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Os Contos de Frotwoot
Os Contos de Frotwoot
Os Contos de Frotwoot
E-book448 páginas6 horas

Os Contos de Frotwoot

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Sobre este e-book

A Corte Seelie e a Corte Unseelie estão em guerra.

De um lado: Nobres Cavaleiros lutando pela liberdade. Do outro lado: Não-tão-nobres terroristas, lutando pelo direito de governar.

No meio: Um adolescente de Indiana muito confuso e perdido.

Seu nome é Frotwoot Crossley e ele está para descobrir que, de alguma forma, esse nem é o fato mais estranho sobre ele...

IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de mai. de 2024
ISBN9781667474588
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    Os Contos de Frotwoot - Charlie Ward

    Os Contos de Frotwoot

    Charlie Ward

    ––––––––

    Traduzido por Leonardo Calderaro Teixeira 

    Os Contos de Frotwoot

    Escrito por Charlie Ward

    Copyright © 2024 Charlie Ward

    Todos os direitos reservados

    Distribuído por Babelcube, Inc.

    www.babelcube.com

    Traduzido por Leonardo Calderaro Teixeira

    Babelcube Books e Babelcube são marcas comerciais da Babelcube Inc.

    Os Contos de Frootwoot

    Livro Um:

    A Corte Unseelie

    Por

    Charlie Ward

    Copyright © 2014 Charlie Ward

    ––––––––

    Todos os direitos reservados. Exceto para o uso em qualquer revisão, a reprodução ou utilização deste trabalho no todo ou em parte, em qualquer forma e por qualquer meio, seja eletrônico, mecânico ou outro, é proibida sem a permissão expressa do autor. Esta é uma obra de ficção. Todos os nomes, personagens e localidades são fictícios. Qualquer semelhança com eventos, locais ou pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência. Exceto quando não é.

    Índice

    Parte Um (Capítulos 1-8)

    Parte Dois (Capítulos 9-12)

    Parte Três (Capítulos 13-17)

    Parte Quatro (Capítulos 18-21)

    Parte Cinco (Capítulos 22-24)

    Parte Seis (Capítulos 25-28)

    Dedicado ao Senhor Terry Pratchett, porque isso tudo é culpa dele.

    1

    Era uma vez, um menino que caiu do céu.

    E doeu muito, muito mesmo.

    Ai, ele gemeu baixinho, muito atordoado com o choque para se esforçar mais do que isso. Eventualmente, a chuva congelante em suas costas e a pilha irregular de talos de milho, esmagados embaixo dele, tornaram-se desconfortáveis o suficiente para tirá-lo disso, mas quando sua mente clareou, foi quase imediatamente nublada novamente pela súbita confusão que sentiu por não ter ideia do que tinha acabado de acontecer. Ele se lembrava de ter caído, é claro, se debatendo desamparadamente no ar enquanto o milharal corria ao vir de encontro com ele, mas... como? De onde ele caiu?

    O menino relutantemente rolou de costas para investigar, deixando escapar um gemido elaborado no processo, mas quando olhou para o céu tudo o que pôde ver foi a tempestade. Será que caiu das nuvens? Ele se perguntou. Geralmente as nuvens não eram coisas muito sólidas, mas talvez houvesse algo por trás delas. Imaginando que era melhor dar uma olhada, o garoto se levantou da lama e se entregou a uma rápida série de gritos de dor enquanto vários hematomas se faziam conhecidos. Então, depois de verificar se nada estava quebrado, ele respirou fundo, abriu as asas e... não voou.

    Hum? Disse o menino, franzindo a sobrancelha intrigado e pulando um pouco para ver se isso o ajudaria a subir no ar. Não funcionou, então, em vez de pular, ele tentou saltar. Quando isso também não funcionou, ele tentou um salto com corrida, que também falhou, mas como essa foi sua última ideia, então ele continuou repetindo. Logo ele estava pulando e saltando pelo milharal em um ritmo imprudente, ficando cada vez mais desesperado para decolar a cada segundo que não pudesse. Eu não posso voar, ele murmurou para si mesmo freneticamente, lutando para se levantar e tentar outra decolagem, embora a última o tivesse jogado de cara na lama. "Por que não posso voar?"

    Eventualmente, seus saltos desesperados o tiraram do milharal e o colocaram no caminho de um carro que se aproximava. Ele finalmente ficou no ar neste ponto, mas como foi o resultado de ser atingido a toda velocidade pelo carro mencionado e de quicar violentamente no asfalto, o menino considerou que era uma espécie de vitória vazia. Meu Deus! Veio uma voz próxima, seguida de perto pelos sons de uma porta de carro batendo e alguém correndo pelo cascalho. Eles ajoelharam-se ao chegar ao lado do menino e, quando seu rosto apareceu acima dele, ele viu que eles eram na verdade um único jovem de aparência muito nervosa, com grandes óculos redondos e cavanhaque. "Meu Deus! Disse o homem novamente, suas mãos pairando incertas no ar como se ele quisesse usá-las para ajudar, mas não tivesse certeza de como. Você está bem?"

    Não O garoto disse entorpecido, olhando para nada em particular além dele. Eu... eu não posso voar.

    ... quê? Olha, tente não se mover. Vou chamar uma ambulância ou algo assim. O homem puxou do bolso um tipo de dispositivo que o menino nunca vira antes, estendeu-o à sua frente em várias posições e, com um grunhido de frustração, jogou-o no milharal. "Droga, não tem sinal! O que eu devo fazer? Ele mordeu o lábio e olhou em volta preocupado por um momento, enquanto o menino apenas ficou lá em silêncio, deixando as lágrimas caírem de seus olhos. Então, parecendo ter tomado uma decisão, o homem olhou para o menino e disse: Tudo bem, olhe, eu só... não se preocupe. Você vai ficar bem. Eu posso te levar ao hospital sozinho. Não é muito longe, então... bem, não, é um pouco longe eu acho, mas vou acelerar, então não vai parecer. Enfim, meu banco de trás está bem destruído, então apenas, hum... espere aqui enquanto eu vou limpar isso, ok?"

    Ok... o garoto suspirou miseravelmente. O homem lançou lhe um olhar rápido e simpático, e então saiu correndo para fazer o que ele disse. O menino tentou se sentar e, no processo, não pôde deixar de notar que seu braço direito e algumas costelas estavam quebrados. Ele também não pôde deixar de gritar de dor, o que trouxe o homem correndo de volta para ele em um segundo.

    O que foi? Qual o problema?

    "Meu braço..."

    O quê, tá quebrado? Aparentemente, o homem só teve que olhar para ele para descobrir, considerando o que sua estremecida indicava. "É... ok, sim, isso está definitivamente quebrado. Apenas, hum... apenas tente não mover ele, ok? O médico vai consertar quando chegarmos lá."

    Ele vai consertar minhas asas também?

    O homem deu a ele o olhar mais estranho. Suas o quê?

    Minhas asas. Elas não estão funcionando.

    É... olha, apenas espere, garoto. Eu já volto.

    Como não conseguia se levantar, o menino percebeu que realmente não tinha escolha a não ser aguentar, e o fez pelo que pareceu uma eternidade antes do homem finalmente voltar para buscá-lo. Pegando-o da forma mais gentil que pôde, o homem cuidadosamente carregou o menino de volta para o carro e, logo, estavam a caminho do hospital. Nenhum dos dois disse nada por um tempo, mas o homem parecia ser o tipo de pessoa que não conseguia tolerar o silêncio por muito tempo, então acabou quebrando com: Meu nome é Jack, a propósito. Desculpe ter batido em você, mas você meio que saiu do nada, sabe?

    É, eu sei.

    "Então, qual é o seu nome?"

    Frotwoot.

    Quê?

    Frotwoot.

    " 'Frotwoot' ?"

    Sim.

    ... tem certeza?

    Na verdade, o menino não tinha certeza. Ele respondeu instintivamente, nem mesmo pensando na palavra antes de dizê-la, mas ele não conseguia se lembrar de alguém realmente o chamando de Frotwoot. Parecia certo, no entanto. Mas uma vez que um sentimento e uma certeza eram duas coisas diferentes, no interesse da honestidade, ele respondeu: Não.

    Jack riu sem acreditar. Quê? Como você pode não ter certeza de qual é o seu nome?

    "Eu não sei."

    Tudo bem, disse Jack, suspirando e balançando a cabeça. Então, hum... onde estão seus pais?

    Eu não sei, disse Frotwoot, ficando tenso com a preocupação repentina em sua própria resposta.

    Quais são os nomes deles?

    Eu... eu não sei.

    Ah, claro. Você provavelmente só os chama de mãe e pai, não é?

    "Eu não sei!" Disse Frotwoot, a voz aumentando em pânico enquanto ele tentava desesperadamente se lembrar de algo, qualquer coisa sobre seus pais. Havia um espaço lá, em algum lugar no fundo de sua memória, mas estava vazio. Ele tentou pensar no passado, lembrar o que tinha feito, onde esteve ou quem conheceu antes de cair, mas... não havia nada ali. Ele nem tinha certeza se lembrava de seu próprio nome. E por que ele não conseguia voar?

    Você está bem?

    Não! Frotwoot gritou, o coração batendo forte enquanto ele tentava de novo e de novo se lembrar de sua vida anterior. Ele sabia que tinha uma. Ele deve ter, mas... não havia memórias, nenhuma evidência para apoiá-lo. Jack disse outra coisa, provavelmente tentando acalmá-lo, mas não conseguiu ouvir. Ele não conseguia pensar. Ele só podia sentir, e não era bom. Era simplesmente demais. O que restou dentro dele quebrou... e tudo ficou escuro.

    * * *

    A próxima coisa que Frotwoot percebeu era que a luz do dia brilhava através de suas pálpebras, havia a sensação inconfundível de uma cama debaixo dele e havia o som de uma voz nova e desconhecida falando por perto. Ele não conseguiu se concentrar nas palavras reais por um tempo, mas uma vez que conseguiu, as que encontrou foram: ... isso me parece muito com estresse pós-traumático.

    Sério? Disse uma voz que ele reconheceu como sendo de Jack. Eu pensei que fosse amnésia.

    Amnésia costuma ser um sintoma disso, Senhor Crossley. Essa voz era decididamente feminina e com um forte sotaque. Além disso, por algumas das coisas que você me disse, parece que ele criou um mundo de fantasia para si mesmo. Isso, junto com a amnésia, é um mecanismo de enfrentamento bem comum.

    "... então, tipo, isso é minha culpa, você acha?"

    "Duvido. Com base no fato de que ele estava correndo em shorts feitos de folhas e tentando voar, eu diria que essa condição existia muito antes de você, hum, dar de cara com ele."

    ... que foi? Por que você tá sorrindo? Foi uma piada?

    Sim. Veja, 'dar de cara com ele' aqui se refere a...

    Eu entendi. Não é engraçado.

    Talvez não agora, mas tenho certeza que você vai pensar assim mais tarde.

    Quando Jack assegurou veementemente a ela que não seria, Frotwoot finalmente decidiu parar de fingir que estava dormindo e abriu os olhos. A nova pessoa, que estava de pé na frente de sua cama e sorrindo divertidamente para Jack tinha uma pele de tom marrom escuro e um amontoado de cabelos pretos encaracolados amarrados firmemente perto do topo de sua cabeça. Ela também estava vestindo um longo casaco branco e era, na opinião de Frotwoot, muito bonita, uma opinião que imediatamente ficou mais forte quando ela se virou para olhar para ele e sorriu.

    Oh, olhe quem está acordado!

    Oi, Frotwoot disse suavemente, olhando para Jack e desejando que ele lhe desse um sorriso tranquilizador também. O jeito nervoso como ele estava olhando para ele era meio deprimente. Quem é você?

    Meu nome é Doutora Azikiwe, mas isso é muito difícil de dizer, então você pode simplesmente me chamar de Bunmi.

    Ok.

    Como devo chamá-lo?

    Frotwoot, eu acho.

    Você acha?

    Sim, eu não... eu não me lembro das coisas. Você sabe, as... as coisas sobre mim.

    Já ouvi falar, disse Bunmi, com um sorriso um pouco triste. Ela se sentou suavemente na beira da cama e segurou sua mão. Diga-me, qual é a primeira coisa da qual você consegue se lembrar?

    Eu estava caindo.

    Caindo de onde?

    Do céu.

    Entendo. E como você entrou no céu?

    Não sei, disse Frotwoot, olhando para baixo e balançando a cabeça em frustração. Foi então que ele finalmente percebeu o gesso em seu braço e, como resultado, algo muito importante de repente lhe ocorreu. Ei, você consertou minhas asas?

    Ah, Bunmi lançou um olhar para Jack. Bem, veja, isso é... por que não falamos sobre isso mais tarde? Primeiro, você pode me dizer como você é?

    "A minha aparência?"

    Sim.

    Você não consegue ver?

    Claro, riu Bunmi, assim como Jack. Eu só quero ver se você consegue se lembrar.

    Oh, ok, disse Frotwoot, franzindo a testa em concentração. Bem, hum... eu pareço um menino.

    Sim, e? Qual a cor do seu cabelo?

    Frotwoot abriu a boca para responder, mas, para sua consternação, nada saiu. Depois de um ou dois minutos, ele tentou dar uma olhada, mas seu cabelo estava muito curto. Aah! Ele meio que rosnou e meio que gemeu de frustração, escondendo o rosto na palma da mão enquanto Jack se aproximava para dar um aperto tranquilizador em seu ombro.

    É loiro escuro, Bunmi disse gentilmente. Você sabe a cor dos seus olhos?

    Não, disse Frotwoot, nem mesmo tentando desta vez.

    Eles são marrons. Aqui, veja você mesmo, disse Bunmi, tirando um espelho compacto do bolso e oferecendo-o a ele. Ele o pegou após apenas um momento de hesitação e, após outro momento de hesitação, o abriu para ver um rosto completamente desconhecido olhando para ele. Você se reconhece agora? Bunmi perguntou.

    Frotwoot balançou a cabeça e começou a devolver o espelho para ela, mas então ele viu algo que o fez puxá-lo de volta — ou mais precisamente, ele não viu nada. Espere, onde estão minhas asas? Ele exigiu uma resposta, freneticamente angulando o espelho para frente e para trás e torcendo o pescoço para ter uma visão melhor de suas costas.

    Ah, disse Bunmi, mexendo-se desconfortavelmente e parecendo estar se preparando para alguma coisa. "Sabe... receio que você não tenha asas."

    O quê?

    Eu disse...

    O que você fez com elas?!?!

    "Eu não fiz nada com elas, Frotwoot. Você nunca teve nenhuma."

    Tinha sim!

    "Você se lembra de tê-las?"

    Eu... Frotwoot congelou, e um buraco se abriu em seu estômago. Isso de novo não... Não.

    Então, por que você acha que elas deveriam estar lá?

    "Porque... porque deveriam estar!" Frotwoot engasgou, apenas conseguindo falar antes de começar a chorar. Bunmi não hesitou em envolvê-lo nos braços e, nos minutos seguintes, ela o abraçou, fazendo o pouco que podia para confortá-lo enquanto ele soluçava profundamente em seu ombro. Isso continuou por um bom tempo e, quando acabou, Frotwoot ficou completamente envergonhado.

    Não se envergonhe, disse Bunmi, de maneira bastante intuitiva. É normal chorar se você tiver um bom motivo.

    Sim, Jack concordou fracamente, dando outro aperto tranquilizador em seu ombro. "E, sabe... se isso faz você se sentir melhor, também não temos asas."

    Frotwoot ergueu os olhos bruscamente para ele, depois para Bunmi; ele não tinha notado a ausência de asas deles antes. Vocês perderam as suas também?

    Não, Bunmi riu. "É como eu disse, você nunca teve, e nem nós. Ninguém tem."

    "Mas então... por que sinto como se eu tivesse?"

    Não sei, disse Bunmi, dando de ombros. Mas podemos tentar descobrir e, se você quiser, também podemos tentar ajudá-lo a se lembrar das coisas que esqueceu.

    Você pode fazer isso?

    Talvez. Não posso prometer que seja possível, mas se for possível, posso prometer que o farei.

    Ok, disse Frotwoot, iluminando-se um pouco ao sentir esperança pela primeira vez, não apenas na memória recente, mas na memória, ponto final. Ao longo das semanas que se seguiram, Jack e Bunmi fizeram o possível para manter viva essa esperança, visitando e realizando atividades com ele quase todos os dias (Bunmi dizia a Jack que não precisava estar lá; ele apenas dizia a ela que precisava sim), mas por mais que tentassem, nunca pareciam fazer nenhum progresso. Então, em um dia especialmente sombrio, a inspiração bateu e Bunmi declarou que ela simplesmente estava tentando curar a mente de Frotwoot na direção errada. "Vamos fazer algumas memórias novas," disse ela, e a partir de então as coisas não foram apenas diferentes; eles eram maravilhosamente diferentes.

    Em vez de se concentrar na vida que havia perdido, Frotwoot começou — com a ajuda de Bunmi e Jack — a viver uma nova. Ele ainda tinha que ficar no hospital, é claro, mas apenas no sentido de que ficar significava o lugar onde você dormia, porque eles quase nunca estavam lá. Sob a supervisão de Bunmi, Jack levou Frotwoot a todos os lugares que ele achava que uma infância deveria incluir, começando com todos os parques de diversões no estado de Indiana e continuando na lista até que eles repetiram duas vezes. Logo eles estavam exaustos demais para continuar se divertindo tanto com tal frequência, então decidiram começar a sair apenas nos fins de semana e passar os dias da semana no apartamento de Jack.

    A princípio, isso pareceu uma troca muito ruim, especialmente quando você considera que o apartamento de Jack era apenas um sofá e uma TV que ele mantinha no sótão de sua loja de guitarras, mas Frotwoot logo começou a amar aquele lugar. Os três ficavam quase sempre sentados assistindo a filmes e jogando jogos de tabuleiro, Bunmi ocasionalmente se intrometendo falando sobre psicologia quando menos esperavam, mas a sensação que Frotwoot teve disso foi melhor do que qualquer coisa que ele já conheceu. Nenhum carnaval ou zoológico ou o que quer que seja se aproximou disso.

    A vida continuou dessa forma por alguns meses, interrompida apenas pela mudança ocasional para uma nova instalação (e as várias tentativas fracassadas dos médicos dessas instalações de assumir o tratamento de Frotwoot), mas então, apenas algumas semanas antes do Natal, tudo mudou.

    Frotwoot mal percebeu a princípio; ele via Jack e Bunmi de mãos dadas às vezes, ou trocando olhares que pareciam marcadamente diferentes da maneira como olhavam para ele, mas ele realmente não pensava nada a respeito. Então, na véspera de Natal, enquanto comiam pizza e assistiam Duro de Matar (Jack insistiu que era uma tradição essencial nesse feriado e Bunmi, por algum motivo, não discutiu), Frotwoot os pegou roubando um beijo do canto do olho, e ele certamente pensou alguma coisa sobre isso.

    No dia seguinte, Jack foi ao seu quarto de hospital sozinho e sentou-se na beira da cama, parecendo nervoso.

    Olá Jack! Disse Frotwoot, pulando da cama totalmente vestido para calçar os sapatos. O Papai Noel já foi à sua casa?

    O quê? Ah, sim, sim, ele foi, Jack riu, balançando a cabeça. Bunmi já está lá também. Mas, hum... antes de irmos, há algo que eu queria falar com você sobre...

    Podemos falar sobre isso depois dos presentes?

    Não, eu meio que quero falar sobre isso agora.

    Mas Jack...

    Garoto, eu pedi a Bunmi em casamento.

    Frotwoot ficou em silêncio por um momento, depois balançou a cabeça para se recompor e disse: O quê?

    Jack riu e colocou o braço em volta dele. "Eu disse que pedi a Bunmi em casamento."

    Ela aceitou?

    Sim.

    ... uau!

    Não é? Mas aí que tá... Bunmi e eu nos amamos. Mas nós também te amamos. Então, estávamos nos perguntando... já que, sabe, estamos começando uma nova família e tudo, se talvez você, hum... eu não sei... se talvez você gostaria de fazer parte disso.

    Frotwoot lançou um olhar engraçado para Jack. "Você quer que eu case com você também?"

    "O quê?!?! Não, não, isso não... não. Não. Jack riu e balançou a cabeça antes de tentar novamente. Queremos adotar você, garoto."

    O que isso significa?

    ... sério? Ah, certo, você tem, tipo, cinco anos. Isso significa que vamos nos tornar seus pais, basicamente.

    Os olhos de Frotwoot se arregalaram. "Você pode fazer isso?"

    "Claro, por que não? Quero dizer, ninguém nunca veio atrás de você nem nada, então isso não será um problema. Bunmi acha que pode ter que renunciar por causa de, você sabe, 'ética' ou algo assim, mas assim que ela fizer isso, temos certeza de que eles nos deixarão ficar com você. Bem, quero dizer, isso se você quiser. Não to só te falando, eu estou... estou perguntando se você quer."

    Então... você vai ser meu pai?

    Sim, eu serei seu pai.

    E Bunmi será minha mãe?

    É geralmente assim que funciona, sim.

    "... tem certeza que podemos fazer isso?"

    Jack riu. Certeza absoluta, sim. Mas, como eu disse, não faremos a menos que você queira.

    "Bem, caramba, é claro que eu quero que você faça isso!"

    Jura? Disse Jack, sorrindo para ele e pondo-se de pé com uma explosão de excitação súbita e desenfreada. Garoto, você acabou de me dar a única coisa que eu realmente queria no Natal!

    Frotwoot olhou para ele incrédulo por um segundo, então revirou os olhos e soltou um grande lamento teatral.

    Eu sei, eu sei, riu Jack, a voz falhando um pouco enquanto ele se ajoelhava para abraçá-lo com mais força do que nunca. Eu não sei o que deu em mim. Acho que fico meio sentimental quando todos os meus sonhos mais profundos se tornam realidade.

    Frotwoot gemeu ainda mais alto dessa vez, mas também o abraçou com mais força.

    E com isso, eles viveram felizes para sempre.

    ... ou por cerca de dez anos, pelo menos.

    2

    Frotwoot Crossley — agora uma década mais velho, com uma irmã mais nova a mais e nem um pouco mais perto de recuperar a memória — acordou de repente quando seu telefone começou a tocar em algum lugar perto de sua cabeça. Ele instintivamente começou a procurar por ele, mas parou quando percebeu que horas eram. Havia apenas uma pessoa que tinha ligado para ele no meio da noite assim antes, e, uma vez que a razão menos fútil para que ele o fizera foi para ouvir a opinião de Frotwoot sobre omeletes de chocolate (tinha sido um dilema moral... de alguma forma), ele percebeu que o que quer que fosse o motivo para que estivesse ligando no momento, provavelmente poderia esperar até de manhã, se não para sempre.

    Infelizmente, a pessoa do outro lado da linha parecia discordar totalmente dessa conclusão, fazendo várias ligações consecutivas depois que a primeira foi ignorada. Por fim, Frotwoot percebeu que eles não iam desistir, então, com um grunhido de frustração, ele arrancou a bateria de seu telefone e jogou-a pela sala. Mas, antes que ele pudesse respirar de alívio, o telefone da casa começou a tocar.

    "Ah, qual é," gemeu Frotwoot, pulando da cama para atender antes que seus pais acordassem. A bateria que ele acabara de jogar o fez tropeçar antes que ele pudesse alcançar a porta. No entanto, quando ele conseguiu se levantar e irrompeu no corredor, já era tarde demais.

    Olá? Bunmi meio que bocejou ao telefone, virando a cabeça para focar em Frotwoot quando ele apareceu.... O quê? Wes, você não tem relógios em casa? Você sabe que horas são? Ela balançou a cabeça, fechou os olhos e suspirou quando o amigo de Frotwoot, Wes, respondeu. Isso era o que a maioria dos adultos fazia quando falavam com ele. "Se for uma 'emergência', Wes, então por que você está ligando para o meu filho? Não há outra pessoa para quem você possa e provavelmente deveria ligar? Frotwoot é algum tipo de super-herói agora e eu não sei sobre isso, ou...? Ah. Entendo. Então não é realmente uma 'emergência', é? Eu não acho que você saiba o que essa palavra significa. Ela olhou para Frotwoot, que sorriu e encolheu os ombros se desculpando o quanto pôde. Você quer falar com ele ou devo dar a ele o que merece e desligar?"

    Desculpe mãe, sussurrou Frotwoot, pegando o telefone dela e colocando-o no ouvido. Ele esperou até que ela voltasse para o quarto, então respondeu o mais duramente, e silenciosamente, que pôde, "Cara, o que há de errado com você?"

    Ei! Crossley! O que tá pegando mano? Algo de errado com o seu outro número?

    Não, eu só não queria falar com você.

    Ah... bem, isso é muito rude, disse Wes. A essa altura, tudo o que Frotwoot podia fazer era não quebrar o telefone em pedaços. De qualquer forma, eu sei que é tarde...

    Você sabe mesmo?

    Aaah, vamos lá, cara... você vai querer ver isso, acredite em mim.

    Ver o quê?

    Ok, você está próximo a um computador?

    Pera aí, suspirou Frotwoot, pousando o telefone por um momento enquanto pegava seu notebook. Tudo bem, disse ele sentado no chão com o notebook na frente dele e o telefone preso desajeitadamente entre o ombro e o rosto. E agora?

    Bem, você conhece aquele site que fiz pra nossa banda?

    Qual? Você quer dizer aquele blog que excluímos, tipo, dois anos atrás?

    Sim! Exceto que, depois que vocês apagaram, eu trouxe de volta.

    ... O quê??

    Foi uma boa forma de divulgar o nosso nome! De qualquer forma, estamos saindo um pouco do caminho aqui...

    Wes, a Astrid vai matar você.

    Quê? Por quê? Eu tirei a maioria das fotos de biquínis depois que eu trouxe de volta...

    "A maioria...? Frotwoot gemeu e cobriu os olhos com a mão. Esse não é o ponto, cara. A família dela está na proteção a testemunhas".

    "Eu sei. Anotei todos os nossos endereços também. Enfim, de volta ao que eu estava dizendo..."

    Você ainda está listando os horários e lugares em que vamos nos apresentar, Wes?

    "VOCÊ PODERIA FOCAR POR UM MINUTO, CROSSLEY? MEU DEUS!!!"

    Só estou dizendo que ela vai matar você e eu não vou impedi-la.

    Certo! Ótimo! Agora, podemos voltar ao assunto? 

    Claro, tanto faz, disse Frotwoot, balançando a cabeça e rindo para si mesmo em descrença.

    Muito bem. Então, vá para o blog... você se lembra do endereço?

    Não, mas já achei no Google. Por que existem tantos resultados para ‘Starfishy Sky’, afinal? 

    Eu não sei, eu achava que era bem original quando escolhemos esse nome para nossa banda. De qualquer forma, faça login como o dono do blog, como... autor ou qualquer outra coisa...

    Não sei a senha ou o nome de usuário, cara.

    Ah... ok. Bem, é WesÉoMelhor...

    Sério mesmo?

    Cale a boca, eu tinha 12 anos. Então, é WesÉoMelhor12... cale a boca!... E a senha é, uh... Wes hesitou, então disse algo a Frotwoot que era impróprio demais para ser escrito aqui.

    Cara, isso é nojento.

    Sim, Wes riu. Eu sei. Enfim, você conseguiu entrar?

    Aham.

    Ok, agora vá para as mensagens privadas.

    Tudo bem, disse Frotwoot, clicando no pequeno ícone em forma de envelope. Havia apenas uma mensagem ali, e assim que viu o assunto, Frotwoot percebeu o porquê Wes havia chamado sua atenção para ela. 'PARA FROTWOOT — URGENTE !!!', ele leu, clicando nela provavelmente com apenas um pouco menos de urgência do que estava sendo solicitado. Você já leu isso, cara?

    Sim. Desculpa cara.

    "Espere, então você pede desculpas por isso, mas não por... uau, Frotwoot parou quando o lado da tela mudou para mostrar a foto de perfil de uma garota absolutamente linda. Ela tinha uma pele estranhamente pálida, cabelo preto espesso na altura dos ombros que curvavam nas pontas e os olhos azuis mais tristes e bonitos que ele já tinha visto. Quem é?"

    Você não sabe? Eu só li uma parte, mas ela agiu como se conhecesse você, cara.

    Frotwoot desviou relutantemente os olhos da imagem e começou a ler a própria mensagem:

    Ei Frotwoot, é a Maeve!!! Não acredito que depois de TODO esse tempo finalmente encontrei você! Não sei por que nos separamos, mas parece que, se estiver em Indiana, você pousou bem perto de onde eu caí, já que estou em CHICAGO! Você pode me ligar quando receber isso? Tipo, tão LOGO quanto você conseguir isso? Meu número...

    ... 'Pousou'? Frotwoot murmurou em descrença. Ei, Wes? Posso te ligar de volta depois?

    O quê, você vai ligar para ela agora?

    Não, eu só... preciso pensar um pouco sobre isso.

    Ela é muito gostosa, hein? Você não está feliz por eu ter te acordado agora?

    Mais ou menos, sim. Obrigado.

    Sem problemas. Só espero que ela não seja um cara ou algo assim.

    Tchau, Wes, riu Frotwoot, desligando e focalizando toda a sua atenção na tela do computador. A palavra pousou continuava saltando para ele e torcendo seu estômago, embora fosse bem possível que ela não quisesse dizer isso literalmente. Então havia a foto... era estranho, mas embora a garota não parecesse familiar para ele, ele teve a nítida sensação de que ela deveria ser. Era como ter o nome de algo na ponta da língua, mas muito pior.

    Por fim, ele voltou para a cama, imaginando que deveria tentar dormir um pouco antes do amanhecer, mas tentar era tudo o que conseguiu. Quando o café da manhã chegou, ele estava completamente exausto e, enquanto essa pessoa Maeve estivesse em sua mente, ele tinha certeza de que permaneceria assim.

    Ei, garoto, disse Jack enquanto Frotwoot cambaleava para a cozinha. O que o Wes queria?

    Ah, você sabe... apenas alguma coisa estúpida.

    "Bem, isso não é uma surpresa," suspirou Jack, revirando os olhos e voltando para os ovos que estava fazendo. Foi uma coisa boa ele estar distraído, Frotwoot pensou, porque senão ele provavelmente seria capaz de dizer que seu filho estava escondendo algo. E então, assim que ele contasse a Bunmi, ela conseguiria arrancar dele com pouco ou nenhum esforço. E então, uma vez que soubessem, Frotwoot tinha certeza de que o fariam ligar para Maeve imediatamente, e como ele não tinha certeza se queria ligar para ela, bom... era uma coisa boa que ele estava distraído, Frotwoot pensou.

    Jack! Bunmi repreendeu o marido quando ela entrou na sala, interrompendo o pequeno episódio neurótico de Frotwoot. O que eu disse a você sobre insultar os amigos de Frotwoot?

    Não sei, provavelmente não estava ouvindo, disse Jack com um encolher de ombros e um sorriso irônico. De qualquer forma, não é um insulto, é uma observação.

    "Uma observação insultante!" Disse Bunmi, sorrindo apesar de tudo e dando um tapa de brincadeira no braço dele.

    "Ei, eu só posso observar o que a criança realmente faz, certo? Não é minha culpa que tudo o que ele faz seja estúpido."

    Está tudo bem, mãe, Frotwoot assegurou-lhe enquanto ela engasgava e abria a boca para responder. Vou ficar ressentido com o papai com o tempo e, eventualmente, me rebelarei contra ele.

    Jack e Bunmi riram, assustando sua filha Molly enquanto ela entrava meio grogue de sono na cozinha. Ei Molly! Disse Frotwoot, pegando-a e sentando-a em seu colo. Quer ver minha banda tocar hoje?

    Molly balançou a cabeça e a colocou, em seguida, na mesa a sua frente de forma um pouco rude em uma improvável tentativa de voltar a dormir. Ela é nossa maior fã, sorriu Frotwoot, colocando-a em sua própria cadeira para que pudesse pegar o prato de comida que Jack estava lhe entregando.

    Onde vocês vão tocar essa noite? Perguntou Jack ao terminar de servir a todos e se sentar para comer.

    Algum lugar em Chicago. Estamos praticamente fazendo isso de graça, mas você sabe...

    Não é sobre dinheiro, é sobre música?

    É, eu acho.

    Se pudesse ser sobre os dois, né?

    Mas isso é só quando você não é ruim.

    Bunmi deu um tapinha no braço dele com os dedos. "Não fale assim! Sua banda é muito boa, Frotwoot."

    Eu sei. Eu só gosto de fazer você dizer isso.

    Todos riram de novo, exceto Molly, que, como sempre, apenas levantou a cabeça para encarar todos eles.

    Quando o café da manhã acabou, Frotwoot se ofereceu para lavar os pratos, repentinamente ansioso por uma desculpa para não ligar para Maeve, agora que era uma hora boa para isso. Quando chegou ao ponto em que não conseguia mais esticar o tempo que gastava nisso (só dá para continuar até o prato ficar seco, afinal de contas), ele encontrou Molly e perguntou se ela queria brincar de boneca ou algo assim. Ela quis, acordando e se animando mais nessa hora, mas não demorou muito para que ela se cansasse com o que Barbie e suas amigas estavam fazendo e quisesse assistir desenhos animados. Frotwoot juntou-se a ela até que apareceu um show que ele simplesmente não conseguia suportar, momento em que ele saiu para encontrar outra coisa para ajudá-lo a procrastinar; o que era inútil e meio bobo, ele sabia, mas não conseguia evitar. Por mais curioso que estivesse sobre essa Maeve e a possível janela para seu passado que ela representava, ele estava com medo de que algo que ela sabia sobre ele pudesse... mudar as coisas, de alguma forma. E, sinceramente (sem querer ofender o conceito de mudança, pois muitas vezes poderia ser uma bem positiva, e também, como um conceito, não estava em posição de ser ofendido de

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