A aurora de nossos solstícios
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Sobre este e-book
A aurora de nossos solstícios é uma coletânea de poemas que convida o leitor a se refugiar fora do domínio do tempo. Apresentados mais em prosa do que em verso, os poemas o mergulham em uma evasão ora física, ora abstrata, espiritual, por vezes misteriosa e encantadora. Cada poema foi escrito com acompanhamento musical, fonte inexaurível de inspiração poética.
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A aurora de nossos solstícios - Aurélien Di Sanzo
A aurora de nossos solstícios
Aurélien Di Sanzo
Traduzido por Carla M. C. Renard
Preâmbulo
Esta coletânea de poemas não poderia ter visto a luz do dia sem a música do grupo Hammock, que eu não parei de escutar enquanto escrevia. Aliás, eu não me incomodaria se vocês se deleitassem escutando-a enquanto leem a coletânea. Eu os convido, inclusive, a fazê-lo. O poema Apologia à rede lhe é dedicado.
Mas eu gostaria, antes de tudo, de dedicar esta coletânea de poemas a duas pessoas que já deveriam ter sido mencionadas na minha coletânea anterior: meus pais. Primeiro à minha mãe, que pacientemente releu os poemas e me incentivou no meu percurso. Pode-se dizer o que quiser, sabendo que a poesia não é uma arte que necessita da opinião de quem quer que seja para nascer e desabrochar, mas nada é mais lisonjeiro do que ler a aprovação no olhar bondoso de uma mãe. E dedico também, e sobretudo, esta coletânea de poemas ao meu pai. Por muito tempo tentei entender de onde vinha essa repentina fascinação pela escritura poética, sem realmente saber, nem entender, sua origem.
Foi-me preciso descobrir, ou melhor dizendo, redescobrir, um site na internet no qual meu pai publicou alguns de seus poemas em meados de 1990.
Quando eu os leio, eu reencontro uma sensibilidade que só pode ser uma espécie de herança herdada. Principalmente os temas, a começar por uma atração particular pela natureza, alimentaram, inconscientemente, minha prosa. A poesia não é apenas inata, ela se alimenta daquilo que nós somos. E se ainda não for muito tarde para prestar uma homenagem, acredito que não há nada de mais belo do que um punhado de palavras em um papel, pois elas têm a garantia de perdurar, mesmo após nossa existência.
Prefácio
Retomando uma ideia anunciada por Enrique Vila-Matas na obra A Piatigorsk, sur la poésie (2008) [Para Piatigorsk, sobre a poesia], Jean-Claude Pinson evoca, sobre a literatura contemporânea, os escritores que fazem o negativo
e que renunciam a escrever devido ao pouco impacto, segundo eles, da literatura sobre a realidade, e aqueles que fazem o positivo
, representativos do que Julien Gracq chamava de o sentimento do sim
— opondo-se dessa forma ao que Yves Bonnefoy chamava, ele mesmo se opondo a Gracq, de a grande recusa gnóstica
(L’Arrière-pays[i]).
Aurélien Di Sanzo, em sua coletânea intitulada A aurora de nossos solstícios, pertence principalmente àqueles que fazem o positivo
. Isso não ocorre sem um certo platonismo. Por exemplo, ele nem sempre evita a tentação do refúgio
e volta a ela várias vezes com uma conotação gnóstica, como na última estrofe de A menina do quadro (XXVII): Ela entendeu, então, que a arte era — em sua forma mais pura — uma simples interpretação da mente. Um refúgio no qual ela podia se embrenhar para escapar, por um tempo, da existência humana
.
Essa tentação de fugir da condição humana é retomada no poema Eclipse total (XVI) de maneira perfeitamente explícita: O eclipse revela na obscuridade, e pela obscuridade, a verdadeira natureza do mundo
. Na sequência do poema, Aurélien Di Sanzo escreve: Para que nossos corpos desapareçam e que nossas almas despertem e se elevem, para que o imaterial transcenda o material e que a eurritmia absoluta esboce a tela de nossas vidas novas
.
Sob a mesma perspectiva, o poeta critica o urbanismo contemporâneo que, de seu ponto de vista, constitui um obstáculo à luz: E eu deslizo, deslizo por todas essas paredes de concreto armado, preparado para abrir um atalho a fim de reencontrar o lume que escapa ao longe
(Ode ao urbanismo, VIII).
Existe, no entanto, uma reconciliação com o real e o porvir. Essa reconciliação é mencionada na quinta parte da coletânea, que celebra O culto amoroso. Em especial o poema Melancolia californiana (XLII), que comporta este aforismo: Uma lembrança, seja ela ordinária ou extraordinária, não pode viver sozinha. Para que ela brilhe, para que solte faíscas, deve ser gravada na mente de outra pessoa
.
Em outro plano, o idealismo platônico é magnificamente completado por um idealismo no sentido corrente do termo em Eclipse total (XVI): Que a verdade não apenas apareça, que ela não seja trivialmente exposta, mas que, maliciosamente luminosa, ela irrompa, enfim, aos olhos de todos
.
De modo geral, para definir a poética de Aurélien Di Sanzio,