A Glória Compartilhada
De RonyFer
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Sobre este e-book
Paraíso e inferno são separados apenas por uma linha muito tênue. Quem a ultrapassa, seu destino está condenado a mudar drástica e subitamente.
A medida que a tarde caía, já no crepúsculo, se percebiam as faíscas que iluminavam toda a abóbada celestial no horizonte, rompendo com violência perversa a tranquilidade da noite que se anunciava.
A sombra mortal da tempestade com sua marcha lenta se aproximava ao navio, inexoravelmente.
Inútil dar a volta. Contra todos os prognósticos de horas anteriores, a tempestade encaminhava seu andar ameaçante para a embarcação.
Não há nada pior que cair no abismo do inferno.
Trovões e relâmpagos anunciavamla chegada às portas do mundo dos infernos. As ondas se levantavam enormes de sua letargia inicial formando desmedidos braços de água para pegar tudo o que tivesse ao seu redor.
O mar faminto por tragar tudo o que por lei natural lhe pertenece. Tudo o que se encontra em seus domínios.
E a embarcação começou a ser sacudida com fúria selvagem. Os marinheiros afogavam seus gritos desesperados enquanto tratavam de colocar o barco sob controle que se balançava como se fosse um barquinho de papel.
A morte não tem pressa em seu andar nem tem que se anunciar. Chega forda de tempo e sem aviso prévio. Tal é o balanço da existência. Do que hoje é e do que fica dele depois.
Arrastados por aquelas enormes ondas saiam pela borda lançados irreversivelmente para mais além.
Cleto, impulsionado por um instinto, como último recurso apenas tevo tempo de se envolver com umas redes que protegiam alguns lenços enormes de lona ficando preso como parte do pacote, enquanto em uma dança tétrica, daquele barco ecoava o ra
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A Glória Compartilhada - RonyFer
tempestuoso"
AGRADECIMENTOS:
Minha eterna gratidão a Layane Lílian Andrade Freitas por sua tradução em Português deste romance.
─O autor─
«Eu vim pedir a mão da sua mulher em casamento»
1.- A mulher que eu amo está traindo me com seu marido.
─ « Ei, o outro! Já vou!».
Foi a única coisa que lhe ocorreu dizer para aquele velho moribundo quando viu ao mais amado de seus inimigos aparecer pela porta de seu quarto de hospital.
─ Logo te alcançarei, meu amigo, eu mesmo, te asseguro.
Lhe respondeu à saudação o recém chegado, buscando um lugar onde repousar sua pesada carga de anos acumulados.
─Te a encarrego, agora que eu já não estarei, te ocupa dela.
─Te dou minha palavra, não o farei!
E tinha razão, seu inutilizado e paralisado corpo já não lhe permitía se ocupar de outro corpo, ainda que fosse o dela, a mulher que mais havia amado em sua vida. Apenas podia com o seu. Ainda que o dissesse como desdizendo a seu interlocutor, porque dado esse amor que lhe confessava, agora sim se ocuparia dela com veemência e entrega total.
Os três eram vítimas agora do tempo, já havia passado tantíssimos anos em que se propuseram romper com as normas estabelecidas e viver essa vida a três. Essa vida que lhes tocou viver. O que se vai fazer.
A eles acumularam as lembranças de décadas nas teias de aranhas da memória, os reflexos já não lhes respondíam devidamente e lhes vencia o sono em todo momento. Suas longas reuniões e discussões as vezes até violentas de antigamente agora convertidas em leves murmúrios e monólogos sem sentido.
As mãos cheias de pontinhos coloridos de marrom e as veias inchadas a ponto de arrebentar.
Aqueles corpos malfeitos, remendados em quase todas suas partes. Ênfase pós ênfase .
Estavam enfraquecidos daquele arrastamento de tanto tempo vencido e até as fugas das mais constantes, como era essa disputa de visitar o serviço de forma quase ininterrupta, ainda que fosse somente para constatar que o serviço não tivesse sido levado a outro lugar mais longe por erro ou negligência.
Presos no tempo, cada qual teve de aceitar as coisas que no caminho iam se apresentando. O inevitável se misturava com a resignação e a indiferença.
Seus passos lentos, seus movimentos, fora do tempo, vivendo de nostalgia de um passado demasiado longíncuo.
Os anos passam e pesam.
Seus agora oxidados corpos, flagelados pelos anos. Aquelas pelancas, que outrora foram pele, agora junto aos ossos e o olhar perdido, saturado de nebulosidades e o cabelo, onde ainda ficava que diariamente se tornava de uma cor chumbo.
Dos dois, foi Cleto a única vítima da alopécia. Até nisso era afortunado Lico, já que se havía mostrado que os de baixa estatura são menos concientes a tão ingrata maldição que pesa sobre a masculinidade.
Se perdíam nas frases, lhes esquecia o contexto e logo, a começar tudo de novo, com outro sujeito.
Que se hoje amanheceu frio, que por culpa da inaptidão do imbecil árbitro perdemos a partida da noite passada, que a juventude de agora está desbocada e louca, que anos aqueles, nossos anos onde tudo era mais tranquilo e havia mais respeito pelos velhos. Não como agora que tudo anda de pernas pro ar, que agora os meninos parecem meninas e vice-versa, que barbaridade, olhem essa com sua minissaia que já não é minissaia, senão seu sobrenome de solteira que isto outro, mas sempre terminavam com outras conversas muito distante da inicial.
Os três cresceram juntos, se conheceram a muitos, mas muitos anos atrás quando residíam no mesmo bairro, frequentaram a mesma escola, assistiram as mesmas missas e as mesmas festas, lhes acometeram os mesmos vírus e epidemias que servíam de bom pretexto a esaas faltas tão assíduas a classes.
Aniceto era o mais velho. Sempre odiou esse nome, lhe parecía mais um insulto. Estava convencido que seu pai não lhe amou desde seu nascimento e se lhe tinha colocado tão singular nome apelativo, era para que se recordasse por vida, quem foi seu progenitor. Acreditava que era o depreciativo e diminutivo a vez da parte mais escura e mais escondida do corpo humano, pelo que seus amigos decidiram lhe chamar