Eu, sugar daddy
De Wallace Leão
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Sobre este e-book
Neste livro, o autor, sob o pseudônimo de Wallace Leão, 73, relata suas histórias autobiográficas como sugar daddy e mantém viva sua busca por novas experiências frente às recentes transformações que ocorreram nos costumes ligados às relações afetivas e à sexualidade.
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Eu, sugar daddy - Wallace Leão
Sumário
Apresentação
QUE MUNDO É ESSE?
Prólogo
PAIXÃO INTENSA
Capítulo 1
TEMPOS OBSCUROS
Capítulo 2
ENTRE AVENTURAS E SENTIMENTOS
Capítulo 3
PRIMEIRAS PAIXÕES
Capítulo 4
CORNÉLIA
Capítulo 5
AINDA PLATÔNICO?
Capítulo 6
OUSADIAS
Capítulo 7
CAMINHANDO E SONHANDO
Capítulo 8
MARGARETH
Capítulo 9
DE VOLTA AO BRASIL
Capítulo 10
BIPOLAR
Capítulo 11
NOVOS RUMOS
Capítulo 12
SOBRE AMIZADES E... CASAMENTO
Capítulo 13
DAS CHOLITAS BOLIVIANAS AO CARINHO DE AMÉLIA
Capítulo 14
SIMONE
Capítulo 15
AS MAIS NOVAS
Capítulo 16
CONHECENDO O MUNDO SUGAR
Capítulo 17
CIBELE
Capítulo 18
CAROLINA
Capítulo 19
ANNE
Capítulo 20
GAROTAS VIRGENS
Capítulo 21
DEPRESSÃO
Capítulo 22
PANDEMIA
Capítulo 23
LUANA
Capítulo 24
TINA E FRANCESCA
Capítulo 25
LUCELENA
Capítulo 26
DULCE
Capítulo 27
A CARRUAGEM CAPOTA
Capítulo 28
STEFANi
Capítulo 29
NEM TUDO É FESTA
Epílogo
AMOR PELA VIDA
Sugar baby, sugar daddy, mundo Sugar... o que significa isso? E como foi que essa história começou?
Se você abriu nesta página e começou a ler, ou já sabe do que se trata, ou achou curioso o título "Eu, sugar daddy". Por isso decidi, aqui desde o início, explicar sucintamente essas expressões e o porquê deste livro.
Sugar daddy é o parceiro mais velho em um relacionamento, com capacidade financeira para retribuir ao carinho de sua parceira, a sugar baby. Uma mulher jovem, determinada, e um homem experiente, generoso, compartilham uma relação baseada na reciprocidade, em que cada um dos dois sabe exatamente o que deseja e o que tem a oferecer. Os encontros podem ser íntimos, amorosos, mas também podem ser apenas saídas para jantar, ou viajar, ou simplesmente passar um tempo juntos, conversando.
O que pouca gente sabe é que o sugar daddy tanto pode ser um parceiro eventual como um parceiro frequente, um namorado, ou até mesmo um marido. Isso está na própria origem dessa expressão, que muitos pensam ser algo recente, uma novidade dos tempos da internet, mas que surgiu em 1908, na Califórnia, quando um milionário de 51 anos se casou com uma jovem de 27, que o chamava de sugar daddy, porque ele era dono de uma usina de açúcar.
A expressão fez sucesso e tornou-se uma gíria nos Estados Unidos, para designar o homem que oferece dinheiro ou presentes a uma mulher mais jovem em troca de companheirismo ou intimidade.
Chegou a ser título de filme, de romance e de várias canções, mas sua popularidade viria bombar mesmo nos tempos das redes sociais pela internet, onde vários sites facilitam as conexões entre sugar daddies e sugar babies. Só no Brasil, estima-se hoje que existam cerca de 2,6 milhões de sugar babies.
Babies e daddies estabelecem, de comum acordo, um relacionamento fundamentado na reciprocidade. Elas precisam de apoio financeiro, eles precisam de companhia e de carinho. E tudo o que um sugar daddy oferece à sua sugar baby é carinhosamente referido como mimo
. Algumas pessoas criticam esse tipo de retribuição, vendo nisso uma forma de prostituição disfarçada. Mas é bom lembrar que a conexão, o afeto e a química
entre os dois não seguem uma lógica de mercado. As retribuições por meio de mimos
baseiam-se em acordos mútuos e consensuais entre duas pessoas adultas (que existem nos mais diversos tipos de relacionamento), e diferem muito da remuneração explícita de trabalho sexual que caracteriza a prostituição.
A verdade nua e crua – e digo isso por experiência própria – é que uma sugar baby traz um sugar daddy de volta à vida. Como a Fênix, ele ressurge das cinzas da velhice. E como recompensar isso? Um homem maduro se sente com 18 anos novamente quando está prestes a encontrar sua baby.
Vale lembrar que, assim como os daddies, também existe a figura da sugar mom, para mulheres mais velhas que se relacionam com rapazes, mantendo-se para estes a expressão sugar babbies, embora alguns prefiram ser chamados de sugar boys.
Estou divorciado há sete anos e participo do chamado "mundo sugar" desde um mês após a consumação do divórcio. Uma experiência muito intensa e gratificante.
As histórias contadas nos capítulos que se seguem não se limitam a estes tempos recentes, porque são a continuidade de um aprendizado de vida, que teve início nos anos 1960, quando precisei pedir a uma amiga que intermediasse meu primeiro pedido de namoro, e ainda tive de aguardar por um bom tempo pelo primeiro selinho. Desde então, incluindo os tempos de autêntico sugar daddy e a continuidade da minha busca que prossegue hoje aos 73 anos, muitas transformações ocorreram nos costumes ligados às relações afetivas e à sexualidade.
Tendo tido a felicidade de experienciar cada mudança, sempre muito bem acompanhado por mulheres formidáveis, cada uma representando exemplarmente a época vivida, acredito ter suficiente autoridade para testemunhar a árdua batalha das mulheres para alcançarem respeito como pessoas plenamente responsáveis por suas atitudes e donas de suas decisões.
Ela está sentada ao meu lado no sofá da minha casa. A timidez e o embaraço inicial vão se desfazendo aos poucos. Ofereço uma taça de vinho branco e brindamos com sorrisos ainda tímidos.
Receptiva, ela já me permite tocar em seus cabelos castanhos claros, lindos de morrer. Aproveito por estar muito próximo e acaricio seu pescoço, simplesmente perfeito, longo e esguio, na proporção exata dos seus ombros e cabeça.
Um leve calafrio? Não sei dizer. É a impressão que tenho quando meus dedos se aproximam de seus lábios, mas estou com a sensibilidade tão aguçada que sou capaz de perceber na sua face os batimentos do coração. Demonstrando satisfação, ela inclina um pouco a cabeça para o lado onde está minha mão e a comprime contra seu pescoço. Quando volta a cabeça, minha mão permanece colada em seu rosto como se fosse um ímã, e começo a acariciar aquela tez imaculada, sedosa e levemente bronzeada. Quando contorno seus lábios, ela fecha os olhos e prende meu dedo com suavidade entre seus dentes perfeitos e alvos.
Achando que tinha chegado o momento, até porque meu coração batia em disparada e não aguentaria esperar mais um segundo, vou trazendo sutilmente com a mão esquerda aqueles lábios levemente umedecidos, ao encontro dos meus. Um beijo calmo, tranquilo, leve, de pequenos toques de lábios e pontas de línguas; mas para quem vinha sonhando com aquilo há tempos, é uma explosão enorme de prazer, deleite, sabores silvestres, loucura.
Loucura? Por um átimo de segundo me parece que sim, porém não a loucura da entrega ao prazer, e sim um pensamento inoportuno. O que meus filhos pensariam daquilo? Eu, com 73 anos completos, divorciado já duas vezes, sucumbindo fragorosamente aos encantos de uma garota de apenas 19...
Enquanto o beijo se prolonga e se torna ainda mais delirante, pelo sabor de juventude daqueles lábios, meu pensamento chega a se desviar dessa preocupação: eles deveriam fazer um esforço para aceitar que, mesmo com minha idade, eu tenho todo direito, se ainda sou capaz de sentir aquela paixão que me arrebata.
Afasto-me um pouquinho, só o suficiente para ver que os primeiros botões de sua blusa estão abertos e seu seio esquerdo se revela sem as amarras de um sutiã. É perfeito! Só nos mais lindos sonhos eu tinha visto outro igual. Com toda delicadeza, vou acariciando e comprimindo de leve o seu mamilo, já totalmente entumecido. Como que me dizendo: Te quero, não me importa sua idade!
Enquanto ela fecha os olhos e deixa escapar um leve suspiro, embarco noutros pensamentos:
Onde está escrito que um homem com mais de 70 anos não pode se entregar sem reservas a uma mulher como esta? É proibido a um homem maduro experimentar estes prazeres como se voltasse às emoções da adolescência?
E quando ela se aconchega em meus braços para me beijar novamente, eu volto a pensar:
Se um bipolar como eu, que conseguiu resistir aos acenos do suicídio em suas depressões recorrentes, tivesse agora que renunciar a este clamor de vida por causa de um preconceito idiota, seria melhor então passar para o outro lado!
Mas desistir de viver seria a negação de todo aquele momento sublime. Então decido mandar embora os pensamentos para me concentrar somente no que está acontecendo. Aqui, agora.
Com outro brinde no último gole na taça de vinho, e com muito tato – o tato que talvez ela buscasse no homem maduro –, subimos abraçados para o quarto.
E cá estou eu, sentado ao lado dela na beira da cama, desvendando e cobrindo de carícias cada parte desse corpo longilíneo, levemente bronzeado, que se revela diante de meus olhos à medida que eu solto os laços da fina blusa que ela vestia.
O tempo sem pressa multiplica o prazer de cada mínimo gesto. Quando a frente da blusa cede mais um pouco, surgem seus dois seios empinadinhos e lindos. Do tamanho exato que eu gosto, nem mais nem menos.
Acaricio a pele aveludada de suas costas, enquanto meus lábios descem por seu pescoço até os ombros, com pequenos toques de língua, e conforme seus poros úmidos se abrem, eu sinto o aroma e a penugem de um delicioso pêssego.
Escuto seu ronronar bem macio quando meus dedos tocam o diminuto bico de um seio, enquanto meus lábios roçam o bico do outro. Volto os olhos para cima, em busca daquele rosto lindo, e percebo sua cabeça inclinada para trás, olhos fechados, tremendo de prazer em suaves calafrios.
Continuo descendo com os lábios e desenhei com a ponta da língua o contorno delicado de seu umbigo. As mãos que afagavam os seios vêm agora tirar sua calcinha que comecei a baixar com os dentes. Ela se contorce, passando a suspirar mais intensamente quando começo a massagear seu clitóris com a ponta da minha língua, sentindo sua vagina já levemente umedecida. Então ela solta um gemido leve e a fragrância de pêssego explode em minha boca.
Ela me fez deitar, tirando minha camisa e dando pequenos beijos e mordidinhas em meu peito. Na sequência, tenta sem muito jeito soltar minha calça e procura meus lábios com os seus, para o mais demorado e apaixonado beijo que havíamos dado até então. Com surpresa percebo que sua mão direita busca meu pênis e, quando o segura, ele está tão rígido que o sinto capaz de levantar aquele delicioso corpo e, muito mais, sustentar o peso do mundo inteiro, se for preciso.
Soltando-me do beijo, volto a descer minha boca por seu corpo até chegar novamente ao pêssego, que eu desejo saborear com todos os meus sentidos. É divino, inebriante, sabor dos deuses. E ela, de forma ao mesmo tempo ousada e acanhada, vai me virando para o lado e seus deliciosos lábios envolvem meu pênis.
Durante alguns minutos recorro à experiência adquirida ao longo dos meus anos de vida, para não ter uma ejaculação precoce, típica dos tempos de adolescente. Até que ela vem subindo devagarinho sobre o meu corpo, trava meu peito no meio de suas pernas e começou a se aconchegar em cima de mim até ser penetrada. De repente, começa a acelerar os movimentos e eu seguro sua cintura dizendo baixinho:
– Calma, meu amor, calma...
Ela retoma o ritmo lento e me cavalga como se estivesse em cima de um alazão puro-sangue. Entrego-me sem reservas. É sublime acariciar suas longas pernas que prendem meu corpo e ficar olhando para aquele rosto divino que expressa tudo o que ela está sentindo. É tudo de bom! Êxtase total.
Quando seu corpo esguio começa a vibrar mais rapidamente, ela segura meu rosto, desce a cabeça em direção à minha e durante um beijo explodimos os dois em fantástico orgasmo.
Um flash de consciência me mostra então que não era apenas tesão o que eu estava sentindo, mas sim uma paixão intensa. Literalmente, fizemos amor.
E enquanto a levo em meu carro para sua casa, percebo que a vida é feita de momentos e escolhas. Escolhi viver momentos de intenso amor desafiando as convenções sociais e abraçando a alegria que ela trouxe para minha vida. Em meio a tudo isso, aprendo que nunca é tarde para amar, para sentir e para se entregar aos chamados do coração, independentemente das diferenças de idade ou das expectativas da sociedade.
Um homem de 73 anos... perdidamente apaixonado por uma mulher de apenas 19. É possível algo assim?
O que as pessoas poderiam falar de mim, se soubessem dessa paixão?
E por que eu me importaria com isso?
Estamos em Barretos, pequeno município no interior do estado de São Paulo, na década de 1960. Eu me tornava adolescente em uma sociedade onde predominavam rígidos preconceitos, moralismo, machismo, tabus e restrições relacionados à sexualidade.
As moças eram educadas para serem submissas aos pais e aos maridos. Quando não respeitavam o modelo de comportamento que se esperava de uma moça direita
, eram chamadas de vadias
, perdidas
ou malucas
. Os rapazes, por sua vez, eram pressionados para serem machos
, viris
e provedores
, e para reprimir seus sentimentos (tipo homem não chora
) e suas dúvidas. Os que não se enquadravam nesse padrão eram chamados de fracos
, frescos
, efeminados
, maricas
ou viados
.
Quando a esposa tomava conhecimento de uma – ou mais de uma – traição do marido, muitas vezes fazia vista grossa, preferia ignorar, justificando-se com uma frase que lhe incutiram desde a infância: homem é assim mesmo
. Fazia isso porque, se optasse pelo desquite (o divórcio começou a existir nas leis brasileiras somente em 1977), ela se prejudicaria, pois era muito frágil a sua situação como esposa e, principalmente, como mulher separada
, em um sistema totalmente dominado pelo poder masculino.
A sexualidade feminina era marcada pelo pudor extremado. A virgindade era requisito obrigatório da honestidade
de uma mulher antes do casamento. Ou seja, as mulheres tinham a obrigação moral de se manterem virgens até a noite de núpcias, enquanto se esperava do homem que chegasse ao casamento com experiência sexual, adquirida normalmente em bordéis, podendo continuar frequentando esses lugares depois de casado, ou ter amantes, o que lhe garantia prestígio entre os outros machos.
No ambiente conjugal, exigia-se delas total discrição em assuntos de sexualidade, conversando esses assuntos somente com as amigas mais íntimas. Orgasmo feminino não era assunto bem-visto, pois o papel da esposa nas relações sexuais com o marido era o de procriadora. Ou seja, a sexualidade era vista como um dever conjugal e não como uma fonte de prazer ou de expressão pessoal, por parte da mulher. E as que ousassem expressar o seu prazer sexual eram rotuladas como promíscuas
ou imorais
. Se até com o próprio marido era assim, imagine a má fama das que tivessem múltiplos parceiros sexuais.
Já que o sexo no casamento era para engravidar, a contracepção ainda era um assunto tabu, e o acesso à pílula anticoncepcional ainda era bastante limitado para a maior parte da população feminina naquela época. As mulheres em geral tinham pouquíssimo controle sobre sua fertilidade e ficavam expostas ao risco de gravidez indesejada.
Complicando ainda mais essa situação, o aborto era (e ainda é) ilegal no Brasil. As mulheres que tentavam interromper a gravidez enfrentavam sérios riscos devido a procedimentos inseguros. A luta pelo direito ao aborto seguro e legalizado começaria a ganhar força no final daquela década, mas até hoje enfrenta forte oposição.
O assédio e o abuso sexual eram frequentemente ignorados ou tidos como normais
. Pior ainda: a mulher que denunciava ter sido assediada ou estuprada poderia ser culpabilizada ou desacreditada, como se tivesse provocado aquilo. E os homens ficavam impunes, protegidos pela cultura do silêncio em torno dessas questões.
No mercado de trabalho, a discriminação de gênero limitava as oportunidades das mulheres e reforçava estereótipos sobre as capacidades e aptidões de cada sexo. As mulheres enfrentavam barreiras quase intransponíveis para ingressar em muitas profissões e até mesmo em cursos universitários tradicionalmente dominados por homens. Aceitava-se que elas fossem, no máximo, professoras.
É claro que, em várias partes do mundo, naquela mesma década surgiam movimentos de jovens com atitudes radicalmente opostas ao conservadorismo da cidade onde eu vivia. Foi a época da explosão do rock'n'roll, dos hippies e da contracultura. E também do movimento feminista, questionando temas como a sexualidade, o corpo, a família, o trabalho, a violência e a opressão patriarcal.
Além disso, alguns países europeus, como a Suécia, a Dinamarca e a Holanda, tinham costumes mais liberados nesse sentido. E desde muito antes, em diversos povos indígenas aqui mesmo no Brasil, ou vários outros povos na África e no Oriente, o comportamento e as crenças em relação à sexualidade não tinham o moralismo trazido pela colonização europeia.
Mas, como escrevi no início deste capítulo, estávamos em Barretos, cidade conservadora do interior de São Paulo, onde os preconceitos imperavam. A classe dominante era composta pelos grandes criadores de gado da época. E embora meu pai não fosse fazendeiro, mas sim um farmacêutico bem-sucedido, ele seguia os costumes vigentes.
Portanto, eu e toda a minha geração (assim como as gerações anteriores, de modo ainda mais opressivo) crescemos vivenciando no dia a dia uma realidade obscura que na época não espantava ninguém: as mulheres eram responsáveis pelo lar e pela criação dos filhos, rendendo (inclusive na cama) obediência aos homens, provedores financeiros, ativos e dominantes.
Uma visão de mundo completamente oposta ao que hoje considero saudável: vida sexual livre, espontânea, consensual e prazerosa para todos: mulheres e homens.
Ironia do destino: talvez já prenunciando minha