Uma mudança de vida
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Sobre este e-book
Na sua vida nunca tinha visto Tula Barrons e muito menos se tinha deitado com ela. No entanto, Simon Bradley, um homem multimilionário, aceitou que ela e o seu primo, um bebé que ela afirmava ser de Simon, vivessem na sua mansão até ter provas da referida paternidade.
Mas ao viver com Tula debaixo do mesmo tecto, Simon teve conhecimento de algo inesperado: era filha do homem que estivera a ponto de o arruinar. Eis a oportunidade perfeita para se vingar. Seduziria Tula e ficaria com a criança que ela tanto amava.
Maureen Child
Maureen Child is the author of more than 130 romance novels and novellas that routinely appear on bestseller lists and have won numerous awards, including the National Reader's Choice Award. A seven-time nominee for the prestigous RITA award from Romance Writers of America, one of her books was made into a CBS-TV movie called THE SOUL COLLECTER. Maureen recently moved from California to the mountains of Utah and is trying to get used to snow.
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Uma mudança de vida - Maureen Child
Capítulo Um
Simon Bradley não gostava de surpresas.
A sua experiência indicava-lhe que se produzia um desastre cada vez que um homem era apanhado desprevenido.
Ordem. Regras. Era uma pessoa disciplinada, daí que lhe bastou olhar para a mulher que estava no seu escritório para saber que não era o seu tipo.
«Embora seja bonita», pensou enquanto a percorria com um olhar atento de alto a baixo. Media aproximadamente um metro e sessenta e cinco centímetros, mas parecia mais baixa dada a sua constituição delicada. Tinha o cabelo loiro e curto. Usava grandes argolas de prata nas orelhas e olhava-o, pensativa, com uns grandes olhos azuis. Tinha a boca curvada no que parecia um esboço de sorriso permanente e uma covinha na face esquerda. Vestia calças de ganga pretas, botas da mesma cor e uma camisola vermelha que se ajustava ao corpo esguio mas curvilíneo.
Simon ignorou o interesse que, como homem, despertava nele. Olhou-a nos olhos e pôs-se de pé atrás da secretária.
– Menina Barrons, não é? A minha secretária diz que faz questão de me ver por um motivo muito urgente.
– Sim, olá. E, faça o favor, chame-me Tula – respondeu ela. As palavras saíram depressa da sua deliciosa boca enquanto avançava para ele com a mão estendida.
Ele apertou-lhe a mão e, de repente, sentiu uma onda de calor intenso. Antes que pudesse perguntar pelo motivo, ela soltou-o e retrocedeu. Olhou para a janela que havia por trás dele e exclamou:
– Grande vista! Vê-se São Francisco inteiro.
Ele não deu meia volta, mas olhou-para ela. Ainda sentia cócegas nos dedos e esfregou as mãos para eliminar a sensação. Não, era óbvio que não era o seu tipo, apesar de gostar de olhar para ela.
– Não se vê tudo, mas boa parte sim.
– Por que não tem a secretária virada para a janela?
– Porque, se o fizesse, ficaria de costas para a porta.
– É verdade. De todos os modos, acho que valeria a pena.
«É bonita, mas desorganizada», pensou ele. Deu uma olhadela ao relógio.
– Menina Barrons…
– Tula.
– Menina Barrons – insistiu ele, – se veio falar da vista, temo não dispor de tempo. Tenho uma reunião dentro de um quarto de hora e…
– Pois, é um homem ocupado. Entendo. E não vim falar da vista. Distraí-me, mais nada.
«As distrações», pensou ele com ironia, «são provavelmente o que compõem a vida desta mulher». Ela tinha começado a observar o escritório em vez de ir direta ao assunto. Olhou-a enquanto ela contemplava os móveis de desenho funcional, os prémios autárquicos emoldurados e as fotos dos grandes armazéns Bradley disseminados por todo o país.
Sentiu-se orgulhoso ao olhar, também ele, para as fotos.
Há dez anos que trabalhava sem descanso para reconstruir uma dinastia familiar que o seu pai tinha estado a ponto de arruinar. Nessa década não só recuperara o terreno perdido por causa da falta de instinto para os negócios do seu pai, mas levara a cadeia familiar de centros comerciais bem mais longe do que nenhum outro.
E não o tinha conseguido com distrações, nem mesmo por causa de uma mulher bonita.
– Se não se importa – disse rodeando a secretária para a acompanhar à porta, – estou muito ocupado.
Ela sorriu-lhe abertamente e Simon sentiu um aperto no coração. Os olhos dela resplandeceram e a covinha da sua face ficou ainda mais marcada, de repente converteu-se no mais belo que alguma vez vira na vida. Tentou afastar esse pensamento da cabeça e pensou que tinha de se controlar.
– Desculpe, desculpe – disse Tula. – A sério que vim falar-lhe de algo muito importante.
– Muito bem, que é isso de tão importante que a fez jurar que passaria uma semana à minha espera se não a deixassem falar comigo imediatamente?
– Será melhor que se sente.
– Menina Barrons…
– Pronto, como quiser. Mas não diga que não avisei.
Ele olhou o relógio de forma assaz significativa.
– Já sei. É um homem ocupado. Pois aí vai. Parabéns, senhor Bradley, é pai.
Ele ficou rígido e perdeu toda a cortesia e a tolerância divertida que até então exibira.
– Os cinco minutos já se acabaram, Menina Barrons – agarrou-a pelo cotovelo e conduziu-a à porta com firmeza. Embora fosse bonita, não se ia sair com a sua. Ele não tinha filhos: sabia-o perfeitamente.
– Eh! Espere aí! Que forma de reagir!
– Não sou pai – declarou ele com os dentes apertados. – E acredite que se me tivesse deitado consigo me lembraria.
– Não disse que era eu a mãe.
Não a ouviu e continuou a puxá-la para a porta.
– Eu podia ter-lho dito mais devagar – balbuciou ela. – Foi você que quis que o fizesse direta e rapidamente.
– Estou a ver. Fê-lo em meu próprio benefício.
– Não, tolo, em benefício do seu filho.
Simon hesitou apesar de saber que mentia. Um filho? Impossível.
Ela aproveitou a sua momentânea dilação para se soltar e afastar dele. Olhou-o com amabilidade mas com determinação.
– Compreendo que esteja surpreendido. Qualquer um estaria.
Simon negou com a cabeça. Já estava bem. Não tinha nenhum filho e não ia aceitar o plano para enriquecer que ela teria urdido nas suas fantasias.
– Nunca a vi na minha vida, Menina Barrons, pelo que é evidente que não temos um filho. Da próxima vez que tratar de convencer alguém a pagar-lhe por uma criança que não existe, tente que seja um homem com o qual se tenha deitado.
Ela olhou-o momentaneamente confusa, mas depois desatou a rir.
– Não, não, já lhe disse que não sou a mãe. Sou a tia. Mas é evidente que você é o pai. O Nathan tem os seus olhos e esse seu queixo obstinado. O que não é um bom sinal, calculo. Mas a obstinação às vezes é uma qualidade, não acha? O Nathan…
A hipotética criança tinha nome.
Isso não implicava que aquela situação fosse real.
– Isto é uma loucura – afirmou ele. – É evidente que pretende alguma coisa, de modo que, por que não o solta e acabamos com isto de uma vez?
Ela dirigiu-se de novo para a secretária e ele viu-se obrigado a segui-la.
– Tinha preparado um discurso, mas você meteu-me pressa e agora está tudo confuso.
– Acho que a única confusa aqui é você – disse ele enquanto se dirigia ao telefone para chamar o pessoal de segurança para que a acompanhassem à rua e ele pudesse prosseguir o trabalho.
– Não estou confusa, nem louca – declarou ela ao ver a sua expressão. – Dê-me cinco minutos.
Simon desligou sem saber porquê, talvez pelo brilho dos seus olhos azuis. Mas tinha de averiguar se havia a mínima possibilidade de que estivesse a dizer a verdade.
– Muito bem – disse ele olhando o relógio. – Cinco minutos.
– Está bem – ela inspirou profundamente. – Lembra-se de namorar com a Sherry Taylor, há aproximadamente ano e meio?
– Sim – afirmou ele com cautela.
– Sou prima dela, Tula Barrons. Na realidade chamo-me Talullah, como a minha avó, mas é um nome tão horrível que prefiro que me chamem Tula.
Ele não a ouvia pois tinha-se concentrado na vaga lembrança de uma mulher do seu passado. Seria possível?
– Sei que custa admitir – continuou ela, – mas enquanto a Sherry e você estiveram juntos ela ficou grávida. Deu à luz o filho há seis meses em Long Beach.
– O quê?
– Bem sei. Tinha de lho ter comunicado. De facto, tentei convencê-la para que o fizesse, mas respondeu-me que não queria imiscuir-se na sua vida, por isso…
Imiscuir-se na sua vida.
Isso era pouco. Santo Deus, nem sequer recordava a feição daquela mulher! Coçou a testa como se quisesse clarificar as suas ténues lembranças, mas o único que logrou foi a vaga imagem de uma mulher que vira nalgumas ocasiões durante um período de duas semanas.
E tinha ficado grávida? Dele? E não se tinha dado ao trabalho de lho dizer?
– Porquê? Como?
– Boas perguntas – afirmou ela voltando a sorrir-lhe, desta vez compassivamente.
– A sério que lamento dar-lhe esta surpresa, mas…
Simon não queria a sua compaixão. Procurava respostas. Se realmente tinha um filho, tinha de saber tudo.
– Porquê agora? Por que razão a sua prima esperou tanto para mo dizer e por que não está aqui?
Ela ficou com os olhos embaciados e Simon pensou, horrorizado, que se ia começar a chorar. Não suportava ver uma mulher chorar, sentia-se totalmente impotente. Mas um instante depois, ela recuperou o controlo e conseguiu evitar as lágrimas, coisa que ele achou admirável.
– A Sherry morreu há duas semanas – disse ela.
Outro sobressalto numa manhã repleta deles.
– Sinto muito – disse ele, embora soubesse que o fazia sem convicção, mas que mais podia dizer?
– Obrigada. Foi num acidente de carro. Morreu instantaneamente.
– Olhe, Menina Barrons… Ela suspirou.
– Se lhe rogar, chama-me Tula?
– Muito bem, Tula – corrigiu ele pensando que era o mínimo que podia fazer tendo em conta as circunstâncias. Pela primeira vez em muito tempo tinham-no apanhado desprevenido.
Não sabia como agir. O seu instinto indicava-lhe que procurasse a criança e que, se fosse sua, a reclamasse. Mas o único com que contava era com a palavra daquela desconhecida e com as suas próprias lembranças, demasiado enevoadas para se fiar delas.
Por que motivo, se aquela mulher engravidara, não recorrera a ele?
– Olha, lamento dizer-lhe que não me lembro muito bem da sua prima. Não estivemos juntos muito tempo e não sei porque tem tanta certeza de que o filho é meu.
– Porque a Sherry deu o seu nome na certidão de nascimento do bebé.
– E não se deu ao trabalho de mo dizer? Podia ter posto o nome de qualquer um.
– A Sherry não mentia.
Simon desatou a rir perante a ridícula afirmação.
– Ah, não?
– Pronto, mentiu-lhe, mas não mentiu ao filho sobre o seu apelido.
– Por que tenho de acreditar que o menino é meu?
– Tiveram relações sexuais?
– Bom, sim, mas…
– E sabe como se faz uma criança, não sabe?
– Muito engraçada.
– Não tento ser. Só pretendo ser sincera. Olhe, pode fazer um teste da paternidade, mas asseguro-lhe que a Sherry não se teria referido a si como pai do Nathan no testamento se não tivesse a certeza.
– No testamento? – um sinal de alarme tocou na cabeça de Simon.
– Ainda não lhe contei isso?
– Não.
Ela fez um gesto negativo com a cabeça e deixou-se cair numa das cadeiras diante da secretária.
– Desculpe, mas há duas semanas que não paro, entre o acidente da Sherry, a organização do funeral, o fecho da sua casa e a mudança do menino para a minha, em Crystal Bay.
Ao aperceber-se de que aquilo ia ser bem mais longo que os cinco minutos que