃO...................................................... 80

    IX - EXPLODI MAIS UMA COISA................................................................. 89

    X - UMA CONVERSA COM O CHEFE.......................................................... 94

    XI - OS DADOS DO LABORATÓRIO............................................................ 98

    XII - UMA TENTATIVA DE VIRAR PROFESSOR................................... 122

    XIII - MINHA VISITA AO SETOR ZERO................................................... 144

    XIV - UM INIMIGO QUE EU NÃO QUERIA TER.................................... 165

    XV - CHEGAMOS NO DESESPERO E NO DESPREZO......................... 171

    XVI - OS INFECTADOS DA NOITE ME PERSEGUEM.......................... 183

    XVII - CONHEÇO A ORDEM DA ESPADA DE LUZ................................189

    XVIII - SIGO MAIS UMA PISTA DA ORIGEM DA INFECÇÃO............ 198

    XIX - ALGO NA CIDADE ESTÁ MAIS ERRADO QUE O NORMAL..... 212

    XX - PREPARO A BASE PARA A BATALHA CONTRA SÓLOMON..... 228

    XXI - A PAZ QUE EU VOU LUTAR PARA TER........................................ 240

    XXII - A BATALHA PELA UNIVERSIDADE............................................. 247

    XXIII - O PROJETO SEM TEMPO NOS DÁ MAIS UMA CHANCE......269

    XXIV - OS EFEITOS DA CONSTANTE DA REALIDADE.......................288

    3

    XXV - UMA BREVE PAZ................................................................................292

    XXVI - UMA NOTÍCIA PREOCUPANTE....................................................303

    4

    -I-

    MINHA ANTIGA VIDA

    O meu mundo já foi um lugar normal… Não direi pacífico, pois acredito que você saiba como a humanidade é e como qualquer coisa serve para começar uma guerra. Continuando, já pude andar nas ruas da minha cidade e apenas me preocupar se iria ser assaltado ou com meu horário para chegar na faculdade — horários estes que eu TENTAVA seguir, mas minha sorte era tanta que parecia que os ônibus não chegavam nunca no tempo certo.

    As pessoas de EndsVille andavam despreocupadas com suas vidas pela rua, eu as observara do meu ônibus enquanto me aproximara cada vez mais da universidade. Meu curso — ciência da computação — era integral, então meus dias se passavam quase que completamente no campus da UF (Universidade Federal), e aquilo sugava quase que completamente minha sanidade, mas essa história fica para outra hora. Ao chegar na UF, eu seguia para minha sala, sentava no meu lugar, ao lado da minha namorada, pegava meu notebook e esperava meus professores cumprirem seu trabalho. Minha rotina era monótona, mas não era tão ruim assim… Queria eu ter aquela rotina de volta.

    Certo dia, faltando 10 dias para o meu aniversário, cheguei na universidade e fiz tudo que deveria, seguindo a mesma rotina de 5

    sempre. Ao chegar o fim da segunda aula, o reitor da instituição, Donavan Rodrigues, apareceu em nossa porta com mais alguns professores do setor biológico, ele conversou com toda a turma e fez os alunos da classe seguirem para o centro de biologia, pois estavam aplicando uma vacina para alguma coisa — não prestei muita atenção no comunicado. Notei que algumas das outras salas já estavam seguindo, então não questionei aos professores, mas discuti um pouco com os meus amigos sobre a situação… Eles achavam aquilo muito estranho, não é sempre que algo assim ocorre e, principalmente, faz o reitor bater na nossa porta.

    Tom disse que ouviu falar de alguma coisa que estava deixando os trabalhadores de uma obra perto dali cansados e pálidos. Tom era um branquelo alto e esguio com cabelos curtos que, naquele momento, estava usando roupas com tema de um jogo de videogame, meu amigo mais antigo. Lembro-me até hoje das nossas aventuras quando éramos menores, ele me salvara diversas vezes de confusões que ele mesmo nos metia. Mary, outra de minhas amigas, uma nerd baixinha de cabelos curtos que usava óculos e roupas que parecia pegar qualquer coisa do guarda roupas e vestir; ela tinha cada papo estranho… Conversar com ela era sempre uma aventura com um fim inesperado e, para o meu bem, ela sempre sabia o momento para me salvar de alguma situação ruim. Mary falou que viu mais gente com aquela descrição, mas na zona leste da cidade, onde ela morava.

    Omar, um cara negro e sarado de porte médio que quase não tinha cabelo (eu vivia fazendo piadas sobre calvície) e que usava roupas comuns e sempre aparecia de sandália na faculdade. Um ótimo amigo, ele sempre estava lá para me zoar ou para ajudar. O homem tinha vários conselhos que poderiam ou não serem realistas demais e acabar com a magia da situação. Ele pensou que aquilo era uma medida protetiva para os estudantes, mas que, mesmo assim, toda aquela situação não cheirava bem.

    Layla, garota baixa com cabelos grandes, usava óculos, mas tinha pouco grau, e roupas comuns — usava sempre uma jaqueta jeans 6

    por cima da camisa —, ficou calada e apenas seguiu o caminho… Notei que ela estava preocupada, mas não quis comentar. Layla tinha certos gostos estranhos, o musical inclusive… Mas isso é história para outro dia. Ela tinha esperança demais nos outros e, para mim, isso acabaria pondo-a em alguma situação difícil algum dia. Como eu, ela se importa demais com os amigos e isso é uma das coisas que eu adoro naquela garota… Claro, gosto de todo o resto, mas o que posso fazer sobre isso já que ela era minha namorada? Apenas seguir minha vida.

    O lugar estava lotado, parecia que todos os alunos do campus estavam lá ao mesmo tempo. Demorou um pouco até que chegasse a minha vez, os frascos das outras pessoas eram pretos, mas o meu era cinzento… O aplicador deu de ombros e aplicou em mim (não sei o porquê, mas senti no momento que eu desmaiaria por estar recebendo a droga de uma vacina de outra cor). Ao fim, recebemos um pequeno certificado e voltamos para a sala. A aula continuou como se nada daquilo tivesse acontecido e isso me perturbou um pouco. Donavan não era muito de aparecer para fazer coisas assim, pois ele tinha um trabalho separado que lhe foi atribuído por ser o reitor da universidade, então ele mal aparecia no campus… Por mais que eu tivesse um milhão de perguntas, não seria assim que eu responderia.

    Não houve aula no período da tarde, então eu e Layla decidimos ir ao shopping fazer algo. Chamamos nossos amigos e seguimos. Omar levou Carmem, sua namorada, uma garota de cabelos curtos e que usava óculos, gostava de vestir preto e de falar bastante; fizemos amizade em um pequeno evento na faculdade que Omar a levou, conversamos sobre tudo e acabamos virando amigos até hoje. Como sempre, olhei para a rua pela janela, mas, desta vez, prestei mais atenção e estranhei as pessoas pelo caminho, elas pareciam mais cansadas que o normal… E aquilo batia com a descrição que Tom deu mais cedo, questionei-me o resto do trajeto sobre o que estava acontecendo. Layla apertou mais forte a minha mão e disse que tinha um mal pressentimento e ela geralmente acertava quando falava coisas do tipo.

    7

    Já no shopping, nós discutimos mais sobre o que poderia ser aquela vacina e o porquê de algo tão repentino, analisamos os casos das pessoas na rua com o fato das vacinas terem sido nos dada quando o resto da população já estava apresentando os sintomas… E nada do jornal ou outros órgãos de notícias falarem sobre. Acusar seria um tiro no escuro, mas como todos os jovens, nós criamos nossas próprias teorias.Decidimos deixar aquilo um pouco de lado e curtir nossa tarde, pois não era sempre que conseguíamos reunir toda a turma para andar por aí. Então passamos nosso tempo comendo, jogando no fliperama, fomos ao cinema e assistimos qualquer coisa que estava em cartaz (o filme em questão eu já havia assistido, era sobre piratas feitos de massinha de modelar). Layla brigou um pouco com os outros meninos, pois ela perdeu um dos jogos e quis jogar uma bola neles, mas eu a impedi e tentei a tranquilizar com um abraço, funcionou por um momento, mas quando comecei a rir, ela me deu um tapinha na cabeça e ficou de cara feia.

    Às 18 horas, nossos amigos foram embora um a um, apenas Layla e eu ficamos. Estávamos abraçados em um banco perto da loja de doces na praça de alimentação — que estava bem mais vazia que o normal —, discutindo sobre como a nossa última avaliação foi um horror, até que ela tocou no assunto do meu aniversário, seguimos conversando:

    — Tem algo em mente? — ela me perguntou enquanto pegava o celular no bolso. — Se não, já pode esperar — terminou enquanto ria um pouco.

    — Ayla, eu conheço essa risada… Não vá pensar em algo muito…— Relaxa — me interrompeu. — Não é nada com que você deva se preocupar. Além do mais, faltam 10 dias, temos outras coisas pra nos preocupar, como a prova de depois de amanhã.

    — Sei bem o que você tá fazendo. Enfim, não vou discutir, também sei onde isso pode dar.

    8

    Ela apenas sorriu, pois soube que estava ganhando. Layla era rica, ela sempre preparava alguma coisa estranha para meu aniversário, isso desde que éramos apenas amigos. Nos últimos 3 anos, quando ficamos juntos, as surpresas ficaram cada vez mais imprevisíveis… E isso me assustava.

    — Não é sempre que alguém faz 19, querido.

    — São 8 bilhões de pessoas no mundo, acho que…

    — Não me venha usar a lógica contra mim!

    — Se não posso usar a lógica, então sou inútil.

    — Você não é inútil, cabeção! Mas não é assim que você vai ganhar uma discussão comigo.

    — Não sei porque ainda tento — respondi, rindo.

    — Eu… — ela me segurou mais forte. — Henry, você notou como as pessoas estão? Por favor, me diz que eu não tô ficando doida…

    — Você não tá ficando doida, Ayla, eu também notei. E acho que o resto do pessoal também, você os viu! Por que isso te preocupa tanto?

    — Eu já te disse, tenho um mal pressentimento com isso tudo e a sensação é terrível.

    — Você fala como se fosse algo que mudará nossas vidas de um jeito drástico — falei enquanto mexia no cabelo dela, isso a acalmava.

    — No pior dos casos, deve ser algo como em 2020.

    — É… Deve ser… Mas não vai ser só isso que vai mudar o que estou sentindo. Odeio essas coisas e ultimamente estão piores.

    — Enfim, eu estou aqui para você, se acontecer algo, o que eu acho difícil, ainda vou estar aqui.

    — Obrigada — ela me olhou, abriu um sorriso e me abraçou. —

    Mas não vá achando que esqueci do seu aniversário.

    — Droga — rimos um pouco e ela me soltou por um momento.

    Por alguns segundos, Layla olhou fixamente para a janela da praça de alimentação. — Acho que a visão de prédios cobrindo o horizonte não é muito bonita — completei.

    — Você tem um ponto. Mas não tem mais muito o que olhar aqui mesmo. Enfim, deu a hora de ir, quer que eu peça um carro para você?

    9

    — Não, vou ficar mais um tempo aqui.

    — Certo — disse e depois me deu um beijo de despedida.

    Passei mais meia hora sentado ali, olhando as pessoas, pensando no futuro e no que fazer. Mary, mandou mensagem perguntando sobre se eu já estava em casa, pois ela queria jogar uma partida de algum jogo. Discutimos sobre a vida e acabamos, no fim, falando sobre filmes e séries — toda conversa com aquela garota tomava um rumo inexplicável.

    Ao fim da conversa, levantei e saí do prédio, as ruas tinham poucos carros e pedestres, o que era estranho para uma cidade como EndsVille, pedi um motorista de aplicativo — o que demorou bastante para aparecer — e segui para casa. Eu morava com minhas tias, duas senhorinhas de cabelos grisalhos e roupas de vovó adoráveis que moravam juntas em uma casa bem grande.

    Quando cheguei, elas estavam me esperando para jantar, as duas pareciam ótimas, como se nem soubessem o que estava acontecendo lá fora. Nos sentamos à mesa e comemos um sanduíche cada um. As duas, depois que terminaram, foram para a sala assistir a uma novela que estava passando, e eu, não sou muito fã dessas coisas, mas as segui e fiquei mexendo no celular, pois queria ficar com as duas mais um pouco antes de ir dormir. Quando aquele episódio terminou, Nora, uma das titias, foi se deitar no andar de cima, enquanto Beth pegou seu terço para rezar. Fiquei na sala por mais alguns minutos, eu estava procurando algo mais animado para assistir, mas não havia nada que me agradasse. E mesmo tendo comido muito na praça de alimentação e no jantar, comi bastante também depois de desligar a TV, minha fome naquele momento era descomunal. Fui para o meu quarto e arrumei minha bolsa para o próximo dia, juntamente arrumei a cama para dormir.

    Fiquei no computador por mais um tempo e tentei pesquisar algo sobre o que estava acontecendo naquele dia, mas tudo que pude encontrar foi o site de pesquisa exagerando, como sempre. Não era porque as pessoas estavam daquele jeito que a cidade inteira estava com câncer.

    10

    Mais algum tempo se passou e Mary mandou mensagem novamente:

    — Ei, mané, que tal uma partida?

    — Mary, já está tarde, não acha? Quero preservar o resto de sanidade mental que ainda tenho.

    — Você fala como se tivesse alguma.

    — Não entendi o comentário.

    — Enfim… Você percebeu aquilo no Donavan hoje?

    — Aquilo o quê?

    — Sei lá, ele parecia apavorado — ela mandou uma figurinha de um cachorro rindo.

    — Eu não prestei muita atenção no comunicado, quanto mais nele.

    — É sério, ele parecia que estava quase infartando, mas conseguiu esconder dos outros — outra figurinha, mas dessa vez, de um rato cozinhando.

    — E como você notou?

    — Ah, eu sei ver o que os outros escondem. Você já deveria saber. — Infelismente eu sei muito bem o que você tá falando, Mary.

    — Que bom que sabe. Agora, voltando para o assunto, ele parecia tenso até demais, como se estivesse com uma arma na cabeça.

    — Não sei se fico preocupado ou se começo a preparar meu kit de máscaras de novo.

    — Você ainda tem isso? Cara, a última vez que usei uma foi em 2022 — outra figurinha, agora de um gato olhando para a tela.

    — É sempre bom estar precavido, e você viu como estão os outros lá fora, eu que não quero pegar uma doença assim.

    Nós discutimos mais um pouco sobre isso e acabamos falando de um jogo que tratava de assuntos assim, e ela me disse que se acontecesse outra pandemia, as coisas seriam mais parecidas com o jogo: — Pessoas sem esperança para o futuro, saqueadores aqui e ali, um caos, sabe? Acho que aquele jogo não é só um jogo…

    11

    — Ok, Mary, você foi longe no raciocínio.

    Falamos mais um pouco até que ela decidiu ir dormir, pois tinha um projeto para organizar amanhã pela manhã. Já eu, tranquei minha porta e pus minhas coisas para carregar. O sono já estava tomando conta da minha cabeça, então, deitei na minha cama e fiz meus últimos pensamentos da noite, apenas imaginei o que eu faria se amanhã as coisas piorassem. Por fim, fechei os olhos e finalmente dormi… Algo que me arrependo até hoje, mas acho que eu não poderia mudar esse evento.

    12

    -II-

    UM SONHO SEM EXPLICAÇÃO

    Lembro-me bem daquele sonho, pois ele me assombra até hoje.

    Eu estava caminhando por um vasto campo de trigo, o vento pairava por ele e produzia um leve ruído que me relaxava e, ao fundo, havia uma cidade com prédios enormes e monumentos estranhos no horizonte — os barulhos da cidade ainda me poderiam ser ouvidos daquela distância —, era EndsVille, mas algo estava diferente… Eu sentia algo peculiar quando olhava para aquela direção, um sentimento de vazio e angústia. Porém, aquilo, ao mesmo tempo, me trazia um sentimento reconfortante quando eu lembrava do campo de trigo.

    Comecei a andar na

    direção da cidade, foi uma

    caminhada longa e, quando

    cheguei, o trigo se alastrava

    pelas ruas da cidade, era

    como

    se

    não

    houvesse

    concreto no chão. Nos prédios,

    seus interiores também eram

    cobertos por trigo. Perambulei

    um pouco pelas ruas de

    EndsVille, não havia pessoas

    13

    e nem animais, minha única companhia era o barulho do vento e o trigo mexendo.

    Decidi ir até o shopping de ontem… Quanto mais eu entrava na cidade, mas aquele sentimento de angústia crescia em mim. Quando cheguei na entrada do prédio, vi que seu interior não possuía trigo, apenas o bom e velho chão de qualquer construção de hoje em dia. Não havia cheiro nas ruas, mas lá dentro, pude sentir um leve perfume das flores de pau-brasil, e isso não me animava… Eu estava prestes a entrar no único lugar diferente daquele mundo.

    Dentro do shopping, vi pessoas em algum tipo de forma etérea caminhando, eram fantasmas ou a representação dos habitantes da cidade? Não pude me responder, pois quanto mais eu pensava, mais questões apareciam. De um segundo a outro, as pessoas começaram a correr, vi em seus olhares que estavam desesperadas… Algo estava acontecendo e eu não poderia fazer nada. O mundo estava lentamente escurecendo e as pessoas desaparecendo, até que vi parte do prédio destruído, plantas estranhas cobriam boa parte do corredor e duas pessoas com vestimentas militares apareceram e seguiram devagar pelo corredor. Aqueles homens estavam cambaleando e aparentavam ter alguma doença, pois a pele de todos estava vermelha, mas era algo subcutâneo, como se estivessem sendo devorados por dentro.

    — Mike, acho que não dá mais… — disse o soldado da esquerda.

    — Não sinto mais muita coisa.

    — Você consegue, cara, estamos quase chegando na base!

    — Isso não vai adiantar, eu sei que vou virar uma daquelas coisas… — disse o homem aflito.

    Uma daquelas coisas? — Pensei.

    — Eu te prometi que você veria mais uma vez a Nicole! Eu não vou deixar que você morra an… — antes que ele pudesse terminar de falar, o soldado da esquerda caiu de joelhos no chão. — Paulo, não!

    — Nã… Não dá… Não consigo mais aguentar — Paulo olhou para Mike por alguns segundos enquanto seu amigo tirava alguns medicamentos da bolsa. — Você sabe que isso não vai adiantar —

    Continuou enquanto sorria para tentar disfarçar a dor.

    14

    — São inibidores, isso pode te dar mais tempo!

    — Mais tempo? — ele tossiu. — Já foi tempo demais. Não me arrependo de ter te salvado daquelas coisas. Mas me arrependo de não dar adeus para Nicole… Você pode fazer isso por mim?

    — Droga, Paulo, você quem vai dizer isso para ela! — disse Mike enquanto aplicava 3 doses do inibidor em Paulo e depois o levantava, assim seguindo até o fim do corredor.

    Eu segui os dois e pude ver a casa deles, era um pequeno abrigo em uma antiga loja de roupas, havia tecido e metal espalhados por todos os lados e, ao fundo, ouvi uma voz feminina chamando. A mulher apareceu — tinha aproximadamente 30 anos, tinha olhos verdes e cabelos escuros, ela usava roupas longas e aparentava estar grávida —, ela foi até os dois soldados e abraçou Paulo. Nicole viu o estado do homem e começou a chorar.

    — Não chore, querida. Eu ao menos pude restaurar a energia da base — disse ele e depois tossiu um pouco de sangue.

    — Não chorar? Você está morrendo na minha frente e ainda não quer que eu chore?!

    — Eu tinha que dar um adeus…

    — Eu não te perdoaria se fosse o contrário — replicou ela enquanto o abraçava mais forte.

    — Não me arrependo de nada — ele a beijou e se afastou um pouco do seu rosto, segurou sua bochecha e paralisou. Cheguei mais perto e notei que seu coração ainda estava batendo, mas algo havia acontecido.

    — Eles chegaram no cérebro… Não podemos fazer mais nada —

    disse Mike enquanto algumas lágrimas saíam dos seus olhos.

    — DROGA! — gritou Nicole segurando forte a mão de Paulo.

    Mike se aproximou e apontou uma arma para a cabeça de Mike, Nicole apenas se afastou. Então, ele disparou, assim dando fim ao sofrimento de Paulo. Senti certo alívio no último suspiro de Paulo, mesmo com o mesmo estando totalmente paralisado.

    O shopping voltou a ser como era, mas desta vez sem formas etéreas, o lugar estava completamente vazio. Voltei para a rua, meio 15

    perturbado pela cena que acabara de presenciar. Desta vez, não ventava… O trigo estava estático. E, alguns segundos depois, pude ver uma grande torre de fumaça cobrindo o horizonte, o trigo estava sendo queimado e logo chegaria a EndsVille e, consequentemente, me queimaria junto.

    Procurei qualquer forma de me proteger, mas de nada adiantou, a cidade não tinha nada, apenas um silêncio ensurdecedor.

    Mais tempo se passou e o fogo já estava quase chegando na cidade, senti a adrenalina correndo no meu sangue — devido minha ansiedade — e aquela sensação era bem desagradável. Por algumas vezes, pude ver a silhueta de uma criança nas labaredas e seguida de uma risada… Aquilo me fez querer mais distância ainda do fogo, mas logo começou:

    — Não adianta fugir do fogo, criança, ele é puramente sua culpa

    — disse uma voz feminina infantil vinda do fogo. — Isso é apenas a representação das mudanças da sua vida, jovem Henry.

    — As mudanças da minha vida? Não sabia que isso iria queimar a cidade e a mim também.

    — A cidade lá fora já está queimada — falou ela, rindo. — Você não perde por esperar.

    — E o que diabos é você?

    — Você acabou de falar meu nome! — expressou ela, saindo das chamar. Era uma garotinha, de aproximadamente 11 anos, usava um longo vestido branco e uma coroa de lírios brancos. Ao sair do fogo, senti um cheiro bem forte de flor de pau-brasil. — Estou brincando, relaxa! — afirmou ela rindo, mas logo parou quando viu que não esbocei medo. — Você é chato, né?

    — Ótimo, agora estou preso em um sonho com uma cidade pegando fogo, visões e uma criança que não pega fogo. Quem é você, hein? — Pensei que você tinha mais perguntas — ela pôs as mãos atrás da cabeça e começou a coçar sua nuca. — Eu tenho muitos nomes, mas pode me chamar de Realidade. Eu sou tudo isso, Deus me 16

    deu consciência para cuidar do seu projetinho quando algo de errado acontecesse.

    — Quanto mais eu fico aqui, mais esquisito parece.

    — Calado! — ela gritou e eu levantei as mãos com gestos pacificadores. — Você nem estaria aqui se não fosse por mim.

    — Tá, e onde é aqui? — respondi enquanto me afastava mais do fogo, a Realidade me seguiu.

    — Aqui é um mundinho que criei para você, mas acho que ele está se desfazendo… Enfim, te trouxe aqui porque queria ver sua reação.— Reação? Ah, que ótimo, a própria realidade está brincando comigo!— É apenas um joguinho e já que nunca aconteceu antes, eu queria um pouco mais de entretenimento. A vida de alguém que sabe de tudo é chata, sabe?

    — E você ainda me escolhe para esse seu projetinho? Não tinha outras bilhões de pessoas no mundo?

    — Tinha e eu escolhi aleatoriamente, então se sinta bem sortudo.— Grande sortudo eu sou. E o que foram aquelas visões?

    — Pedaços da realidade terrena.

    — Oi?

    — Apenas algo que aconteceu no seu mundo.

    — Eu não vou discutir… Quero apenas me livrar de uma vez desse sonho estranho.

    — Que bom. É só se jogar ali! — ela apontou para o fogo. —

    Assim você vai aceitar as mudanças da sua vida. Mas antes, queria te falar algo… — ela hesitou por um instante. — O mundo é um lugar…

    Ruim — senti o ar ficar mais frio. — E agora, as coisas pioraram —

    uma sirene soou por toda a cidade. — Algo… Algo está errado, tem mais alguém aqui, e isso não deveria estar acontecendo — quando ela terminou, vi um clarão fora de EndsVille, foi muito forte, quase fiquei cego. Foi uma grande explosão. — Deus me deu essa consciência para resolver os problemas, mas não consigo fazer nada. Já que você está 17

    aqui e vai voltar, eu tinha que te falar… algo além do que eu sei está me mudando… As lendas que vocês, humanos, tanto inventavam estão se tornando reais e isso não está sob o meu controle — a onda de choque nos atingiu, mas me mantive no mesmo lugar. Alguns segundos de silêncio depois, o campo, a cidade, a luz e a destruição sumiram, apenas restou um chão preto e gosmento sob nossos pés. — O nosso universo se chocou, você tem que… — ela, antes de terminar, sumiu diante dos meus olhos.

    — Eu não tinha que me jogar no fogo para sair? — falei aflito.

    Perambulei mais um pouco por aquele lugar, depois de certo tempo andando, algo começou a se materializar bem em minha frente, era uma casa antiga tomada por plantas. E, como era o único lugar que encontrei, entrei. O interior era como o de qualquer outra casa, mas repleto de vinhas e mato, as paredes possuíam arranhões por todos os lados e parte dos móveis estavam mordidos (aquela droga de sonho estava se tornando pior a cada instante e isso não ajudava com a minha dor de cabeça). Explorei mais um pouco aquela residência até que vi um vulto passando para a cozinha. Lentamente, andei até lá e vi uma figura encapuzada olhando para mim, seus olhos cintilavam uma luz vermelha calorosa, mas o resto de sua aparência me dava um frio na espinha.

    — Jovem Henry, vejo que não era apenas um sentimento estranho, você está mesmo aqui.

    — Me conhece?

    — Claro, mas você ainda não me conhece, é uma história complicada. As questões da realidade nunca são tão claras, principalmente para aqueles sem tempo.

    — Cara, isso tá ficando cada vez mais confuso.

    — Deixe-me explicar algumas coisas então! — ele puxou uma cadeira e sentou. Fiz o mesmo. — Vejamos, por onde começo? — ele puxou um caderno de dentro do seu sobretudo. — Aqui! A brincadeira da Realidade… Você quer saber o que foi? — assenti com a cabeça. —

    Você, meu caro, está dormindo no outro mundo, mas isso já faz 1 ano, entende? A realidade queria ver como alguém reagiria.

    18

    — Reagir a o quê?

    — Quer mesmo que eu estrague a brincadeira?

    — Claro, não fui muito com a cara daquela criança chata!

    — Reagir a o apocalipse! Reagir aos eventos que ocorreram depois da queda de quase toda a civilização. Mas é apenas isso… Você, Henry, não é ninguém importante ou forte o suficiente para conseguir fazer algo relevante nesse mundo devastado! A realidade só queria ver como alguém assim reagiria para logo depois

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